Jornada mítica e trajetória humana: ponderações etnopsicológicas sobre jogos oraculares em espaço afrodiaspórico brasileiro

Resumo

No âmbito de estudos e pesquisas sobre as relações entre humanos e outros seres vivos, no campo da Etnopsicologia, aí particularizando a participação do grupo étnico iorubá (África Ocidental) no Brasil, há descrições da relação de pessoas com divindades e com mortos-viventes. Em espaço oracular afrodiaspórico é frequente a associação do jogo de búzios (erindilogun), do universo simbólico negro-africano, com a cartomancia (tarot em algumas de suas modalidades), do universo simbólico branco-europeu. Estabelecido o objetivo geral de contribuir com novos subsídios para debate dos temas Psicologia e Religião e Relações entre crença e desenvolvimento humano, foi estabelecido o objetivo específico de verificar possível convergência de narrativas míticas com narrativas biográficas nesse espaço. O referencial de interpretação incluiu teóricos da Etnopsicologia, da Quarta Força da Psicologia e do Hermetismo Ocidental e etnoteóricos do Saber Tradicional Iorubá. Dados primários foram obtidos na capital de São Paulo por meio da observação de consultas oraculares realizadas com o erindilogun e com o tarot e de entrevistas com lideranças de religiões de matriz iorubá. Foi possível concluir que a despeito das diferenças entre esses jogos, ambos possibilitam a leitura analógica entre, de um lado, cenários, seres e cenas míticos e de outro lado, cenários, seres e cenas de trajetórias biográficas dos consulentes, processo favorecido pela casualidade significativa, regida por leis da sincronicidade. Como os recursos divinatórios e os eventos da vida humana pertencem ao universo material e obedecem a padrões de organização, o princípio da sincronicidade possibilita uma relação de casualidade significativa entre tais recursos e eventos, de modo que ocorrências existenciais podem ser reconhecidas por observação de padrões do jogo divinatório realizado.