Infância medicalizada: o que a escola tem a dizer?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5902/1984686X71676

Palavras-chave:

Medicalização, Patologização, Infância

Resumo

O que a escola tem a dizer sobre a infância medicalizada? A inflação diagnóstica nesse espaço fortalece classificações patologizantes de crianças e jovens que resistem enquadrar-se a um padrão que deslegitima suas singularidades. A “necessidade do diagnóstico médico” indica uma fragilidade do campo pedagógico em analisar e resolver os desafios do cotidiano escolar a partir de seu campo de saber. Considerando esse contexto, este artigo objetiva analisar a produção científica sobre a maneira como o processo de medicalização da vida escolar se atualiza e se fortalece no Brasil. Para tanto, deu-se uma pesquisa em busca de revisão Integrativa da Literatura sobre tema em foco entre os anos de 2015 a 2021 tomando como referência a plataforma SCIELO. O recorte temporal justifica-se por considerar a publicação do DSM-5 no Brasil um marco no processo de inflação diagnóstica de escolares. Há uma dinâmica comum entre as escolas seguindo certa ordem: queixa escolar, encaminhamento do estudante aos serviços da saúde, retorno dos especialistas - geralmente com diagnóstico, prescrição de fármacos e silenciamento da escola em relação ao debate pedagógico de solução dos desafios cotidianos. Criança medicada, via de regra, é criança esquecida, expropriada de sua infância, invisibilizada na sua potência de ser. Há uma tendência em buscar soluções na área da saúde para o que se apresenta como problema no ambiente escolar, seja referente às questões comportamentais, seja em relação aos processos de aprendizagem. As pesquisas denunciam uma prática escolar que busca apoio nos recursos medicamentosos com a perspectiva de uma solução rápida para os desafios apresentados.

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Biografia do Autor

Ana Carolina Christofari, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutora em Educação pelo PPGEdu/UFRGS na área de Educação Especial e Processos Inclusivos (2014). Tese intitulada: Modos de ser e de aprender na escola: medicalização (in)visível?. Mestre pelo programa de Pós-graduação em Educação da UFRGS (2008). Dissertação intitulada: Avaliação da Aprendizagem e Inclusão Escolar: trajetórias nos Ciclos de Formação. Especialização em Psicopedagogia Institucional e Tecnologias da Informação e Comunicação PPGEDU-UFRGS (2016). Graduação em Pedagogia com ênfase em Séries Iniciais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005).

Claudia Rodrigues de Freitas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Pedagoga, Mestre em Educação pela Unisinos (1998). Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Realizou Percurso de Pós-Doutoramento na Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de Inclusão Escolar (2013). Realizou percurso de Pós-doutorado na Università degli Studi di Cagliari - It (2019). É Professora na Faculdade de Educação da UFRGS e no PPGEdu/UFRGS onde Coordena a linha de Pesquisa: Educação Especial, Saúde e Processos Inclusivos. Coordena o Laboratório de Tecnologia Assistiva (FACED/UFRGS) e o Grupo Multi: Livros em multiformato. Foi membro da Comissão de Pesquisa da Faculdade de Educação (03/12/2017 a 28/03/2019). No período de 2021 a 2023, atuou na Comissão de Pós-graduação do PPGEDU-UFRGS. Atualmente atua como Coordenadora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFRGS. É também professora no Programa de Pós Graduação Stricto Sensu - Mestrado Acadêmico Interdisciplinar em Cognição, Tecnologias e Instituições da UFERSA. As pesquisas e produções têm sido voltadas para área de Inclusão Escolar, Tecnologia Assistiva com uso de Comunicação Alternativa no espaço escolar e na produção de livros em multiformato. As produções indicam interlocução entre Educação e Saúde Mental. É líder do Núcleo de Estudos em Políticas de Inclusão Escolar NEPIE - UFRGS (Grupo de pesquisa CNPq dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/6695606539613038). Coordena o Grupo Multi/UFRGS - https://www.ufrgs.br/multi/livros-em-multiformato/, na direção de produção de livros infantis em multiformato. Pesquisa financiada e concluída pela Universal 2016-2020 CNPq. Pesquisa financiada e concluída pelo Edital: FAPERGS 2019-2023.

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Publicado

2023-12-07

Como Citar

Christofari, A. C., & Freitas, C. R. de. (2023). Infância medicalizada: o que a escola tem a dizer?. Revista Educação Especial, 36(1), e65/1–29. https://doi.org/10.5902/1984686X71676