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Perfil e trajetória profissional dos fonoaudiólogos egressos de um programa de residência multiprofissional

RESUMO:

Objetivo

analisar o perfil e a trajetória de atuação profissional do fonoaudiólogo egresso de um programa de residência multiprofissional em saúde do idoso.

Métodos

estudo observacional transversal, cuja amostra consistiu em 26 fonoaudiólogos que concluíram o programa de residência entre 2012 e 2019, em um hospital público, e responderam a um questionário online, composto por 32 questões referentes ao perfil do egresso e a trajetória profissional após a residência multiprofissional. Os dados sociodemográficos, o tipo de formação, a experiência profissional e os demais dados foram analisados de forma descritiva.

Resultados

a maioria dos egressos era mulher, com média de idade de 25,6 anos, ao iniciar a residência, solteiras, sem filhos. Os egressos consideraram a residência relevante para a inserção no mercado de trabalho e o primeiro emprego foi entre 0 e 3 meses após a conclusão, na mesma área de especialização e no setor privado. No período da coleta, a maioria trabalhava com idosos e no setor público. Foi observada melhora da remuneração dos egressos após a realização de formações continuadas.

Conclusão

os fonoaudiólogos egressos da residência multiprofissional que participaram do estudo foram, em sua maioria, mulheres, obtiveram emprego em curto período após a conclusão e, atualmente, trabalham com idosos e no setor público, indicando que o programa cumpre com os quesitos pressupostos de formação.

Palavras-chave:
Fonoaudiologia; Capacitação profissional; Mercado de trabalho; Educação continuada; Capacitação de Recursos Humanos em Saúde

ABSTRACT

Purpose

to analyze the profile and trajectory of professional performance of the speech therapist who graduated from a Multiprofessional Residency Program in Elderly Health.

Methods

This was a cross-sectional observational study, which sample consisted of 26 speech therapists who completed the residency program between 2012 and 2019 in a public hospital and answered an online questionnaire consisting of 32 questions regarding the graduate's profile and trajectory professional after the Multiprofessional Residency. Sociodemographic data, type of education, professional experience and other obtained data underwent through a descriptive analysis.

Results

Most of the graduates were women with average age, at the beginning of the program, of 25.6 years, single, without children, they considered that the residency was relevant for insertion in the labor market, the first job was between 0 to 3 months after completion, in the same area of expertise and in the private sector. At the time of this study, most of them were working with the elderly and in the public sector. It was observed an improvement in the remuneration of the egresses after carrying out continuing education.

Conclusion

The egresses speech language pathologist of the Multiprofessional Residency were mostly women, were working with the elderly and in the public sector, indicating that the program complies with the presupposed formation requisits.

Keywords:
Speech-language pathology; Professional training; Job market; Continuing education; Health Human Resource Training

INTRODUÇÃO

A Residência Multiprofissional (RM) foi regulamentada nacionalmente por meio da Lei 11.129(11 Kveller DB, Castoldi L, Kijner LC. A trajetória profissional dos egressos de uma residência multiprofissional. Diaphora. 2017;6(1):14-9.,22 Guerra TMS, Costa MDH. Formação profissional da equipe multiprofissional em saúde: a compreensão da intersetorialidade no contexto SUS. Textos & Contextos. 2017;16(2):454-69.), sendo uma modalidade de pós-graduação lato sensu, de caráter interdisciplinar e organizada em áreas de concentração de conhecimentos. Essa especialização visa favorecer a inserção de jovens profissionais em áreas mais necessitadas à realidade social e ao contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) e promover o desenvolvimento desses profissionais para atuação na gestão/organização do serviço a partir da problematização do processo de trabalho, práticas profissionais, críticas, interdisciplinares, éticas e humanísticas, além da qualidade do cuidado à saúde(11 Kveller DB, Castoldi L, Kijner LC. A trajetória profissional dos egressos de uma residência multiprofissional. Diaphora. 2017;6(1):14-9.).

Essa modalidade de especialização é uma das principais ferramentas para a superação das limitações decorrentes da graduação, considerando a existência de uma visão generalista com a mínima vivência do trabalho em equipe na saúde. Além de permitir a qualificação dos residentes para atuação no SUS, a RM permite a qualificação do serviço que os recebe, incentiva a reflexão sobre a prática desenvolvida, as possibilidades e limites de atuação, bem como estimula e promove a transformação desse cenário a favor da melhor assistência à saúde(33 Mello AL, Terra MG, Arruda GT, Siqueira DF, Arnemann CT. Residências multiprofissionais em saúde: revisão de teses e dissertações brasileiras. Multiciência. 2018;3(5):98-116.).

Espera-se que o egresso, ao passar pela RM, se torne um profissional crítico-reflexivo, capaz de atuar de maneira integral e interdisciplinar em sua área, integrando a perspectiva de atuação no âmbito da assistência, do ensino, da pesquisa e da gestão, levando em consideração a realidade do SUS(44 Oliveira JB, Ceretta LB, Birolo IVB, Simões PW, Sônego FGF. Influência da residência multiprofissional na vida professional de egressos. Rev Inova Saúde. 2017;6(1):122-39.).

Poucos foram os estudos brasileiros que analisaram a trajetória profissional do Programa de Residência Multiprofissional e, até o momento, não há, na literatura, relato sobre a trajetória profissional do egresso residente de Fonoaudiologia. Analisar a trajetória profissional do egresso residente de Fonoaudiologia permite reflexão sobre as formações disponíveis para atuação profissional e sua importância para a construção de uma carreira profissional em consonância com o mercado de trabalho. Além disso, pesquisas realizadas com egressos permitem avaliações contínuas do programa de residência e as respostas obtidas funcionam como instrumento fundamental para fortalecer os pontos positivos, sugerir mudanças na estrutura da especialização e alcançar melhores resultados dentro do programa.

Assim, o objetivo deste estudo foi analisar o perfil e a trajetória de atuação profissional do fonoaudiólogo egresso do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa observacional transversal, realizada com fonoaudiólogos egressos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG, sob o parecer 4.132.270.

A amostra do estudo foi não probabilística e o número total de egressos se deu por meio de registros na Comissão de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde (COREMULT). No total, foram registrados 26 residentes da Fonoaudiologia na área de concentração Saúde do Idoso. No Hospital das Clínicas (UFMG), a Residência Multiprofissional foi instituída em 2010 e, atualmente, contempla profissionais das áreas de Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e Terapia Ocupacional.

Foram incluídos neste estudo fonoaudiólogos egressos que concluíram a residência no período de 2012 a 2019 e que aceitaram participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos aqueles cujos questionários apresentavam ausência de resposta em mais de 20% dos itens. Os convites de participação foram enviados via e-mail, aplicativo de mensagem no celular e redes sociais.

As informações sobre o perfil e a trajetória dos fonoaudiólogos egressos foram coletadas mediante questionário elaborado a partir de outro4 disponível na literatura e aplicado online, por meio da ferramenta Google Forms.

O questionário foi composto por 32 questões, agrupadas em duas modalidades: perfil do egresso (19 questões) e trajetória profissional após a RM (13 questões) (Apêndice 1 Apêndice 1 Questionário investigativo: perfil e trajetória dos fonoaudiólogos egressos (adaptado de Oliveira, 2017) PERFIL DO EGRESSO 1 – Nome completo: 2 – Data de nascimento: 3 - Gênero: ⃝ Feminino ⃝ Masculino 4 – Região de origem: ⃝ Norte: AC, AM, RO, RR, PA, AP, TO ⃝ Nordeste: AL, BA, CE, MA, PB, PI, PE, RN, SE ⃝ Centro-Oeste: DF, GO, MT, MS ⃝ Sudeste: ES, MG, SP, RJ ⃝ Sul: PR, SC, RS 5- Tipo de escola que cursou o ensino médio: ⃝ 100% Pública ⃝ 100% Particular ⃝ Particular com bolsa ⃝ Predominantemente Pública ⃝ Predominantemente particular 6- Você tem alguma outra formação profissional além da Fonoaudiologia? Sim ⃝ Não 7- Se “SIM” para a pergunta anterior, qual a outra formação? 8- Modalidades de custeio da graduação: ⃝ 100% Pública ⃝ 100% Particular sem bolsa ⃝ Particular com bolsa parcial Prouni ⃝ Particular com bolsa integral Prouni 12- Semestre e ano de finalização da graduação: 13- Ano de inicio da residência multiprofissional: 14- Ano em que finalizou a residência: 15- Idade com a qual iniciou a residência: 16 – Quando iniciou a residência qual era seu estado civil: ⃝ Solteiro ⃝ Casado ⃝ Divorciado 17- Quando iniciou a residência tinha filhos? Sim ⃝ Não Se sim, quantos? 18 - Trabalhava antes da RM ? Sim ⃝ Não 19- Se “SIM” para a pergunta anterior, em que tipo de serviço trabalhou ⃝ Serviço particular SUS ⃝ Outros ⃝ Não se aplica TRAJETÓRIA PROFISSIONAL APÓS A RM 20- Qual foi a relevância da RM para sua inserção no mercado de trabalho? a. ⃝ Ruim b. ⃝ Regular c. ⃝ Bom d. ⃝ Muito bom e. ⃝ Ótimo 21- Após a RM, quanto tempo levou para iniciar seu primeiro emprego? a. ⃝ 0-3 m b. ⃝ 4-6 m c. ⃝ 7-9 m d. ⃝ 10-12 m e. ⃝ Mais que 12 m 22- Maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho após a RM a. ⃝ Inexperiência b. ⃝Localização das vagas de emprego c. ⃝ Muitos concorrentes d. ⃝ Os empregos não estavam conscientes das competências da sua especialidade e. ⃝ Outros f. ⃝ Não encontrei dificuldades 23- Como conseguiu o primeiro emprego? a. ⃝ Concurso público b. ⃝ Processo seletivo c. ⃝ Por indicação d. ⃝ Análise curricular e entrevista 24- Seu primeiro emprego após a RM foi na mesma área de sua especialização? a. ⃝ Sim b. ⃝ Não 25- Seu primeiro emprego após a RM foi em qual setor? a. ⃝ Público b. ⃝ Privado 26- Seu primeiro emprego após a RM foi em qual nível da atenção? a. ⃝ primário b. ⃝ secundário c. ⃝ terciário 27- Situação formal de trabalho atualmente a. ⃝ Ativo (na área de formação) b. ⃝ Ativo (em outra área) c. ⃝ Desempregado d. ⃝ Não estou trabalhando por opção. 28- Carga horária na saúde pública a. ⃝ 20 h b. ⃝ 30 h c. ⃝ 40 h d. ⃝ Não trabalho na saúde pública 29- Quando iniciou o primeiro emprego após a residência, qual era a remuneração: a. ⃝ 1 salário mínimo b. ⃝ 2-3 salários mínimos c. ⃝ 4-5 salários mínimos d. ⃝ Mais de 6 salários mínimos 30- Remuneração atualmente: a. ⃝ 1 salário mínimo b. ⃝ 2-3 salários mínimos c. ⃝ 4-5 salários mínimos d. ⃝ Mais de 6 salários mínimos 31- Após a conclusão da residência participou de outra pós-graduação? a. ⃝ Sim b. ⃝ Não Se sim, qual tipo e em qual área? 32- Após a conclusão da residência participou de algum aprimoramento? a. ⃝ Sim b. ⃝ Não Se sim, qual tipo e em qual área? Legenda: RM = residência multiprofissional; Prouni = Programa Universidade para Todos; m = meses; h = horas ). A maioria das questões foi de múltipla escolha, por meio de escala Likert, com até cinco opções de resposta, exceto as perguntas de identificação e formação acadêmica dos participantes, que foram abertas. O questionário ficou disponível no Google Forms por um mês, a partir da data de divulgação e cada participante pôde respondê-lo apenas uma vez. Vale destacar que o participante só teve acesso ao questionário após ler o TCLE e aceitar participar da pesquisa.

Para a análise dos resultados, algumas variáveis foram agrupadas em categorias: 1) idade do residente no início da residência multiprofissional: adulto jovem (21 a 23 anos), adulto médio (24 a 26 anos) e residente maduro (27 a 38 anos); 2) tempo de finalização na graduação e ingresso na residência: até um ano e acima de um ano; 3) período de conclusão da residência: recém-formados, para aqueles formados entre 2017 e 2019 e veteranos, para os formados entre 2012 e 2016; 4) tempo de inserção no mercado de trabalho: menos tempo (0 a 6 meses) e mais tempo (acima de 6 meses); 5) forma de obtenção do primeiro emprego: indicação e seleção, este último abrangendo concurso público, processo seletivo, análise curricular e entrevista; 6) remuneração: de um a três salários mínimos e quatro ou mais salários mínimos; 7) formação continuada: stricto sensu e lato sensu; 8) áreas de formação continuada: voz, linguagem, motricidade orofacial, disfagia, audiologia, saúde coletiva e áreas complementares.

Os dados quanto às variáveis sociodemográficas, tipo de formação e experiência profissional foram analisados descritivamente e apresentados na forma de frequência observada, porcentagem, valores mínimos e máximos, medidas de tendência central e de variabilidade.

RESULTADOS

Dos 26 fonoaudiólogos egressos convidados a participar, 100% concordaram e responderam ao questionário na íntegra.

Perfil dos fonoaudiólogos egressos

Quanto ao perfil dos egressos, a média de idade atual era de 31 anos, todos brasileiros, sendo 92,3% representados por mulheres. A maioria dos egressos teve formação nos ensinos médio e superior, realizada em instituição pública. A maioria iniciou a residência em até um ano após a conclusão da graduação (76,9%) e 53,8% finalizaram a residência entre 2012 e 2016, sendo considerados veteranos (Tabela 1).

Tabela 1
Perfil sociodemográfico do fonoaudiólogo egresso do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais

Inserção no mercado de trabalho e área de atuação profissional

Ao serem questionados sobre a relevância da residência para a inserção no mercado de trabalho, 88,5% dos egressos classificaram como relevante (Figura 1).

Figura 1
Relevância da residência para a inserção do fonoaudiólogo egresso do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais no mercado de trabalho

Sobre o mercado de trabalho e a remuneração após a residência, 57,8% afirmaram não ter encontrado dificuldades para se inserir no mercado de trabalho; o primeiro emprego foi conseguido entre 0 e 3 meses após a conclusão (65,4%), por meio de seleção (57,8%), na mesma área de especialização (61,4%), nos níveis de atenção primária (19,2%), secundária (42,2%) e terciária (38,6%), sendo que a maioria trabalha com idosos (Tabela 2).

Tabela 2
Descrição da trajetória de atuação profissional do fonoaudiólogo egresso da residência multiprofissional

Atualmente, a maioria trabalha no setor público (73,0%) e com remuneração acima de três salários mínimos (69,2%) (Figura 2 e 3).

Figura 2
Comparativo entre a remuneração do primeiro emprego e a remuneração atual
Figura 3
Comparativo entre a distribuição da egressos por setor de trabalho no primeiro emprego após a residência multiprofissional e atualmente

Em relação à formação continuada após a residência, 5 egressos (19,2%) participaram de outra pós-graduação na modalidade stricto sensu, porém, apenas 2 tiveram como linha de pesquisa a saúde do idoso. Dos 26 egressos, 18 (69,2%) tiveram alguma formação lato sensu, sendo que 8 participaram de formações em áreas complementares à Fonoaudiologia, como reabilitação, cuidados paliativos e recursos terapêuticos, seguidas de formações nas áreas de disfagia, linguagem, voz, motricidade orofacial, audiologia, saúde do idoso e saúde coletiva (Figura 4).

Figura 4
Distribuição da formação lato sensu realizada pelos fonoaudiólogos egressos da residência multiprofissional

DISCUSSÃO

O perfil dos fonoaudiólogos egressos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da UFMG foi caracterizado, na sua maioria, por mulheres solteiras e sem filhos, recém-formadas na graduação em instituições de ensino superior públicas. Tais resultados também foram encontrados em estudos brasileiros que investigaram o perfil dos residentes egressos médicos(55 Chehuen Neto JA, Sirimarco MT, Santos LA, Barroso CM, Castro CRD, Nogueira CR, et al. Perfil dos residentes do hospital universitário da universidade federal de Juiz de Fora. HU Rev. 2005;31(3):11-6.,66 Rodrigues ET, Forster AD, Santos LL, Ferreira JBB, Falk JW, Fabbro AML. Perfil e trajetória profissional dos egressos da residência em medicina de família e comunidade do estado de São Paulo. Rev Bras Educ Med. 2017;41(4):604-14. http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v41n4rb20160084.
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) e multiprofissionais(11 Kveller DB, Castoldi L, Kijner LC. A trajetória profissional dos egressos de uma residência multiprofissional. Diaphora. 2017;6(1):14-9.,77 Oshima AMMY, Besegato JF, Lima CV, Noronha MS, Hoeppner MG, Caldarelli PG. Perfil, atuação e satisfação de cirurgiões-dentistas em residências multiprofissionais em saúde da região sul do Brasil. Revista ABENO. 2018;18(1):134-45. http://dx.doi.org/10.30979/rev.abeno.v18i1.475.
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,88 Brasil CC, Oliveira PRS, Vasconcelos APSM. Perfil e trajetória dos egressos de residência multiprofissional: trabalho e formação em saúde. SANARE. 2017;16(1):60-6.), exceto nos estudos que analisaram o perfil dos residentes em cirurgia(99 Pinto FCF, Ferreira JBB, Carita EC, Silva SS. Perfil dos egressos da residência médica em cirurgia geral de uma universidade do interior paulista. Rev Bras Educ Med. 2018;42(4):144-54. http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v42n4rb20170136.
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), otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço(1010 Maniglia JV. Perfil do egresso da residência em otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço da Santa Casa de Franca, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e da clínica Maniglia. Arq Ciênc Saúde. 2004;11(1):29-36.), nos quais a população predominante foi do sexo masculino com média de idade entre 31,2 e 41,6 anos. A residência é uma modalidade de formação continuada que permite aperfeiçoamento do exercício profissional, portanto, é de se esperar que recém-formados se interessem em fazer a residência como forma de ingressar no mercado de trabalho com melhores habilidades e competências.

Quanto ao predomínio do sexo feminino neste estudo, pode estar relacionado ao chamado processo de feminização e que tem se destacado na área da saúde(11 Kveller DB, Castoldi L, Kijner LC. A trajetória profissional dos egressos de uma residência multiprofissional. Diaphora. 2017;6(1):14-9.,1111 Goulart CT, Silva RM, Bolzan MEO, Guido LA. Perfil sociodemográfico e acadêmico de residentes multiprofissionais de uma universidade pública. Rev RENE. 2012;13(1):178-86.

12 Silva DCP, Grazziano CR, Carrascosa AC. Satisfação profissional e perfil de egressos em fisioterapia. ConScientia e Saúde. 2018;17(1):65-71. http://dx.doi.org/10.5585/conssaude.v17n1.7694.
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-1313 Carvalho DJM, Silva RMO, Fernandes JD, Cordeiro ALAO, Santos OMB, Silva LS, et al. Nursing residence graduates and the job market. Rev Enferm. 2019;13:e238381.). O termo “feminização” se refere ao crescimento da população feminina em algumas profissões que antes eram desempenhadas por homens, o que se tornou expressivo a partir da década de 90, devido ao interesse do sexo feminino pelo ingresso no nível superior na área da saúde(1414 Matos IB, Toassi RFC, Oliveira MC. Profissões e ocupações de saúde e o processo de feminização: tendências e implicações. Athenea Digit. 2013;13(2):239-44. http://dx.doi.org/10.5565/rev/athenead/v13n2.1119.
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). Além disso, é importante destacar o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, trazendo a independência financeira e as tornando chefes de família(1111 Goulart CT, Silva RM, Bolzan MEO, Guido LA. Perfil sociodemográfico e acadêmico de residentes multiprofissionais de uma universidade pública. Rev RENE. 2012;13(1):178-86.). Tradicionalmente, o curso de Fonoaudiologia é frequentado majoritariamente por mulheres e um estudo afirma que nas áreas de Fonoaudiologia, Serviço Social, Terapia Ocupacional e Nutrição as mulheres correspondem a mais de 90% dos estudantes(1515 Poz MR, Pierantoni CR, Girardi S. Formação, mercado de trabalho e regulação da força de trabalho em saúde no Brasil. A saúde no Brasil em 2030 - prospecção estratégica do sistema de saúde brasileiro: organização e gestão do sistema de saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz/Ipea/Ministério da Saúde/Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República; 2013; p. 187-233.). O processo de reabilitação sempre foi visto como uma atuação mais feminina, pelo fato de as mulheres apresentarem postura mais maternalista e pela possibilidade de transferir esse cuidado para a atuação profissional(1616 Maciel CA, Escarce AG, Motta AR, Teixeira LC. Speech therapy graduates perception of situation and professional satisfaction. Audiol Commun Res. 2019;24(e2094):1-9.), além de ser entendido como dom ou vocação(1414 Matos IB, Toassi RFC, Oliveira MC. Profissões e ocupações de saúde e o processo de feminização: tendências e implicações. Athenea Digit. 2013;13(2):239-44. http://dx.doi.org/10.5565/rev/athenead/v13n2.1119.
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). A área de atuação e de especialização da residência analisada foi em saúde do idoso, área esta que pode ser reconhecida pelos interessados como sendo de caráter assistencial, fator que pode atrair mais as mulheres para a formação.

Quanto aos demais resultados sociodemográficos, muitos são os fatores relacionados ao ingresso na residência multiprofissional, independentemente da categoria profissional. Em relação à faixa etária encontrada no presente estudo, no qual pôde se observar indivíduos cada vez mais jovens e com alto nível de escolaridade, deve-se destacar o papel dos estímulos e incentivos governamentais favorecendo o ingresso cada vez mais cedo na graduação(1717 Bublitz S, Guido LA, Kirchhof RS, Neves ET, Lopes LFD. Sociodemographic and academic profile of nursing students from four brazilian institutions. Rev Gaúcha Enferm. 2015;36(1):77-83. http://dx.doi.org/10.1590/1983-1447.2015.01.48836. PMid:26098806.
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) e, consequentemente, nas especializações e aprimoramentos, além de indicar o rejuvenescimento da força de trabalho na área da saúde, destacando os trabalhadores de nível superior(1111 Goulart CT, Silva RM, Bolzan MEO, Guido LA. Perfil sociodemográfico e acadêmico de residentes multiprofissionais de uma universidade pública. Rev RENE. 2012;13(1):178-86.). O desejo de realização profissional e maior escolarização(1414 Matos IB, Toassi RFC, Oliveira MC. Profissões e ocupações de saúde e o processo de feminização: tendências e implicações. Athenea Digit. 2013;13(2):239-44. http://dx.doi.org/10.5565/rev/athenead/v13n2.1119.
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) justifica o fato de a maioria da população estudada não ter filhos e ser solteira quando ingressa na residência. Esta condição pode estar intimamente ligada à busca do jovem pela carreira profissional e financeira, visando à melhor qualidade de vida, sendo muito comum a opção por não manter laços conjugais durante esse período, protelando para construir sua própria família(1313 Carvalho DJM, Silva RMO, Fernandes JD, Cordeiro ALAO, Santos OMB, Silva LS, et al. Nursing residence graduates and the job market. Rev Enferm. 2019;13:e238381.).

Outro aspecto que vale destacar é a carga horária da residência multiprofissional de 60 horas semanais, que exige disponibilidade de tempo do residente, prática bastante difícil para quem tem filhos pequenos, para os quais os cuidados são intensos. Assim, acredita-se que esses múltiplos fatores possam ser importantes influenciadores no que se refere à disponibilidade de investimento na carreira profissional da amostra que compôs o presente estudo. Este estudo também evidenciou a necessidade e a busca de fonoaudiólogos pela formação continuada, o que vai ao encontro de outros estudos de residência multiprofissional, incluindo outras categorias profissionais(88 Brasil CC, Oliveira PRS, Vasconcelos APSM. Perfil e trajetória dos egressos de residência multiprofissional: trabalho e formação em saúde. SANARE. 2017;16(1):60-6.,1111 Goulart CT, Silva RM, Bolzan MEO, Guido LA. Perfil sociodemográfico e acadêmico de residentes multiprofissionais de uma universidade pública. Rev RENE. 2012;13(1):178-86.), sendo necessária capacitação e competências além da graduação. Observa-se uma forte tendência pela aprendizagem constante nas profissões relacionadas à saúde(1616 Maciel CA, Escarce AG, Motta AR, Teixeira LC. Speech therapy graduates perception of situation and professional satisfaction. Audiol Commun Res. 2019;24(e2094):1-9.,1818 Mota RBA. Programa de residência multiprofissional integrada em saúde: uma avaliação da política de educação permanente em saúde no HC/UFPE a partir da inserção dos egressos no mercado de trabalho de 2012 a 2015 [dissertação]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 2016.), principalmente com o objetivo de articular a teoria à prática profissional. Tal fato também confirma a formação continuada dos egressos da RM no presente estudo, sendo a maior adesão na modalidade lato sensu, assim como em outros estudos(44 Oliveira JB, Ceretta LB, Birolo IVB, Simões PW, Sônego FGF. Influência da residência multiprofissional na vida professional de egressos. Rev Inova Saúde. 2017;6(1):122-39.,1616 Maciel CA, Escarce AG, Motta AR, Teixeira LC. Speech therapy graduates perception of situation and professional satisfaction. Audiol Commun Res. 2019;24(e2094):1-9.), mas diferente de outro, de residência multiprofissional, em que a maioria dos egressos optou pela modalidade stricto sensu( 88 Brasil CC, Oliveira PRS, Vasconcelos APSM. Perfil e trajetória dos egressos de residência multiprofissional: trabalho e formação em saúde. SANARE. 2017;16(1):60-6.).

A discussão sobre o perfil dos fonoaudiólogos egressos deve considerar a localização geográfica dos programas de residência, tendo em vista que a oferta de educação superior no Brasil se concentra nos grandes centros urbanos com predominância do eixo Sul-Sudeste, sendo a Região Sudeste considerada uma das regiões mais contempladas com programas de residência(1919 Sarmento LF, França T, Medeiros KR, Santos MR, Ney MS. The regional distribution of the provision of training in the Multi-professional Residency in Health modality. Saúde Debate. 2017;41(113):415-24. http://dx.doi.org/10.1590/0103-1104201711306.
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). Este fato se deve ao desempenho econômico e por se configurar como centro dinâmico do mercado de trabalho de saúde no país, correspondendo à própria distribuição da capacidade instalada e dos empregos de saúde dessa Região(1919 Sarmento LF, França T, Medeiros KR, Santos MR, Ney MS. The regional distribution of the provision of training in the Multi-professional Residency in Health modality. Saúde Debate. 2017;41(113):415-24. http://dx.doi.org/10.1590/0103-1104201711306.
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,2020 Vieira ALS, Amâncio A Fo, Oliveira ES. Mercado de trabalho em saúde na região sudeste- Brasil: a inserção da equipe de enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 2004;12(1):134-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692004000100019.
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). Ademais, em Belo Horizonte existem três cursos de bacharelado em Fonoaudiologia, contribuindo para essa concentração de procura dos formados. A instituição onde o estudo foi realizado foi pioneira na residência multiprofissional na localidade, atraindo o interesse dos egressos dos cursos para essa modalidade de formação continuada. Aos poucos, outras instituições foram se organizando e novas áreas de concentração foram criadas para a residência multiprofissional no município.

A modalidade de custeio da graduação dos fonoaudiólogos egressos foi predominantemente pública, dado que também concorda com o estudo do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família da Universidade do Extremo Sul Catarinense(33 Mello AL, Terra MG, Arruda GT, Siqueira DF, Arnemann CT. Residências multiprofissionais em saúde: revisão de teses e dissertações brasileiras. Multiciência. 2018;3(5):98-116.). Este fato pode ser atribuído ao maior conhecimento dos estudantes de universidades públicas em relação aos possíveis incentivos financeiros oferecidos para a continuidade da formação(33 Mello AL, Terra MG, Arruda GT, Siqueira DF, Arnemann CT. Residências multiprofissionais em saúde: revisão de teses e dissertações brasileiras. Multiciência. 2018;3(5):98-116.), ao nível do ensino das instituições públicas e à diversidade de atividades extracurriculares que prepararam os estudantes da graduação para a busca de conhecimento e enriquecimento na formação profissional.

A residência multiprofissional pode ser interpretada como o início da carreira profissional para muitos. Evidenciou-se, neste estudo, que metade dos fonoaudiólogos egressos não havia trabalhado antes da RM. Dessa forma, a Residência possibilita uma transição mais amena entre a universidade e a inserção no mercado de trabalho nos cursos da área da saúde, permitindo a aquisição de maior segurança profissional(1111 Goulart CT, Silva RM, Bolzan MEO, Guido LA. Perfil sociodemográfico e acadêmico de residentes multiprofissionais de uma universidade pública. Rev RENE. 2012;13(1):178-86.) e de conhecimentos essenciais para a realização da prática profissional de forma eficiente, uma vez que a carga horária de treinamento prático em serviço, na residência, é maior quando comparado a graduação.

Em relação ao mercado de trabalho, a maioria dos fonoaudiólogos egressos deste estudo obteve o primeiro emprego em até três meses após a conclusão da residência, dado que aponta uma inserção no mercado de trabalho em curto período e concorda com outros estudos com egressos de residência multiprofissional de cirurgiões-dentistas na Região Sul(77 Oshima AMMY, Besegato JF, Lima CV, Noronha MS, Hoeppner MG, Caldarelli PG. Perfil, atuação e satisfação de cirurgiões-dentistas em residências multiprofissionais em saúde da região sul do Brasil. Revista ABENO. 2018;18(1):134-45. http://dx.doi.org/10.30979/rev.abeno.v18i1.475.
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) e outras categorias profissionais no Nordeste do Brasil(88 Brasil CC, Oliveira PRS, Vasconcelos APSM. Perfil e trajetória dos egressos de residência multiprofissional: trabalho e formação em saúde. SANARE. 2017;16(1):60-6.). Tal característica, que indica a atual necessidade do mercado de trabalho por profissionais devidamente capacitados e treinados, evidencia que a RM favorece a inserção desses profissionais, devido à experiência prática vivenciada(44 Oliveira JB, Ceretta LB, Birolo IVB, Simões PW, Sônego FGF. Influência da residência multiprofissional na vida professional de egressos. Rev Inova Saúde. 2017;6(1):122-39.), além de conferir pontos importantes nas seleções de editais públicos e privados(11 Kveller DB, Castoldi L, Kijner LC. A trajetória profissional dos egressos de uma residência multiprofissional. Diaphora. 2017;6(1):14-9.), atribuídos ao título de especialista adquirido após a conclusão da RM. Deve-se levar em consideração que, quanto mais especializado o profissional, maior o seu destaque nos processos de seleção.

A forma de inserção no mercado de trabalho após a residência também foi investigada e muitos egressos se inseriram por meio de processo seletivo, diferente do estudo no estado de Santa Catarina, no qual a maioria dos egressos da residência multiprofissional conseguiu o primeiro emprego por meio de indicação(44 Oliveira JB, Ceretta LB, Birolo IVB, Simões PW, Sônego FGF. Influência da residência multiprofissional na vida professional de egressos. Rev Inova Saúde. 2017;6(1):122-39.). No presente estudo, a maior parte dos fonoaudiólogos egressos obteve o primeiro emprego na área de especialização, na atenção secundária e nos setores privados, o que concorda com outro estudo no estado de Minas Gerais(2121 Teixeira LC, Rodrigues ALV, Santos JN, Cardoso AFR, Gama ACC, Resende LM. Professional trajectory of graduates in Speech Language and hearing sciences. Rev CEFAC. 2013;15(6):1591-600. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462013005000048.
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), que apontou que a maioria dos fonoaudiólogos egressos da graduação atua no setor secundário, ou seja, atua em clínicas e ambulatórios. O aumento do número de postos de trabalho para fonoaudiólogos(2222 CREFONO 2: Conselho Regional de Fonoaudiologia de São Paulo. Série #quemsomos: a Fonoaudiologia no mercado de trabalho [Internet]. São Paulo: CREFONO 2; 2019 [citado em 2 Jul 2019]. Disponível em: https://www.fonosp.org.br/noticias/1491-serie-quemsomos-a-fonoaudiologia-no-mercado-de-trabalho
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), o melhor conhecimento sobre as abrangências de atuações da profissão, o envelhecimento da população e o fortalecimento das políticas públicas, provavelmente proporcionaram aumento nas demandas e ofertas de trabalho para os fonoaudiólogos, tanto em clínicas, como em serviços de home care.

Atualmente, a maioria dos participantes do presente estudo trabalha em serviço público, como identificado em outro estudo(1313 Carvalho DJM, Silva RMO, Fernandes JD, Cordeiro ALAO, Santos OMB, Silva LS, et al. Nursing residence graduates and the job market. Rev Enferm. 2019;13:e238381.) realizado com egressos do programa de residência multiprofissional e da área de enfermagem do estado da Bahia. Alguns autores acreditam que os egressos têm preferência por atuar na saúde pública, em razão da experiência adquirida nesse cenário durante a residência(88 Brasil CC, Oliveira PRS, Vasconcelos APSM. Perfil e trajetória dos egressos de residência multiprofissional: trabalho e formação em saúde. SANARE. 2017;16(1):60-6.,1313 Carvalho DJM, Silva RMO, Fernandes JD, Cordeiro ALAO, Santos OMB, Silva LS, et al. Nursing residence graduates and the job market. Rev Enferm. 2019;13:e238381.). Vale destacar que um dos objetivos da residência é a inserção de jovens profissionais em áreas mais necessitadas à realidade social e ao contexto do SUS(11 Kveller DB, Castoldi L, Kijner LC. A trajetória profissional dos egressos de uma residência multiprofissional. Diaphora. 2017;6(1):14-9.). Assim, parece ser evidente a busca do ingresso de residentes prioritariamente nesse setor e em seus diversos níveis de atenção à saúde. Ressalta-se que, neste estudo, os participantes egressos fonoaudiólogos passaram por todos os níveis de atenção à saúde durante a residência multiprofissional, tornando-se preparados para atuar em quaisquer deles.

Por fim, observou-se que a maioria dos egressos recebia de dois a três salários mínimos logo após a conclusão da residência, sendo possível constatar melhora da remuneração, atualmente, para aqueles que participaram de formações continuadas pós-residência. Não foram encontrados estudos sobre a remuneração de fonoaudiólogos egressos da residência. Entretanto, tal resultado vai de encontro à literatura, apontando que fonoaudiólogos egressos da graduação recebem de três a quatro salários mínimos(2121 Teixeira LC, Rodrigues ALV, Santos JN, Cardoso AFR, Gama ACC, Resende LM. Professional trajectory of graduates in Speech Language and hearing sciences. Rev CEFAC. 2013;15(6):1591-600. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462013005000048.
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). Quanto mais formações acadêmicas e maior o aprimoramento técnico-científico, melhor a qualificação profissional e melhor o atendimento clínico desse profissional(2121 Teixeira LC, Rodrigues ALV, Santos JN, Cardoso AFR, Gama ACC, Resende LM. Professional trajectory of graduates in Speech Language and hearing sciences. Rev CEFAC. 2013;15(6):1591-600. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462013005000048.
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). De forma simples, pode-se compreender que, quanto maior o grau de instrução, envolvendo cursos, aprimoramentos e especializações, mais bem remunerado o profissional. A formação continuada deve ser entendida como uma forma de possibilitar que o profissional se atualize, agregue na atuação profissional e possibilite melhor remuneração.

Após a análise dos dados mencionados, notou-se que o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da UFMG trouxe muitos ganhos para a carreira profissional dos egressos, por possibilitar aquisição de experiência prática e formação profissional, por ser uma forma de educação continuada que prepara os profissionais para o mercado de trabalho e por estar em consonância com os pressupostos da residência. Vale reforçar que, até o momento, não há na literatura estudos sobre a trajetória profissional do egresso residente de Fonoaudiologia. Portanto, o presente estudo agrega conhecimento para essa área, , visto que estudos que analisam a trajetória profissional de egressos nessa modalidade de educação continuada são importantes para a reflexão sobre a relevância da formação para o mercado de trabalho.

Como limitação do estudo, destaca-se a pequena amostra de egressos, o que se tornou um impeditivo para a realização de análise estatística inferencial. Todavia, o estudo cumpriu com seu principal objetivo que era de analisar o perfil e a trajetória profissional dos fonoaudiólogos egressos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da UFMG. O perfil encontrado neste estudo vai ao encontro do que vem sendo exigido no mercado de trabalho, ou seja, profissionais com experiência e qualificação profissional, visando melhor qualidade na assistência prestada aos que necessitam.

Sugere-se a realização de futuros estudos que levantem o perfil e a trajetória profissional de egressos fonoaudiólogos de outras residências no Brasil e das demais profissões inseridas no programa de residência, visando evidenciar a importância e a influência dessa especialização na vida dos profissionais egressos e no SUS.

CONCLUSÃO

Os fonoaudiólogos egressos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da UFMG são, em sua maioria, mulheres entre 24 e 25 anos, solteiras, sem filhos, oriundas da Região Sudeste do Brasil, recém-formadas na graduação em instituições de ensino superior públicas, e com apenas uma formação de nível superior.

A grande maioria dos egressos considerou que a residência foi relevante para a inserção no mercado de trabalho e, atualmente, os egressos trabalham no setor público e com idosos, evidenciando que a residência vem cumprindo os objetivos propostos.

Apêndice 1 Questionário investigativo: perfil e trajetória dos fonoaudiólogos egressos (adaptado de Oliveira, 2017)

PERFIL DO EGRESSO

1 – Nome completo:

2 – Data de nascimento:

3 - Gênero: ⃝ Feminino ⃝ Masculino

4 – Região de origem:

⃝ Norte: AC, AM, RO, RR, PA, AP, TO

⃝ Nordeste: AL, BA, CE, MA, PB, PI, PE, RN, SE

⃝ Centro-Oeste: DF, GO, MT, MS

⃝ Sudeste: ES, MG, SP, RJ

⃝ Sul: PR, SC, RS

5- Tipo de escola que cursou o ensino médio:

⃝ 100% Pública

⃝ 100% Particular

⃝ Particular com bolsa

⃝ Predominantemente Pública

⃝ Predominantemente particular

6- Você tem alguma outra formação profissional além da Fonoaudiologia?

Sim ⃝ Não

7- Se “SIM” para a pergunta anterior, qual a outra formação?

8- Modalidades de custeio da graduação:

⃝ 100% Pública

⃝ 100% Particular sem bolsa

⃝ Particular com bolsa parcial Prouni

⃝ Particular com bolsa integral Prouni

12- Semestre e ano de finalização da graduação:

13- Ano de inicio da residência multiprofissional:

14- Ano em que finalizou a residência:

15- Idade com a qual iniciou a residência:

16 – Quando iniciou a residência qual era seu estado civil:

⃝ Solteiro

⃝ Casado

⃝ Divorciado

17- Quando iniciou a residência tinha filhos?

Sim ⃝ Não

Se sim, quantos?

18 - Trabalhava antes da RM ?

Sim ⃝ Não

19- Se “SIM” para a pergunta anterior, em que tipo de serviço trabalhou

⃝ Serviço particular

SUS

⃝ Outros

⃝ Não se aplica

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL APÓS A RM

20- Qual foi a relevância da RM para sua inserção no mercado de trabalho?

a. ⃝ Ruim

b. ⃝ Regular

c. ⃝ Bom

d. ⃝ Muito bom

e. ⃝ Ótimo

21- Após a RM, quanto tempo levou para iniciar seu primeiro emprego?

a. ⃝ 0-3 m

b. ⃝ 4-6 m

c. ⃝ 7-9 m

d. ⃝ 10-12 m

e. ⃝ Mais que 12 m

22- Maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho após a RM

a. ⃝ Inexperiência

b. ⃝Localização das vagas de emprego

c. ⃝ Muitos concorrentes

d. ⃝ Os empregos não estavam conscientes das competências da sua especialidade

e. ⃝ Outros

f. ⃝ Não encontrei dificuldades

23- Como conseguiu o primeiro emprego?

a. ⃝ Concurso público

b. ⃝ Processo seletivo

c. ⃝ Por indicação

d. ⃝ Análise curricular e entrevista

24- Seu primeiro emprego após a RM foi na mesma área de sua especialização?

a. ⃝ Sim

b. ⃝ Não

25- Seu primeiro emprego após a RM foi em qual setor?

a. ⃝ Público

b. ⃝ Privado

26- Seu primeiro emprego após a RM foi em qual nível da atenção?

a. ⃝ primário

b. ⃝ secundário

c. ⃝ terciário

27- Situação formal de trabalho atualmente

a. ⃝ Ativo (na área de formação)

b. ⃝ Ativo (em outra área)

c. ⃝ Desempregado

d. ⃝ Não estou trabalhando por opção.

28- Carga horária na saúde pública

a. ⃝ 20 h

b. ⃝ 30 h

c. ⃝ 40 h

d. ⃝ Não trabalho na saúde pública

29- Quando iniciou o primeiro emprego após a residência, qual era a remuneração:

a. ⃝ 1 salário mínimo

b. ⃝ 2-3 salários mínimos

c. ⃝ 4-5 salários mínimos

d. ⃝ Mais de 6 salários mínimos

30- Remuneração atualmente:

a. ⃝ 1 salário mínimo

b. ⃝ 2-3 salários mínimos

c. ⃝ 4-5 salários mínimos

d. ⃝ Mais de 6 salários mínimos

31- Após a conclusão da residência participou de outra pós-graduação?

a. ⃝ Sim

b. ⃝ Não

Se sim, qual tipo e em qual área?

32- Após a conclusão da residência participou de algum aprimoramento?

a. ⃝ Sim

b. ⃝ Não

Se sim, qual tipo e em qual área?

Legenda: RM = residência multiprofissional; Prouni = Programa Universidade para Todos; m = meses; h = horas

  • Trabalho realizado no Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte (MG), Brasil.
  • Financiamento: Nada a declarar.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jan 2022
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    24 Jun 2021
  • Aceito
    04 Nov 2021
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