Futebol, nação e o homem brasileiro: o "complexo de vira-latas" de Nelson Rodrigues

Pinho, José Antonio Gomes de

doi:10.1590/S1984-92302009000100007

Resumos

Este artigo objetiva discutir a contribuição que Nelson Rodrigues, normalmente mais conhecido como teatrólogo, deu à compreensão do futebol brasileiro e do papel que este desempenhava na sociedade brasileira. Suas crônicas futebolísticas constituíam-se em uma forma de ver o jogador brasileiro e, por extensão, o homem brasileiro e a própria nação. Localizamos o estatuto teórico que Rodrigues abraça, ainda que certamente não de forma consciente, no Romantismo, o que demandou uma breve incursão por essa corrente e seu desdobramento no Brasil. Antes de recorrer à obra rodriguiana, o artigo voltou-se para mostrar a importância do futebol no contexto brasileiro, desde o começo do século XX. A contribuição mais decisiva de Rodrigues constitui-se no chamado "Complexo de Vira-Latas" que se tornou célebre. Estabelecemos um diálogo entre o autor e a corrente teórica do Romantismo, mas, também, incorporamos outros elementos do mundo hobbesiano, caros à linha de pensamento do autor. Por fim, fizemos, ainda que brevemente, um cotejo de suas idéias com as de Roberto DaMatta, um rodriguiano, mas que chama a atenção para pontos que negam o Romantismo, ainda que não totalmente.

Romantismo; Futebol; Sociedade Brasileira

This article aims to discuss the outstanding contribution given by Nelson Rodrigues, usually known as theater writer, to understanding the Brazilian football and the role it plays in Brazilian society. His football chronicles turned into a particular way of seeing the Brazilian football player and, as consequence, the Brazilian man and the Nation itself. Rodrigues has been seen as belonging to the Romantic theoretical field which lead us to analyzing the main aspects of this current as well as the form it assumed in Brazil. Before starting using Rodrigues chronicles, this article shows the importance of football in the Brazilian context, since the beginning of the 20th century. The key Rodrigues contribution has been the so-called Vira-Latas Complex, a complex of inferiority felt by Brazilians, in the football scene as well as in the national life as a whole. Along the text a link between the author and Romantism was developed, including, as well, hobbesian elements which belong to Rodrigues' hard thought. In the end, the article introduces, although in a short way, some ideas of Roberto DaMatta, a contemporary author also focusing in football, who shares some Rodrigues' ideas, but provokes a rupture with Romantism, searching for a more structural approach to understand football and Brazilian society and nation.

Romantic; Literature; Football; Brazilian Society

ARTIGOS

Futebol, nação e o homem brasileiro: o "complexo de vira-latas" de nelson rodrigues

Football, nation and the Brazilian man: the "mongrel complex" in Nelson Rodrigues

José Antonio Gomes de Pinho

Prof. da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia - EAUFBA

RESUMO

Este artigo objetiva discutir a contribuição que Nelson Rodrigues, normalmente mais conhecido como teatrólogo, deu à compreensão do futebol brasileiro e do papel que este desempenhava na sociedade brasileira. Suas crônicas futebolísticas constituíam-se em uma forma de ver o jogador brasileiro e, por extensão, o homem brasileiro e a própria nação. Localizamos o estatuto teórico que Rodrigues abraça, ainda que certamente não de forma consciente, no Romantismo, o que demandou uma breve incursão por essa corrente e seu desdobramento no Brasil. Antes de recorrer à obra rodriguiana, o artigo voltou-se para mostrar a importância do futebol no contexto brasileiro, desde o começo do século XX. A contribuição mais decisiva de Rodrigues constitui-se no chamado "Complexo de Vira-Latas" que se tornou célebre. Estabelecemos um diálogo entre o autor e a corrente teórica do Romantismo, mas, também, incorporamos outros elementos do mundo hobbesiano, caros à linha de pensamento do autor. Por fim, fizemos, ainda que brevemente, um cotejo de suas idéias com as de Roberto DaMatta, um rodriguiano, mas que chama a atenção para pontos que negam o Romantismo, ainda que não totalmente.

Palavras-chave: Romantismo. Futebol. Sociedade Brasileira

ABSTRACT

This article aims to discuss the outstanding contribution given by Nelson Rodrigues, usually known as theater writer, to understanding the Brazilian football and the role it plays in Brazilian society. His football chronicles turned into a particular way of seeing the Brazilian football player and, as consequence, the Brazilian man and the Nation itself. Rodrigues has been seen as belonging to the Romantic theoretical field which lead us to analyzing the main aspects of this current as well as the form it assumed in Brazil. Before starting using Rodrigues chronicles, this article shows the importance of football in the Brazilian context, since the beginning of the 20th century. The key Rodrigues contribution has been the so-called Vira-Latas Complex, a complex of inferiority felt by Brazilians, in the football scene as well as in the national life as a whole. Along the text a link between the author and Romantism was developed, including, as well, hobbesian elements which belong to Rodrigues' hard thought. In the end, the article introduces, although in a short way, some ideas of Roberto DaMatta, a contemporary author also focusing in football, who shares some Rodrigues' ideas, but provokes a rupture with Romantism, searching for a more structural approach to understand football and Brazilian society and nation.

Keywords: Romantic. Literature. Football. Brazilian Society

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Este artigo é dedicado ao jogador Índio, autor de um dos dois gols dos jogos das eliminatórias de 1958, que levou o Brasil à Copa da Suécia, e que nunca é lembrado em qualquer homenagem aos vitoriosos daquela campanha!

ANTUNES, Fátima M. R. Ferreira. Com brasileiro, não há quem possa! Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues. São Paulo. Editora UNESP. 2004.
BARRETO, Lima. A arte de chutar a bola. In: Jorge Caldeira (org). Brasil. A história contada por quem viu. São Paulo. Mameluco. 2008.
BARRETO, Túlio. In: Site Fundação Joaquim Nabuco. Pesquisador da Fundaj dá entrevista à Gazeta do Povo (PR). Publicado em 13/05/2009.
BOBBIO, MATTEUCCI, PASQUINO. Dicionário de política Brasília. Editora Universidade de Brasília. 2.a edição. 1986.
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BULLOCK, Alan & STALLYBRASS, Oliver. The Fontana Dictionary of Modern Thought London. Fontana Books. 1977.
DaMATTA, Roberto. A bola corre mais que os homens Rio de Janeiro. Rocco. 2006.
FACINA, Adriana. Santos e canalhas Uma análise antropológica da obra de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2004.
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MAZZONI, Thomaz. Almanach esportivo. São Paulo. Agência Soave. 1931.
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PINHO, José Antonio. A evolução do estado. Salvador. A gestão pública: desafios e perspectivas. Cadernos FLEM 1. Fundação Luiz Eduardo Magalhães. 2001.
RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais Crônicas de Futebol. Seleção e Notas Ruy Castro. São Paulo. Companhia das Letras. 1993.
RODRIGUES, Nelson. A pátria em chuteiras Novas crônicas de futebol. Organização Ruy Castro. São Paulo. Companhia das Letras. 1994.
RODRIGUES, Nelson. Entrevista disponível em www.tirodeletra.com.br Consulta feita em 28/01/09
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Discurso sobre as artes e ciências. São Paulo. Nova Cultural. 1987-88.
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SUGIMOTO, Luiz. Ary Barroso ajudou a plantar o Maracanã. Jornal da Unicamp Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 22 de abril a 4 de maio de 2003.
WISNIK, José Miguel. O futebol como veneno e remédio. In: Fernando Schüller e Günter Axt (org), Brasil contemporâneo Crônicas de um país incógnito. Porto Alegre. Artes e Ofícios. 2006.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
05 Set 2014
Data do Fascículo
Mar 2009

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[1] ANTUNES, Fátima M. R. Ferreira. Com brasileiro, não há quem possa! Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues. São Paulo. Editora UNESP. 2004.

[2] BARRETO, Lima. A arte de chutar a bola. In: Jorge Caldeira (org). Brasil. A história contada por quem viu. São Paulo. Mameluco. 2008.

[3] BARRETO, Túlio. In: Site Fundação Joaquim Nabuco. Pesquisador da Fundaj dá entrevista à Gazeta do Povo (PR). Publicado em 13/05/2009.

[4] BOBBIO, MATTEUCCI, PASQUINO. Dicionário de política Brasília. Editora Universidade de Brasília. 2.a edição. 1986.

[5] BUARQUE DE HOLLANDA, Bernardo Borges. O descobrimento do futebol Rio de Janeiro. Edições Biblioteca Nacional. 2004.

[6] BULLOCK, Alan & STALLYBRASS, Oliver. The Fontana Dictionary of Modern Thought London. Fontana Books. 1977.

[7] DaMATTA, Roberto. A bola corre mais que os homens Rio de Janeiro. Rocco. 2006.

[8] FACINA, Adriana. Santos e canalhas Uma análise antropológica da obra de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2004.

[9] IANNI, Octávio. A idéia de Brasil moderno São Paulo. Brasiliense. 1994.

[10] MAZZONI, Thomaz. Almanach esportivo. São Paulo. Agência Soave. 1931.

[11] MORAES NETO, Geneton. Dossiê os onze jogadores revelam os segredos da maior tragédia do futebol brasileiro Rio de Janeiro. Editora Objetiva. 2000.

[12] PINHO, José Antonio. A evolução do estado. Salvador. A gestão pública: desafios e perspectivas. Cadernos FLEM 1. Fundação Luiz Eduardo Magalhães. 2001.

[13] RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais Crônicas de Futebol. Seleção e Notas Ruy Castro. São Paulo. Companhia das Letras. 1993.

[14] RODRIGUES, Nelson. A pátria em chuteiras Novas crônicas de futebol. Organização Ruy Castro. São Paulo. Companhia das Letras. 1994.

[15] RODRIGUES, Nelson. Entrevista disponível em www.tirodeletra.com.br Consulta feita em 28/01/09

[16] ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens Discurso sobre as artes e ciências. São Paulo. Nova Cultural. 1987-88.

[17] ROHMANN, Chris. O livro das idéias Um dicionário de teorias, conceitos, crenças e pensadores que formam nossa visão de mundo. Rio de Janeiro. Campus. 2000.

[18] SANT'ANNA. Clério José Borges de. Clério's home Page. 2004 Acesso em 06/01/ 2009.

[19] SANTOS, Rosmália Ferreira dos. Ambigüidades no além-mar: o romantismo ibérico no novo mundo. Revista de Sociologia e Política, 2005. http://www.scielo.br

[20] SUGIMOTO, Luiz. Ary Barroso ajudou a plantar o Maracanã. Jornal da Unicamp Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 22 de abril a 4 de maio de 2003.

[21] WISNIK, José Miguel. O futebol como veneno e remédio. In: Fernando Schüller e Günter Axt (org), Brasil contemporâneo Crônicas de um país incógnito. Porto Alegre. Artes e Ofícios. 2006.