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EDITORIAL

EDITORIAL

O oitavo número de Sexualidade Saúde e Sociedade – Revista Latino-Americana traz um conjunto de artigos bastante representativos de algumas das principais linhas de pesquisa sobre sexualidade no cenário contemporâneo na Região. Destaca-se a que gira em torno do processo de construção e difusão do ideário dos direitos sexuais e reprodutivos. E nos textos que analisam esse processo não se trata apenas de defender tais direitos, mas de abordá-los como uma nova linguagem através da qual os sujeitos percebem a si mesmos, seus desejos e suas práticas, e se posicionam diante de questões cruciais da agenda política atual, como é o caso do reconhecimento do direito ao aborto ou da integração social das homossexualidades. De diferentes maneiras exploram como a linguagem dos direitos se corporifica no cotidiano, como se entrelaça com outros valores sociais para compor uma trama cerrada de representações e de significados. Para isso, as pesquisadoras e os pesquisadores, cuja reflexão apresentamos neste número, trabalham com maestria com diferentes técnicas de pesquisa qualitativa e articulam importantes matrizes do pensamento sociológico, como a que deriva do interacionismo simbólico ou da antropologia da performance e das emoções.

Afora isso, destacamos o fato de os textos aqui publicados ecoarem diálogos já em curso ou potenciais entre pesquisadores, convidando a aprofundar a comparação entre distintos contextos locais e nacionais. Além de trazer novos dados para uma urgente reflexão, o artigo de Mônica Petracci sobre as opiniões e as representações que homens residentes na área metropolitana de Buenos Aires mantêm sobre o aborto se produz no âmbito de projeto coletivo que conta com a participação de pesquisadores brasileiros, colombianos e uruguaios. O texto de Moisés Lopes tem um aporte explicitamente comparativo ao analisar o modo como se constroem representações cruzadas sobre raça, sexualidade e nacionalidade entre argentinos e brasileiros. Já as importantes notas de Ernesto Meccia para uma sociologia da "gaycidade" propõem um diálogo ainda a ser feito, estabelecendo parâmetros gerais para a análise de processos sociais que correm simultaneamente em diferentes países da Região (e fora dela). A leitura dos artigos de Mário Lima Carvalho sobre "estratégias de purificação" em jogo no árduo trabalho de contestação política da exclusão social de que são objeto travestis e transexuais e de Adriana Figueiredo sobre a politização da dor em suas narrativas ganham novos relevos quando lidos na contraluz das categorias desenvolvidas por Meccia para analisar o processo de inclusão social por que passam as homossexualidades. E se todos os trabalhos acima comentados operam sobre a fratura visível entre valores e moralidades, a análise de María Celeste Bianciotti sobre as técnicas de sedução feminina entre jovens cordobesas enfatiza o modo como, mesmo em risco na repetição infinita das performances individuais, as normas que governam a vida socioerótica se reproduzem e se mantêm.

Em conjunto, os trabalhos enfeixados neste número demonstram muito bem a potência, a originalidade e a diversidade da reflexão latino-americana contemporânea que, em estreito diálogo com o que ocorre no "Norte", vai apontando as direções mais férteis para a compreensão do contexto social complexo e heterogêneo que caracteriza a Região.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Ago 2011
  • Data do Fascículo
    Ago 2011
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