LIVRO: COVID-19 UMA VISÃO ALÉM DO ÓBVIO

OPEN ACCESS PEER-REVIEWED BOOK 

INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO POR COVID-19 EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE DE RONDÔNIA

COVID-19 CONTAMINATION INDICATORS IN RONDÔNIA HEALTH PROFESSIONALS

 2022 Editora Science / Brazil Science Publisher

Camila de Souza Eleamen

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Calama, Porto Velho-RO

http://lattes.cnpq.br/0960725674143152

Iranira Geminiano de Melo

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Calama, Porto Velho-RO

http://lattes.cnpq.br/8892219000973170

Monnike Yasmin Rodrigues do Vale

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Calama, Porto Velho-RO

http://lattes.cnpq.br/9514828875723951

Resumo

O presente artigo tem por objetivo descrever os indicadores de contaminação por COVID-19 em profissionais da saúde do estado de Rondônia. Apresentam-se discussões sobre os fatores que corroboram para a contaminação dos profissionais da saúde na linha de frente no combate à pandemia por COVID-19. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, utilizando-se de dados do Observatório da Enfermagem e de fontes constituídas por material já elaborado: livros e artigos científicos. Os resultados demonstraram que grande parte dos profissionais de saúde não se sente protegida no trabalho de enfrentamento da COVID-19, e o principal motivo está relacionado à escassez e à inadequação do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), ausência de estrutura adequada para realização da atividade e o despreparo técnico dos profissionais para atuar na pandemia. Os indicadores de COVID-19 em Rondônia registraram 1.322 casos confirmados COVID-19 e, aproximadamente 0,27% dos profissionais não resistiram à doença, totalizando 49 óbitos. Entretanto, vale ressaltar que esses números tendem a aumentar quando se leva em consideração as subnotificações.

Palavras-Chave: saúde pública, saúde do trabalhador, condições de trabalho

Abstract

This article aims to describe the indicators of COVID-19 contamination in health professionals in the state of Rondônia. Discussions are presented about the factors that corroborate the contamination of health professionals in the front line of COVID-19. Methodologically, this is descriptive exploratory research, using data from the Nursing Observatory and sources consisting of material already elaborated: books and scientific articles. The results showed that most health professionals do not feel protected in the work of coping with the COVID-19, and the main reason is related to the scarcity and inadequate use of personal protective equipment (PPE), lack of adequate structure to perform the activity and the technical unpreparedness of professionals to work in the pandemic. The COVID-19 indicators in Rondônia recorded 1,322 cases confirmed by COVID-19 and approximately 0.27% of the professionals did not resist the disease, totaling 49 deaths. However, it is worth mentioning that these numbers tend to increase when underreporting is considered.

Keywords: public health, occupational health, working conditions

PARA O TRABALHO COMPLETO em .pdf ACESSE O BOTÃO DO LIVRO NA PÁGINA INICIAL
 

CAPÍTULO 3

Indicadores de contaminação por Covid-19 em profissionais da saúde de Rondônia

Covid-19 contamination indicators in Rondônia health professionals

 

DOI: https://doi.org/10.56001/22.9786500445497.03

 

Camila de Souza Eleamen

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Calama, Porto Velho-RO

http://lattes.cnpq.br/0960725674143152

Iranira Geminiano de Melo

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Calama, Porto Velho-RO

http://lattes.cnpq.br/8892219000973170

Monnike Yasmin Rodrigues do Vale

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Calama, Porto Velho-RO

http://lattes.cnpq.br/9514828875723951

 

Resumo

O presente artigo tem por objetivo descrever os indicadores de contaminação por COVID-19 em profissionais da saúde do estado de Rondônia. Apresentam-se discussões sobre os fatores que corroboram para a contaminação dos profissionais da saúde na linha de frente no combate à pandemia por COVID-19. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, utilizando-se de dados do Observatório da Enfermagem e de fontes constituídas por material já elaborado: livros e artigos científicos. Os resultados demonstraram que grande parte dos profissionais de saúde não se sente protegida no trabalho de enfrentamento da COVID-19, e o principal motivo está relacionado à escassez e à inadequação do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), ausência de estrutura adequada para realização da atividade e o despreparo técnico dos profissionais para atuar na pandemia. Os indicadores de COVID-19 em Rondônia registraram 1.322 casos confirmados COVID-19 e, aproximadamente 0,27% dos profissionais não resistiram à doença, totalizando 49 óbitos. Entretanto, vale ressaltar que esses números tendem a aumentar quando se leva em consideração as subnotificações.

Palavras-Chave: saúde pública, saúde do trabalhador, condições de trabalho

Abstract

This article aims to describe the indicators of COVID-19 contamination in health professionals in the state of Rondônia. Discussions are presented about the factors that corroborate the contamination of health professionals in the front line of COVID-19. Methodologically, this is descriptive exploratory research, using data from the Nursing Observatory and sources consisting of material already elaborated: books and scientific articles. The results showed that most health professionals do not feel protected in the work of coping with the COVID-19, and the main reason is related to the scarcity and inadequate use of personal protective equipment (PPE), lack of adequate structure to perform the activity and the technical unpreparedness of professionals to work in the pandemic. The COVID-19 indicators in Rondônia recorded 1,322 cases confirmed by COVID-19 and approximately 0.27% of the professionals did not resist the disease, totaling 49 deaths. However, it is worth mentioning that these numbers tend to increase when underreporting is considered.

Keywords: public health, occupational health, working conditions

 

 

 

Introdução

Segundo o Ministério da Saúde, a COVID-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo Coronavírus, também chamado SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global. Reconhecida em dezembro de 2019, na China continental, a doença apresentou desafios críticos para a saúde pública, pesquisa e comunidades médicas, sendo declarado como emergência de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020 (INSTITUTO BUTANTAN, 2020?).

Durante os períodos de surto de COVID-19 ou outras doenças infecciosas, a Implementação de Prevenção e Controle de infecção (IPC) é de grande importância em ambientes de saúde, especialmente no que diz respeito à proteção pessoal dos profissionais que atuam nessa área (BRASIL, 2021). Isso porque, quando determinado agente se dissemina em diversos países ou continentes, afetando um número significativo de pessoas, é estabelecida uma pandemia.

De acordo com evidências mais atuais, o SARS-CoV-2, da mesma forma que outros vírus respiratórios, é transmitido principalmente por três modos: contato, gotículas ou por aerossol. Na transmissão por contato, a propagação é realizada por meio do contato direto com uma pessoa infectada ou com objetos e superfícies contaminados. A transmissão por gotículas é concedida por meio da exposição a gotículas respiratórias expelidas, contendo vírus, por uma pessoa infectada quando ela tosse ou espirra, principalmente quando ela se encontra a menos de um metro de distância da outra. Já a transmissão por aerossol ocorre por meio de gotículas respiratórias menores (aerossóis) contendo vírus e que podem permanecer suspensas no ar por um longo período de tempo (BRASIL, 2021).

A epidemiologia do SARS-CoV-2 indica que a maioria das infecções se espalha por contato próximo (menos de um metro), principalmente por meio de gotículas respiratórias. Não há evidência de transmissão eficiente para pessoas em distâncias maiores ou que entram em um local horas depois que uma pessoa infectada esteve lá, isso significa que ao manter as medidas de segurança adequadas, o ambiente se torna mais seguro para todos (BRASIL, 2021).

A transmissão por gotículas menores, contendo o SARS-CoV-2 suspensas no ar, mesmo sendo incomum, ainda pode ocorrer em circunstâncias especiais. Como, por exemplo, quando uma pessoa infectada produz gotículas respiratórias por um período prolongado (maior que 30 minutos) em um espaço fechado. Nessas situações, uma quantidade suficiente de vírus pode permanecer presente no espaço de forma a causar infecções em pessoas que estiverem a mais de um metro de distância ou que passaram por aquele espaço logo após a saída da pessoa infectada (BRASIL, 2021).

 A ventilação ou tratamento de ar inadequados permitem o acúmulo de pequenas gotículas e partículas respiratórias em suspensão.  Essas circunstâncias incluem espaços fechados nos quais várias pessoas podem ter sido expostas simultaneamente a um indivíduo infectado, ou mesmo circulado pelo espaço contaminado por ele. Isso porque a exposição prolongada a partículas respiratórias, muitas vezes geradas por esforço respiratório (gritar, cantar, fazer exercícios etc.), aumenta a concentração de gotículas respiratórias em suspensão.

Também é importante citar alguns procedimentos médicos em vias aéreas que podem produzir aerossóis capazes de permanecer suspensas no ar, por períodos mais longos, de forma que acaba contaminando pessoas que não estejam utilizando equipamentos de proteção individual – EPIs (BRASIL, 2021).

Como citado anteriormente, a COVID-19 tem a capacidade de ser transmitida de uma pessoa infectada para outra, mesmo que ela não apresente nenhum sintoma. Nesse sentido, torna-se expressivamente recomendada a prevenção adequada com o distanciamento social, o uso de máscaras e correta higienização das mãos. Entretanto, essas recomendações para os profissionais de saúde são ainda mais complexas, visto que são eles que cuidam de pessoas contaminadas. Diante do exposto, foi definido como objetivo de pesquisa descrever os indicadores de contaminação por COVID-19, nos profissionais da saúde, em especial aqueles do estado de Rondônia, situado na Amazônia brasileira.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva, buscando descrever os dados relacionados à contaminação com SARS-CoV-2 e aos óbitos, período de maior disseminação do vírus e faixa etária mais afetada (BOGDAN; BIKLEN, 1994; LAKATOS; MARCONI, 2003). Os dados foram obtidos por meio de levantamento nas plataformas digitais Instituto Butantan (2020?), Ministério da Saúde (2021), Fundação Getúlio Vargas (2021) e Observatório da Enfermagem – COFEN (2021), utilizando os termos de busca: “Indicadores de COVID-19” e “Contaminação dos profissionais da saúde por COVID-19”.

Considerando as normas brasileiras de pesquisa, a pesquisa não necessitou de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme dispõem as Resoluções nº 466/2012 e 510/2016, por tratar-se da utilização de dados disponíveis em plataformas de busca pública.

Os dados a respeito da contaminação de profissionais da saúde pelo SARS-CoV-2 foram obtidos no website do Observatório da Enfermagem, do Conselho Federal de Enfermagem - COFEN (2021), disponibilizados já em forma de gráficos no site da Instituição. O sítio do Observatório possibilita visualizar os indicadores por região do Brasil.

Resultados e Discussão
  • Contaminação por COVID-19 em profissionais de saúde

Os indicadores de COVID-19 entre os profissionais da saúde, no cenário nacional brasileiro, chamam atenção, especialmente em relação à sensação de estarem preparados para o exercício profissional e às condições de trabalho nas unidades hospitalares.

De acordo com os resultados da pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da COVID-19, realizada pela Fiocruz em todo o território nacional, a pandemia alterou de modo significativo a vida de 95% desses trabalhadores. Os dados revelam ainda que 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho de enfrentamento à COVID-19, e o principal motivo, para 23% deles, está relacionado à escassez e à inadequação do uso de EPIs (64% revelaram a necessidade de improvisar equipamentos). Os participantes da pesquisa também relataram o medo generalizado de se contaminar no trabalho (18%), a ausência de estrutura adequada para realização da atividade profissional (15%), além de fluxos de internação ineficientes (12,3%). O despreparo técnico dos profissionais para atuar na pandemia foi citado por 11,8%, enquanto 10,4% denunciaram a insensibilidade de gestores para suas necessidades profissionais (LEONEL, 2021).

Em primeiro lugar, é relevante ressaltar que no início da pandemia os profissionais da saúde não tinham muito conhecimento sobre o patógeno, logo, a consciência de proteção pessoal não era forte o suficiente. Portanto, os profissionais de saúde da linha de frente não implementaram a proteção pessoal efetiva antes de conduzir o tratamento. A exposição prolongada a um grande número de pacientes infectados aliada à pressão do tratamento, à intensidade do trabalho e à falta de descanso, aumentou diretamente a probabilidade de infecção (LEONEL, 2021).

A falta de EPIs também é destaque de uma pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina – APM, que concluiu que 50% dos médicos, que atuam no combate à COVID-19, enfrentam, no local onde trabalham, a falta de tais equipamentos. O levantamento mostra que 50% dos médicos entrevistados disseram que faltam máscaras N95 ou PFF2, adequadas para bloquear o Coronavírus; 38,5% afirmaram faltar proteção facial; 26% acusaram a falta de óculos; 31%, de aventais; 36,5%, de máscaras cirúrgicas; e 21,5%, de orientação ou programa para atendimento (ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 2020).

Vale ressaltar que a ausência de EPIs, aliada à precariedade das unidades de atendimento e à falta de insumos básicos para o tratamento da doença potencializa as dificuldades no enfrentamento da pandemia. Além disso, conforme visto em Lotta et al (2021), os profissionais de saúde da linha de frente (exceto médicos infectologistas) não receberam treinamento adequado; faltavam supervisão e orientação profissional, bem como mecanismos de monitoramento. Os profissionais de saúde não tiveram tempo suficiente para treinamento e capacitação adequada, além de que os mecanismos de transmissão do Coronavírus ainda se tratava de uma incógnita (ou, ainda eram desconhecidos).

Essa situação potencializou ainda mais o risco de infecção para os profissionais de saúde. Segundo Lotta et al (2021, p. 9),

 

No contexto atual, a maioria dos(as) respondentes (69,9%) disseram se sentir despreparados(as) para lidar com a crise. Ao segmentar este dado pela região de atuação do(a) participante da pesquisa é possível observar maiores índices de sensação de despreparo no Nordeste e Norte (76% e 75,6%, respectivamente) se comparado às demais (Centro Oeste: 69,7%; Sul: 70,2%; Sudeste: 60,6%).

 

O gráfico a seguir expõe os resultados ordenados de acordo com a profissão. Destaca-se que os Agentes Comunitários(as) de Saúde e Agentes de Combate a Endemias (ACS/ACE) são aqueles que, proporcionalmente, mais declararam se sentir despreparados(as) (78,9%) em relação aos(às) médicos(as) (56,6%), profissionais da Enfermagem (59,4%) e outras categorias (63%): (dentistas, psicólogos(as), farmacêuticos(as), profissionais de gestão, etc.) (LOTTA et al., 2021).

 

Figura 1: Sensação de estar preparado para o exercício profissional.

Fonte: Fundação Getúlio Vargas (2021).

 

Sobre os motivos que contribuem para que o(a) profissional sinta-se despreparado(a), foram 1.529 relatos que mencionam, principalmente:

 

(i) situação política e má condução da pandemia pelo Governo Federal, além do negacionismo disseminado entre a população (presente em 307 relatos de despreparado, ou seja, 20% do total de 1529); (ii) medo e insegurança por ser profissional da linha de frente e estar exposto(a) ao vírus e/ou contaminar a família (em 305 relatos, 19,9%); (iii) falta de apoio dos superiores e gestão municipal, que não oferecem treinamento e orientações (em 219 relatos, ou seja, 14,3%); (iv) falta de EPIs, vacinas e testagem (em 204 relatos, 13,4%); (v) falta de informações consolidadas sobre a doença e incertezas (em 194 relatos, em 12,6%); (vi) aumento do número de casos e óbitos (em 128 relatos, isto é, 8,3%) e sistema de saúde colapsando (em 110 relatos, ou seja, 7,2% dos relatos) (LOTTA et al., 2021, p.9).

 

Com base nos dados analisados, compreende-se necessária a criação de estratégias para o enfrentamento da situação de pandemia, sendo de suma importância para os trabalhadores de saúde, que se tenha controle e eficácia quanto ao fornecimento dos EPIs, treinamento adequado e o reforço no hábito de seu uso, a proteção dos olhos e adoção de precaução padrão.

Medeiros (2020, p. 3) destaca que “Os grandes desafios para os hospitais são de reorganizar o atendimento, ampliar leitos de unidade de terapia intensiva, abastecer com equipamentos de proteção individual e ter profissionais capacitados.” Outras estratégias incluem a restrição ao trabalho com adoção do isolamento nos casos de aparecimento de sintomas, a testagem frequente dos profissionais da saúde, o treinamento intensivo para o manejo dos casos graves e moderados, a mobilização dos profissionais para as áreas mais afetadas, a comunicação clara e fácil e protocolos simples e acessíveis. Estudos recomendam a triagem de febre e possíveis sintomas de COVID-19 no início do turno de trabalho dos profissionais da saúde, priorizando-os para a testagem rápida que deve ser sistematicamente realizada (SANT’ANA et al., 2020).

  • Contaminação por COVID-19 em profissionais de saúde no Estado de Rondônia

No estado de Rondônia, situado na região Norte do Brasil, os dados referentes à COVID-19 em profissionais da saúde indicam alta exposição e a necessidade de pensar estratégias de proteção desses trabalhadores. Nesse sentido, apresentam-se a seguir alguns dados referentes aos profissionais de enfermagem do Estado.

De acordo com o Observatório da Enfermagem – COFEN, até o dia 16/11/2021, o Estado de Rondônia registrou 1.322 casos de profissionais de enfermagem infectados por COVID-19. Dos 1.322 casos confirmados, 83,28% das infecções ocorreram em profissionais do sexo feminino e 16,72% do sexo masculino (OBSERVATÓRIO DE ENFERMAGEM, 2021). Embora não tenham sido localizadas referências que explicassem os motivos dessa discrepância, acredita-se que esteja relacionada à prevalência de mulheres nas equipes de enfermagem. Pesquisa, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ e pelo Conselho Federal de Enfermagem - COFEN, mostrou que a enfermagem no Brasil é composta por 84,6% de mulheres (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2015).

 

Figura 2: Evolução no número de casos de COVID-19 em profissionais de enfermagem

Fonte: Observatório de Enfermagem-COFEN (2021).

 

A média móvel de casos, registrada entre maio de 2020 a julho de 2021, apresenta um aumento significativo de casos no mês de maio de 2021, totalizando 213 casos confirmados de COVID-19 em profissionais de enfermagem (OBSERVATÓRIO DE ENFERMAGEM, 2021).

 

 

 

Figura 3: Média móvel casos de COVID-19 em profissionais de enfermagem

Fonte: Observatório de Enfermagem – COFEN (2021).

 

Dos 1.322 casos confirmados por COVID-19, aproximadamente 0,27% dos profissionais de enfermagem não resistiram à doença, totalizando 49 óbitos. Desses, 69,39% eram do sexo feminino e 30,61%, do sexo masculino, indicando uma prevalência de morte entre as mulheres (OBSERVATÓRIO DE ENFERMAGEM, 2021).

 

Figura 4: Óbitos por COVID-19 em profissionais de enfermagem

Fonte: Observatório de Enfermagem-COFEN (2021).

 

Apesar da média móvel de casos ter registrado um aumento significativo no mês de maio de 2021, a média móvel de óbitos de profissionais de enfermagem foi mais elevada em março de 2021 (OBSERVATÓRIO DE ENFERMAGEM, 2021).

 

Figura 5: Média móvel de óbitos de profissionais de enfermagem por COVID-19

Fonte: Observatório de Enfermagem-COFEN (2021).

 

Os dados a respeito dos indicadores de contaminação, por faixa etária, são apresentados no gráfico a seguir, divididos entre casos e óbitos. Observa-se que houve mais contaminações em profissionais da enfermagem com idade entre 31 e 40 anos de idade, enquanto os óbitos foram mais frequentes na faixa etária de 41 a 50 anos (OBSERVATÓRIO DE ENFERMAGEM, 2021).

 

 

 

Figura 6: Gráfico da média móvel casos de COVID-19 em profissionais de Enfermagem

Fonte: Observatório de Enfermagem-COFEN (2021).

 

  • A subnotificação de casos de COVID-19 no Brasil

Os números de casos confirmados e de óbitos pela COVID-19 são dados importantes para que se possa compreender a evolução da doença. Contudo, a rápida disseminação da pandemia e a pouca realização de testes para identificar o vírus tornam difícil estimar o número real de casos, provocando subnotificação em diferentes estados brasileiros. A restrição dos testes compromete o monitoramento da progressão da pandemia, o planejamento de recursos e a avaliação da eficácia das medidas de controle, assim como a comparação com outras regiões e países. Além disso, esse fato pode levar a falsas conclusões de que a doença esteja sob controle, ocasionando um relaxamento nas medidas de prevenção (PRADO et al., 2020).

Segundo Oliveira e Araújo (2020), o Centro para Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas da Escola de Medicina Tropical de Londres, do Reino Unido, calculou que o Brasil teria aproximadamente 11 vezes mais casos do que os registrados oficialmente, com uma taxa de detecção de 11%. Para os autores essa subnotificação dos casos é causada por alguns fatores, como a falta de testes de diagnósticos, em um cenário em que apenas pacientes com quadros sintomáticos e manifestações graves da doença são priorizados para testagem. Além disso, os casos assintomáticos de COVID-19 acabam passando despercebidos pelo sistema de saúde, não sendo contabilizados pelos órgãos competentes.

Como consequências dessas subnotificações encontram-se a persistência da doença e a sobrecarga nos serviços de saúde, por isso é necessário aumentar a sensibilidade de detecção de casos assintomáticos e sintomáticos, contribuindo para a redução das possibilidades de colapsos nos sistemas hospitalares no Brasil e no mundo. Os desafios na realização de diagnósticos precoces podem atrasar a implementação de medidas de controle e implicar em repercussões muito graves, como o aumento do número de óbitos e o crescimento substancial da dificuldade em restringir o avanço da transmissão de COVID-19. Nesse sentido, adotar quaisquer medidas em relação a doença sem ter uma dimensão mais realista do número de casos poderia colocar não só os profissionais da saúde, mas toda a população em risco (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2020).

A BBC News Brasil entrou em contato com o Ministério da Saúde para inquirir como o governo avalia essa questão da subnotificação de mortes por COVID-19 no país. Por meio de nota, a assessoria de imprensa da pasta afirmou, sem entrar em detalhes, que há um processo para fortalecer a rede de vigilância de influenza e outros vírus respiratórios, “para cada vez mais qualificar a identificação de agentes etiológicos causadores de doenças respiratórias, como a COVID-19, principalmente por técnicas de biologia molecular, incluindo mais tipos de vírus nos diagnósticos e com equipamentos capazes de um maior número de processamento ao dia” (BIERNATH, 2020).

No texto, os representantes do Ministério da Saúde também apontaram que o processo de notificação não envolve apenas informar um novo caso. “Mesmo depois de inserido no sistema de informação, os técnicos retornam para atualizar as informações, bem como os resultados laboratoriais e assim encerrar os casos. O Ministério da Saúde regularmente discute e fortalece a necessidade da notificação e digitação oportuna dos casos suspeitos e confirmados para COVID-19 com as equipes de vigilância dos Estados" (BIERNATH, 2020).

Acredita-se que o governo brasileiro não deu a devida atenção e importância à pandemia, em termos de prevenção, diagnóstico e tratamento da COVID-19, levando o país a ser destaque mundial na prevalência de contaminação e óbitos. Descaso no uso de EPIs, negação da ciência e incitação à aglomeração são destaques de ações da autoridade máxima do Brasil.

­­Considerações Finais

Este artigo, além de apresentar os indicadores de contaminação por COVID-19 nos profissionais de saúde do Estado de Rondônia, com base nos dados obtidos pelo Observatório de Enfermagem-COFEN (2021), também abordou pesquisas realizadas pela FIOCRUZ (LEONEL, 2021) sobre as condições de trabalho dos profissionais de saúde no contexto da COVID-19, tendo em vista que a pandemia alterou, de modo significativo, a vida de 95% desses trabalhadores.

A pesquisa mostrou, concordando com Aquino et al (2020), que é imprescindível fortalecer: o sistema de vigilância nos três níveis do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo o desenvolvimento de indicadores para avaliar a evolução da epidemia e a divulgação sistemática dos dados de notificação, desagregados por município e distritos sanitários; a ampliação da capacidade de testagem para identificar profissionais infectados com formas assintomáticas, pré-sintomáticas e sintomáticas, hospitalizações e óbitos em decorrência da COVID-19; a definição precisa dos casos suspeitos e confirmados, baseada em critérios clínicos e laboratoriais; a avaliação permanente da implementação, efetividade e impacto das estratégias de controle. Estas ações devem ser observadas pelo Governo do Estado de Rondônia para, entre outros fatores, minimizar os riscos da exposição dos profissionais de enfermagem no enfrentamento à pandemia.

 

Agradecimentos

À Pró-Reitoria de Extensão do Instituto Federal de Rondônia – Campus Porto Velho Calama, pelo apoio financeiro ao projeto Laços de Parente, que além de ações de ensino e extensão desenvolveu atividade de iniciação científica.

Referências

AQUINO, E. M. L. et al. Medidas de distanciamento social no controle da pandemia de COVID-19: potenciais impactos e desafios no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, [s.l.], v. 25, p. 2423-2446, jun. 2020. Supl. 1. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25suppl1/2423-2446/pt/. Acesso em: 02 nov. 2021.

 

ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA. Médicos apontam falta de testes e EPIs como principal problema no combate à pandemia. Associação Paulista de Medicina, São Paulo-SP, 28 abr. 2020. Disponível em: http://associacaopaulistamedicina.org.br/noticia/medicos-apontam-falta-de-testes-e-epis-como-principal-problema-no-combate-a-pandemia. Acesso em: 05 nov. 2021.

 

BIERNATH, A. Mortes por covid-19 no Brasil estão 50% acima do que apontam dados oficiais, calculam especialistas. BBC NEWS, São Paulo-SP, 30 dez. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55481551. Acesso em: 02 nov. 2021.

 

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto – Portugal: Porto Editora, 1994.

 

CASTIEL, L. D.. O que é Saúde Pública?. Fundação Osvaldo Cruz, Manguinhos-RJ, [2020]. Disponível em: http://www.fiocruz.br/bibsp/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=107. Acesso em: 20 out. 2021.

 

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Profissionais infectados por Covid-19 informado pelo serviço de saúde. Observatório da Enfermagem, [s.l.], nov. 2021. Disponível em: http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/. Acesso em: 05 nov. 2021.

 

INSTITUTO BUTANTAN. Entenda o que é uma pandemia e as diferenças entre surto, epidemia e endemia. Instituto Butantan, [s.l.], [2020]. Disponível em: https://butantan.gov.br/covid/butantan-tira-duvida/tira-duvida-noticias/entenda-o-que-e-uma-pandemia-e-as-diferencas-entre-surto-epidemia-e-endemia. Acesso em: 20 out. 2021.

 

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

 

LEONEL, F. Pesquisa analisa o impacto da pandemia entre profissionais de saúde. Fundação Osvaldo Cruz, Manguinhos-RJ, 22 mar. 2021. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-analisa-o-impacto-da-pandemia-entre-profissionais-de-saude#:~:text=Os%20dados%20indicam%20que%2043,a%20necessidade%20de%20improvisar%20equipamentos. Acesso em: 08 fev. 2022.

 

LOTTA, G. et al. A pandemia de Covid-19 e os(as) profissionais de saúde pública no Brasil: nota técnica. [s.l.]: Fundação Getúlio Vargas, 2021. Disponível em: https://neburocracia.files.wordpress.com/2021/04/rel11-saude-covid-19-fase4-v3.pdf. Acesso em: 05 nov. 2021.

 

MEDEIROS, E. A. S. A luta dos profissionais de saúde no enfrentamento da COVID-19. Acta Paul Enferm, [s.l.], v. 33, p. I-IV, e-EDT20200003, may 2020. Disponível em: https://acta-ape.org/wp-content/uploads/articles_xml/1982-0194-ape-33-e-EDT20200003/1982-0194-ape-33-e-EDT20200003.x16677.pdf. Acesso em: 02 nov. 2021.

 

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Como é transmitido o vírus da Covid-19?. Ministério da Saúde, Brasília, 8 abr. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/como-e-transmitido. Acesso em: 20 out. 2021.

 

MINISTÉRIO DA SAÚDE. O que é a Covid-19?. Ministério da Saúde, Brasília, 8 abr. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/o-que-e-o-coronavirus. Acesso em: 20 out. 2021.

 

OLIVEIRA, T. M. de; ARAÚJO, A. C. O. Consequências da subnotificação dos casos de COVID-19 para a saúde pública no Brasil. InterAm J Med Health, [s.l.], v. 3, p. 1-4, nov. 2020. Disponível em: https://www.iajmh.com/iajmh/article/view/150/196. Acesso em: 15 nov. 2021

 

PRADO, M. F. do. et al. Análise da subnotificação de COVID-19 no Brasil. Rev. bras. ter. Intensiva, [s.l.], v. 32, n. 2, p. 224-228, apr.-jun. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbti/a/XHwNB9R4xhLTqpLxqXJ6dMx/?lang=pt. Acesso em: 15 nov. 2021.

 

SANT’ANA, G. et al. Infecção e óbitos de profissionais da saúde por COVID-19: revisão sistemática. Acta Paul Enferm, [s.l.], v. 33, p. 1-9, 2020. Disponível em: https://acta-ape.org/wp-content/uploads/articles_xml/1982-0194-ape-33-eAPE20200107/1982-0194-ape-33-eAPE20200107.pdf. Acesso em: 05 nov. 2021.