(Re) Existências periféricas contra o epistemicídio da cultura negra

Autores

  • Paulo Sérgio Silva Paz Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

DOI:

https://doi.org/10.29327/232521.9.1-9

Palavras-chave:

Pilhagens Epistemológicas, Saraus, Genocídio, Epistemicídio

Resumo

Esse artigo tem como objetivo principal mostrar como a arte e a cultura negra foram sendo apropriadas pelos centros hegemônicos de poder sem o menor agenciamento dos sujeitos produtores. Desde a chegada dos portugueses em solo brasileiro, todo conhecimento, inicialmente, Indígena e depois dos negros africanos escravizados foi sendo aos poucos assimilado pelo branco ocidental. O sequestro de negros africanos é o maior ato genocida cometido na história. O genocídio vem acontecendo há muito tempo, não só o genocídio físico, da morte do sujeito negro, mas, sobretudo, o genocídio cultural do qual Nascimento (1978) faz importantes relatos sobre. A apropriação cultural, o epistemicídio tem se atualizado cada vez mais na busca do apagamento da cultura negra, desde a apropriação de elementos e objetos da cultura negra ou Indígena, até o esvaziamento cultural. Nesse artigo, oriundo de minhas pesquisas sobre os saraus periféricos em Salvador-Bahia, busco mostrar como a produção ocidental se apropria de criações negras, ressignificando-as e tomando-as para si, sem nenhum agenciamento dos sujeitos produtores. O epistemicídio e as pilhagens epistemológicas são conceitos básicos neste trabalho para problematizar esse aniquilamento da cultura negra e Indígena, por isso nos debruçamos sobre a escrita de Carneiro (2005), BÂ (2010), Freitas (2016). Fazendo uso da noção de pilhagens epistemológicas, elaborada por Henrique Freitas (2016), procuro, na segunda parte desse artigo, pensar como os saraus contemporâneos, nascido nas e das periferias, estão sendo produzido em espaços consagrados por uma burguesia cultural, fazendo crer aos desatentos que o sarau, no formato que temos hoje, é uma produção centro-burguesa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AREWA, Funmi. Apropriação Cultural: qual é o limite entre brancos e negros. Alma Preta, São Paulo. 29 de ago. de 2017 Disponível em: https://www.almapreta.com/editorias/realidade/apropriacao-cultural-qual-e-o-limite-entre-brancos-e-negros

BÂ, Amadou Hampâté. A tradição viva. In: ZERBO, Joseph Ki (org). História Geral da África I: Metodologia e pré-história da África. Brasília: UNESCO, 2010.

CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 225. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

DALCASTAGNÈ Regina. Uma voz ao sol: representação e legitimidade na narrativa brasileira contemporânea. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, nº 20. Brasília, julho/agosto de 2002, pp. 33-87. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/view/8925

FORTES, Camila. Resistência, política e elegância: O empoderamento através do turbante. Entrecultura, Piauí. 11 de ago. de 2016. Disponível em: http://entrecultura.com.br/2016/08/11/resistencia-politica-e-elegancia-o-empoderamento-atraves-do-turbante/

FOUCAULT, Michel. Outros espaços. In: FOUCAULT, Michel. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Tradução: Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 411-422. (Ditos e escritos, v. 3).

FRANCO, Nilton Ferreira. O Sarau Paulistano na Contemporaneidade. Dissertação (Mestrado em Letras) Universidade Mackenzie. São Paulo, 2006.

FREITAS, Henrique. O arco e a arkhé: ensaios sobre literatura e cultura. Salvador: Ogum's Toques Negros, 2016.

GILROY, Paul. O Atlântico negro: Modernidade e dupla consciência. São Paulo, Rio de Janeiro: 34 / Ed. Universidade Cândido Mendes, 2001.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação - Episódios de racismo cotidiano. Tradução - Jess Oliveira. 1° ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

NOGUERA, Renato; BARRETO, Marcos. Infancialização, ubuntu e teko porã: elementos gerais para educação e ética afroperspectivistas. In: Childhood & Philosophy, Rio de janeiro, v. 14, n. 31, set.-dez. 2018. pp. 625-644. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6593654.pdf Acesso em 20 dez. 2020.

NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância religiosa. São Paulo, Pólen, 2020.

ONAWALE, Lande. Quartinhas de Aruá terá edição especial com lançamento do 39º Cadernos Negros. Portal Soteropreta, Salvador, 14 de dez. de 2016. Disponível em: http://portalsoteropreta.com.br/quartinhas-de-arua-tera-edicao-especial-com-lancamento-do-39o-cadernos-negros/

PINHEIROS, Lisandra Barbosa Macedo. Negritude, apropriação cultural e a “crise conceitual” das identidades na modernidade. In: XXVIII Simpósio Nacional de História. Lugares dos historiadores velhos e novos desafios. Anais. 2015. Disponível em: < http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1427821377_ARQUIVO_LISANDRA-TEXTOCOMPLETOANPUH2015.pdf >. Acesso em 01 agosto. 2019.

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, Justificando, 2017.

SEPÚLVEDA, Lucas Oliveira. A PALAVRA É SUA! Os Jovens e os Saraus Marginais em Belo Horizonte. (Dissertação) Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, da Faculdade de Educação da UFMG. Belo Horizonte, 2017.

SERGL, Marcos J. Saraus, récitas líricas, bailes e concertos ituanos: as sinhazinhas e seus dons musicais, embebidos em gengibirra e quitutes. IN: 9º Encontro Internacional de Música e Mídia: 'o gosto da música', 2013, São Paulo. O gosto da música: 9º Encontro Internacional de música e Mídia. São Paulo: MusiMid, 2013.

SOVIK, L. (2004). Aqui ninguém é branco: hegemonia branca no Brasil. In V. Ware (Org.), Branquidade, identidade branca e multiculturalismo (V. Ribeiro, trad., pp. 363-386.). Rio de Janeiro: Garamond.

TENNINA, Lúcia. Cuidado com os poetas! Literatura e periferia na cidade de São Paulo. Porto Alegre: Zouk, 2017.

Downloads

Publicado

2022-12-19

Como Citar

Paz, P. S. S. . (2022). (Re) Existências periféricas contra o epistemicídio da cultura negra. Língu@ Nostr@, 10(1), 159 - 176. https://doi.org/10.29327/232521.9.1-9