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RESUMOS DE LIVROS/ BOOK REVIEWS

Nelly Martins Ferreira Candeias

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Assessing health and human service needs; by Bell, Roger A. et al., New York, Human Sciences Press, 1983, 352p.

Os artigos incluídos neste livro resultam de duas reuniões interdisciplinares, realizadas em 1976 e 1978, com o objetivo de trocar idéias sobre conceitos, métodos e práticas na área de levantamento de necessidades quanto à saúde e a serviços de atendimento. As reuniões foram patrocinadas pelos Departamentos de Psiquiatria, Ciências Comportamentais, Psicologia e Medicina da Família da Universidade de Louisville. Pretendia-se, com isto, criar condições para intercâmbio de informações entre profissionais de saúde e outros especialistas interessados no processo e técnicas de levantamento de necessidades em saúde.

O livro divide-se em cinco partes: Orientação para Levantamento de Necessidades, Assuntos Teóricos e Conceituais no Levantamento de Necessidades, Aspectos Metodológicos do Levantamento de Necessidades, Levantamento de Necessidades no Planejamento de Programas e, finalmente, Epílogo sobre Levantamento de Necessidades. Embora não pretenda constituir manual para consultas de natureza prática, representa um dos mais completos trabalhos apresentados sobre este assunto até a data de sua edição (1983). O que se propõe, com esta publicação, é identificar e descrever assuntos relevantes a nível de definições, conceitos, metodologia e utilização. Ampla Bibliografia Anotada permite uma visão de conjunto dos artigos de maior interesse para o tema em discussão.

É uma obra valiosa, que merece ser consultada por profissionais da saúde com compromissos técnicos em atividades pertinentes ao planejamento e à avaliação de programas de saúde.

Alice Moreira Derntl

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Communitiy health nursing, by Kathleen M. Leahy, M. Marguerite Cobb and Mary C. Jones, 4th ed. New York, McGraw-Hill Book Company, 1982.422 p.

De início, os autores esclarecem que se trata de um livro que inclui o cliente como parceiro no planejamento do cuidado a sua saúde; e a satisfação de trabalhar com o cliente, ainda que de início possa ser frustrante, só é compreendida quando se vive a experiência. "A enfermagem em saúde comunitária é a síntese da prática de enfermagem e da prática de saúde pública, aplicada na promoção e preservação da saúde das populações".

Na sua primeira parte, a obra dedica-se a definir enfermagem na comunidade, sua filosofia, papéis e funções, cuidados primários e papel ampliado do enfermeiro, além de extender-se sobre os seus vários campos de atuação. Conceptualiza ainda um modelo de atenção à comunidade, para aplicação das teorias de enfermagem. Dedica ainda um capítulo à família, como esta se apresenta: um grupo cultural.

No capítulo 6 o livro aborda uma temática sobre a qual os enfermeiros que trabalham com a comunidade, professores e estudantes estão ávidos: o processo de atenção de enfermagem à família, chegando ao diagnóstico e ao plano de atenção de enfermagem em todas as suas fases. No que se refere a trabalho com grupos, aborda de forma clara tudo o que possa ser de interesse, especialmente quanto à prática nas atividades de promoção da saúde desses grupos.

O capítulo 9 preocupa-se particularmente com a atenção ao idoso, e o último capítulo inclui temas de epidemiologia, estatística e pesquisa, como apoio para a adequada abordagem e avaliação da situação de saúde do indivíduo, família e comunidade.

A segunda parte do volume traz uma série de exercícios sobre situações ou problemas mais encontrados na comunidade, com itens auxiliares que objetivam orientar as discussões e principalmente a aplicação das teorias de enfermagem o que torna os exercícios, nesse sentido, de aplicação universal.

É um livro que se destina a estudantes e professores de enfermagem. Será sem dúvida útil para todos os enfermeiros que trabalham em serviços de saúde e que, de algum modo, estão envolvidos com a comunidade.

Evelin Naked de Castro Sá

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Epidemiology in health services management; edited by G.E. Alam Dever. Rockville, Md, Aspen Systems, 1984. 399p.

Este é mais um dos livros sobre Epidemiologia e Administração, em que o autor coloca, como premissa básica, que os dirigentes de hospitais e outras organizações de saúde necessitam tomar decisões com base em evidências epidemiológicas, para, daí, se situarem na organização dos serviços. Para tanto precisariam, também, entender os princípios e métodos da Epidemiologia e outras disciplinas aplicáveis à política e gerência de instituição de saúde. Logo no início do livro, a Tabela 1 ilustra as contribuições da Epidemiologia na administração de serviços de saúde, numa perspectiva da abrangência que o livro intenta dar ao assunto.

O autor considera a prevenção como elemento básico e multidimensional da assistência e, como tal, deve ser parte da abordagem institucional para a administração de serviços de saúde, fornecendo, no seu entender, a melhor alternativa para expansão dos existentes.

Em prefácio, 13 capítulos e índice por assunto, é analisado todo o campo da Epidemiologia x Administração de Serviços de Saúde e pode funcionar como um manual. Fartamente ilustrado com tabelas, gráficos e desenhos de organizações e/ou sistemas, cada capítulo tem, ainda, um sumário.

Alguns capítulos tratam de matérias cuja importância é mais conhecida e sentida por técnicos e docentes da área da Saúde e para as quais já se dispõe de boa bibliografia, tais como: cap. 1. Epidemiologia: ênfase na prevenção; cap. 2. Epidemiologia e Política Pública; cap. 3. Epidemiologia e Administração de Serviços de Saúde; cap. 4. Medidas epidemiológicas; cap. 5. Identificando problemas, determinando prioridades; cap. 6 e 7 - Epidemiologia descritiva: "quem", "quando" e "onde" da doença; cap. 9. Demografia: "Recursos epidemiológicos" e cap. 12. Epidemiologia de Saúde Ambiental.

Com alguma contribuição mais inovadora tem-se: capítulo 8: A Epidemiologia da utilização dos Serviços de Saúde, compreendendo os determinantes da utilização, tendências na utilização de Serviços de Saúde e análise epidemiológica da sua utilização; o capítulo 10: Marketing, Epidemiologia e Administração; o capítulo 11: Marketing e Epidemiologia: um estudo de caso; e o capítulo final: O futuro da Epidemiologia na Administração de Saúde.

Ao final de tantas tabelas e gráficos, constantes no livro, em seus diversos capítulos, pode-se inferir que se está dando instrumentos para gerência tanto privada quanto pública dos Serviços de Saúde. O que, para esta Escola, é uma atitude desafiante. A utilidade do livro reside na exposição abrangente do campo de Epidemiologia como condicionante do formato organizacional e base da gerência dos serviços de saúde. O que, aliás, já é tempo que se diga, que para os administradores profissionais -não necessariamente da área de saúde –, é redundante e óbvio. Os determinantes e os insumos críticos da organização de qualquer empreendimento são dados justamente pela finalidade da própria organização. Assim, tem sido muito freqüente ler e ouvir que a Epidemiologia é base para a organização e gerência de serviços de saúde, restando saber mais sobre a implementação disso.

Oswaldo Paulo Forattini

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Geographical aspects of health; edited by Neil D. McGlashan and John R. Blunden. London, Academic Press, 1983. 391 p.

Este livro, de caráter editorial, reúne vários temas sobre geografia médica reunidos em três partes. Na primeira relatam o estado atual e a evolução desses conhecimentos em vários países. A segunda parte inclui temas específicos, a maioria dos quais dedicados a doenças não transmissíveis e serviços de saúde. A terceira parte é dedicada à metodologia de pesquisa.

A geografia médica constitui ramo da epidemiologia ainda pouco desenvolvido entre nós. Por esse motivo, o texto não refere dados concernentes à América Latina, exceção feita a algumas breves referências incluídas na Introdução. Todavia, ou por isso mesmo, torna-se necessária sua consulta para todos aqueles que precisam se encaminhar nesse interessante ramo da epidemiologia.

Evelin Naked de Castro Sá

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Health policy implications of unemployment; edited by G. Westcott et al. Copenhagen, Word Health Organization, Regional Office for Europe, 1985. 409 p.

Trata-se de uma coletânea de artigos documentando os resultados dos esforços da ONU no encorajar pesquisas sobre os efeitos do processo e instabilidade econômicos para a saúde, sendo o terceiro de uma série de grupos de trabalho realizados dentro do programa conhecido como Desemprego, Pobreza e Saúde (Copenhagem, 1980; Munich, 1981 e Leeds, 1982).

Na introdução, o problema é colocado com a estimativa feita de 35 milhões de pessoas desempregadas nos países mais industrializados, sendo que se espera que a força de trabalho deva aumentar de 18 a 20 milhões de pessoas, com a necessidade de empregos adicionais. A Organização Internacional do Trabalho estima em um bilhão a necessidade de novos empregos no ano 2000. A configuração da economia (recessão, substituição do homem pela máquina, etc.) mostra probabilidade de persistência e mesmo aumento do desemprego em muitos lugares. Há um círculo vicioso de pobreza, desemprego ou subemprego e outros sintomas econômicos e sociais de desigualdades, discriminação, vulnerabilidades sociais (álcool, abuso de drogas, etc.) e doenças crônicas, em decorrência dos aspectos psicológicos, econômicos e sociais do desemprego. As pessoas em desvantagem sócio-econômica são as que menos probabilidade têm de obter saúde, enquanto que os doentes crônicos têm menor probabilidade de cumprir seus papéis sócio-econômicos e podem, então, tornar-se ainda mais pobres. Aspectos de interesse das autoridades de saúde aparecem nos debates sobre as questões acima: a mais óbvia consiste em identificar como o desemprego e outros problemas correlatos causam, de fato, perda de saúde em quem, sob que circunstância e por meio de que mecanismos, e em direcionar ação de saúde sobre essas causas. Uma segunda seria promover a expansão do setor serviços na economia, incluindo serviços públicos e privados, incentivando serviços voluntários, cooperativas e outros recursos de menor escala, criação de novas oportunidades de trabalho, conceituando trabalho não somente como pagamento por emprego, mas também para qualquer trabalho social e economicamente produtivo e satisfatório, etc.

A introdução faz, também, uma apreciação e revisão das pesquisas existentes e coloca as implicações dos resultados dessas pesquisas para as políticas públicas, dando uma série de questões que devem ser abordadas na política econômica, na política de emprego, na política social e na política de serviços de saúde.

Os artigos estão grupados em 3 partes: Parte 1) Revisão: constando de escritos sobre "Desemprego e Saúde"; "Recessão e Saúde"; "As mudanças econômicas aumentam as desordens mentais?"; "Comportamento suicida e desemprego" e "Estudos epidemiológicos sobre reação psicológica à instabilidade econômica na Inglaterra". Parte 2) Os efeitos do desemprego na saúde: novos estudos, com os artigos: "Mudança econômica e mortalidade por causas em países europeus selecionados: referência especial a comportamentos de risco para a saúde, com ênfase no consumo de álcool"; "Instabilidade econômica e saúde: reconsideração sobre mortalidade infantil e suicídio"; "Por que as previsões econômicas ajudam"; "Emprego, desemprego e Saúde em famílias em Leiden (Países Baixos)"; "Os efeitos do desemprego na saúde de trabalhadores em uma cidade de aço no Reino Unido (resultados preliminares)"; "Problemas de saúde na fase inicial de desemprego (RFA)"; "Alguns resultados de pesquisa médica na Agência de Empregos em Frankfurt (RFA)"; "Condições de saúde, serviços de saúde e desenvolvimento sócio-econômico de províncias na Polônia"; "Insegurança no emprego e desemprego: efeitos sobre a saúde e bem-estar e uma avaliação (Suécia)"; "Depoimento dos efeitos do desemprego no uso de serviços de saúde por um grupo específico: proposta de pesquisas (França)". Parte 3) Questões Políticas, com os estudos, "Recessão e saúde: implicações na política (Reino Unido)". "Efeitos do desemprego na saúde e política nacional de saúde na Finlândia"; "A contribuição da Psicologia no campo do desemprego na comunidade: conceitos de intervenção e pesquisa"; "Resposta ao desemprego a nível local (Reino Unido)".

O livro contém sumários em francês, alemão e russo.

O conjunto de trabalhos aqui analisados constitui excelente documentação para fins didáticos, de pesquisa e de formulação e implementação de políticas, tratando-se de uma fonte de estudos de considerável importância. Recomendo o livro como leitura obrigatória para docentes, estudantes e técnicos do Setor Saúde, para os que estejam em posições de formulações de políticas públicas, bem como para os que se interessem por determinado problema de saúde pública causado ou agravado pelo desemprego.

Oswaldo Paulo Forattini

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Health, society and medicine; by Roy M. Acheson and Spencer Hagard. 3rd Ed. Oxford, Blackwell Scientific Publ., 1984. 397 p.

Trata-se de novo título, a guisa de terceira edição, do "An Introduction to Social Medicine" de McKeown, T. e Lowe, C.R. de 1966. O texto foi totalmente revisto e acrescentado de conceitos novos, tornando-o atualizado, em relação a campo de conhecimentos caracterizado pela sua extrema variabilidade. Todavia, a introdução feita para a primeira edição mantém-se sobremodo atual quando diz que a medicina social, em seu senso estrito, representa corpo de conhecimentos e de métodos próprios de uma disciplina individualizada fundamentalmente na epidemiologia e no estudo das necessidades médicas da sociedade.

O livro é estruturado em três partes subordinadas, em seqüência, aos títulos "Saúde e Sociedade", "Métodos de Promoção da Saúde" e "Saúde e Serviços Sociais", as quais em seu conjunto, compreendeu 32 capítulos. Na primeira incluem-se assuntos basicamente relacionados às medidas da saúde das confluencias populacionais das alterações da mortalidade e da morbidade. Destaque-se o desenvolvimento de temas gerais como o da variabilidade genética populacional e o do inter-relacionamento entre o ambiente e o genótipo. Na segunda parte, os temas desenvolvidos são os específicos de prevenção dos agravos à saúde e seu contexto social. Os últimos doze capítulos, que formam a terceira parte do livro, dedicam-se à organização dos serviços de saúde e os a ela relacionados.

O livro tem a preocupação, como não podia deixar de ser, de focalizar a realidade atual inglesa e que, de maneira geral, pode ser transferida para o mundo dos países assim ditos "desenvolvidos". De qualquer maneira, e dada a geral pobreza de textos dessa natureza em nosso meio, sua utilidade é inegável. Apenas, seria oportuno retomar ao primeiro parágrafo desta apreciação, quando me refiro à introdução da primeira edição.

Com efeito, assinalo aqui que os autores identificam a "medicina social" como disciplina estruturada na epidemiologia e no estudo das necessidades médicas da sociedade. Isso, na minha opinião, nada mais é que sinônimo de "saúde pública".

Manuel Fernando Queiroz dos Santos Júnior

Departamento de Epidemiologia - FSP/USP

Manual de dermatologia ocupacional; por Aureliano da Fonseca. Rio de Janeiro, Colina Editora, 1985. 368 p.

As dermatoses ocupacionais vêm ocupando lugar de destaque como problema sanitário.

Esta publicação preenche uma lacuna na literatura médica nacional, imprimindo uma abordagem didática e elucidativa sobre aspectos médico-sociais, diagnóstico clínico e laboratorial, tratamento e prevenção das dermatoses ocupacionais.

Pela sua praticidade, parece-nos ser de indicação indispensável não só para o dermatologista mas, principalmente, para o médico do trabalho.

Ana Cristina d'Andretta Tanaka

Departamento de Saúde Materno-Infantil - FSP/USP

Obstetrical epidemiology; edited by S.L. Barron and A.M. Thonsom. London, Academic Press, 1983. 492 p.

O livro "Epidemiologia Obstétrica" é um trabalho realizado por professores da Universidade de "Newcastle Upon Tyne" da Inglaterra.

Contém 13 capítulos de diferentes autores os quais abordam os mais diferentes aspectos da obstetrícia. Ele está voltado quase que inteiramente a uma visão de Saúde Pública, pois enfoca os problemas mais freqüentes na área de saúde da mulher, com uma visão epidemiológica.

A mortalidade materna, perinatal, o aborto, as infecções gestacionais, a hipertensão na gravidez e os aspectos sociais interferindo no resultado da gestação são alguns dos temas analisados.

É interessante notar a ênfase, que os autores dão, aos métodos epidemiológicos como um importante instrumento para se poder reduzir a mortalidade materna e perinatal e ainda ampliar o conhecimento dos fatores que interferem na concepção e na fertilidade, bem como as causas das mortes fetais precoces e da indução do aborto.

Os aspectos sociais são tão relevantes, que existe um capítulo só para tratar deste assunto, no qual aborda-se os problemas de classe social, reprodução e morbi-mortalidade, além dos aspectos relacionados com a família, o aborto e a ilegitimidade.

O livro é recomendado a todo o profissional que trabalhe na área de Saúde Materno-Infantil, bem como ao Obstetra.

Rosa Nilda Mazzilli

Departamento de Nutrição - FSP/USP

Present knowledge in nutrition, 5th ed. Washington, D.C., The Nutrition Foundation, 1984. 900 p. [Nutrition reviews]

Este livro visa a divulgação dos conhecimentos mais recentes no campo da Nutrição. Razão pela qual a quinta edição sofreu modificações em relação às anteriores, com a finalidade de ampliar a abordagem para assuntos de maior interesse no momento, condensando outros já tratados.

A publicação é composta de 9 partes, subdivididas em 58 capítulos, tendo em vista melhor compreensão do texto. Essas 9 partes relacionam-se a: Energia, Macronutrientes, Vitaminas lipossolúveis, Vitaminas hidrossolúveis, Macrominerais, Microminerais, Nutrição segundo as necessidades fisiológicas especiais, Nutrição na prevenção e tratamento de doenças, História da Nutrição.

Representa excelente material de consulta para professores, estudantes e profissionais da área, servindo como leitura complementar de livros textos pelo seu conteúdo atualizado em nutrição.

Marcia Faria Wesphal

Departamento de Prática de Saúde Pública - FSP/USP

Scientific research and social goals; edited by Federico Mayor. Oxford, Pergamon Press, 1982. 236 p.

Em dezembro de 1985 a UNESCO, tendo em vista a crescente desigualdade entre as populações e os países e a situação crescente da pobreza no mundo, decidiu desenvolver o programa "Pesquisas e necessidades humanas". Este livro explicita o tema e propósitos do programa apresentando algumas diretrizes para sua implementação. O modelo econômico de desenvolvimento é colocado em questão, uma vez que não tem como resultado o atendimento das necessidades humanas básicas. A pesquisa científica aparece não como solução para humanização do desenvolvimento, mas como uma força propulsora do mesmo, na medida em que fornece dados que permitem às organizações políticas e econômicas atender as necessidades das populações dos países em desenvolvimento.

A discussão organizada a partir de textos de vários autores divide-se em três setores: conceito e filosofia, abordagens metodológicas e programas práticos.

Na primeira parte é justificada a proposta de que pesquisa e análise sejam feitas antes que se decida o que será programado a nível internacional, nacional e local de grandes parcelas de população que habitam os países em desenvolvimento. Esperam que os dados dos estudos mobilizem as instituições para que assumam a resolução de problemas sociais relevantes, organizando esquemas políticos adequados ao atendimento de necessidades.

Os autores chamam atenção para o fato de que este esquema racional não é fácil de ser operacionalizado. As idéias sobre ciência e seu papel social não são uniformes dentro da comunidade científica. Muitas vezes ciência é confundida com aplicação de "know how", perdendo sua essência de instrumento, que atende ao desafio de um novo saber, do pensamento voltado para a busca de novas relações e novas soluções.

O conceito de necessidades básicas também é objeto de controvérsia, havendo várias classificações. Um dos autores categoriza as necessidades em: básicas (alimentação, abrigo, vestimenta, ambiente apropriado); derivadas da primeira (água, energia, transporte e assistência médica) e diferenciadas (direito ao trabalho, proteção aos direitos sociais). O atendimento das necessidades intelectuais aparecem como condição para o desenvolvimento mental dos indivíduos e da sociedade, desenvolvimento da capacidade criativa, raciocínio lógico e aquisição de conhecimentos.

Na segunda parte uma discussão metodológica é levada a efeito também por vários autores. Concluem que o enfoque mais adequado à pesquisa aplicada, ao atendimento e equacionamento das necessidades humanas é o global, muitas vezes combinado a técnicas analíticas para apreensão de aspectos particulares. Exemplos apresentados de técnicas analíticas, foram as análises de "input", "output", e técnica de resolução de sub-problemas, utilizadas para avaliar a importância de diferentes campos de atividades no programa em tela. Variações do modelo global são apresentadas sendo que dois foram considerados muito importantes. O modelo de simulação global é um deles. Seu objetivo é buscar aprender aspectos formalizados e não formalizados da estrutura social, fornecendo elementos para direção de um experimento para alcançar soluções globais para grande número de pessoas. Semelhantemente, pesquisa-ação é uma alternativa válida.

A terceira parte apresenta programas de pesquisa e necessidades humanas iniciadas na América Latina e África. Ambos partiram do pressuposto que a comunidade científica precisaria ser conscientizada. Assim começaram promovendo seminários sob auspícios da UNESCO a partir de 1977. Nestes encontros pretendeu-se que fossem traçados objetivos para outras áreas de atividade com a comunidade científica e com as instituições.

Finalmente, o editor conclui dizendo que processo de desenvolvimento, a partir das necessidades humanas não satisfeitas será longo e difícil e necessita de substâncias recursos financeiros.

Este livro é muito importante para nós, principalmente, porque representamos a comunidade científica da América Latina, para que nos demos conta de nossa responsabilidade no atendimento das necessidades de grande massa de população carente, que vive ao nosso redor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jun 2005
  • Data do Fascículo
    Ago 1986
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