O GRUPO DE OUVIDORES DE VOZES: DISPOSITIVO DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL
Resumo
A alucinação auditiva é um fenômeno que participa da vida de muitas pessoas que fazem tratamento no sistema público de saúde mental de nosso país. No cotidiano de um Centro de Atenção Psicossocial de uma capital brasileira, ouvidores de vozes relatavam com frequência que continuavam sofrendo em função de experiências alucinatórias, mesmo seguindo o tratamento prescrito pela equipe de saúde. Considerando esse problema, foi criado no local um grupo voltado para a lida com o fenômeno. Este artigo teve como objetivo analisar experiências desse grupo. Para isso, utilizou-se o método qualitativo, o qual envolveu o registro de 62 sessões sob a forma de diário de campo, e a análise do corpus. A organização dos dados se deu em três espectros temporais estruturantes de (psico)terapias de grupo em geral: “apresentação”, “trocas de experiências”, e “fechamento”; além de um aspecto dinâmico, denominado de “manejo terapêutico”. A apresentação promoveu a ambientação dos participantes e possibilitou o surgimento de temas importantes, os quais foram trabalhados no decorrer da sessão. Ao trocarem experiências, os integrantes conseguiram compreender algumas dinâmicas relativas às vozes, e houve a promoção de determinados fatores terapêuticos. O manejo serviu para alinhavar os espectros temporais e garantir a fluidez da atividade. Recomenda-se a adoção de grupos com esse foco e formato nos serviços de saúde mental, considerando que eles ampliam a capacidade de cuidado.
Downloads
Referências
Baker, P. (2009). The voice inside: a practical guide for and about people who hear voices. Port of Ness: P&P Press.
Bauer, S.M., Schanda, H., Karakula, H., Olajossy-Hilkesberger, L., Rudaleviciene, P., Okribelashvili, N., Chaudhry, H.R., Idemudia, S.E., Scheider, S., Ritter, K., & Stompe, T. (2011). Culture and the prevalence of hallucinations in schizophrenia. Comprehensive Psychiatry, 52, 319-325.
Brasil. (2011). Ministério da Saúde. Portaria Nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde.
Cordiolli, A.V., & Giglio, L. (2008). Como atuam as psicoterapias: os agentes de mudança e as principais estratégias e intervenções psicoterápicas. In: Cordioli, A.V. Psicoterapias – Abordagens Atuais. Porto Alegre: Artmed.
Corstens, D., & Longden, E. (2013). The origins of voices: links between life history and voice hearing in a survey of 100 cases. Psychosis, 5(3), 270-285.
Corstens, D., Longden, E., McCarthy-Jones, S., Waddingham R., & Thomas, N. (2014). Emerging perspectives from the hearing voices movement: implications for research and practice. Schizophr Bull, 40, S285–S294.
De Leede-Smith, S., & Barkus, E. (2013). A comprehensive review of auditory verbal hallucinations: lifetime prevalence, correlates and mechanisms in healthy and clinical individuals. Front Hum Neurosci, 7, 1-25.
Dillon, J., & Hornstein, G.A. (2013). Hearing voices peer support groups: a powerful alternative for people in distress. Psychosis, 5(3), 286-295.
Englisch, S., & Zink, M. (2012). Treatment-resistant Schizophrenia: Evidence-based Strategies. Mens Sana Monographs, 10(1), 20–32.
Escher, S. (2009). Accepting voices and finding a way out. In: Romme, M., Escher, S., Dillon, J., Corstens, D., & Morris, M. Living with voices: 50 stories of recovery. Birmingham City University: PCCS Books.
Green, C. A., Estroff, S. E., Yarborough, B. J., Spofford, M., Solloway, M. R., Kitson, R. S., & Perrin, N. A. (2014). Directions for future patient-centered and comparative effectiveness research for people with serious mental illness in a learning mental health care system. Schizophr Bull, 40(S1), S1-S94.
Holanda, A. F. (2009). A perspectiva de Carl Rogers acerca da Resposta Reflexa. Revista do NUFEN, 1(1), 40-59.
Johns, L., Kompus, K., Connell, M., Humpston, C., Lincoln, T., Longden, E., Preti, A., Alderson-Day, B., Badcock, J. C., Cella, M., Fernyhough, C., McCarthy-Jones, S., Peters, E., Raballo, A., Scott, J., Siddi, S., Sommer,I., & Larøi, F. (2014). Auditory verbal hallucinations in persons with and without a need for care. Schizophr Bull, 40, S255-S264.
Kalhovde, A. M., Elstad, I., & Talseth, A. G. (2013). Understanding the experiences of hearing voices and sounds others do not hear. Qualitative Health Research, 23(11), 1470-1480.
Kråkvik, B., Larøi, F., Kalhovde, A. M., Hugdahl, K., Kompus, K., Salvesen, Ø., & Vedul-Kjelsås, E. (2015). Prevalence of auditory verbal hallucinations in a general population: A group comparison study. Scandinavian Journal of Psychology, 56, 508-515.
Larøi, F., Sommer, I. E., Blom, J. D., Fernyhough, C., Hugdahl, K., Johns, L. C., McCarthy-Jones, S., Preti,A., Raballo, A., Slotema, C.W., Stephane, M., & Waters, F. (2012). The characteristic features of auditory verbal hallucinations in clinical and nonclinical groups: state-of-the-art overview and future directions. Schizophr Bull, 38(4), 724-733.
Longden, E., Corstens, D., Escher, S., & Romme, M. (2012). Voice hearing in a biographical context: a model for formulating the relationship between voices and life history. Psychosis, 4, 224–234.
Longden, E., Corstens, D., & Dillon, J. (2013). Recovery, discovery and revolution: the work of Intervoice and the hearing voices movement. In: Madness contested: power and practice. Coles, S., Keenan, S., & Diamond, B. Ross-on-Wye: PCCS Books.
Martins, F. (2003). Psicopathologia II: Semiologia Clínica: Investigação Teórico Clínica das Síndromes Psicopatológicas Clássicas. Brasília: Universidade de Brasília.
Merhy, E.E. (2007). Os CAPS e seus trabalhadores: no olho do furacão antimanicomial. Alegria e alívio como dispositivos analisadores. In: Merhy EE, Amaral H, organizadores. A reforma psiquiátrica no cotidiano II. São Paulo: Hucitec.
Muñoz, N.M., Serpa Jr, O.D., Leal, E.M., Dahl, C.M., & Oliveira, I.C. (2011). Pesquisa clínica em saúde mental: o ponto de vista dos usuários sobre a experiência de ouvir vozes. Estudos de Psicologia, 16(1), 83-89.
Nuevo, R., Chatterji, S., Verdes, E., Naidoo, N., Arango, C., & Ayuso-Mateos, J.L. (2012). The continuum of psychotic symptoms in the general population: a cross-national study. Schizophr Bull., 38(3), 475-85.
Rogers, C.R., & Kinget, G.M. (1977). Psicoterapia e Relações Humanas, v. 2. Belo Horizonte: Interlivros.
Romme, M. (2009a). Hearing voices groups. In: Romme, M., Escher, S., Dillon, J., Corstens, D., & Morris, M. Living with voices: 50 stories of recovery. Birmingham City University: PCCS Books.
Romme, M. (2009b). What causes hearing voices? In: Romme, M., Escher, S., Dillon, J., Corstens, D., & Morris, M. Living with voices: 50 stories of recovery. Birmingham City University: PCCS Books.
Ruddle, A., Mason, O., & Wykes, T. (2011). A review of hearing voices groups: Evidence and mechanisms of change. Clinical psychology review, 31(5), 757-766.
Sommer, I.E., Slotema, C.W., Daskalakis, Z.J., Derks, E.M., Blom, J.D., & van der Gaag, M. (2012). The treatment of hallucinations in schizophrenia spectrum disorders. Schizophr Bull, 38(4), 704–714.
Vasconcelos, E. M. (2013). Manual [de] ajuda e suporte mútuos em saúde mental: para facilitadores, trabalhadores e profissionais de saúde e saúde mental. Brasília: Ministério da Saúde, Fundo Nacional de Saúde.
Yalom, I., & Leszcz, M. (2006). Psicoterapia de grupo: Teoria e prática. Porto Alegre: Artmed.
Zimmerman, D.E. (2007). Fundamentos básicos das grupoterapias [recurso eletrônico]. 2. ed. Porto Alegre: Artmed. Disponível em: https://books.google.com.br
As opiniões emitidas, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem o manuscrito ao Conselho Editorial de Psicologia em Estudo, o(s) autor(es) assume(m) a responsabilidade de não ter previamente publicado ou submetido o mesmo manuscrito por outro periódico. Em caso de autoria múltipla, o manuscrito deve vir acompanhado de autorização assinada por todos os autores. Artigos aceitos para publicação passam a ser propriedade da revista, podendo ser remixados e reaproveitados conforme prevê a licença Creative Commons CC-BY.
The opinions expressed are the sole responsibility of the author (s). When submitting the manuscript to the Editorial Board of Study Psychology, the author (s) assumes responsibility for not having previously published or submitted the same manuscript by another journal. In case of multiple authorship, the manuscript must be accompanied by an authorization signed by all authors. Articles accepted for publication become the property of the journal, and can be remixed and reused as provided for in theby a license Creative Commons CC-BY.