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Hemocromatose hereditária e as mutações no gene HFE

Hereditary hemochromatosis and HFE gene mutations

EDITORIAIS

Hemocromatose hereditária e as mutações no gene HFE

Hereditary hemochromatosis and HFE gene mutations

Claudia R. Bonini-Domingos

Profa. de Pós-graduação do Ibilce, Unesp, SP

Correspondência Correspondência: Claudia Regina Bonini-Domingos Unesp, Ibilce, Depto de Biologia, Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas Rua Cristóvão Colombo, 2265 — Jd. Nazareth 15054-000 — São José do Rio Preto, SP — Brasil Tel.:/Fax: (17) 3221-2392 E-mail: claudiabonini@yahoo.com.br

O ferro é um elemento essencial para a vida e participa de numerosas funções estruturais e metabólicas nas células, graças à sua química flexível e potencial oxi-redutor. Participa de proteínas de transporte e reserva de oxigênio, como a hemoglobina e a mioglobina; da cadeia respiratória e de enzimas para a síntese de DNA.1

O metabolismo do ferro no organismo e as vias de captação desse metal nas células intestinais têm sido objeto de estudo de vários grupos nos últimos anos. O acúmulo desse metal ocasiona uma patologia denominada hemocromatose, que pode ser resultado de defeitos genéticos ou devido a complicações de doenças hepáticas e certas anemias.1,2 Especial atenção tem sido dada às formas hereditárias da hemocromatose e às diferentes proteínas envolvidas no metabolismo do ferro.3

A hemocromatose hereditária (HH), uma das afecções genéticas mais comuns em caucasóides, tem padrão de herança autossômico recessivo e acomete, na forma heterozigota, um em dez indivíduos de origem céltica ou descendentes de europeus, com característica de acúmulo de ferro em tecidos ocasionando lesões orgânicas e até a morte.3 O aparecimento dos sintomas clínicos, na maioria dos casos, ocorre após a terceira década de vida, pois a deposição do metal é gradativa e cumulativa.

O acúmulo do metal ocorre particularmente no fígado, pâncreas, coração, articulações e glândula pituitária. As manifestações são amplas, pois mecanismos metabólicos importantes estão envolvidos e comprometidos. O diabetes tipo 2 pode ser uma das muitas manifestações, por falha no funcionamento das células pancreáticas devido ao excesso de ferro tecidual. Outras manifestações, muitas vezes relegadas a segundo plano, são as artralgias e fadiga muscular.4

De maneira geral os homens manifestam sintomas mais evidentes do que as mulheres e, além dos interferentes hormonais, acredita-se que exista um equilíbrio entre acúmulo do metal e perdas mensais durante o período reprodutivo. Assim, resume-se a característica de manifestação fenotípica da HH em fatores individuais herdáveis, ao gênero, à idade e à dieta.

Um outro interferente que vem sendo investigado diz respeito à influência do acúmulo do metal na formação de espécies reativas de oxigênio, levando a dano tecidual adicional, que pode ser considerado um fator de predisposição ou de proteção a algumas doenças infecto-parasitárias.4

Devido à necessidade de melhor entendimento dos mecanismos envolvidos no metabolismo do ferro e de elucidação das formas hereditárias da hemocromatose, a busca de genes responsáveis pelo controle da absorção do metal no organismo teve início com a descoberta do gene HFE localizado no cromossomo 6 região p21.3, em 1996, por Feder e colaboradores.5 Polimorfismos foram descritos nesse gene, envolvidos com 37 variantes alélicas, e a manifestação clínica mais acentuada, em alguns grupos de europeus, mostrou relação direta com o mutante C282Y. Além desse mutante, dois outros têm sido exaustivamente investigados, o H63D e o S65C, responsáveis por manifestações mais brandas.3,4

No Brasil, são escassos os registros sobre a relação dos mutantes, manifestação clínica ou sua freqüência em determinados grupos populacionais. Nesta edição, o trabalho intitulado "Mutation in the HFEgene (C282Y, H63D, S65C) in a brazilian population" traz informações relevantes sobre a freqüência alélica das variantes mais comuns em pacientes e em um grupo de doadores de sangue, servindo como base para novos estudos moleculares desses mutantes em outros grupos populacionais e evidenciando a concordância dos achados laboratoriais com os dados da literatura, para caucasóides e descendentes de europeus, tão participantes da formação da população brasileira.

Referências Bibliográficas

1. Maggio A, Caronia F, Russo G. Clinica e Terapia della Talassemia. 2000, p.23; SEE. Societá Editrice Europea; Firenze, Italia.

2. Hillman RS, Ault KA. Hematology in Clinical Practice 2002, p. 161; Mc Graw-Hill Companies. USA.

3. Pietrangelo A. Medical progress: Hereditary hemochromatosis — a new look at an old disease. N Engl J Med 2004;350:2.383-2.397.

4. Auclair S, et al. Mild copper deficiency alter gene expression of proteins involved in iron metabolism. Blood Cells, Molecules and Disease 2006;36:15-20.

5. Feder JN, et al. A novel MHC class I-like gene is mutated in patients with hereditary hemochromatosis. Nat Genetics 1996;13:399-48.

Recebido: 18/09/2006

Aceito: 26/09/2006

Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor.

Conflito de interesse: não declarado

  • Correspondência:
    Claudia Regina Bonini-Domingos
    Unesp, Ibilce, Depto de Biologia, Laboratório de Hemoglobinas e Genética das Doenças Hematológicas
    Rua Cristóvão Colombo, 2265 — Jd. Nazareth
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    Tel.:/Fax: (17) 3221-2392
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Jul 2007
    • Data do Fascículo
      Dez 2006
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