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Desempenho, composição física e características da carcaça de novilhos alimentados com diferentes níveis de casca de algodão, em confinamento

Effects of feeding different levels of cottonseed hulls on production and carcass physical composition and traits of feedlot steers

Resumos

Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito de níveis de casca de algodão sobre o consumo e a digestibilidade aparente total dos nutrientes, a composição física e as características de carcaça e o rendimento dos cortes comerciais de novilhos confinados. Foram utilizados 18 novilhos mestiços, com peso vivo (PV) médio inicial de 230 kg. Dois animais foram abatidos no início do experimento para servirem de referência para estudos posteriores e os demais (16) foram distribuídos em delineamento inteiramente casualizado em quatro tratamentos: 0, 10, 20 e 30% de casca de algodão com base na MS total, em substituição à silagem de capim-elefante, sendo a relação volumoso:concentrado de 60:40. A inclusão de casca de algodão em níveis crescentes na dieta aumentou linearmente os consumos de extrato etéreo (EE), matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN), expressos em relação ao PV. Não houve efeito dos níveis de casca de algodão sobre a composição física e as características da carcaça e o rendimento dos cortes comerciais, com exceção da EGS, que aumentou linearmente. O nível máximo de casca de algodão utilizado no experimento (30% na MS total) proporcionou desempenho adequado a novilhos mestiços de origem leiteira em confinamento.

consumo; subproduto; Holandês


This trial was conducted to evaluate the effects of feeding different levels of cottonseed hulls on nutrient intake, apparent total tract digestibility, carcass physical composition and traits, and percentage of commercial cuts of confined steers. Eighteen crossbred steers averaging 230 kg of initial body weight (BW) were used. Two animals were slaughtered at the beginning of the trial, performing the reference group while the remaining were uniformly assigned to a complete randomized design in one of four treatments (% of total dry matter): 0, 10, 20 or 30% of cottonseed hulls that replaced elephant grass silage. The forage:concentrate ratio was 60:40. Inclusion of cottonseed hulls in the diet linearly increased the intake of ether extract as well as the intakes of dry matter (DM) and neutral detergent fiber (NDF) expressed as a percentage of BW. Conversely, increasing dietary levels of cottonseed hulls did no change carcass physical composition and characteristics and yield of commercial cuts except for FT that increased linearly. Good production parameters were achieved with the highest level of cottonseed hulls in the diet (30%) in the present trial.

byproduct; Holstein; intake


RUMINANTES

Desempenho, composição física e características da carcaça de novilhos alimentados com diferentes níveis de casca de algodão, em confinamento1 1 Parte da dissertação de Mestrado da primeira autora. Apoio: Bünge Alimentos S.A.

Effects of feeding different levels of cottonseed hulls on production and carcass physical composition and traits of feedlot steers

Karla Alves MagalhãesI; Sebastião de Campos Valadares FilhoII; Mário Fonseca PaulinoII; Rilene Ferreira Diniz ValadaresIII; Pedro Veiga Rodrigues PaulinoIV; Mário Luiz ChizzottiIV; Marlos Oliveira PortoV; Marcos Inácio MarcondesVI; Kamila AndreattaVI

IZootecnista, MS, Estudante de Doutorado, DZO-UFV, Viçosa-MG (kmagalhaes@vicosa.ufv.br)

IIProfessor do DZO, UFV, Viçosa-MG, 36571-000

IIIProfessora DVT-UFV, Viçosa-MG, 36571-000

IVZootecnista, MS, Estudante de Doutorado, DZO-UFV, Viçosa-MG

VMédico Veterinário, Estudante de Mestrado, DZO-UFV

VIZootecnista, Estudante de Mestrado, UFV, Bolsista CNPq

RESUMO

Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o efeito de níveis de casca de algodão sobre o consumo e a digestibilidade aparente total dos nutrientes, a composição física e as características de carcaça e o rendimento dos cortes comerciais de novilhos confinados. Foram utilizados 18 novilhos mestiços, com peso vivo (PV) médio inicial de 230 kg. Dois animais foram abatidos no início do experimento para servirem de referência para estudos posteriores e os demais (16) foram distribuídos em delineamento inteiramente casualizado em quatro tratamentos: 0, 10, 20 e 30% de casca de algodão com base na MS total, em substituição à silagem de capim-elefante, sendo a relação volumoso:concentrado de 60:40. A inclusão de casca de algodão em níveis crescentes na dieta aumentou linearmente os consumos de extrato etéreo (EE), matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN), expressos em relação ao PV. Não houve efeito dos níveis de casca de algodão sobre a composição física e as características da carcaça e o rendimento dos cortes comerciais, com exceção da EGS, que aumentou linearmente. O nível máximo de casca de algodão utilizado no experimento (30% na MS total) proporcionou desempenho adequado a novilhos mestiços de origem leiteira em confinamento.

Palavras-chave: consumo, subproduto, Holandês

ABSTRACT

This trial was conducted to evaluate the effects of feeding different levels of cottonseed hulls on nutrient intake, apparent total tract digestibility, carcass physical composition and traits, and percentage of commercial cuts of confined steers. Eighteen crossbred steers averaging 230 kg of initial body weight (BW) were used. Two animals were slaughtered at the beginning of the trial, performing the reference group while the remaining were uniformly assigned to a complete randomized design in one of four treatments (% of total dry matter): 0, 10, 20 or 30% of cottonseed hulls that replaced elephant grass silage. The forage:concentrate ratio was 60:40. Inclusion of cottonseed hulls in the diet linearly increased the intake of ether extract as well as the intakes of dry matter (DM) and neutral detergent fiber (NDF) expressed as a percentage of BW. Conversely, increasing dietary levels of cottonseed hulls did no change carcass physical composition and characteristics and yield of commercial cuts except for FT that increased linearly. Good production parameters were achieved with the highest level of cottonseed hulls in the diet (30%) in the present trial.

Key Words: byproduct, Holstein, intake

Introdução

Diante da nova ordem mundial e das grandes transformações econômicas sofridas pelo país, em que as margens de retorno econômico nas atividades pecuárias se encontram cada vez mais restritas, a busca por maior eficiência produtiva se torna uma questão de sobrevivência. Os produtores de carne devem buscar formas de reduzir custos e/ou aumentar receitas, visando à obtençao de resultados econômicos satisfatórios na atividade. Na pecuária de corte, particularmente no uso do confinamento como estratégias alimentar e gerencial para a fase de engorda dos animais, a alimentação é um dos fatores que mais onera a atividade e pode, normalmente, ultrapassar 70% do custo operacional total (Valadares Filho et al., 2002).

O volumoso, na maioria das situações, é o ingrediente mais barato da ração total e, portanto, seu uso deve ser maximizado. A produção de volumosos deve ser feita preocupando-se sempre com altos índices de produtividade, associados a qualidade nutricional superior e, evidentemente, a custos reduzidos. Com a obtenção eficiente de volumosos e a maximização de seu uso, o produtor dependerá menos da utilização de concentrados, reconhecidamente mais caros (Valadares Filho et al., 2002).

Nesse contexto, a casca de algodão surge como um alimento volumoso alternativo na alimentação de ruminantes. Até o momento atual, não há relatos na literatura brasileira acerca da utilização desse ingrediente na dieta de bovinos. Entretanto, em razão de sua facilidade de manipulação, aceitabilidade (Rogers et al., 2002), disponibilidade (Hsu et al., 1987) e do baixo custo (Vernlund et al., 1980), a casca de algodão tem sido largamente utilizada em dietas para bovinos em terminação em outros países, constituindo, em algumas situações, a principal fonte de volumoso disponível para os animais (Hale et al., 1969; Vernlund et al., 1980).

A casca de algodão é um subproduto nutricionalmente interessante por possuir características que a diferem da maioria dos alimentos fibrosos. Compreende a camada externa da semente do algodão com algum linter aderido, que é separado durante a produção do óleo. Para cada tonelada de caroço de algodão processado, são obtidos, aproximadamente, 245 kg de casca (Hall & Akinyode, 2000). De acordo com dados da CONAB (2004/2005), estima-se que a safra brasileira 2002/2003 de algodão proporcione a produção de mais de um milhão de toneladas de caroço de algodão, o que teria o potencial de gerar cerca de 2.106,9 toneladas de casca.

A casca de algodão é considerada um alimento fibroso, de baixo valor nutricional, que tem como principal componente a fibra em detergente neutro (FDN) (Rogers et al., 2002), incluindo também uma proporção relativamente elevada de fibra em detergente ácido (FDA) e lignina. As frações fibrosas, como também a lignina, tendem a se correlacionar negativamente com a digestibilidade da matéria seca (MS) e da FDN (Moore et al., 1990; Torrent et al., 1994). Contudo, segundo Hall & Akinyode (2000), a casca possui boa palatabilidade, favorecendo o aumento do consumo pelos animais.

Atualmente, pesquisas sobre a inclusão da casca de algodão na dieta de bovinos ainda são escassas. Portanto, não há uma recomendação adequada para seu uso, tampouco dos possíveis efeitos sobre o desempenho dos animais.

Diante disso, realizou-se este trabalho objetivando-se avaliar a casca de algodão como substituto parcial à silagem de capim-elefante na alimentação de novilhos de origem leiteira em confinamento. Avaliaram-se os efeitos dessa substituição sobre o consumo dos nutrientes, o desempenho em confinamento, as características e a composição física da carcaça e o rendimento dos cortes comerciais dos animais.

Material e Métodos

O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa, em Viçosa, MG. Foram utilizados 18 bovinos mestiços de origem leiteira, com predomínio de sangue Holandês, com peso vivo médio inicial de 230 kg e média de 14 meses de idade, confinados em baias individuais, providas de comedouro e bebedouro, com área total de 30 m2, sendo 8 m2 cobertos com telhas de amianto.

Inicialmente, os animais foram pesados, após jejum alimentar de 16 horas, vermifugados e receberam, durante duas semanas, a dieta de adaptação, composta por 60% de volumoso (silagem de capim-elefante e casca de algodão na proporção 40:20, respectivamente). Decorrido esse período, dois novilhos foram abatidos, para servirem de referência para estudos posteriores. Os 16 animais restantes foram novamente pesados e distribuídos aleatoriamente em quatro tratamentos, que consistiram de níveis crescentes de casca de algodão (0, 10, 20 e 30% com base na MS total), em substituição à silagem de capim-elefante), de modo que a dieta total foi constituída de 60% de volumoso e 40% de concentrado. As rações foram balanceadas de forma a conterem aproximadamente 13,0% de proteína bruta (PB). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições.

As proporções dos ingredientes nas dietas experimentais encontram-se na Tabela 1 e a composição média da casca de algodão e das dietas, na Tabela 2.

As rações foram fornecidas às 7 h, efetuando-se o ajuste diário para manter as sobras em 5 a 10% do total fornecido. Diariamente, foram elaboradas amostras compostas dos alimentos e das sobras, por animal e por período de 28 dias. O período experimental teve duração total de 56 dias. As amostras foram pré-secas em estufa ventilada a 65º C e processadas em moinho com peneira de malha de 1 mm, para posteriores análises laboratoriais.

Foram determinados os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), nitrogênio total, extrato etéreo (EE), lignina e minerais, de acordo com técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002); de nitrogênio insolúvel em detergente neutro (NIDN) e ácido (NIDA), conforme descrição de Van Soest et al. (1991); e dos compostos nitrogenados não-protéicos (NNP), de acordo com Licitra et al. (1996). Os teores de fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram determinados conforme metodologia descrita por Pell & Schofield (1993), denominada Micro-FDN.

Os carboidratos totais (CHOt) foram obtidos por meio da equação:

CHOt = 100 - (%PB + %EE + %Cinzas), segundo Sniffen et al. (1992)

Em razão da presença de uréia nas dietas, os carboidratos não-fibrosos (CNF) foram calculados como proposto por Hall (2000):

CNF = 100 [(%PB - %PB derivada da uréia + % de uréia) + %FDNcp + %EE + %cinzas]

Os animais foram pesados no início do período experimental e, posteriormente, a cada 28 dias, sempre após jejum alimentar de 16 horas, para determinação do ganho médio diário de peso vivo (GMD). Ao final do experimento, todos os animais foram abatidos por meio de atordoamento mecânico (marreta) na região do osso frontal, com posterior sangria. Após o abate, o aparelho gastrintestinal de cada animal foi esvaziado e, juntamente com os outros órgãos, foi lavado, pesado e somado às demais partes do corpo (carcaça, cabeça, couro, cauda, patas e sangue), para determinação do peso de corpo vazio (PCVZ). A relação obtida entre o PCVZ e o peso vivo (PV) dos animais-referência, abatidos no início do experimento, foi utilizada para estimativa do PCVZ inicial dos animais, estimando-se, então, o ganho médio diário de peso de corpo vazio (GMDPVZ).

A carcaça de cada animal foi dividida ao meio com o auxílio de uma serra elétrica e, logo após, foi pesada, para determinação do ganho de carcaça e de seu rendimento em relação ao peso vivo (RCPV) e ao peso de corpo vazio (RCPVZ). Em seguida, as carcaças foram resfriadas em câmara fria a -5ºC, durante aproximadamente 18 horas. Decorrido esse tempo, as meia-carcaças foram retiradas da câmara fria e novamente pesadas. Na carcaça direita, foi medido o comprimento e determinado o rendimento dos cortes comerciais, separando-se os quartos dianteiro e traseiro entre a quinta e a sexta costelas. O dianteiro compreendeu o acém e a paleta completa e o traseiro, a ponta-de-agulha, o coxão e a alcatra completa. Na carcaça esquerda, foram medidas a área transversal do músculo Longissimus dorsi (área de olho de lombo), à altura da 12ª costela, e a espessura da gordura subcutânea. Também foi removido um corte da seção entre a 9ª e 11ª costelas, para dissecação e predição das proporções de músculos, ossos e tecido adiposo na carcaça, segundo equações preconizadas por Hankins & Howe (1946):

Proporção de músculo: Y = 16,08 + 0,80 X

Proporção de tecido adiposo: Y = 3,54 + 0,80 X

Proporção de ossos: Y = 5,52 + 0,57 X

em que: X = porcentagem dos componentes no corte das costelas.

Os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análises de variância e regressão, utilizando-se o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas - SAEG (UFV, 1998). Os modelos foram testados com base na significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se o teste F a 10% de probabilidade e o coeficiente de determinação (r2). Previamente à análise de variância, os dados foram avaliados quanto às pressuposições de normalidade e homocedasticidade por meio dos testes de Lilliefors e Cochran, respectivamente.

Resultados e Discussão

Constam na Tabela 3 os consumos médios de MS, MO, PB, EE, FDN, CNF e NDT, com respectivas equações de regressão e probabilidades (Valor P), além dos coeficientes de variação e determinação, pelos animais nos diferentes tratamentos.

O desempenho animal é determinado por vários fatores, entre os quais o mais importante é o consumo de MS (Illius & Jessop, 1996), visto que determina o nível de ingestão de nutrientes (Van Soest, 1994). O uso de alimentos ricos em fibra e pouco digestíveis geralmente reduz o consumo de MS, como consequência da quantidade de material indigestível que ocupa espaço dentro do rúmen, limitando sua capacidade física de distenção.

Entretanto, verificou-se que a inclusão da casca de algodão em níveis crescentes na dieta aumentou linearmente (P<0,10) o consumo de MS, expresso em relação ao peso vivo (PV). Vale ressaltar que, no início do período de adaptação, os animais selecionavam a casca dos demais ingredientes da dieta. Por isso, durante boa parte do experimento, as sobras foram constituídas quase que totalmente de casca de algodão. Porém, à medida que os sacos que armazenavam a casca eram manipulados, os pellets se quebravam, facilitando sua mistura aos demais ingredientes e tornando mais difícil a seleção pelos animais.

Resultados semelhantes foram encontrados por Moore et al. (1990), que, ao avaliarem a influência do tipo de volumoso (feno de alfafa, palha de trigo e casca de algodão) sobre o desempenho de novilhos alimentados com dietas ricas em concentrado, verificaram que aqueles que receberam casca de algodão aumentaram o consumo de MS em 17% quando comparados aos animais do tratamento controle. Bartle et al. (1994) e Gu & Moss (1996), ao incluírem na dieta de bovinos os mesmos níveis de casca deste trabalho, observaram que o consumo de MS também aumentou linearmente. Da mesma forma, Oltjen et al. (1977), avaliando o desempenho de novilhos alimentados com diferentes subprodutos (palha de aveia picada, planta inteira de milho e casca de algodão), verificaram maior consumo de MS para os animais que receberam a casca (3,1% do PV).

O consumo de FDN, expresso como % do PV, aumentou linearmente com os níveis de inclusão da casca nas dietas, registrando-se valor de 1,63% do PV para o nível de 30% de casca de algodão. O mesmo ocorreu para o consumo de EE, o que era esperado, uma vez que a casca de algodão possui teor relativamente elevado desse nutriente.

As alterações no consumo de MS que ocorrem quando a casca de algodão é fornecida aos animais podem elevar o consumo de FDN em níveis acima dos usuais (Hall & Akinyode, 2000). Mertens (1994) sugeriu que o consumo de FDN deveria ser próximo a 1,2% do PV por dia. Essa recomendação foi estimada de forma a permitir suplementação adequada de concentrado e prevenir a limitação do consumo pelo enchimento do rúmen. Quando a FDN da dieta provém, em sua maioria, da forragem, tem-se observado (Hall & Akinyode, 2000) consumo próximo ao valor sugerido por Mertens (1994). Entretanto, Morales et al. (1989) ao fornecerem casca de algodão na dieta, verificaram que o consumo de FDN atingiu o valor de 1,5% do PV dos animais. A inclusão da casca de algodão não afetou (P>0,10) os consumos de MO, PB, CNF e NDT, apresentando médias de 7,64; 1,15; 2,93 e 5,36 kg/dia, respectivamente.

As médias, as probabilidades (Valor P) e os coeficientes de variação (CV) obtidos para os pesos vivos iniciais (PVI) e final (PVF), os ganhos médios diários de peso vivo (GMD) e de peso de corpo vazio (GMDPVZ), os ganhos de carcaça (GCAR), a conversão alimentar (CA) e a relação PCVZ/PV, para os diferentes tratamentos, são apresentados na Tabela 4. Verificou-se que não houve influência (P>0,10) dos níveis de casca de algodão sobre as variáveis estudadas, com exceção da relação PCVZ/PV, que apresentou comportamento linear crescente (P<0,10). Apesar do consumo de MS ter aumentado linearmente com a inclusão da casca na dieta, o GMD não teve a mesma tendência, apresentando média de 1,30 kg/animal/dia.

Resultados semelhantes foram observados por Hale et al. (1969). Entretanto, Bartle et al. (1994), pesquisando os mesmos níveis de casca utilizados neste trabalho, verificaram que os novilhos que receberam casca apresentaram maior consumo, porém tenderam a ganhar menos peso e tiveram CA pior que aqueles alimentados com feno de alfafa. Os autores atribuíram a ausência de resposta no ganho de peso com o aumento do consumo à baixa digestibilidade e ao baixo valor energético da casca de algodão.

Os efeitos da casca sobre a eficiência e o desempenho animal têm sido variados. Murdock & Wallenius (1980) relataram maiores consumos e ganhos de peso em bezerros holandeses alimentados com casca de algodão que com outras fontes de fibra na dieta. Thomas et al. (1984) observaram aumento no ganho médio diário e na eficiência alimentar em novilhos recebendo dieta composta por 60% de milho quebrado e 30% de casca de algodão, adicionada de 0,7% de uréia na MS total. De acordo com Hall & Akinyode (2000), os dados encontrados na literatura sugerem que níveis elevados de casca na dieta (30% na MS total) têm proporcionado consumos elevados sem, no entanto, aumentar a produtividade animal.

Na Tabela 5 encontram-se as médias, probabilidades (Valor P) e os coeficientes de variação obtidos para características de carcaça e rendimento dos cortes comerciais. As análises de variância não evidenciaram influência (P>0,10) dos níveis de casca de algodão sobre as variáveis estudadas. Os rendimentos de carcaça quente e fria, expressos em relação ao PV, apresentaram valores médios de 48,93 e 47,69%, respectivamente. Para bovinos mestiços holandeses, esses valores estão de acordo com os dados da literatura (Souza et al., 2002; Moraes, 2003), quando esses animais são abatidos entre 250 e 350 kg de peso vivo.

A gordura subcutânea é uma fração importante, pois serve como proteção contra a desidratação durante o resfriamento das carcaças (Moletta & Restle, 1996). Por muitos anos, a espessura de gordura tem sido utilizada como medida de acabamento externo e medida indireta de musculosidade da carcaça, em função da correlação negativa entre ambas. Uma cobertura de gordura subcutânea satisfatória para boa preservação deve ser, no mínimo, de 2 a 3 mm (Luchiari Filho, 2000). Os animais utilizados neste trabalho não apresentaram cobertura de gordura mínima desejada (1,08 mm, em média). Segundo Marquat (1964), a porcentagem de gordura na carcaça de novilhos mestiços de raças leiteiras aumenta após os animais atingirem, aproximadamente, 454 kg de PV. Neste estudo, os animais foram abatidos com 329 kg de PV médio final, portanto, insuficiente para que apresentassem acabamento adequado.

Não foi verificado efeito dos níveis de casca de algodão da dieta (P>0,10) sobre os cortes comerciais. O grau de rendimento dos cortes cárneos desossados e aparados do excesso de gordura é uma estimativa da quantidade de carne comercializável ou da porção comestível de uma carcaça. É desejável que uma carcaça apresente 45 a 50% de traseiro especial, 38 a 43% de dianteiro com cinco costelas e 12 a 16% de ponta-de-agulha (Luchiari Filho, 2000). Os resultados obtidos estão de acordo com esses valores. Verifica-se escassez de dados na literatura com relação ao estudo do rendimento dos cortes comerciais, em bovinos mestiços leiteiros, particularmente quando se utiliza casca de algodão na dieta.

Os resultados referentes à composição física da carcaça dos novilhos são apresentados na Tabela 6. Não foi verificada influência (P>0,10) dos tratamentos sobre as porcentagens dos tecidos muscular, adiposo e ósseo na carcaça, obtendo-se médias de 61,44; 20,62 e 18,03%, respectivamente. Esses valores corroboram os resultados encontrados por Rocha et al. (1999), Leme et al. (2000) e Rodrigues Filho et al. (2003), que também mensuraram a composição física da carcaça de novilhos machos oriundos de rebanhos leiteiros.

Não foram encontrados trabalhos que apresentassem informações sobre os efeitos de níveis de volumosos alternativos em substituição a silagens de forrageiras tropicais sobre a composição da carcaça de bovinos. Além disso, não há relatos envolvendo possíveis efeitos da inclusão da casca de algodão na dieta de bovinos sobre a composição da carcaça.

Conclusões

A substituição parcial da silagem de capim-elefante pela casca de algodão na dieta não afetou a composição física e as características de carcaça dos animais e o rendimento dos cortes comerciais.

O nível máximo de casca de algodão utilizado no experimento (30% na MS total) resultou em desempenho adequado de novilhos mestiços de origem leiteira em confinamento.

Literatura Citada

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento, www.conab.gov.br (20/09/2005).

Recebido em: 10/02/04

Aceito em: 04/08/05

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  • 1
    Parte da dissertação de Mestrado da primeira autora. Apoio: Bünge Alimentos S.A.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Fev 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 2005

    Histórico

    • Aceito
      04 Ago 2005
    • Recebido
      10 Fev 2004
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