Melodrama e crise social: Os Mistérios de Paris e a política da escravidão no Império do Brasil (c. 1840-1850)

Autores

  • Alain El Youssef USP/PÓS-DOC
  • Mariana França Soutto Mayor

DOI:

https://doi.org/10.5007/2175-7976.2023.e92762

Palavras-chave:

Os Mistérios de Paris, Política da escravidão, Teatro São Pedro de Alcântara

Resumo

No dia 25 de março de 1851, aniversário da Constituição brasileira de 1824, o Teatro São Pedro de Alcântara apresentou, sob os olhares do Imperador D. Pedro II, a peça Os Mistérios de Paris, baseada no folhetim homônimo do escritor francês Eugène Sue, traduzido ainda na década de 1840 para o português por Justiniano José da Rocha. O artigo tem por objetivo analisar as motivações que levaram a tradução da obra pouco tempo depois da sua publicação original e a sua apresentação teatral no início da década de 1850. Com base em jornais da época, documentos do Conservatório Dramático Nacional e bibliografia especializada, o texto defende que tanto a tradução como a encenação da peça fizeram parte de uma estratégia que compôs a “política da escravidão” levada a cabo pelos saquaremas entre o período Regencial e o início do Segundo Reinado.

Referências

ARAÚJO, Valdei L. de. Historiografia, nação e os regimes de autonomia na vida letrada no Império do Brasil. Varia Historia, v. 31, n. 6, p. 365-400, maio/ago. 2015.

AZEVEDO, Elizabeth R. Joana Paula Manso de Noronha: Uma dramaturga no teatro brasileiro do século XIX (1840-1859). Urdimento – Revista de Estudos em Artes Cênicas, Florianópolis, v. 2, n. 41, p. 1-24, set. 2021.

BARMAN, Roderick J. Justiniano José da Rocha e a época da Conciliação. Como se escreveu ‘Ação, reação, transação’. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 301, p. 3-32, out.-dez. 1973.

BASILE, Marcelo. O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840). In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.) O Brasil Imperial: volume 2 (1831-1870). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 53-119.

BERBEL, Márcia; MARQUESE, Rafael; PARRON, Tâmis. Escravidão e política: Brasil e Cuba, c. 1790-1850. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2010.

BETENSKY, Carolyn. Fantasmes de lecture dans Les Mystères de Paris d’Eugène Sue. Médias 19. Dossier American Mysterymania, 2018.

BETHELL, Leslie. A abolição do comércio brasileiro de escravos: a Grã-Bretanha, o Brasil e a questão do comércio de escravos, 1807-1869. Brasília: Senado Federal, 2002.

BORY, Jean-Louis. Eugène Sue, Le roi du roman populaire. Paris: Hachette, 1962.

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários Escritos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011.

CARDIM, Elmano. Justiniano José da Rocha. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964.

CHEVALIER, Louis. Classes laborieuses et classes dangereuses à Paris, pendant la première moitié du XIXe siècle. Paris: Hachette/Pluriel, 1984.

DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Pau-lo: Globo, 2005.

ECO, Umberto. Rhetoric and ideology in Sue's Les Mystères de Paris. International Social Science Journal, XIX, 4, p. 551-569, 1967.

ESTEFANES, Bruno F.; PARRON, Tâmis; YOUSSEF, Alain El. Vale expandido: contrabando negreiro e construção de uma dinâmica política nacional no Império do Brasil. Almanack, n. 7, p. 137-159, 1º sem. 2014.

FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado em el Brasil Imperial, 1808-1871: control social y esta-bilidad política en el nuevo Estado. México: Fondo de Cultura Económica, 1986.

GAUTIER, Théophile. Histoire de l’art dramatique. Paris: Hachette/BnF, 2012.

GUIMARÃES, Lucia M. P. Ação, reação e transação: a pena de aluguel e a historiografi”. ANPUH – XXIII Simpósio Nacional de História. Anais. Londrina, 2005. Disponível em https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-01/1548206369_6e7432f4b430b6e2a6eeaceed02ef6a7.pdf.

GUIZELIN, Gilberto da S. No rastro dos traficantes retornados e foragidos para Portugal: a ‘intelligencia saquarema’ no combate ao tráfico atlântico de escravos depois de 1850. Almanack, n. 30, p. 1-42, 2022.

HUGO, Victor. Os Miseráveis. São Paulo: Cosac & Naify, 2012.

JANOTTI, Maria de L. M. A falsa dialética: Justiniano José da Rocha. Revista Brasileira de História, v. 2, n. 3, p. 3-17, mar. 1982.

LYON-CAEN, Judith. Un magistère social: Eugène Sue et le pouvoir de représenter. Le Mouvement Social, n. 224, p. 75-88.

MAGALHÃES Jr., R. Três panfletários do Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2009.

MAMIGONIAN, Beatriz G. Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

MARTINS, Silvia C. de S. Ideias encenadas: uma interpretação de O Demônio Familiar de José de Alencar. Dissertação de Mestrado, IFCH/UNICAMP, 1996.

MARX, Karl. A luta de classes na França. São Paulo: Boitempo, 2012.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Sagrada Família. São Paulo: Boitempo, 2003.

MASCARENHAS, Nelson L. Um jornalista do Império (Firmino Rodrigues da Silva). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.

MATTOS, Ilmar R. de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec, 2004.

MEYER, Marlyse. Um fenômeno poliédrico. O romance-folhetim francês do século XIX. Revista Brasileira de Literatura Comparada, v. 2, n. 2 p. 123-135, 1994.

MEYER, Marlyse. Folhetim, uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

MOREL, Marco. O período das regências. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

NEEDELL, Jeffrey. The Party of Order: The Conservatives, the State, and slavery in the Brazilian Monarchy, 1831-1871. Stanford: Stanford University Press, 2006.

NETO, Luiz Costa-Lima. Teatro, tráfico negreiro e política no Rio de Janeiro Imperial (1845-1858): os casos de Luiz Carlos Martins Pena e José Bernardino de Sá. ArtCultura, v. 19, n. 34, p. 107-124, jan.-jul. 2017.

NEVES, Lúcia B. P. das. A vida política. In: COSTA E SILVA, Alberto da (coord.) História do Brasil nação: 1808-2010 – vol. 1: Crise colonial e independência, 1808-1830. Rio de Janeiro: Fundación Mapfre/Objetiva, 2011. p. 75-113.

PARRON, Tâmis. A política da escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

PARRON, Tâmis. A política da escravidão na Era da Liberdade: Estados Unidos, Brasil e Cuba, 1787-1846. Tese (Doutorado em História) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

PARRON, Tâmis. “The British Empire and the suppression of the slave trade to Brazil”. Journal of World History, v. 29, n. 1, p. 1-36, 2018.

PETTITT, Claire. Serial Revolutions 1848: Writing, Politics, Form. Oxford: Oxford University Press, 2022.

PYAT, Félix. Souvenirs Littéraires: Comment j’ai connu Eugène Sue et Georg Sand. La Revue de Paris et Saint Pétersbourg, n. 5, p. 16-35, 1888.

SABATIER, Guy. Les relations politico-littéraires entre Eugène Sue et Félix Pyat. In Cahiers pour la littérature populaire, n.17, 2003.

SANTOS, Guido G. “Comerciais e acidentalmente políticos”? O Jornal do Commercio, o Diário do Rio de Janeiro e a política internacional do Império (1845-1852). Dissertação (Mestrado em História) – IFCH, Unicamp, Campinas, 2019.

SARAIVA, Luiz F.; AMILCO, Rita; PESSOA, Thiago C. Vida, fortuna e morte: a trajetória de José Bernardino de Sá – Barão e Visconde de Villa Nova do Minho. In: SARAIVA, Luiz F.; SANTOS, Silvana A. dos; PESSOA, Thiago C. (orgs.) Tráfico e traficantes na ilegalidade: O comércio proibido de escravos para o Brasil (c.1831-1850). São Paulo: Hucitec, 2021. p. 25-70.

SCHAPOCHNICK, Nelson. D’Os mistérios de Paris aos mistérios no Prata: tradução, imitação e invenção. Leitura: Teoria e Prática, v. 35, n. 71, p. 101-113, 2017.

SCHAPOCHNICK, Nelson. Edição, recepção e mobilidade do romance Les mystères de Paris no Brasil oitocentista. Varia Historia, v. 26, n. 44, p. 591-617, jul/dez. 2010.

SLENES, Robert. Malungo, Ngoma vem: África coberta e descoberta no Brasil. Revista USP, n. 12, p. 48-67, 1991/1992.

SLENES, Robert. A árvore de Nsanda transplantada: cultos kongo de aflição e identidade escrava no sudeste brasileiro (século XIX). In: LIBBY, Douglas C.; FURTADO, Júnia F. (org.). Trabalho livre, trabalho escravo: Brasil e Europa, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Annablume, 2007. p. 273-314.

SUE, Eugène. Les Mystères de Paris. Paris: Robert Laffont, 1995.

SUE, Eugène; DINAUX, Prosper. Les Mystères de Paris. Roman en cinq parties et onze tableaux. Bruxelles: J-A. Lelong, 1844.

TANNENBAUM, Edward R. The Beginnings of Bleeding-Heart Liberalism: Eugene Sue's les Mysteres de Paris. Comparative Studies in Society and History, v. 23, n. 3, p. 491-507, jul. 1981.

VIANA, Hélio. Justiniano José da Rocha. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 243, n. 2, p. 20-34, abr.-jun 1959.

YOUSSEF, Alain El. Imprensa e escravidão: política e tráfico negreiro no Império do Brasil (Rio de Janeiro, 1822-1850). São Paulo: Intermeios/Fapesp, 2016.

YOUSSEF, Alain El. O Império do Brasil na segunda era da abolição, 1861-1880. Tese (Doutorado em História) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

Downloads

Publicado

2023-12-22

Como Citar

El Youssef, A., & França Soutto Mayor, M. (2023). Melodrama e crise social: Os Mistérios de Paris e a política da escravidão no Império do Brasil (c. 1840-1850) . Esboços: Histórias Em Contextos Globais, 30(54), 183–210. https://doi.org/10.5007/2175-7976.2023.e92762

Edição

Seção

Dossiê "A escravidão brasileira nos séculos XVIII e XIX em perspectiva global"