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Perfil de linguagem de pré-escolares de uma comunidade quilombola

RESUMO

Objetivo

identificar o desempenho linguístico (vocabulário expressivo, fonologia e discurso) e cognitivo (memória de curto prazo verbal) de pré-escolares residentes de uma comunidade quilombola.

Método

Vinte e quatro pré-escolares quilombolas de 4 e 5 anos sem queixas no desenvolvimento da linguagem participaram do estudo. A maioria das famílias era da classe D-E e a escolaridade materna e paterna era inferior ao Ensino Médio. Seus responsáveis responderam a um questionário sobre seu desenvolvimento prévio, práticas familiares e aspectos socioeconômicos, enquanto a avaliação incluiu testes de vocabulário expressivo, fonologia, discurso e memória de curto prazo verbal. Os dados coletados foram submetidos à análise estatística descritiva para caracterizar as práticas familiares, os aspectos socioeconômicos e o desempenho linguístico e cognitivo. A análise inferencial utilizou o teste exato de Fisher para comparar o desempenho entre os sujeitos de 4 e 5 anos, além de comparar o desempenho de acordo com as práticas familiares.

Resultados

Maior parte dos pré-escolares apresentou desempenho adequado no vocabulário (78,3%) e na fonologia (79,2%); e 63,6% tiveram o discurso classificado como descritivo. 82,6% apresentaram desempenho em tarefa de memória de curto prazo verbal abaixo do esperado para idade.

Conclusão

Ainda que os pré-escolares deste estudo apresentem comunicação funcional, seu perfil de desenvolvimento da linguagem e de habilidades cognitivas demonstrou ser mais vulnerável, o que poderá repercutir em sua trajetória escolar.

Descritores
Desenvolvimento da Linguagem; Linguagem; Desenvolvimento Infantil; Testes de Linguagem; Fatores Socioeconômicos

ABSTRACT

Purpose

to identify linguistic performance (expressive vocabulary, phonology and narrative) and cognitive performance (Verbal Short-Term Memory (VSTM)) of preschoolers living in a quilombola community.

Methods

Twenty-four quilombola preschoolers aged four (4) and five (5) years with no complaints in language development participated in the study. Most families were in the D-E class and maternal and paternal education was lower than high school. Their guardians answered a questionnaire about their previous development, family practices and socioeconomic aspects, while the assessment included tests of expressive vocabulary, phonology, narrative and verbal short-term memory. The data collected were subjected to descriptive statistical analysis to characterize family practices, socioeconomic aspects and linguistic and cognitive performance, inferential analysis used Fisher's exact test to compare performance between subjects aged 4 and 5 years and also to compare performance according to family practices.

Results

78.3% of preschoolers performed adequately in vocabulary and 79.2% in phonology; and 63.6% had the narrative classified as descriptive. 82.6% had a VSTM task performance below the expected for age.

Conclusion

Although the preschoolers in this study had functional communication, their profile of language development and cognitive skills was more vulnerable and may have an impact on their school trajectory.

Keywords
Language Development; Language; Child Development; Language Tests; Socioeconomic Factors

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da linguagem é apontado como um indicador de bem estar infantil, pois contribui para a capacidade de gerenciar emoções, comunicar sentimentos, estabelecer e manter relacionamentos, pensar simbolicamente e aprender a ler e a escrever(11 Law J, Charlton J, Asmussen K. Language as a child wellbeing [Internet]. London: Newcastle University; 2017 [citado em 2018 Mar 11]. Available from: http://www.eif.org.uk/publication/language-as-a-child-wellbeing-indicator/.
http://www.eif.org.uk/publication/langua...
).

Aspectos socioeconômicos e diversidade cultural familiar influenciam no desenvolvimento da criança(22 Piccolo LR, Arteche AX, Fonseca RP, Grassi-Oliveira R, Salles JF. Influence of family socioeconomic status on IQ, language, memory and executive functions of Brazilian children. Psicol Reflex Crit. 2016;29(0):23.,33 Southwood F. Towards a dialect-neutral assessment instrument for the language skills of Afrikaans-speaking children: the role of socioeconomic status. J Child Lang. 2013;40(2):415-37. http://dx.doi.org/10.1017/S0305000912000037. PMid:22357408.
http://dx.doi.org/10.1017/S0305000912000...
). Um estudo sobre o desenvolvimento infantil e seus determinantes mostrou desempenho cognitivo e linguístico abaixo da média entre crianças cujas famílias eram de áreas socioeconomicamente vulneráveis(44 Neves KR, Morais RLS, Teixeira RA, Pinto PAF. Growth and development and their environmental and biological determinants. J Pediatr (Rio J). 2016;92(3):241-50. http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2015.08.007. PMid:26772895.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2015.08...
).

O nível econômico e a estrutura familiar, os níveis educacionais dos pais e o grupo étnico estão inter-relacionados causalmente no sentido de que afetam um ao outro, influenciando o pleno desenvolvimento criança(55 Huston AC, Bentley AC. Human development in societal context. Annu Rev Psychol. 2010;61(1):411-37. http://dx.doi.org/10.1146/annurev.psych.093008.100442. PMid:19572786.
http://dx.doi.org/10.1146/annurev.psych....
). Um ambiente familiar estimulador está associado a um maior vocabulário expressivo na infância(66 Moretti TCF, Kuroishi RCS, Mandrá PP. Vocabulary of preschool children with typical language development and socioeducational variables. CoDAS. 2017;29(1):e20160098. PMid:28300961.,77 Hart BB, Risley TR. The early catastrophe. Am Educ. 2003;17(1):1-6.), e o aumento do grau de escolaridade dos pais reduz a chance dos filhos apresentarem alterações no desenvolvimento da linguagem(88 Athayde ML, Mota HB, Mezzomo CL. Vocabulário expressivo de crianças com desenvolvimento fonológico normal e desviante. Pro Fono. 2010;22(2):145-50. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000200013. PMid:20640379.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010...
). O ambiente escolar também indica que o desempenho de crianças em tarefas de vocabulário, memória de curto prazo e habilidades narrativas sofre influências do nível socioeconômico, com benefícios para aquelas que frequentam instituições particulares(99 Sá CBA, Maioli MCBP, Ramos TS, Melo DFP, Macedo EC, Mecca TP. Avaliação de memória de curto prazo em crianças no início do ensino fundamental. Cad Pós-Grad Distúrb Desenvolv. 2018;18(1):47-65.

10 Brancalioni AR, Zauza A, Karlinski CD, Quitaiski LF, Thomaz MFO. Desempenho do vocabulário expressivo de pré-escolares de 4 a 5 anos da rede pública e particular de ensino. Audiol Commun Res. 2018;23(0):1-9. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2016-1836.
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2016...
-1111 Gardner-Neblett N, Iruka IU. Oral narrative skills: explaining the language-emergent literacy link by race/ethnicity and SES. Dev Psychol. 2015;51(7):889-904. http://dx.doi.org/10.1037/a0039274. PMid:25938554.
http://dx.doi.org/10.1037/a0039274...
).

Para além da questão socioeconômica, outra questão importante de compreender é como se comporta o desenvolvimento da linguagem em indivíduos inseridos em diferentes culturas, visto que a diversidade linguística pode acompanhar a diversidade cultural(1212 ASHA: American Speech and Hearing Association. A Cultural competence. Rockville: ASHA; 2014.). Entretanto, estudos que busquem investigar essa relação são escassos, o que pode resultar em dificuldades no processo de avaliação linguística da criança(1313 McNeilly LG. Strategies utilized by speech-language pathologists to effectively address the communication needs of migrant school-age children. Folia Phoniatr Logop. 2019;71(2-3):127-34.http://dx.doi.org/10.1159/000496969.
http://dx.doi.org/10.1159/000496969...
).

Os quilombolas são uma dentre as populações tradicionais do Brasil e consistem em um grupo étnico e minoritário dentro da população negra brasileira, frequentemente residindo em áreas rurais e distantes dos grandes centros urbanos. Em função das intensas desigualdades sociais a que está exposta e da localização geográfica das comunidades, essa população ainda sofre com a dificuldade de acesso a serviços de saúde e educação de qualidade(1414 Freitas DA, Caballero AD, Marques AS, Hernández CIV, Antunes SLNO. Saúde e comunidades quilombolas: uma revisão da literatura. Rev CEFAC. 2011;13(5):937-43. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462011005000033.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462011...
), o que pode interferir negativamente no desenvolvimento da linguagem e aumentar a vulnerabilidade social.

Buscar distinguir variações linguísticas culturais das alterações de linguagem que afetam diretamente o desenvolvimento da criança possibilita tanto a detecção de possíveis quadros de transtornos de linguagem, quanto ações e programas de intervenção na infância(1515 Scopel RR, Souza VC, Lemos SMA. A influência do ambiente familiar e escolar na aquisição e no desenvolvimento da linguagem: revisão de literatura. Rev CEFAC. 2011;14(4):732-41. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462011005000139.
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-18462011...
).

Assim, considerando a ausência de estudos que enfoquem no desenvolvimento linguístico no contexto de comunidades quilombolas, este estudo tem por objetivo identificar o desempenho linguístico (vocabulário expressivo, fonologia e discurso) e cognitivo (memória de curto prazo verbal) de pré-escolares residentes de uma comunidade quilombola, levando em consideração sua idade e práticas familiares.

MÉTODO

O estudo foi desenvolvido na comunidade quilombola de Capoeiras situada em Macaíba - RN, onde nos dias atuais residem cerca de 326 famílias, totalizando aproximadamente 1500 pessoas. A comunidade possui associação, cooperativa, igrejas católica e evangélica, duas casas de farinha, uma escola que atende o ensino infantil e fundamental I, posto de saúde e um ponto de cultura, que é um espaço onde as pessoas prestigiam as contribuições da cultura afro e rituais religiosos.

Os aspectos éticos do estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (CEP HUOL), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), número CAAE 07867019.2.0000.5292. A participação das crianças foi autorizada pelos pais e/ou responsáveis mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.

Participantes

A coleta de dados aconteceu entre maio e dezembro de 2019 e participaram desta pesquisa 24 pré-escolares com idade entre 4 anos (45,8%) e 5 anos (54,2%), cuja média foi de 58,6 (±6,4) meses. No grupo de 4 anos, 58% eram do gênero feminino, enquanto no grupo de 5 anos, 25%. Todos frequentavam a mesma instituição de ensino pública da comunidade e não havia queixa familiar com relação ao desenvolvimento de linguagem.

Com relação aos dados socioeconômicos, as famílias variaram entre as classes C2 e D-E, sendo majoritariamente D-E (86,4%). A escolaridade materna variou entre ensino fundamental I incompleto e ensino superior, com predomínio em fundamental I incompleto e fundamental II completo (30,4% cada); ao passo que a escolaridade paterna variou entre não alfabetizado e ensino médio completo, com predomínio do fundamental I completo (47,1%). Em todas as famílias a profissão mais frequente de mães e pais foi relacionada à agricultura (37,5%).

Materiais e procedimentos

Inicialmente foi obtida autorização da prefeitura e dos líderes da comunidade quilombola. A seguir, as agentes comunitários de saúde convocaram as famílias para que reuniões fossem realizadas com os pais dos pré-escolares selecionados com o objetivo de esclarecer sobre os procedimentos do estudo e também assegurá-los sobre o anonimato e confidencialidade das informações obtidas.

Após obtido consentimento, os pais responderam a um curto questionário a respeito do desenvolvimento da criança e práticas no ambiente familiar, além de questões relacionadas ao poder de compra, acesso a bens e serviços e escolaridade, que permitem definir a classificação socioeconômica de acordo com Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa(1616 ABEP: Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério Brasil 2015 e atualização da distribuição de classes para 2016. São Paulo: ABEP; 2016. p. 1-6.).

Para poder traçar o perfil de linguagem das crianças foi realizada uma bateria de avaliação que incluía a gravação em vídeo de tarefas de vocabulário expressivo, fonologia, narrativa e memória de curto prazo verbal. A coleta de dados ocorreu de forma individualizada e foi realizada na própria comunidade com duração média de 40 minutos, seguindo sempre a mesma ordem de aplicação.

Para avaliação do vocabulário foi utilizada a prova de Vocabulário Expressivo do ABFW(1717 Andrade CRF, Befi-Lopes DM, Wertzner HF, Fernandes FDM. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. 2. São Paulo: Pro Fono; 2004.) e para responder aos objetivos deste estudo foram consideradas apenas as respostas classificadas como designação verbal usual (DVU), tanto em cada um dos campos semânticos, quanto no total na prova.

Para avaliação do sistema fonológico foi utilizada a prova de nomeação do teste de fonologia do ABFW(1717 Andrade CRF, Befi-Lopes DM, Wertzner HF, Fernandes FDM. ABFW: teste de linguagem infantil nas áreas de fonologia, vocabulário, fluência e pragmática. 2. São Paulo: Pro Fono; 2004.). Para caracterizar tal desempenho optamos por focar em processos fonológicos produtivos, assim foi considerado adequado quando não havia manutenção de nenhum processo fonológico produtivo além da idade de superação prevista, nem ocorrência daqueles considerados não esperados no desenvolvimento. Por oposição, o desempenho foi considerado alterado quando havia manutenção de algum processo fonológico produtivo além da idade de superação prevista e/ou ocorrência de processos considerados não esperados no desenvolvimento.

Para avaliação da memória de curto prazo verbal foi utilizado o teste de repetição de não palavras composto por 40 palavras inventadas divididas igualmente em mono, di, tri e polissilábicas(1818 Rodrigues A, Befi-Lopes DM. Short-term phonological memory in preschool children. CoDAS. 2013;25(5):422-8. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-17822013000500005. PMid:24408545.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-17822013...
). Conforme proposto pelas autoras, para cada repetição correspondente à palavra-alvo ou que diferisse apenas por trocas fonológicas produtivas (previamente analisadas de acordo com a avaliação fonológica) foi atribuído 1 ponto. A seguir foram somados os acertos em cada parte do teste (monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos) e no total do teste (máximo 40). As porcentagens de acertos tanto parciais e a total foram calculadas e desempenho foi classificado como adequado ou abaixo do esperado de acordo com os valores propostos pelo teste.

Para eliciar o discurso foi utilizado o livro “Frog, where are you?”(1919 Mayer M. Frog, where are you?. New York: Dial Books; 1996.), que é composto por 25 cenas em preto e branco, sem escrita e dispostas em sequência lógica. Foi solicitado que a criança explorasse as páginas e depois narrasse uma história com base no livro em mãos. As amostras de fala foram classificadas de acordo com o tipo de narrativa, a saber: descritivo, causal ou intencional(2020 Bento ACP, Befi-Lopes DM. Organização e narração de histórias por escolares em desenvolvimento típico de linguagem. Pro Fono. 2010;22(4):503-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000400024. PMid:21271107.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010...
).

Para todos os testes foi realizada a transcrição do desempenho separadamente por dois pesquisadores distintos e quando encontrada divergência entre as análises, um terceiro pesquisador realizou conferência, garantindo assim precisão dos dados obtidos.

Análise dos dados

Os dados obtidos foram tabulados e analisados no software estatístico SPSS versão 21. As variáveis categóricas (nível socioeconômico, escolaridade, práticas no ambiente familiar, desempenho em cada avaliação, tipo de discurso) foram descritas por meio da frequência de ocorrência e sua porcentagem. As variáveis numéricas (vocabulário, fonologia, memória de curto prazo verbal) foram submetidas à verificação da normalidade dos dados e, por não respeitarem a distribuição normal, foram descritas por meio da mediana e do intervalo interquartil.

Os dados do desempenho dos pré-escolares, faixas etárias e práticas familiares foram comparados por meio do teste exato de Fisher com correção de Bonferroni para as comparações múltiplas. Para estas análises foi necessário reclassificar os dados de discurso e práticas familiares, garantindo que teríamos apenas duas categorias a comparar. No caso do discurso foram agrupadas as classificações causal e intencional; e no caso das práticas familiares foram agrupadas as respostas “Às vezes e nunca” e “Frequentemente e sempre”. O nível de significância adotado foi de 5%.

RESULTADOS

Análise descritiva

Na Tabela 1 são apresentados os dados relacionados às práticas familiares, merecendo destaque para o fato que 52,6% dos responsáveis afirma ler às vezes para a criança e 70,0% afirma que a criança nunca lê livros sozinha. Na Tabela 2 são apresentados os dados relacionados aos itens que a criança possui e é possível verificar que nenhuma tem acesso ao computador em casa (Tabela 2).

Tabela 1
Distribuição de frequência da ocorrência das práticas familiares
Tabela 2
Distribuição de frequência dos itens que o pré-escolar tem acesso

Com relação ao desempenho geral nas diferentes áreas de linguagem, a maioria apresentou desempenho adequado no vocabulário (78,3%), na fonologia (79,2%), e discurso classificado como descritivo (63,6%), seguido pelo causal (31,8%). Com relação à memória de curto prazo verbal, a maioria apresentou desempenho abaixo do esperado para idade (82,6%).

Comparação entre as idades e práticas familiares

Ao comparar a classificação do desempenho em cada área entre as faixas etárias apenas a fonologia e memória de curto prazo verbal diferiram, com o grupo de 5 anos tendo maior prejuízo (Tabela 3).

Tabela 3
Comparação da classificação do desempenho do pré-escolar em cada avaliação da linguagem

Para comparar a classificação do desempenho em cada área entre as práticas familiares relacionadas ao dever escolar e à leitura utilizamos o teste exato de Fisher com uma correção de Bonferroni para dez efeitos planejados, resultando em um nível de significância de 0,005. Nenhuma destas comparações apresentou diferença estatística (Tabelas 4 e 5).

Tabela 4
Comparação da classificação do desempenho do pré-escolar em cada avaliação da linguagem de acordo com a classificação de práticas familiares relacionadas ao dever escolar.
Tabela 5
Comparação da classificação do desempenho do pré-escolar em cada avaliação da linguagem de acordo com a classificação de práticas familiares relacionadas à leitura.

DISCUSSÃO

Este estudo buscou traçar o perfil de desempenho linguístico de pré-escolares quilombolas em provas de vocabulário expressivo, fonologia, discurso e memória de curto prazo verbal.

Inicialmente é importante ressaltar que estamos lidando com uma população considerada de baixa renda, majoritariamente da classe D-E, e com baixa escolaridade familiar, minoria de mães e pais que concluíram o ensino médio. Essa informação sozinha já nos alerta para possíveis consequências no desenvolvimento da linguagem, pois variáveis como vocabulário são apontadas como sensíveis ao ambiente(66 Moretti TCF, Kuroishi RCS, Mandrá PP. Vocabulary of preschool children with typical language development and socioeducational variables. CoDAS. 2017;29(1):e20160098. PMid:28300961.).

Ao considerarmos o desempenho na avaliação da linguagem, a maioria dos pré-escolares apresentou desempenho adequado para a faixa etária na prova de vocabulário expressivo, de acordo com os parâmetros de referência. Este resultado parece contrariar a literatura, entretanto ainda não há evidências de que o teste utilizado seja sensível e adequado à realidade local, o que poderia mascarar prejuízos mais leves. Vale ressaltar ainda que cerca de 20% dos pré-escolares apresentou desempenho abaixo do esperado e a comparação entre as idades, ainda que não tenha diferido, indicou menor porcentagem adequada no grupo de 4 anos. Embora a qualidade do ambiente escolar não tenha sido considerada, é possível que a inserção na escola tenha influenciado na ampliação de seu vocabulário(66 Moretti TCF, Kuroishi RCS, Mandrá PP. Vocabulary of preschool children with typical language development and socioeducational variables. CoDAS. 2017;29(1):e20160098. PMid:28300961.,2121 Gilkerson J, Richards JA, Warren SF, Montgomery JK, Greenwood CR, Oller DK, et al. Mapping the early language environment using all-day recordings and automated analysis. Am J Speech Lang Pathol. 2017;26(2):248-65. http://dx.doi.org/10.1044/2016_AJSLP-15-0169. PMid:28418456.
http://dx.doi.org/10.1044/2016_AJSLP-15-...
).

Na fonologia, mais de 75% pré-escolares apresentaram manutenção de processos fonológicos produtivos além da idade prevista para superação e foram considerados como tendo desempenho alterado. Ao comparar as idades houve diferença estatística, indicando que aos 5 anos todos apresentam desempenho alterado, ou seja, mantinham processos que já deveriam ter sido superados. Esses dados indicam que a maior parte das crianças desta amostra possui desempenho característico de um transtorno fonológico, ainda que não tenham sido observados processos fonológicos relacionados ao traço de sonoridade.

Mesmo não sendo uma medida puramente linguística, um dos objetivos do estudo foi investigar a memória de curto prazo verbal, pois ela mantém relação direta com a aquisição e a compreensão da linguagem e aprendizagem(2222 Abreu PMJE, Abreu N, Nikaedo CC, Puglisi ML, Tourinho CJ, Miranda MC, et al. Executive functioning and reading achievement in school: a study of Brazilian children assessed by their teachers as “poor readers”. Front Psychol. 2014;5:550. http://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2014.00550. PMid:24959155.
http://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2014.005...
,2323 Baddeley AD, Hitch G. Working memory. Psychol Learn Motiv. 1974;8:47-89. http://dx.doi.org/10.1016/S0079-7421(08)60452-1. PMid:9635207.
http://dx.doi.org/10.1016/S0079-7421(08)...
). A maioria dos pré-escolares apresentou desempenho abaixo do esperado na tarefa de repetição de não palavras, sendo que nenhum sujeito com 5 anos foi classificado como adequado. Aqui é importante ressaltar que a tarefa utilizada propõe desconsiderar os processos fonológicos produtivos como erros(1818 Rodrigues A, Befi-Lopes DM. Short-term phonological memory in preschool children. CoDAS. 2013;25(5):422-8. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-17822013000500005. PMid:24408545.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-17822013...
), o que implica que esse prejuízo não pode ser explicado pela fonologia, mas está relacionado ao armazenamento e recuperação da informação fonológica.

Esse achado precisa ser interpretado com cautela, pois se por um lado a avaliação se baseou apenas em um tarefa, por outro há vasta gama de literatura internacional apontando que prejuízos dessa natureza podem trazer impactos no percurso do desenvolvimento da linguagem e na vida escolar(2424 Alloway TP, Gathercole SE, Kirkwood H, Elliott J. The cognitive and behavioral characteristics of children with low working memory. Child Dev. 2009;80(2):606-21. http://dx.doi.org/10.1111/j.1467-8624.2009.01282.x. PMid:19467014.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1467-8624.20...
) e são considerados inclusive como marca clínica do transtorno do desenvolvimento da linguagem(2525 Newbury DF, Bishop DVM, Monaco AP. Genetic influences on language impairment and phonological short-term memory. Trends Cogn Sci. 2005;9(11):528-34. http://dx.doi.org/10.1016/j.tics.2005.09.002. PMid:16188486.
http://dx.doi.org/10.1016/j.tics.2005.09...
). Independente da natureza deste prejuízo e associado ao desempenho fonológico, este grupo demonstra risco para enfrentar dificuldades no processo de alfabetização e escolarização, pois habilidades de processamento fonológico têm um papel crucial para aprendizagem no início da educação formal(2626 Alloway TP, Alloway RG, Wootan S. Home sweet home: does where you live matter to working memory and other cognitive skills? J Exp Child Psychol. 2014;124(1):124-31. http://dx.doi.org/10.1016/j.jecp.2013.11.012. PMid:24508377.
http://dx.doi.org/10.1016/j.jecp.2013.11...
).

Com relação ao discurso a maioria dos pré-escolares produziu um discurso descritivo, padrão que se manteve ao considerar as faixas etárias. Apesar de não dispormos de dados de referência brasileiros, o discurso descritivo é simples e não demonstra refinamento das habilidades narrativas(2020 Bento ACP, Befi-Lopes DM. Organização e narração de histórias por escolares em desenvolvimento típico de linguagem. Pro Fono. 2010;22(4):503-8. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010000400024. PMid:21271107.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-56872010...
), que já poderiam estar presentes na faixa etária estudada.

Aqui é interessante pontuar um aspecto qualitativo, pois para eliciar o discurso foi utilizado um livro com figuras e nos chamou atenção a falta de familiaridade dos participantes com o manuseio de um livro. Quando entrevistadas sobre práticas familiares, 52,2% das mães afirmou que “às vezes” lê para a criança e 46,7% afirmou que a criança tem livros, ao passo que 70,0% afirma que a criança nunca lê livros sozinha. É importante ressaltar que não se espera uma leitura efetiva nessas idades, mas que a criança conseguisse manipular o livro adequadamente. Ainda que seja uma informação baseada em relato, a falta de familiaridade com livros nos parece estar associada à baixa escolaridade dos pais e, por consequência, ao valor que é atribuído a tais práticas nesta comunidade.

A ausência de diferenças estatísticas entre a frequência de práticas familiares positivas e o desempenho linguístico nesta amostra nos parece estar relacionada tanto ao número restrito de sujeitos e à necessidade de reagrupar os dados, quanto ao fato das famílias apresentarem certa homogeneidade no que refere às variáveis socioeconômicas. A quantidade e a qualidade dos estímulos que a criança recebe dependem, porém, de suas condições de vida e das características da comunidade em que vive(2727 Puglisi ML, Hulme C, Hamilton LG, Snowling MJ. The home literacy environment is a correlate, but perhaps not a cause, of variations in children’s language and literacy development. Sci Stud Read. 2017;21(6):498-514. http://dx.doi.org/10.1080/10888438.2017.1346660. PMid:29930486.
http://dx.doi.org/10.1080/10888438.2017....
). Considerando que é possível observar diferenças no processo de aprendizagem em crianças que crescem em famílias que incentivam o contato com a linguagem escrita(2828 Leite KKA, Bittencourt ZZLC, Silva IR. Fatores socioculturais envolvidos no processo de aquisição da linguagem escrita. Rev CEFAC. 2015;17(2):492-501. http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620153414.
http://dx.doi.org/10.1590/1982-021620153...
), este é outro achado que reforça a vulnerabilidade relacionada ao desenvolvimento de habilidades comunicativas dos pré-escolares desta comunidade.

De forma geral, estes achados apontam para a importância de investimentos tanto no monitoramento do desenvolvimento comunicativo na primeira infância, quanto na implementação de programas de intervenção na idade ideal que possam minimizar o impacto que um ambiente menos favorável no desenvolvimento das crianças nesta comunidade. Programas baseados em resposta à intervenção em parceria com a educação, por exemplo, parecem uma alternativa de baixo custo que poderia trazer benefícios à comunidade(2929 Miranda MC, Piza CT, Assenço AMC, Villachan-Lyra P, Pires IAH, Silva ECC, et al. Adaptação do Modelo Pre-K RTI ao contexto brasileiro da educação infantil: desafios e perspectivas. Neuropsicol Latinoam. 2019;11(3):30-42.).

Uma análise que não foi possível neste momento, mas nos parece promissora, é a comparação com o desempenho de um grupo residente na capital do estado onde o estudo foi realizado e que apresente maior variabilidade socioeconômica. Esta análise nos auxiliará a compreender se os instrumentos utilizados podem ter interferido demasiadamente nestes resultados, afinal é importante considerar a efetividade de testes de desempenho linguístico para minorias populacionais devido a grande variabilidade regional e cultural(3030 Medeiros VP, Valença RKL, Guimarães JATL, Costa RCC. Vocabulário expressivo e variáveis regionais em uma amostra de escolares de Maceió. Audiol. 2013;18(2):71-7. http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013000200004.
http://dx.doi.org/10.1590/S2317-64312013...
).

Por ser um estudo transversal realizado apenas com uma avaliação de cada criança, não foi possível aprofundar a investigação sobre a influência cultural e o desenvolvimento da linguagem. Entretanto, os resultados aqui apresentados possibilitam indicar que os pré-escolares que vivem nesta comunidade quilombola apresentam desenvolvimento linguístico que os permite ter uma comunicação funcional, apesar de haver indicativos de risco para dificuldades no processo de inserção escolar. Assim, considerando que se trata de um contexto socioeconômico vulnerável, sinalizamos a importância do investimento em programas de acompanhamento e estimulação, assim como contar com o apoio da escola.

Por fim, esse estudo traz contribuição potencial para a prática clínica em regiões com menor investimento governamental e ressalta a importância de pensarmos políticas públicas para a primeira infância que visem o desenvolvimento do pleno potencial de crianças inseridas em populações com risco para alterações cognitivas e de transtornos de linguagem.

CONCLUSÃO

Os pré-escolares deste estudo apresentaram desempenho compatível com os valores de referência no vocabulário, porém seu sistema fonológico demonstra alteração devido à manutenção de processos fonológicos produtivos. Suas habilidades discursivas são descritivas e seu desempenho na memória de curto prazo fonológica está prejudicado. Ainda que estas crianças apresentem uma comunicação funcional, elas apresentam um perfil de desenvolvimento da linguagem e de habilidades cognitivas mais vulnerável e que pode repercutir em sua trajetória escolar.

  • Trabalho realizado no Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi, Instituto Santos Dumont – ISD - Macaíba (RN), Brasil.
  • Fonte de financiamento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    23 Abr 2020
  • Aceito
    14 Mar 2021
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