Acessibilidade / Reportar erro

Feito Moby-Dick: Uma leitura organizacional da monomania privatista de Paulo Guedes como estratégia discursiva da liderança autoritária neoliberal no Brasil

Resumo

A liderança autoritária é um desafio à análise organizacional. A perplexidade sobre como aceitamos que ela tenha ocorrido diversas vezes na história perpassa o pensamento de intelectuais como Adorno, Habermas, Sloterdijk e Arendt. Uma maneira complementar de estudá-la é por meio da literatura. A literatura possui enorme potencial interpretativo do mundo que, dada a criatividade de suas autoras e autores, consegue trabalhar temas complexos, personagens, eventos, com uma liberdade que a ciência, pelo seu rigor metodológico, muitas vezes não se permite. Como organizações são também constituídas discursivamente, os elementos textuais da literatura nos permitem uma liberdade epistemológica, ensejando análises que consigam abordar temas organizacionais tradicionais, como a liderança, de outra maneira. A proposta deste ensaio teórico é valer-se de um clássico da literatura, o romance Moby-Dick , para a partir dele realizar uma análise crítica do discurso, baseada em Norman Fairclough, da liderança monomaníaca neoliberal-autoritária de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Jair Bolsonaro. O objetivo é demonstrar o potencial e a riqueza do uso da literatura combinada à análise do discurso para a compreensão de fenômenos organizacionais. A interpretação será guiada pelo estilo de liderança da personagem Acab, capitão do navio Pequod, que devido à sua obsessão por caçar a cachalote branca gigante, Moby Dick, conduz sua embarcação a um desfecho trágico, similar ao que vem ocorrendo ao Brasil devido ao ódio ao Estado presente nos discursos de Paulo Guedes.

autoritarismo; neoliberalismo; liderança; monomania; Moby-Dick

Abstract

Authoritarian leadership is a challenge for organizational analysis. The perplexity regarding how we have accepted its occurrence various times throughout history runs through the thinking of intellectuals such as Adorno, Habermas, Sloterdijk, and Arendt. A complementary way of studying it is through literature. Literature has enormous potential for interpreting the world and, given the creativity of its authors, it can deal with complex themes, characters, and events, with a freedom that, due to its methodological rigor, science often does not allow. As organizations are also constituted discursively, the textual elements of literature give us an epistemological freedom, enabling analyses that can address traditional organizational topics, such as leadership, in another way. This theoretical essay proposes to use a classic of literature, the novel Moby-Dick , to conduct a critical discourse analysis, based on Norman Fairclough, of the neoliberal-authoritarian monomaniac leadership of Paulo Guedes, the Minister for the Economy of Jair Bolsonaro’s government. The objective is to demonstrate the potential and richness of using literature combined with discourse analysis to understand organizational phenomena. The interpretation will be guided by the leadership style of the character Ahab, ship captain of the Pequod, who as a result of his obsession with hunting the giant white sperm whale, Moby Dick, leads his vessel to a tragic end, similar to what has occurred to Brazil due to the hatred toward the State present in Paulo Guedes’ discourses.

authoritarianism; neoliberalism; leadership; monomania; Moby-Dick

Introdução: a liderança autoritária como desafio à análise organizacional

A liderança é um tema recorrente em administração que, em seu mainstream acadêmico, se desenvolveu concentrando-se em identificar estilos ou modelos que orientariam as melhores práticas para gerenciar pessoas, especialmente em empresas privadas ( Pietraszewski, 2020Pietraszewski, D. (2020). The evolution of leadership: Leadership and followership as a solution to the problem of creating and executing successful coordination and cooperation enterprises. Leadership Quarterly, 31(2),1-14. 10.1016/j.leaqua.2019.05.006 ; Zhu, Song, Zhu, & Johnson, 2019). Nos artigos que revisam e categorizam as teorias mais influentes sobre o tema na área, percebe-se, portanto, uma ênfase na identificação de elementos que conduzam a uma espécie de boa liderança para os negócios ( Graeff, 1997Graeff, C. (1997). Evolution of situational leadership theory: a critical review. Leadership Quarterly, 8(2), 153-170. 10.1016/S1048-9843(97)90014-X ; King, 1990King, A. (1990). Evolution of leadership theory. Vikalpa, 15(2), 43-56. 10.1177/0256090919900205 ; Van Seters & Field, 1990)Van Seters, D., & Field, R. (1990). The evolution of Leadership Theory. Journal of Organizational Change Management, 3(3), 29-45. doi:10.1108/09534819010142139 . São bem menos frequentes, porém, análises que estudam, criticamente, pessoas em situação de liderança, principalmente, aquelas que incorrem em discursos, posturas e decisões violentas ou autoritárias, prejudiciais a grupos sociais específicos, em especial, minoritários, e em diversos tipos de organizações, públicas ou privadas (Pereira, Maranhão, & Rezende, 2018; Vizeu, 2011)Vizeu, F. (2011). Uma aproximação entre liderança transformacional e Teoria da Ação Comunicativa. RAM – Revista de Administração Mackenzie, 12(1), 53-81. 10.1590/S1678-69712011000100003 . Conforme Alvesson (2020)Alvesson, M. (2020). Upbeat Leadership: A Recipe for – or against – “Successful” Leadership Studies. Leadership Quarterly, 31(6), 1-12. 10.1016/j.leaqua.2020.101439 discute, apesar de o campo ser altamente fragmentado – dada a grande variedade de teorias que surgiram em um espaço curto de tempo, principalmente na segunda metade do século XX –, parece haver agora uma convergência para uma superpositividade da liderança (aquela que somente é capaz de fazer o bem). Isso não quer dizer que não existam debates sobre lideranças perniciosas na administração – o surgimento da Teoria da Supervisão Abusiva (Abusive Theory), a partir dos trabalhos de Tepper (2000)Tepper, B. (2000). Consequences of abusive supervision. Academy of Management Journal, 43(2), 178-190. Retrieved from https://bit.ly/3XEQmVL
https://bit.ly/3XEQmVL...
, é um exemplo relevante nesse sentido (Fischer, Tian, Lee, & Hughes, 2021). Revisões recentes da literatura acadêmica, todavia, como as de Zhu et al. (2019)Zhu, J., Song, L. J., Zhu, L., Johnson, R. E. (2019). Visualizing the landscape and evolution of leadership research. Leadership Quarterly, 30(2), 215-232. doi:10.1016/j.leaqua.2018.06.003 e Pietraszewski (2020)Pietraszewski, D. (2020). The evolution of leadership: Leadership and followership as a solution to the problem of creating and executing successful coordination and cooperation enterprises. Leadership Quarterly, 31(2),1-14. 10.1016/j.leaqua.2019.05.006 , demonstram que teorias nessa linha ainda são bem menos presentes que as mais inclinadas a visões positivas sobre liderança.

Para as análises críticas, isso não é ao acaso: a hiperpositividade da liderança representa também uma estratégia discursiva de legitimação de uma determinada ideologia na administração ( Cunliffe, 2009Cunliffe, A. (2009). The Philosopher Leader. Management Learning, 40(1), 87-101. 10.1177/1350507608099315 ; Tragtenberg, 2005Tragtenberg, M. (2005). Administração, poder e ideologia. São Paulo, SP: Editora UNESP. ). Segundo algumas críticas atuais, a discussão sobre liderança nesses moldes é um recurso discursivo poderoso para promover apagamentos no âmbito organizacional, em especial, dos conflitos que existem nas organizações, sobretudo ante o antagonismo dado pela relação capital/trabalho ( Alvesson & Spicer, 2012Alvesson, M., Spicer, A. (2012). Critical Leadership Studies: The Case for Critical Performativity. Human Relations, 65(3), 367-390. doi:10.1177/0018726711430555 ; Learmonth & Morrell, 2017)Learmonth, M., Morrell, K. (2017). Is Critical Leadership Studies ‘Critical’? Leadership, 13(3), 257-271. doi:10.1177/1742715016649722 . É nesse sentido que o próprio uso do termo líder pela administração reflete essa estratégia discursiva específica. Segundo Learmonth e Morrell (2017)Learmonth, M., Morrell, K. (2017). Is Critical Leadership Studies ‘Critical’? Leadership, 13(3), 257-271. doi:10.1177/1742715016649722 “os termos ‘líder’ e ‘seguidor’ estão cada vez mais substituindo expressões como ‘gerente’ e ‘trabalhador’ e se tornando formas rotineiras de falar sobre grupos hierárquicos dentro das organizações” (p. 257). Um componente ideológico específico, porém, tem contribuído para a leitura hiperpositiva da liderança heroica na administração (Collinson, Jones, & Grint, 2018), que é o advento do neoliberalismo. Recentemente, uma ampla literatura tem demonstrado as raízes autoritárias desse fenômeno social ( Brown, 2019Brown, W. (2019). In the Ruins of Neoliberalism. New York: Columbia University Press. ; Chamayou, 2020Chamayou, G. (2020). A sociedade ingovernável. São Paulo, SP: Ubu. ; Dardot & Laval, 2016Dardot, P., Laval, C. (2016). A nova razão do mundo. São Paulo, SP: Boitempo. ; Gago, 2017Gago, V. (2017). Neoliberalism from below. Durham: Duke University Press. ; Han, 2014Han, B. (2014). Psicopolítica. Herder: Barcelona. ; Lazzarato, 2013Lazzarato, M. (2013). La fábrica del hombre endeudado. Buenos Aires: Amorrortu. ; Safatle, 2021)Safatle, V. (2021). A economia é a continuação da psicologia por outros meios: sofrimento psíquico e o neoliberalismo como economia moral. In V. Safatle, N. Silva Junior, C. Dunker (Orgs.), Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico (pp. 11-38). São Paulo: Autêntica. . De acordo com Learmonth e Morrell (2017)Learmonth, M., Morrell, K. (2017). Is Critical Leadership Studies ‘Critical’? Leadership, 13(3), 257-271. doi:10.1177/1742715016649722 , “o crescimento exponencial do apelo da liderança desde a década de 1980 ocorreu durante um período que também testemunhou a ascensão do neoliberalismo e a consequente derrota generalizada do poder sindical” (p. 266). As análises que supervalorizam a positividade da liderança parecem voltar-se, portanto, mais para o olhar de gerentes que de gerenciados.

A liderança tornou-se, então, um recurso discursivo típico da sociedade neoliberal, em que todas as características míticas do herói são plasmadas na figura das pessoas em posição gerencial nas organizações ( Collinson et al., 2018Collinson, D., Jones, O., Grint, K. (2018). “No More Heroes”: Critical Perspectives on Leadership Romanticism. Organization Studies, 39(11), 1625-1647, 10.1177/0170840617727784 ). A linguagem da liderança, portanto, ganha muita força quando o neoliberalismo se estabelece como esse fenômeno de dominação da lógica empresarial na vida social, como a “nova razão do mundo” ( Dardot & Laval, 2016Dardot, P., Laval, C. (2016). A nova razão do mundo. São Paulo, SP: Boitempo. ). Tem sido recorrente na literatura sociológica, a análise do neoliberalismo como dotado de uma monomania privatista, que contrapõe o líder-empreendedor-individual ao coletivo, entendendo-o, como faz Rosana Pinheiro-Machado (2019)Pinheiro-Machado, R. (2019). Amanhã vai ser maior. São Paulo: Planeta Brasil. , como “uma máquina de moer coletividades, desdemocratizar, desagregar e individualizar” (p. 49). Além de se estabelecer como um processo de desmoronamento do coletivo, o neoliberalismo firmou-se como uma instância de controle do subjetivo ou um aparato de gestão e dominação do sofrimento psíquico, fazendo da economia, como diria Safatle (2021)Safatle, V. (2021). A economia é a continuação da psicologia por outros meios: sofrimento psíquico e o neoliberalismo como economia moral. In V. Safatle, N. Silva Junior, C. Dunker (Orgs.), Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico (pp. 11-38). São Paulo: Autêntica. , “a continuação da psicologia por outros meios”, um mecanismo autoritário de dominação subjetiva por meio da lógica da produtividade. O autoritarismo neoliberal, portanto, é construído discursivamente em torno de um inimigo comum, o Estado que representa o coletivo social fracassado, e em favor de um herói, o indivíduo-empresa. Assim, ele tem “como característica principal a generalização da concorrência como norma de conduta e da empresa como modelo de subjetivação” ( Dardot & Laval, 2016, pDardot, P., Laval, C. (2016). A nova razão do mundo. São Paulo, SP: Boitempo. , p. 17).

Embora não seja a literatura majoritária, conforme os trabalhos de Mackey, Ellen III, McAllister e Alexander (2021) e Zhu et al. (2019)Zhu, J., Song, L. J., Zhu, L., Johnson, R. E. (2019). Visualizing the landscape and evolution of leadership research. Leadership Quarterly, 30(2), 215-232. doi:10.1016/j.leaqua.2018.06.003 indicam, as preocupações com essas lideranças autoritárias, chamadas usualmente de destrutivas, têm aumentado nos últimos anos na administração. O que se observa nessas pesquisas, porém, é que elas não destacam tanto a análise do contexto (o neoliberalismo) e seguem privilegiando a relação entre percepções negativas de lideranças autoritárias e resultados negativos em termos de produtividade, criatividade, desempenho ou lucro em empresas privadas (Bodla, Tang, Dick, & Mir, 2019; Chiang, Chen, Liu, Akutsu, & Wang , 2021; Guo et al., 2018Guo, L., Decoster, S., Babalola, M. T., Schutter, L., Garba, O. A., Riisla, K. (2018). Authoritarian leadership and employee creativity: The moderating role of psychological capital and the mediating role of fear and defensive silence. Journal of Business Research, 92, 219-230. doi:10.1016/j.jbusres.2018.07.034 ; Hiller, Sin, Ponnapalli, & Ozgen, 2019; Karakitapoğlu-Aygün, Gumusluoglu, Erturk, & Scandura, 2021; Shu, Chiang, & Lu, 2016). Isso conduz a algumas perguntas: se a liderança autoritária acarretasse resultados ou expectativas positivas em termos de lucratividade, desempenho, criatividade ou produtividade, ela seria aceitável? Ou ela já não deveria ter sido refutada, logo de início, por uma reflexão crítica que a demonstra ser incompatível com pressupostos éticos de respeito, equidade ou justiça e com a própria democracia? Essas questões são relevantes porque, em outras áreas das ciências sociais e das humanidades em que se estuda a liderança criticamente, usualmente chega-se ao entendimento de que ela é ética e politicamente reprovável, mesmo quando obtém resultados materiais positivos, como no caso das lideranças políticas de países que obtiveram grandes recuperações econômicas (ou seja, resultados materiais positivos) ao custo de perseguição e extermínio de opositores e minorias, como no caso da Alemanha de Hitler e da União Soviética sob Stalin, cuja análise de Hannah Arendt (1989)Arendt, H. (1989). Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras. é o exemplo clássico.

Reflexões nesse sentido sobre lideranças autoritárias e antidemocráticas, porém, são ainda incipientes na administração, mas são antigas (e continuam crescentes e relevantes) em outras áreas do conhecimento, sobretudo na ciência política ( Frantz & Ezrow, 2011Frantz, E., Ezrow, N. (2011). The politics of dictatorship: institutions and outcomes in authoritarian regimes. London: Lynne Rienner. doi:10.1515/9781685854324 ; Decker, Rothe, Weissmann, Kiess, & Brähler, 2013; Levitsky & Ziblatt, 2018Levitsky, S., Ziblatt, D. (2018). How democracies die. New York: Crown. ; Runciman, 2018)Runciman, D. (2018). How democracy ends. London: Profile Books. e na sociologia ( Aho, 2020Aho, J. (2020). Revisiting Authoritarianism. Critical Sociology, 46(3), 329-341, 10.1177/0896920519830749 ; Pascale, 2019Pascale, C. (2019). The Weaponization of Language: Discourses of Rising Right-wing Authoritarianism. Current Sociology, 67(6), 898-917. 10.1177/0011392119869963 ; Solt, 2012)Solt, F. (2012). The social origins of authoritarianism. Political Research Quarterly, 65(4), 703-713. 10.1177/1065912911424287 e na história ( Finchelstein, 2017Finchelstein, F. (2017). From fascism to Populism in History. Oakland: University of California Press. ; Moore Jr., 1966; Rollemberg & Quadrat, 2011)Rollemberg, D., Quadrat, S. (Orgs.). (2011). A construção social dos regimes autoritários: Brasil e América Latina (vol. 2). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira. , nesta última a literatura é tão vasta que chega a ser inviável citá-la adequadamente. Campos como a economia (De Luca, Litina, & Sekeris, 2015; Vasilyeva & Libman, 2020)Vasilyeva, O., Libman, A. (2020). Varieties of authoritarianism matter: elite fragmentation, natural resources and economic growth. European Journal of Political Economy, 63. doi:10.1016/j.ejpoleco.2020.101869 , o direito (Acunha, Arafa, & Benvindo, 2018; Ginsburg & Moustafa, 2008)Ginsburg, T., Moustafa, T. (2008). Rule by law: the politics of courtsin authoritarian regimes. Cambridge: Cambridge University Press. doi:10.1017/CBO9780511814822 e a psicologia ( Napier & Jost, 2008)Napier, J., Jost, J. (2008). The “Antidemocratic Personality” revisited: a cross-national investigation of working-class authoritarianism. Journal of Social Issues, 64(3), 595-617. doi:10.1111/j.1540-4560.2008.00579.x também têm demonstrado interesse crescente nessa discussão. Até em áreas mais distantes, como a biologia, têm surgido estudos contrapondo diferentes modos de obter cooperação na relação líder-seguidores em grupos (Hooper, Kaplan, & Boone, 2010; King, Johnson, & van Vugt, 2009; Van Vugt & Von Rueden, 2018)Van Vugt, M., & Von Rueden, C. (2018). Evolution and Biology of Leadership: A New Synthesis. The Leadership Quarterly, 28, 3. doi:10.1016/S1048-9843(17)30295-3 . Na filosofia, porém, se encontram as análises mais conhecidas sobre o tema, sobretudo, com as discussões feitas por Adorno (1969)Adorno, T. (1969). The Authoritarian Personality. New York: Norton Library. , Hannah Arendt (1989)Arendt, H. (1989). Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras. , Sloterdijk (2012)Sloterdijk, P. (2012). Crítica da razão cínica. São Paulo, SP: Estação Liberdade. e Habermas (2012)Habermas, J. (2012). Teoria do agir comunicativo (vol. 1 e 2). São Paulo, SP: Martins Fontes. sobre regimes totalitários do século XX. A adesão voluntária de muitos à liderança autoritária, portanto, era-lhes um desafio à compreensão racional do mundo. Essa é uma perplexidade que assola novamente a contemporaneidade, ao ver uma vez mais um impulso autoritário acender ao poder em vários países no mundo, neste início de século XXI, inclusive no Brasil ( Giroux, 2018Giroux, H. (2018). The public in peril. New York: Routledge. ; Nobre, 2020Nobre, M. (2020). Ponto-final: a guerra de Bolsonaro contra a democracia. São Paulo, SP: todavia. ; Pinheiro-Machado, 2019)Pinheiro-Machado, R. (2019). Amanhã vai ser maior. São Paulo: Planeta Brasil. .

A proposta deste ensaio é a de que é fundamental trazer um olhar organizacional para esse debate, haja vista que boa parte das críticas às lideranças autoritárias de outros campos se pauta por uma relação mais ampla, da adesão popular das massas a regimes autoritários. As análises de Habermas (2012)Habermas, J. (2012). Teoria do agir comunicativo (vol. 1 e 2). São Paulo, SP: Martins Fontes. e Arendt (1989)Arendt, H. (1989). Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras. , por exemplo, suscitam esse olhar para as organizações ao recuperarem Max Weber. Em suas discussões sobre a racionalidade, Weber identifica correspondências entre tipos de dominação e tipos de liderança, conectados pela racionalidade, pela tradição ou pelo carisma. Weber não viveu e não analisou o nazismo, mesmo assim, sua teoria sobre lideranças carismáticas ainda é bastante utilizada para explicar o autoritarismo insurgente da época ( Breuilly, 2011Breuilly, J. (2011). Max Weber, charisma and nationalist leadership. Nations and Nationalism, 17(3), 477-499. 10.1111/j.1469-8129.2011.00487.x ; Kershaw, 2004Kershaw, I. (2004). Hitler and the uniqueness of nazism. Journal of Contemporary History, 39(2), 239-254. Retrieved from https://bit.ly/3XKJupC
https://bit.ly/3XKJupC...
). Hannah Arendt (1989)Arendt, H. (1989). Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras. , porém, apresenta outra possibilidade de se relacionar lideranças autoritárias e burocracias. Ela discordava da explicação desse fenômeno com base em traços exclusivamente carismáticos de seus líderes. Segundo Baehr (2017)Baehr, P. (2017). The Theory of Totalitarian Leadership. In P. Baehr, P. Walsh (Eds.), The Anthem Companion to Hannah Arendt (pp. 221-248). New York: Anthem. , Arendt via em Hitler uma espécie de “fascinação sem carisma” (p. 226), um fascínio que era reforçado pelo silêncio das burocracias. Para Arendt (1989), o grande risco da violência totalitária não emanava de uma liderança extraordinária que seduziria as massas, mas de todo o corpo funcional burocrático de assentia com o mal que ela evocava. Não importava tanto a origem da liderança, mas o seu efeito propagado pelas organizações sob sua tutela. Na análise de Baehr (2017)Baehr, P. (2017). The Theory of Totalitarian Leadership. In P. Baehr, P. Walsh (Eds.), The Anthem Companion to Hannah Arendt (pp. 221-248). New York: Anthem. , “para Arendt, os líderes não são distintos das massas; eles estão totalmente imbricados com elas” (p. 222). Assim, a liderança autoritária pode vir de qualquer pessoa desde que as demais banalizem o mal que ela defende ou pratica – não se trata de ser, necessariamente, uma heroína ou herói dotado de um carisma especial. É nesse sentido que Sanders (2019)Sanders, P. (2019). Leadership and populism: A parallel reading of Hannah Arendt and Franz Neumann. Leadership, 15(6), 750-767. 10.1177/1742715019837807 argumenta que “as severas reservas de Arendt com relação à liderança carismática coincidem com sua aversão geral à ‘liderança heroica’” (p. 758). Não é a aura dos líderes com suas façanhas pessoais (milagrosas, bélicas, intelectuais) que deve ser foco de apreensão, segundo Arendt, mas o fato de que a “credibilidade dos governantes totalitários depende essencialmente da organização que eles lideram”, ou seja, da cegueira deliberada das pessoas em deixá-los liderar as organizações que dirigem ou da incapacidade das oposições de enfrentá-las ( Baehr, 2017Baehr, P. (2017). The Theory of Totalitarian Leadership. In P. Baehr, P. Walsh (Eds.), The Anthem Companion to Hannah Arendt (pp. 221-248). New York: Anthem. , p. 229). Com Arendt, portanto, vemos uma possibilidade de pensar a liderança autoritária dentro de um contexto organizacional mais amplo, que vincula burocracias, ética e política ( Lederman, 2018Lederman, S. (2018). Hannah Arendt’s Critique of the Judenräte in context of modern jewish leadership and radical democracy. Holocaust and Genocide Studies, 32(2), 207-223. 10.1093/hgs/dcy028 ).

O discurso utilizado por lideranças autoritárias para convencimento foi bastante associado à ideia do carisma, mas, atualmente, muitos estudos têm surgido analisando esses mesmos discursos como estratégias de mobilização e dominação, como tem em relação ao movimento de insurreição extremista, porque reverbera fortemente nas redes sociais, tornando-se um campo de análise bastante intenso na atualidade (Fernandes & Lima Neto, 2020). Interpretar todo autoritarismo como fruto de uma liderança carismática também leva a um apagamento. Similarmente ao que acontece com a leitura hiperpositiva heroica, ela apaga as responsabilidades compartilhadas de várias das pessoas envolvidas que, por apoiarem diretamente ou banalizarem as violências, ajudam a pôr em curso e a sustentar a dominação violenta. Isso implica no cinismo de que Sloterdijk (2012)Sloterdijk, P. (2012). Crítica da razão cínica. São Paulo, SP: Estação Liberdade. menciona para explicar a ascensão do Estado Nazista. Não é apenas o líder que é cínico, mas todas as pessoas que fingem ignorar suas ameaças.

Neste trabalho, defende-se que uma boa forma de enfrentar esse desafio de compreensão da liderança autoritária é entender suas estratégias discursivas de dominação sob o neoliberalismo. Nesse sentido, o resgate de uma análise crítica sobre a liderança é fundamental. Uma das maneiras mais emblemáticas que a criatividade humana estabeleceu ao enfrentamento das lideranças autoritárias foi por meio das artes. Esse enfrentamento está nas pinturas de Goya retratando a violência em maio de 1808, na Guernica de Picasso, nas artes de Ai Wei Wei, na literatura de Mo Yan, Orrhan Pamuk, no 1984 de Orwell, no Conto da Aia de Margaret Atwood, no canto de Elza Soares.

E, para isso, a literatura pode nos auxiliar, em especial a leitura de Moby-Dick , uma vez que, segundo Bikundo (2018)Bikundo, E. (2018). Follow your Leader – I Prefer Not to: Slavery, Giorgio Agamben and Herman Melville. Law, Culture and the Humanities, 18(1), 4-19. 10.1177/1743872118787236 , Pellar (2017)Pellar, B. (2017). Moby-Dick and Melville’s anti-slavery allegory. New York: Palgrave MacMillan. e Toni Morisson (1988), o grande norte de interpretação desta obra é a luta antiescravidão, antirracista e antiautoritarismo.

Liderança e estratégias discursivas: literatura e organizações

Os discursos são práticas sociais que constroem a nossa percepção do mundo real, conforme as análises da chamada virada linguística ( linguistic turn ) das ciências sociais argumentam. Esse entendimento também alcançou posteriormente a análise organizacional ( Chia & King, 2001Chia, R., King, I. (2001). The Language of Organization Theory. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The Language of Organization (pp. 1-19). London: Sage. ; Czarniawska, 2004Czarniawska, B. (2004). Turning to Discourse. In D. Grant, C. Hardy, C. Oswick, L. Putman (Eds.), The SAGE Handbook of Organizational Discourse (pp. 399-403). London: Sage. ; Westwood & Linstead, 2001)Westwood, R., Linstead, S. (2001). Language/Organization: Introduction. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The language of organization (pp. 310-328). London: Sage. e tem produzido uma série de estudos que analisam as relações entre discursos e organizações, enfatizando diferentes elementos discursivos, como narrativas ( Gabriel, 2004)Gabriel, Y. (2004). Narratives, stories and texts. In D. Grant, C. Hardy, C. Oswick, L. L. Putnam (Eds.), The SAGE Handbook of organizational discourse (pp. 61-77). London: Sage. , estratégias discursivas ( Benke & Wodak, 2003)Benke, G., Wodak, R. (2003). The Discursive Construction of Individual Memories: How Austrian “Wehrmacht” Soldiers Remember WWII. In J. Martin, R. Wodak (Eds.), Re/reading the Past: Critical and Functional Perspectives on Time and Value (pp. 195-216). Amsterdam: John Benjamins. , histórias de vida ou contação de estórias ( storytelling ) (Boje, Alvarez, & Schooling, 2001), intertextualidade (Maclean, Harvey, Sillince, & Golant, 2018), retórica corporativa ( Linstead, 2001)Linstead, S. (2001). Rhetoric and organizational control: a framework for analysis. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The language of organization (pp. 217-240). London: Sage. , diálogos (Gergen, Gergen, & Barrett, 2004), silêncio ( Fletcher & Watson, 2007)Fletcher, D., Watson, T. (2007). Voice, Silence and the business of construction: loud and quiet voices in the construction of personal, organizational and social. Organization, 14(2), 155-174. doi:10.1177/1350508407074221 entre outros aspectos. As discussões em torno das possibilidades de análise de discursos em organizações são muito vastas, e a variedade de abordagens é muito ampla, como aponta o debate entre Iedema (2011)Iedema, R. (2011). Discourse studies in the 21st century: A response to Mats Alvesson and Dan Kärreman’s ‘Decolonializing discourse’. Human Relations, 64(9), 1163-1176. 10.1177/0018726711408365 , Alvesson e Kärreman (2011)Alvesson, M., Kärreman, D. (2011). Organizational Discourse Analysis – Well Done or Too Rare? A Reply to Our Critics. Human Relations, 64(9), 1193-1202, doi:10.1177/0018726711408630 e Mumby (2011)Mumby, D. K. (2011). What’s cooking in organizational discourse studies? A response to Alvesson and Kärreman. Human Relations, 64(9), 1147-1161. 10.1177/0018726711408367 , mas, dentre elas, destacam-se as propostas por Teun van Dijk (2013)Van Dijk, T. A. (2013). Análise crítica do discurso multidisciplinar: um apelo em favor da diversidade. Linha d’Água, 26(2), 351-381. 10.11606/issn.2236-4242.v26i2p351-381 , Wodak (2001)Wodak, R. (2001). What CDA is about – a summary of its history, important concepts and its developments. In R. Wodak, M. Meyer (Eds.), Methods of critical discourse analysis (pp. 1-13). London: Sage. e Fairclough (1989, 1995)Fairclough, N. (1989). Language and power. New York: Longman. , 1995Fairclough, N. (1995). Critical discourse analysis. New York: Longman. ). O fio condutor comum que se extrai para as organizações, a partir dessas diferentes abordagens é que também o mundo organizacional é constituído e interpretado por meio de discursos que estão permanentemente em disputa.

Liderança e discurso, como práticas sociais, são relevantes para a análise organizacional, sobretudo, porque são práticas relacionais, envolvendo dinâmicas sociais de interação e interpretação entre as pessoas envolvidas, conforme Fairhurst e Uhl-Bien (2012)Fairhurst, G., Uhl-Bien, M. (2012). Organizational Discourse Analysis (ODA): Examining Leadership as a Relational Process. The Leadership Quarterly, 23(6), 1043-1062. doi:10.1016/j.leaqua.2012.10.005 destacam. Um resultado disso é que os discursos efetuados pelas lideranças afetam a vida social das pessoas que os seguem. As narrativas impulsionadas pelas lideranças produzem efeitos que pode ser inspiradores ou devastadores, conforme Robert Shiller (2019)Shiller, R. (2019). Narrative economics: How Stories Go Viral & Drive Major Economic Events. New Jersey: Princeton University Press. discute em seu livro sobre economia narrativa. Com base nisso, é comum lideranças autoritárias utilizarem estratégias discursivas específicas para impor suas vontades sobre grupos sociais ( Cindoglu & Unal, 2016Cindoglu, D., Unal, D. (2016). Gender and Sexuality in the Authoritarian Discursive Strategies of “New Turkey”. European Journal of Women's Studies, 24(1), doi:10.1177/1350506816679003 ), mas os efeitos disso usualmente são trágicos. Estudos realizados durante a pandemia de covid-19, por exemplo, indicam que as recomendações dos governadores democratas para que os moradores ficassem em casa influenciaram significativamente a redução da mobilidade nas regiões de tendência democrata nos Estados Unidos (EUA) (Grossman, Kim, Rexer, & Thirumurthy, 2020), ou seja, impactaram diretamente o comportamento daquelas pessoas que reconheciam a legitimidade daquela liderança e, com isso, salvaram muitas vidas ( Barrios & Hochberg, 2021)Barrios, J., Hochberg, Y. (2021). Risk Perceptions and Politics: Evidence from the COVID-19 Pandemic. Journal of Financial Economics, 142(2), 862-879, doi:10.1016/j.jfineco.2021.05.039 . Análises de mortes por covid-19, por sua vez, têm mostrado que elas foram maiores em regiões que apoiavam o discurso negacionista realizado pelo ex-presidente Donald Trump ( Gao & Radford, 2021Gao, J., Radford, B. (2021). Death by political party: The relationship between COVID‐19 deaths and political party affiliation in the United States. World Med Health Policy, 13(2), 224-249. doi:10.1002/wmh3.435 ; Yamey & Gonsalves, 2020)Yamey, G., Gonsalves, G. (2020). Donald Trump: A political determinant of Covid-19. BMJ, 369. doi:10.1136/bmj.m1643 . Bruce, Cavgias, Meloni e Remígio (2022), por seu turno, destacam como as lideranças femininas em prefeituras tiveram impacto positivo na redução de mortes e internações por 100 mil, por covid-19, no Brasil, por seguirem orientações internacionais e não acompanhar a postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro, similar à de Trump. Discursos de lideranças, portanto, produzem efeitos concretos por meio de estratégias discursivas diferentes, e como Ladkin (2020)Ladkin, D. (2020). What Donald Trump’s response to COVID-19 teaches us: it’s time for our romance with leaders to end. Leadership, 16(3), 273-278. 10.1177/1742715020929134 discute sobre o caso de Donald Trump, talvez seja hora de parar de romantizá-los e focar nos efeitos que eles podem provocar.

Estratégias discursivas, de modo bem abrangente, são palavras, imagens ou estruturas de linguagem utilizadas para influenciar pessoas por meio do discurso ( Kahl & Grodal, 2016Kahl, S., Grodal, S. (2016). Discursive strategies and radical technological change: multilevel discourse analysis of the early computer (1947-1958). Strategic Management Journal, 37(1), 149-166. doi:10.1002/smj.2453 ), ou como Hansson (2015)Hansson, S. (2015). Discursive Strategies of Blame Avoidance in Government. Discourse & Society, 26(3), 297-322. doi:10.1177/0957926514564736
https://doi.org/10.1177/0957926514564736...
afirma, são maneiras de argumentar com vistas a obter resultados específicos. De modo mais restritivo, Ruth Wodak (2015)Wodak, R. (2015). The politics of fear. London: Sage. trabalha com a ideia de estratégia discursiva ou estratégia linguística como categorização simbólica do real efetivada por meios linguísticos. Nesse sentido, elas serviriam para classificar grupos ou fenômenos sociais a fim de intervir em um determinado contexto ( Benke & Wodak, 2003Benke, G., Wodak, R. (2003). The Discursive Construction of Individual Memories: How Austrian “Wehrmacht” Soldiers Remember WWII. In J. Martin, R. Wodak (Eds.), Re/reading the Past: Critical and Functional Perspectives on Time and Value (pp. 195-216). Amsterdam: John Benjamins. ; Kwon, Clarke, & Wodak, 2014). Benke e Wodak (2003)Benke, G., Wodak, R. (2003). The Discursive Construction of Individual Memories: How Austrian “Wehrmacht” Soldiers Remember WWII. In J. Martin, R. Wodak (Eds.), Re/reading the Past: Critical and Functional Perspectives on Time and Value (pp. 195-216). Amsterdam: John Benjamins. , portanto, agrupam algumas estratégias que chamam de linguísticas segundo sua função social dominante, como estratégias construtivas – que tentam criar grupos (Nós vs. Eles); de perpetuação – que tentam manter ou reproduzir grupos já estabelecidos; de transformação – tentam transformar o status quo em algo diferente; e destrutivas – que tentam demolir uma imagem ou uma situação vigente. O sentido de estratégia de discursiva que se busca neste artigo, no entanto, não se relaciona com esta lógica de categorização, mas com a de utilização de alguns elementos linguísticos para promover uma dominação específica, como analisado por O'Brien (2015) sobre o conceito de individualismo nos EUA, entendido como uma estratégia discursiva para “priorizar atividades individuais em vez de coletivas e celebrar ações iniciadas voluntariamente em vez de compromissos socialmente obrigatórios” (p. 173). Nessa linha, a análise crítica do discurso como efetuada por Norman Fairclough (1989, 1995, 2012a, 2Fairclough, N. (1989). Language and power. New York: Longman. , 1995Fairclough, N. (1995). Critical discourse analysis. New York: Longman. , 2012aFairclough, N. (2012a). Análise crítica do discurso como método em pesquisa social científica. Linha d’Água , 25(2), 307-329. 10.11606/issn.2236-4242.v25i2p307-329 , 2012bFairclough, N. (2012b). Political discourse analysis. London: Routledge. ) atende melhor a esse propósito porque enfatiza o uso sistemático de alguns elementos discursivos para implicar a manutenção da ideologia dominante na sociedade, como realizado nos trabalhos de Ramadhona (2021)Ramadhona, S. (2021). A discursive strategy to maintain the cultural Islam – political Islam power relation in Indonesia in Triwikromo’s “Lengtu Lengmua” (2012). Poetika, 9(2), 128-138. 10.22146/poetika.v9i2.64116 , Kirton e Greene (2019)Kirton, G., Greene, A. (2019). Telling and selling the value of diversity and inclusion – external consultants’ discursive strategies and practices. Human Resource Management Journal, 29(4), 676-691. doi:10.1111/1748-8583.12253 , Felicia (2018)Felicia, O. (2018). Discursive strategies in Nigeria’s 2015 Facebook campaign discourse. Discourse & Society, 29(5), 471-494. doi:10.1177/0957926518770266
https://doi.org/10.1177/0957926518770266...
e Conrad, Flores e Fossá (2017).

Fairclough (1989Fairclough, N. (1989). Language and power. New York: Longman. , 1995Fairclough, N. (1995). Critical discourse analysis. New York: Longman. , 2012aFairclough, N. (2012a). Análise crítica do discurso como método em pesquisa social científica. Linha d’Água , 25(2), 307-329. 10.11606/issn.2236-4242.v25i2p307-329 , 2012bFairclough, N. (2012b). Political discourse analysis. London: Routledge. ) defende que a ciência social crítica deve refletir sobre as causas e possibilidades de mudança social, sendo que a análise crítica do discurso seria capaz de apontar elementos nas falas e textos produzidos pelas classes dominantes que indicam o seu esforço justamente no sentido contrário, o de impedir tais transformações. Fairclough (1989)Fairclough, N. (1989). Language and power. New York: Longman. defende, portanto, haver três estágios de análise crítica do discurso: a descrição do texto, a interpretação da relação entre texto e interação social e a explicação da relação entre interação e contexto social. Com base nisso, para se demonstrar esse comportamento das classes dominantes, parte-se do princípio de que os discursos não são neutros e não se operam no vácuo, e devem ser considerados de acordo com a posição social de quem produz socialmente aquele texto (falado ou escrito), e assim fazer essas conexões entre descrição/texto, interpretação/interação e explicação/contexto para analisá-lo criticamente. Fairclough vale-se, então, da noção de hegemonia para falar que, na sociedade, existem algumas maneiras de construir sentido social dos discursos que são dominantes, enquanto outras são marginais, subversivas, alternativas. Para manter-se hegemônico, portanto, um discurso assume estratégias diferentes, valorizando elementos específicos de uma categoria social, enfatizando comportamentos desejados, ou enaltecendo determinados grupos e depreciando outros. A noção de individualismo apresentada por O'Brien (2015) é um exemplo de uma estratégia discursiva no sentido da oposição valorização/depreciação de determinados comportamentos em sociedade (a valorização do privado e do particular na sociedade estadunidense para impedir mobilizações sociais em torno do coletivo e do público). A análise proposta neste trabalho segue essa abordagem de estratégia discursiva como modo de manutenção, no Brasil, de um pensamento hegemônico neoliberal, conservador e autoritário. Como guia de análise para dessa estratégia discursiva, porém, será utilizado o paralelo com a literatura.

A literatura é uma poderosa ferramenta de compreensão do mundo. Yazell, Petersen, Marx e Fessenbecker (2021) analisam a interdisciplinaridade existente entre ciências sociais e literatura, elaborando uma tipologia de usos e identificando até mesmo as obras e personagens mais utilizados, em que Robinson Crusoé ocupa o primeiro lugar. Segundo estes autores, as ciências sociais e a filosofia são cheias de referências as obras literárias utilizadas para auxiliar na compreensão de fenômenos sociais. Pode-se citar vários exemplos, como os de Marx com Balzac e Shakespeare, Freud e suas menções a Virgílio, Elizabeth Hutchins e às obras de Charles Dickens, Boaventura de Sousa Santos e Alice no País das Maravilhas. Nessa linha, a literatura também tem sido utilizada para analisar a liderança, até mesmo em pesquisas mais próximas do mainstream da Administração ( Coutu, 2006Coutu, D. (2006). Leadership in Literature. Harvard Business Review, 84(3). Retrieved from https://bit.ly/3OSP8lK
https://bit.ly/3OSP8lK...
). A leitura de boas obras de ficção, segundo Lebaron (2009)LeBaron, C. (2009). Book review: Joseph L. Badaracco Jr. Questions of character: illuminating the heart of leadership through literature. Human Resource Management, 48(2), 335-337. 10.1002/hrm.20283 , é importante porque elas são “oportunidades para discussões aprofundadas por meio de perguntas exploratórias que ajudam os leitores a aprender sobre liderança e sobre si mesmos” (p. 335). Em seu site , a Stanford Graduate Business School, por exemplo, chega a oferecer um curso ministrado por Scotty McLennan, intitulado The Business World: Moral and Spiritual Inquiry through Literature, cuja ementa afirma utilizar romances e peças de teatro como base para examinar os aspectos morais e espirituais da liderança empresarial e do ambiente em que os negócios são feitos (Stanford, 2015). O que o presente artigo propõe, portanto, é utilizar a literatura como guia para a análise crítica de uma estratégia discursiva da liderança autoritária – a obsessão com um determinado tema (monomania) –, sendo que a obra literária escolhida para realizar esta análise foi Moby-Dick , de Herman Melville.

Existem muitas análises acadêmicas que se valem da literatura para compreender fenômenos sociais associados a organizações, a ponto de Glaubitz (2016)Glaubitz, N. (2016). Managing complexity: The “Literary Turn” in Organization Studies. In M. Middeke, C. Reinfandt (Eds.), Theory matters (pp. 181-195). London: Palgrave. falar de uma virada literária no campo dos estudos organizacionais (Beyes, Costas, & Ortmann, 2019; Fischer, Davel, Vergara, & Ghadiri, 2007; Pinto & Ribeiro, 2018Pinto, F., Ribeiro, E. (2018). História, literatura e estudos organizacionais: novos olhares sobre as obras de Jorge Amado. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 5(12), 198-267. doi:10.25113/farol.v5i12.3204 ; De Cock & Land, 2006)De Cock, C., & Land C. (2006). Organization/Literature: Exploring the Seam. Organization Studies, 27(4), 517-535. doi:10.1177/0170840605058234 . A liderança tem sido um fenômeno social bastante estudado dessa maneira. March e Weil (2005)March, J., Weil, T. (2005). On leadership. Oxford: Blackwell. , por exemplo, realizam comparações entre estilos de liderar com base em características de personagens da literatura, usando Otelo e Rei Lear , de Shakespeare, Guerra e Paz , de Leon Tolstói, e Dom Quixote , de Miguel de Cervantes. Shoup e Hinrichs (2020)Shoup, J., Hinrichs, T. (2020). Literature and leadership: the role of the narrative in organizational sensemaking. New York: Routledge. também abordam esse mesmo tema com base em narrativas literárias, novamente referenciando Dom Quixote , como também Orgulho e Preconceito , de Jane Austen, e Moby-Dick , de Herman Melville. Sievers (2013)Sievers, B. (2013). Leadership and monomania: Herman Melville’s Moby-Dick. In J. Gosling, P. Villiers (Orgs.), Fictional leaders (pp. 50-86). New York: Palgrave Macmillan. também traz a análise de Moby-Dick para o contexto organizacional, enfocando a questão da liderança. Essas relações são possíveis porque os discursos, como práticas sociais que são, se encontram tão consolidados na escrita literária quanto no âmbito organizacional, pois os discursos são práticas sociais e as organizações são também constituídas discursivamente ( Chia & King, 2001Chia, R., King, I. (2001). The Language of Organization Theory. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The Language of Organization (pp. 1-19). London: Sage. ; Gelis-Filho, 2012; Leclercq-Vandelannoitte, 2011)Leclercq-Vandelannoitte, A. (2011). Organizations as discursive constructions: a foucauldian approach. Organization Studies, 32(9), 1247-1271. 10.1177/0170840611411395 , ou seja, conforme Helena Brandão (2002)Brandão, H. (2002). Introdução à Análise do Discurso. Campinas, SP: Editora da UNICAMP. argumenta, o discurso é uma produção social que cria sentidos para nós e, ao fazer isso, cria a nossa própria noção de real.

Os textos, tomados como elementos por meio dos quais os discursos se materializam, nos ajudam a compreender as dinâmicas sociais que estão por trás dos próprios textos (ideologias, valores, posições políticas e visões de mundo). Uma das maneiras de conduzir essa análise textual dos discursos é por meio do uso de narrativas ficcionais ou literárias que nos permitem estabelecer paralelos, metáforas, temas, arcos dramáticos que nos ajudam compreender discursivamente o mundo social ( Glaubitz, 2016Glaubitz, N. (2016). Managing complexity: The “Literary Turn” in Organization Studies. In M. Middeke, C. Reinfandt (Eds.), Theory matters (pp. 181-195). London: Palgrave. ; Savage, Cornelissen, & Franck, 2017). Shoup e Hinrichs (2020)Shoup, J., Hinrichs, T. (2020). Literature and leadership: the role of the narrative in organizational sensemaking. New York: Routledge. falam, por exemplo, que a “grande literatura” seria “o principal veículo pelo qual as culturas comunicam, moldam e ensinam valores para sua própria cultura e para o mundo em geral” (p. 15). Além disso, a literatura nos permite uma liberdade criativa de interpretação, que Beyes et al. (2019)Beyes, T., Costas, J., Ortmann, G. (2019). Novel Thought: Towards a Literary Study of Organization. Organization Studies, 40(12), 1787-1803. doi:10.1177/0170840619874458 chamam de liberdade epistemológica, permitindo formas menos enrijecidas de conhecer os fenômenos sociais que as tradicionalmente utilizadas pelo mundo científico. Vários trabalhos, portanto, relacionaram grandes obras literárias, seus autores e autoras com questões organizacionais, como Kafka ( Beyes, 2019Beyes, T. (2019). Uncanny Matters: Kafka’s Burrow, the Unhomely and the Study of Organizational Space. Ephemera, 19(1), 179-192. Retrieved from https://bit.ly/3gJ7gSe
https://bit.ly/3gJ7gSe...
; Caygill, 2019)Caygill, H. (2019). Miracles of Organization: Chance and Error in Kafka’s The Castle. Organization Studies, 40(12), 1-10. 10.1177/0170840619874459 , Borges ( De Cock, 2000)De Cock, C. (2000). Essai: Reflections on Fiction, Representation, and Organization Studies: An Essay with Special Reference to the Work of Jorge Luis Borges. Organization Studies, 21(3), 589-609. 10.1177/0170840600213005 , Toni Morrison ( Jurkiewicz, 2006)Jurkiewicz, C. (2006). Soul Food: Morrison and the transformative power of ethical leadership in the public sector. Public Integrity, 8(3), 245-256. 10.2753/PIN1099-9922080305 , Pynchon ( Beyes, 2009)Beyes, T. (2009). An Aesthetics of Displacement: Thomas Pynchon’s Symptomatology of Organization. Journal of Organizational Change Management, 22(4), 421-436. 10.1108/09534810910967189 , Houellebecq (Cnossen, Dekker, & Taskin, 2017), D. F. Wallace ( Michaelson, 2016)Michaelson, C. (2016). Business in the work and world of David Foster Wallace. Journal of Management Inquiry, 25(2), 214-222. 10.1177/1056492615600522 , Murakami (Śliwa, Spoelstra, Sørensen, & Land, 2012), além de Shakespeare, Cervantes, Jane Austen, Tolstói – já mencionados – e Herman Melville, do qual analisaremos elementos de Moby-Dick 1 1 . Por questões aparentemente editoriais, Melville chamou a personagem do livro de “Moby Dick”, sem hífen, e o livro de “Moby-Dick”, com hífen. Adotaremos essa distinção para demonstramos quando estamos falando da personagem e quando nos referimos à obra. Para uma síntese dessa discussão, ver Erin Blakemore (2015) . .

Liderança, monomania e uma empresa capitalista devastadora: leituras organizacionais de Moby-Dick

“Conhece-se Moby Dick antes de conhecê-la”, afirma o escritor e professor de escrita criativa Johnathan Lethem (2018Lethem, J. (2018). Moby-Dick. In H. Parker (Ed), Herman Melville, Moby-Dick (pp. 701-702). New York: Norton & Company. , p. 701), pois mesmo quem nunca o leu, já ouviu falar de seu conteúdo. A riqueza e a complexidade literárias, a densidade das interpretações e a universalidade dos temas dessa obra de Herman Melville, publicada originalmente em 1851, já a colocaram como o grande romance da literatura estadunidense ( Bloom, 2007Bloom, H. (2007). Introduction. In H. Bloom (Ed.), Herman Melville’s Moby-Dick (pp. 1-6). New York: Infobase. ; Kazin, 2007Kazin, A. (2007). Introduction to Moby-Dick. In H. Bloom (Ed.), Herman Melville’s Moby-Dick (pp. 7-17). New York: Infobase. ; Philbrick, 2011Philbrick, N. (2011). Why read Moby-Dick? New York: Viking. ; Selby, 1999Selby, N. (1999). Herman Melville: Moby-Dick. New York: Columbia University Press. ; Spanos, 1995Spanos, W. (1995). The errant art of Moby-Dick: the canon, the cold war, and the struggle for American studies. Durham: Duke University Press. , 2008Spanos, W. (2008). Herman Melville and the American calling: the fiction after Moby-Dick, 1851-1857. Albany, NY: State University of New York Press. ; Zoellner, 1973Zoellner, R. (1973). The salt-sea mastodon: a reading of Moby-Dick. Berkeley: University of California Press. ). Moby-Dick é uma obra profunda e longa, com muitos personagens e que articula vários saberes: metáforas e referências bíblicas, cetologia, alegorias shakespearianas, miltonianas e byronianas, reflexões existencialistas, dilemas morais e discursos sobre etnias e raças, amizades e admiração, terror e tirania, indústria, capitalismo e desenvolvimento, ecologia e navegação ( King, 2019King, R. (2019). Ahab’s rolling sea. Chicago: The University of Chicago Press. ; López, 2014López, C. (2014). El Ulises dantesco en Moby Dick: La huella literaria de un naufragio. Estudios Románicos, 23, 141. Retrieved from https://revistas.um.es/estudiosromanicos/article/view/220511
https://revistas.um.es/estudiosromanicos...
; Kopcewicz, 2012Kopcewicz, A. (2012). From Moby-Dick to Finnegans Wake. Frankfurt: Peter Lang. ; Parsons, 2012Parsons, A. (2012). “A Careful Disorderliness”: transnational labors in Melville’s Moby-Dick. ESQ: A Journal of the American Renaissance, 58(1), 71-101. 10.1353/esq.2012.0012 ). Um dos seus elementos mais marcantes, porém, é o tema da obsessão, retratada em uma de suas personagens principais, o capitão Acab (ou Ahab, no original em inglês)2 2 . Em algumas versões em português, Ahab é traduzido como Acabe. Na edição da Nova Cultural (Melville, 1851/2002) utilizada para este trabalho, adotou-se Acab, e, portanto, esta será a grafia seguida. .

Acab – personagem cuja primeira aparição ocorre apenas no capítulo 28 do livro – é um homem branco, com quase 60 anos, o capitão do navio baleeiro Pequod, que parte de Nantucket, Massachusetts, EUA, em uma perseguição global a uma baleia cachalote branca gigantesca, chamada Moby Dick. De um confronto anterior com Moby Dick, em que esta escapou-lhe, Acab teve sua perna mutilada e passou a usar uma prótese branca, feita de osso de baleia. Na obra de Melville, Acab possui uma obsessão, matar a baleia gigante que lhe arrancara a perna. Para tanto, recruta uma tripulação multiétnica – persas, indígenas, brancos e negros americanos e de ilhas não identificadas –, que ele direciona para este único objetivo, o que é apontado como uma monomania. Acab é descrito como dotado de uma “dominadora severidade”, com um olhar de “uma obstinação resoluta, incapaz de se render”, e que, pelos discursos que profere, arrebata, aterroriza e controla sua tripulação (Melville, 1851/2002, p.130-131) A violência que Acab evoca é uma violência discursiva direcionada àqueles sobre seu comando, para constituir neles o mesmo ódio que ele possui ao que chama de Leviatã dos mares. Ao longo do livro, o Capitão Acab faz longas imprecações contra Moby Dick, profere blasfêmias, se demonstra obcecado, ególatra e impetuoso. Não poupa esforços nem pessoas para conseguir seu objetivo. Kopcewicz (2012)Kopcewicz, A. (2012). From Moby-Dick to Finnegans Wake. Frankfurt: Peter Lang. destaca “a maldade egoísta de Acab, sua estatura de semideus e seu desejo de transcender as limitações do homem por meio de várias formas de sacrifício” (p. 40). Como é popularmente conhecido, a liderança monomaníaca de Acab leva à destruição do baleeiro e de quase toda a sua tripulação, em um confronto trágico com Moby Dick. A monomania é, para ele, uma estratégia discursiva de dominação que conduz todos para a tragédia.

A monomania fora categorizada como doença psiquiátrica por Jean-Étienne Esquirol, entre 1810 e 1838 ( Duffy, 2010Duffy, W. (2010). Monomania and perpetual motion: insanity and amateur scientific enthusiasm in nineteenth-century medical, scientific and literary discourse. French Cultural Studies, 21(3), 155-166. 10.1177/0957155810370381 ; Tambling, 2003Tambling, J. (2003). Monomania of a whale hunter: Moby-Dick. English, 52(203), 101-123. 10.1093/english/52.203.101 ; Walsh, 2014Walsh, D. (2014). The birth and death of a diagnosis: Monomania in France, Britain and in Ireland. Irish Journal of Psychological Medicine, 31(1), 39-45. 10.1017/ipm.2013.65 ). Segundo Walsh (2014)Walsh, D. (2014). The birth and death of a diagnosis: Monomania in France, Britain and in Ireland. Irish Journal of Psychological Medicine, 31(1), 39-45. 10.1017/ipm.2013.65 , ela fora definida como “uma ideia fixa”, ou seja, “uma única preocupação patológica em uma mente sã” (p. 39). Foucault (1978)Foucault, M. (1978). História da loucura na idade clássica. São Paulo, SP: Perspectiva. comenta, na História da Loucura na Idade Clássica , esse “escândalo que representa um indivíduo que se mostra louco num ponto mas permanece razoável em todos os outros” (p. 571). Segundo ele, a monomania fez parte do processo cientificização do poder disciplinar da medicina, em especial, da loucura, que se expandiu para outras instâncias da vida social moderna. Duffy (2010)Duffy, W. (2010). Monomania and perpetual motion: insanity and amateur scientific enthusiasm in nineteenth-century medical, scientific and literary discourse. French Cultural Studies, 21(3), 155-166. 10.1177/0957155810370381 e Walsh (2014)Walsh, D. (2014). The birth and death of a diagnosis: Monomania in France, Britain and in Ireland. Irish Journal of Psychological Medicine, 31(1), 39-45. 10.1017/ipm.2013.65 demonstram que o diagnóstico de uma loucura parcial teve grande impacto na sociedade, ultrapassando as fronteiras do discurso científico e alcançando, principalmente, a literatura, em obras como A Besta Humana , de Émile Zola, de 1890, e Moby-Dick , além dos trabalhos de Emily Brontë, Dostoievsky e de Edgar Allan Poe. Retirada do rol de patologias psiquiátricas no século XX, a monomania permaneceu como um conceito, torando-se um construto discursivo ( Godoy, 2016Godoy, A. (2016). A loucura como constructo discursivo e sintoma social: uma análise do funcionamento da ideologia e do inconsciente na constituição dos sujeitos (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. ), um elemento da prática discursiva para retratar comportamentos tidos como insistentes e socialmente prejudiciais ( Fairclough, 1995Fairclough, N. (1995). Critical discourse analysis. New York: Longman. ). Nesse sentido, “a busca monomaníaca de Acab por Moby Dick se tornou uma forma abreviada emblemática para qualquer busca obsessiva que consome tudo de forma destrutiva”, afirma Timothy Marr (2018Marr, T. (2018). Kraken: Moby-Dick in Popular Culture. In H. Parker (Ed.), Herman Melville, Moby-Dick: An authoritative text, contexts, criticism (pp. 681-686). New York: Norton & Company. , p. 681). A conduta monomaníaca de Acab, portanto, representa a liderança autoritária que se apresenta como racional e que subjuga e sacrifica as pessoas sob sua influência para atender aos seus próprios objetivos. Uma dominação violenta que se opera discursivamente.

No início, Acab é tido pela tripulação como alguém obstinado e inteligente que “conhecia o curso de todas as correntes” e que possuía um “plano delirante e contudo metódico” (Melville, 1851/2002, pp. 193-194). Aos poucos, como Dowling (2010)Dowling, D. (2010). Chasing the white whale. Iowa City: University of Iowa Press. destaca, passam a ver o “poder sombrio, carisma e arrogância de Acab” (p. 176-177). “A rigidez de sua monomania”, diz-nos Zoellner (1973Zoellner, R. (1973). The salt-sea mastodon: a reading of Moby-Dick. Berkeley: University of California Press. , p. 6), e “a intensidade comprometida de seu ódio por Moby Dick, tornam-no dogmaticamente afirmativo”, como uma liderança religiosa combatendo todo o mal do mundo e arrastando multidões com ela. Assim, ele impõe suas próprias convicções àqueles sob seu comando, exigindo que as tomem como suas: “todos os vossos juramentos de perseguir o Cachalote Branco obrigam tanto como os meus; e de coração, alma, e corpo, pulmões e vida, o velho Acab está obrigado”, discursa (Melville, 1851/2002, p. 477). Ele domina o imaginário da tripulação com promessas de riqueza, alegorias religiosas e com a criação discursiva de um inimigo em comum: Moby Dick, o grande Leviatã dos mares. No capítulo 99, por exemplo, Acab promete um dobrão de ouro a quem avistar primeiro a baleia e o prega no mastro do navio. Segundo Katie Mcgettigan (2017)Mcgettigan, K. (2017). Metaphors, markets, and Moby-Dick’s “æsthetics in all things”. In K. Mcgettigan, Herman Melville (pp. 84-116). Durham: University of New Hampshire Press. , “ao pregá-lo no mastro ele remove o dinheiro de circulação. No entanto, o dinheiro continua circulando na mente da tripulação, que o troca por diferentes significados” (p. 109). Acab constrói discursivamente, então, um sentido para a caça irracional à cachalote branca, recompensas materiais e morais. Assim, “Moby Dick personifica, para Acab, todos os obstáculos que o impedem de ser o que ele acredita que poderia ser” ( Martins & Farina, 2011Martins, R., Farina, C. (2011). Aprendizagem do naufrágio: Moby Dick, Ahab, um leitor e o muro. Educação em Revista, 27(2), 21-40. doi:10.1590/S0102-46982011000200003 , p. 27), um grande líder capaz de vencer a natureza e de arrebatar pessoas para suas próprias crenças, oferecendo-lhes dinheiro e honra. Moby Dick não é, portanto, apenas um animal que feriu Acab, é algo maior, ela é o elemento central da estratégia discursiva de Acab para demonstrar sua capacidade de dominação do mundo, é um desafio civilizacional, conforme destaca Toni Morrison (1988)Morrison, T. (1988). Unspeakable things unspoken. The Tanner Lectures on Human Values. Ann Arbor: The University of Michigan. Retrieved from https://bit.ly/3ET50jg
https://bit.ly/3ET50jg...
. Não são poucas, portanto, as análises organizacionais que uma personagem com essas características oferece.

O comportamento monomaníaco de Acab, portanto, pode ser lido como algo que vai além da mera liderança e assume o papel de uma representação social mais ampla. Toni Morrisson (1988) afirma que a liderança monomaníaca de Acab é “uma alegoria do capitalismo e da corrupção” (p. 141), e muito antes das discussões atuais sobre a ferocidade do sistema capitalista a destruir o ecossistema, o romance de Melville trazia que o “significado alegórico da baleia branca é entendido como Natureza bruta e indiferente, e Acab, o louco que desafia essa Natureza”. Nesse sentido, é uma obra que fala do poder destrutivo do capital e da consolidação do imperialismo norte-americano no mundo, pois segundo Amy Parsons (2012)Parsons, A. (2012). “A Careful Disorderliness”: transnational labors in Melville’s Moby-Dick. ESQ: A Journal of the American Renaissance, 58(1), 71-101. 10.1353/esq.2012.0012 , “a indústria baleeira foi fundamental para a ascensão dos Estados Unidos como potência econômica global e é a que mais se assemelha ao capitalismo transnacional contemporâneo” (p. 75). Na leitura crítica que Toni Morrison (1988)Morrison, T. (1988). Unspeakable things unspoken. The Tanner Lectures on Human Values. Ann Arbor: The University of Michigan. Retrieved from https://bit.ly/3ET50jg
https://bit.ly/3ET50jg...
faz de Moby-Dick , “no Pequod, o proletariado multirracial, principalmente estrangeiro, está trabalhando para produzir uma mercadoria, mas é desviado e convertido desse trabalho para a busca intelectual mais significativa de Acab” (p. 142). Trata-se da tradicional dominação do trabalho pelo capital amplamente difundida na administração, relatada na relação entre Acab que pensa e gerencia a empreitada (planeja e lidera) e a equipe que executa suas ideias até a exaustão (o trabalho braçal na manutenção do navio e de caça à baleia). São trabalhadores explorados que pagam com a vida pelas obsessões de grandeza e poder das lideranças capitalistas. Para Selby (1999)Selby, N. (1999). Herman Melville: Moby-Dick. New York: Columbia University Press. , portanto, Acab “é o capitalismo empresarial em uma escala cósmica, refletindo pelo menos dois modos de poder empresarial: uma vontade de explorar os recursos fluidos e uma vontade de dominar os homens mais fracos” (p. 128. Conforme Spanos (1995)Spanos, W. (1995). The errant art of Moby-Dick: the canon, the cold war, and the struggle for American studies. Durham: Duke University Press. afirma, “essa loucura – essa ‘monomania’ – Melville parece estar dizendo, não é só de Acab; é a civilização ocidental em geral” (p. 124).

Em função das possibilidades de análise organizacional deste romance, há quem veja nessa obra de Melville até mesmo uma antecipação às teorias das organizações. Shoup e Hinrichs (2020)Shoup, J., Hinrichs, T. (2020). Literature and leadership: the role of the narrative in organizational sensemaking. New York: Routledge. , por exemplo, chegam a afirmar que “a vida em um navio baleeiro, conforme descrito em Moby-Dick , capturou os princípios das teorias organizacionais e institucionais clássicas antes das desenvolvidas por cientistas sociais como Weber, Taylor, Follett, Mayo e Selznick” (p. 63). É importante reconhecer que o romance, de fato, permite análises organizacionais complexas, mas, não há ali a construção de teorias organizacionais propriamente ditas. Sua maior contribuição para a análise organizacional, portanto, são as várias leituras sobre liderança, objetivos e dominação. O pensamento de Acab é racional, sua obsessão não é uma patologia psiquiátrica, a sua monomania é um traço social de uma época em que as metas devem ser perseguidas com todo afinco na competição capitalista. Afinal, para a literatura tradicional de administração, gerenciar é atingir metas. E é por isso, também, que Acab nem sempre é lido como vilão, mas como uma espécie de herói trágico. Nessa visão, segundo Selby (1999)Selby, N. (1999). Herman Melville: Moby-Dick. New York: Columbia University Press. , “Acab é o herói de um épico verdadeiramente americano que fala palavras poderosas como as de Shakespeare” (p. 53). Ele é o líder que corporifica os desejos de ascensão da classe média dos pequenos negócios que sonha em se tornar, de qualquer maneira, um Rockefeller, Dupont, Bezos ou Jobs, assim como Gatsby, do romance de F. Scott Fitzgerald. Selby (1999)Selby, N. (1999). Herman Melville: Moby-Dick. New York: Columbia University Press. adiciona essa característica ao capitão Acab, o de representar uma classe social competitiva pois, segundo ele, “a monomania de Acab infla a emergente ideologia de masculinidade da classe média. . . [e] se torna um protótipo exagerado do padrão de comportamento masculino que ajudou a garantir o domínio mundial da indústria americana” (pp. 128-129).

Feito Moby-Dick: a análise do discurso de Paulo Guedes

O objetivo desta parte é fazer uma análise dos discursos do ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, durante os primeiros anos da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Por meio da noção de monomania trazida pela liderança autoritária do Capitão Acab, em Moby-Dick , e com base na análise crítica do discurso (ACD) de Norman Fairclough, analisam-se as falas do ministro para demonstrar que elas representam uma estratégia discursiva de ódio ao Estado, como leviatã, e que tomam o povo brasileiro com a mesma indiferença que Acab toma a tripulação do Pequod. Para Fairclough (1989, 1995, 2012a, 2012b), a ACD é uma perspectiva teórica que abarca várias possibilidades metodológicas de compreensão dos elementos ou momentos do processo social de formação de significados e sentidos, o que ele chama de semiose. A semiose diz respeito, portanto, a esses significados que são produzidos socialmente e estruturam nossa maneira de compreender o mundo, tendo na produção de textos um elemento fundamental. Na semiose do discurso de Guedes, pode-se estabelecer um paralelo com o estilo de liderança de Acab, sua relação com o Pequod e a baleia Moby Dick, para então tecer-se um guia de análise de sua estratégia discursiva: a monomania privatista neoliberal, que não se furta de ser autoritária e conservadora para, obsessivamente, combater o Estado, tido como Leviatã, ao passo que enaltece o setor privado como solução mágica para os problemas sociais do Brasil. Para estruturar essa discussão, primeiro destaca-se o contexto e depois a relação entre o texto e a estratégia discursiva.

O contexto: neoliberalismo e pandemia no Brasil, um naufrágio social

Na virada de 2019 para 2020, o mundo assistiu à grande reclusão ocorrida no contexto da pandemia de covid-19. A grave crise sanitária global deslocou grandes massas da população mundial para a pobreza. A pandemia agravou os efeitos já sentidos da precarização do trabalho dada pela intensificação tecnológica nas linhas de produção eliminando empregos na mesma velocidade em que exigia qualificações inacessíveis a boa parte do(a)s trabalhadore(a)s. Isso deslocou uma grande parcela da população para a informalidade ou para empregos com vínculos formais frágeis, como os de entrega de alimentos e serviços pessoais de transporte demandados por aplicativos, o que tem sido chamado metonimicamente de uberização do mundo do trabalho ( Fleming, 2017Fleming, P. (2017). The human capital hoax: work, debt and insecurity in the era of uberization. Organization Studies, 38(5), 691-709. 10.1177/0170840616686129 ). Paralelamente a isso, tem-se a intensificação dos processos de desigualdade socioeconômica com o forte recuo dos Estados de Bem-Estar Social em vários países, em decorrência do aprofundamento das políticas neoliberais no mundo todo ( Stiglitz, 2019Stiglitz, J. (2019). People, power, and profits. New York: Norton & Company. ). Sem o amparo estatal e políticas públicas adequadas, teve-se a perda de renda sem direitos para minimizar o seu impacto. Segundo analistas do Banco Mundial, como consequência da pandemia e de falhas no seu enfrentamento pelos governos, um adicional de 88 milhões de pessoas passou a viver em situação de pobreza extrema em 2020. Este é um cenário ainda preliminar, que o órgão estima que pode chegar a 115 milhões de pessoas e que, em 2021, deve alcançar 150 milhões ( Blake & Wadhwa, 2020Blake, P., Wadhwa, D. (2020, December 14th). 2020 Year in Review: The impact of COVID-19 in 12 charts. World Bank Blogs. Retrieved from https://bit.ly/3uaiS3V
https://bit.ly/3uaiS3V...
). Segundo tal relatório, foi a primeira vez em vinte anos que o volume de pessoas nessas condições aumentou.

Ao mesmo tempo em que esses fenômenos ocorriam, no Brasil, após as eleições de 2018, ascendia ao poder um governo de extrema-direita tornando-se um exemplo da malfada síntese advinda do “casamento infeliz entre neoliberalismo e conservadorismo moral” ( Biroli, 2017Biroli, F. (2017). O fim da Nova República e o casamento infeliz entre o neoliberalismo e conservadorismo moral: In W. Bueno, J. Burigo, R. P. Machado, E. Solano (Orgs.), Tem saída? Ensaios críticos sobre o Brasil (pp. 17-26). Porto Alegre, RS: Zouk. , p. 25). O retrocesso neoliberal-conservador reforçou uma tendência de ataque ao Estado que piorou quando a pandemia atingiu Brasil, tendo sido colocado como um dos piores casos de enfrentamento da crise no mundo, justamente por ter desmontado seu aparato de proteção social pouco antes da eclosão da covid-19, com a Emenda Constitucional nº 95 de 2016 sobre o “Teto dos Gastos Públicos”, a Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017), a Lei da terceirização (Lei nº 13.429/2017) e a Reforma da Previdência (Emenda Constitucional nº 103, de 2019). Desde o impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil vive um processo de fragilização democrática ( Santos, 2017Santos, W. G. (2017). A democracia impedida. Rio de Janeiro: Editora FGV. ), agravado pelo discurso violento, autoritário e negacionista por parte de políticos e apoiadores do governo Bolsonaro. Barbosa, Fávero, Ely e Barbosa (2021) indicam que as lideranças políticas alinhadas ao presidente Jair Bolsonaro, incluindo o próprio presidente, foram responsáveis pela disseminação de 81% das informações falsas sobre o tratamento para a covid-19 no Brasil, realizados no Facebook, desde primeiro de janeiro de 2021. Além disso, os resultados socioeconômicos dessa agenda têm sido preocupantes, com o agravamento da situação da desigualdade social com aumento da concentração de renda, revivendo o efeito provocado pela experiência econômica ditatorial de 1964 ( Souza, 2018Souza, P. (2018). Uma história de desigualdade: a concentração de renda entre os ricos no Brasil (1926-2013). São Paulo, SP: Hucitec. ; Uchoa-de-Oliveira, 2020Uchoa-de-Oliveira, F. (2020). Saúde do trabalhador e o aprofundamento da uberização do trabalho em tempos de pandemia. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 45(22). 10.1590/2317-6369000012520 ), o que fez com que o país retornasse para o mapa da fome, com o aumento da miséria, do desemprego, da inflação e da precarização do trabalho ( Souza, 2018Souza, P. (2018). Uma história de desigualdade: a concentração de renda entre os ricos no Brasil (1926-2013). São Paulo, SP: Hucitec. ). O resultado dessa experiência neoliberal-conservadora, portanto, tem sido um naufrágio social ( Nobre, 2020Nobre, M. (2020). Ponto-final: a guerra de Bolsonaro contra a democracia. São Paulo, SP: todavia. ; Pinheiro-Machado, 2019Pinheiro-Machado, R. (2019). Amanhã vai ser maior. São Paulo: Planeta Brasil. ).

A liderança e a estratégia discursiva: “o Brasil é uma baleia ferida que não consegue se mover”

Na ACD, conforme discute Fairclough (1989Fairclough, N. (1989). Language and power. New York: Longman. , 1995Fairclough, N. (1995). Critical discourse analysis. New York: Longman. , 2012bFairclough, N. (2012b). Political discourse analysis. London: Routledge. ), para compreender criticamente o discurso é preciso entender, primeiro, quem o enuncia. Diante disso, quem é Paulo Guedes? Ele é um economista ortodoxo que se doutorou na Universidade de Chicago, na década de 1960, auge do ultraliberalismo desta escola, tendo trabalhado por anos no setor financeiro. Mais do que isso, Guedes é um líder autoritário que usa a violência discursiva como estratégia de dominação. Essa é a descrição feita por ex-sócios, ex-colegas e pessoas que lhe são próximas, conforme perfis divulgados pela imprensa nacional quando da sua ascensão política durante a campanha presidencial de 2018 (Baldocchi, & Motta, 2018; Costa & Bustamante, 2018Costa A., Bustamante, L. (2018, 20 de agosto). A cabeça de Bolsonaro: quem é o economista com grande ascendência sobre o líder das pesquisas em questões econômicas. Veja. Retrieved from https://bit.ly/3XUEIGr
https://bit.ly/3XUEIGr...
; Gaspar, 2018Gaspar, M. (2018). O Fiador: A trajetória e as polêmicas do economista Paulo Guedes, o ultraliberal que se casou por conveniência com Jair Bolsonaro. Revista Piauí, 144. Retrieved from https://bit.ly/2A0VZor
https://bit.ly/2A0VZor...
; Infomoney, 2020Infomoney. (2020, July 10th). Paulo Guedes: a trajetória do fiador econômico do governo Bolsonaro. Infomoney. Retrieved from https://bit.ly/3ONUCOl
https://bit.ly/3ONUCOl...
; Takar & Temóteo, 2018)Takar, T., Temóteo, T. (2018, September 26th). PhD de personalidade forte e especulador: Paulo Guedes, o guru de Bolsonaro. UOL Economia. Retrieved from https://bit.ly/2RMzrgA
https://bit.ly/2RMzrgA...
. O estilo de liderança de Guedes é descrito, nesses depoimentos, como duro, polemista e agressivo, o que o leva a acumular desafetos mesmo entre os pares, no mundo acadêmico liberal-econômico que frequenta e nas empresas em que esteve à frente. Nas publicações em questão, os entrevistados usam qualificações como “de personalidade forte” que “esbarra no limite da agressividade”, com “certa truculência”, “sem papas na língua”, “cabeça dura”, e que “não está preocupado em agradar”, e é tido como “megalomaníaco”, “pavio curto” e de “temperamento estourado”, com uma retórica cheia de “frases ácidas” e que “defende seus argumentos com ênfase e palavrões”, com estilo “motoniveladora”, ou seja, “não é uma figura fácil”, guardando muitas similaridades, portanto, com o estilo de liderança do capitão do Pequod, tanto que é descrito por um de seus ex-colegas como sendo “obsessivo”.

São muitas as similaridades com o estilo de liderança e a trajetória de Acab. Assim como ele, Guedes é um empreendedor aventureiro, tido como um “especulador clássico” ( Takar & Temóteo, 2018Takar, T., Temóteo, T. (2018, September 26th). PhD de personalidade forte e especulador: Paulo Guedes, o guru de Bolsonaro. UOL Economia. Retrieved from https://bit.ly/2RMzrgA
https://bit.ly/2RMzrgA...
) e que é visto por muitos do mercado financeiro como um “estrategista brilhante”, um “guru”. Guedes e Acab são vistos, portanto, como líderes que provocam uma primeira admiração pela inteligência e ousadia e em seguida uma repulsa por sua agressividade e por não desistirem de suas posições. Guedes teria o hábito de se dedicar a “longas perorações” contra ex-colegas e adversários ( Costa & Bustamante, 2018)Costa A., Bustamante, L. (2018, 20 de agosto). A cabeça de Bolsonaro: quem é o economista com grande ascendência sobre o líder das pesquisas em questões econômicas. Veja. Retrieved from https://bit.ly/3XUEIGr
https://bit.ly/3XUEIGr...
e a fazer reuniões que atravessam a madrugada sem rever seus posicionamentos, buscando vencer seus debatedores pelo cansaço ( Gaspar, 2018Gaspar, M. (2018). O Fiador: A trajetória e as polêmicas do economista Paulo Guedes, o ultraliberal que se casou por conveniência com Jair Bolsonaro. Revista Piauí, 144. Retrieved from https://bit.ly/2A0VZor
https://bit.ly/2A0VZor...
; Infomoney, 2020)Infomoney. (2020, July 10th). Paulo Guedes: a trajetória do fiador econômico do governo Bolsonaro. Infomoney. Retrieved from https://bit.ly/3ONUCOl
https://bit.ly/3ONUCOl...
, como Acab em suas extensas imprecações contra Moby Dick. E, principalmente, tal como o líder do Pequod, Guedes possui uma monomania, um ódio ao Estado similar ao de Acab contra a baleia branca. Essa característica lhe renderia críticas por ter sempre uma visão escatológica do Brasil, catastrofista e contundente ( Baldocchi & Motta, 2018)Baldocchi, G., Motta, L. (2018, November 1st). O guru entra em cena. IstoÉ Dinheiro. Retrieved from https://bit.ly/3VzwCRw
https://bit.ly/3VzwCRw...
. Tal como Acab, que em suas longas digressões existenciais e apocalípticas assume um tom moralista e justifica a sua obsessão com Moby Dick como uma missão divina, Guedes também assume sua postura anti-Estado como uma visão orientada por uma luta do bem contra o mal. Não por acaso, sua associação ao discurso antissistema e autoritário de Jair Bolsonaro se deu com facilidade. Guedes é, afinal, “um liberal ao estilo Margaret Thatcher”, como o descreveu um ex-colega ( Costa & Bustamante, 2018)Costa A., Bustamante, L. (2018, 20 de agosto). A cabeça de Bolsonaro: quem é o economista com grande ascendência sobre o líder das pesquisas em questões econômicas. Veja. Retrieved from https://bit.ly/3XUEIGr
https://bit.ly/3XUEIGr...
, que assim como Milton Friedman e a Dama de Ferro britânica, não se furtou de se aproximar da ditadura chilena de Augusto Pinochet, já que aceitou o convite lecionar no país durante a ditadura, seguindo os passos de alguns de seus colegas neoliberais da Universidade de Chicago.

Sabendo quem enuncia, a ACD busca entender como se enuncia, ou seja, a sua estratégia discursiva. Neste sentido, Paulo Guedes constrói a estratégia discursiva de sua liderança autoritária com base em três elementos fundamentais: (a) na constituição do Estado como um Leviatã que deve ser combatido a qualquer custo (elemento A da Figura 1 ); (b) na afirmação do povo brasileiro, multiétnico e diverso, tal como a tripulação do Pequod, como estando a bordo de um navio (o Brasil) que pode ser afundado por este monstro (Estado), mas cujos anseios e vidas são invisíveis ao líder autoritário que os toma como meros instrumentos para combater o Leviatã (elemento B da Figura 1 ); e (c) na defesa de um setor privado salvador, como um arpão que aniquilará o Leviatã, em uma jornada épica (marcada por privatizações) em que o bem (mercado/empresariado) vence definitivamente o mal (Estado/setor público) (elemento C da Figura 1 ). A monomania neoliberal privatista de Guedes, portanto, constitui-se na articulação destes três elementos discursivos para impor à sociedade brasileira a ideia de que temos um inimigo em comum: o Estado-Leviatã, a nossa própria Moby Dick, contra o qual somos capazes de sacrificarmos a nós mesmos para derrotar. Ao articular esses três elementos discursivos, Guedes quer, assim como Acab fez com o Pequod, que brasileiras e brasileiros, de todas as classes, gêneros e regiões, do setor público e privado, tomem como suas a meta de destruição de um inimigo pessoal que é visto, por ele, como essencialmente perverso para o país. E ele o faz por meio da provação do medo, da argumentação violenta e da simbologia da guerra. A Figura 1 , portanto, demonstra graficamente como se articula esta estratégia discursiva.

Figura 1
A monomania neoliberal-autoritária brasileira como estratégia discursiva

A Tabela 1 , por sua vez, demonstra por meio de trechos de discursos de Paulo Guedes associados a cada um destes elementos da sua estratégia discursiva, as falas que evocam a violência simbólica do seu estilo autoritário de liderar. Conforme Fairclough (1989)Fairclough, N. (1989). Language and power. New York: Longman. demonstra, o contexto é fundamental para a compreensão crítica do discurso e, neste caso, Guedes tenta com seu discurso criar um contexto de urgência bélica contra o Estado, por meio da apropriação daquilo que Sloterdijk (2012)Sloterdijk, P. (2012). Crítica da razão cínica. São Paulo, SP: Estação Liberdade. chama de cultura do front , típica de regimes autoritários. A cultura do front se vale, principalmente, do uso intensivo de referências bélicas, que no caso de Guedes surge em termos como “guerra”, “economia de guerra”, “estado de guerra”, “guerras mundiais”, “inimigo”, “torre do inimigo”, “bolso do inimigo”, “AI-5”, “granada”. Dado o contexto da urgência, tem-se a necessidade de construção discursiva da instrumentalização do povo brasileiro (assim como a tripulação do Pequod) como algo desimportante, que é invisível aos olhos de Guedes, como o Pequod é indiferente para Acab, algo que pode ser sacrificado para se vencer Moby Dick. Embora invisível para Guedes, o povo não deixa de ser irresponsável, pois contribuiu para a sobrevivência do Leviatã (o Estado perdulário) por muito tempo, como para Acab o Pequod demorou a encontrar Moby Dick. Isso aparece nas reclamações de Guedes sobre a população brasileira “querer viver 100 anos, 120, 130”, sobre a pobreza ser “inimiga do meio ambiente”, ou no questionamento às bolsas escolares concedidas pelo governo a “quem não tinha a menor capacidade” como o “filho do porteiro”, além da suposta “festa danada” quando o real era mais valorizado e haveria “empregada doméstica indo para ‘Disneylândia’”. São falas que diminuem, desvalorizam e culpam o próprio povo por sua condição de pobreza. Em função disso, não haveria problema em sacrificá-lo no enfrentamento do monstro.

Tabela 1
: Excertos de falas e depoimentos do ministro Paulo Guedes de 2018 a 2021

Por fim, ao setor privado cabe uma jornada épica, a epopeia do empresariado que precisa ser agressivo para vencer o Leviatã, pois ele é “a força da nação”, segundo Guedes. São os empresários que salvarão o país, é a privatização que acabará com a nossa Moby Dick, pois, para Guedes, as empresas são “a coluna vertebral da economia”, e o Estado serve apenas para ser vendido, já que “estatal boa é a que foi privatizada”. O heroísmo dos empresários é tal que eles podem, segundo Guedes, sem necessidade de nenhuma política pública, enfrentar sozinhos a pandemia da covid-19 porque “têm capacidade de ir lá fora e comprar sobras de vacina”. Como demonstram Dardot e Laval (2016)Dardot, P., Laval, C. (2016). A nova razão do mundo. São Paulo, SP: Boitempo. , essa visão apoteótica sobre o empresariado é típica do neoliberalismo, que entende que o liberalismo clássico errou porque não enfatizou adequadamente a soberania da empresa privada na vida social, concedendo espaço demais ao Estado. O Brasil, portanto, é essa “baleia ferida arpoada várias vezes” que está sangrando por causa do excesso de Estado, sobretudo, dado pelos gastos com o funcionalismo público. Assim como o povo em geral, os servidores públicos como “parasitas” são os responsáveis por manter a Moby Dick viva, e assim atrapalham o sucesso da empreitada privada no país. Há que se enfrentar estes excessos nem que seja por meio da violência, o que Guedes demonstra ao invocar instrumentos ditatoriais como o Ato Institucional nº 5 (AI-5) como modo de evitar questionamentos ao seu ódio ao Estado em favor do empresariado.

O resultado: a tragédia

O resultado desta estratégia discursiva de Paulo Guedes tem sido o mesmo do Pequod, com sua tripulação e o Capitão Acab, um naufrágio social sem precedentes. Em 2022, no Brasil, os dados sociais indicam uma tragédia: mais de 680 mil mortes por Sars-Cov-2 (covid-19); a nona maior taxa de desemprego do mundo segundo dados do Fundo Monetário Internacional, com 13 milhões de desempregados, gerando um índice de 13,7%; 77,5% das famílias brasileiras estariam endividadas segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgados em 2021; 19,2 milhões de famílias dependem do Programa Bolsa Família para sobreviver, algo em torno de 40 milhões de pessoas – quase um quinto da população do país, segundo dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE); a taxa de inflação alcançou os dois dígitos; e os Relatórios da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar trazem dados ainda mais alarmantes que indicam que existem, em 2022 no país, 19,1 milhões de pessoas passando fome, uma quantidade próxima à população inteira do Estado de Minas Gerais.

Assim, como em Moby-Dick , a monomania de uma liderança desejosa de vingança conduz todos à tragédia. A pandemia de covid-19, no Brasil, não foi devidamente enfrentada pelo governo federal, que tem sido apontado em alguns estudos como um dos piores do mundo no enfrentamento à disseminação da covid-19 (Freitas, Silva, & Cidade, 2020; Sousa Júnior, Raasch, Soares, & Ribeiro. 2020; Werneck & Carvalho, 2020)Werneck, G., Carvalho, M. (2020). A pandemia de COVID-19 no Brasil: crônica de uma crise sanitária anunciada. Cadernos de Saúde Pública, 36(5), e00068820. doi:10.1590/0102-311X00068820 . Contrariamente ao ódio ao Estado, porém, pesquisas indicam que foi a competência técnica da burocracia pública, em especial do Sistema Único de Saúde (SUS), que evitou uma tragédia ainda maior no Brasil (Rodrigues, Carpes, & Raffagnato, 2020). Apesar disso, em janeiro de 2022, Paulo Guedes insiste no discurso privatista e aparece durante uma reunião do G20, aparentemente, com um homebroker aberto no computador, ferramenta para operar diretamente no mercado de capitais (um símbolo da hegemonia financeira) e segue tendo visões distorcidas da realidade do país que, segundo ele, não passa por uma tragédia pois, “a pandemia nos jogou aceleradamente para um futuro que nós já estávamos vivendo”, já que, em sua visão, “os brasileiros têm um, dois iPhones, às vezes” ( Andrade, 2022)Andrade, E. (2022, 15 de março). Paulo Guedes diz que “há mais iPhones no Brasil do que pessoas”; frase gera polêmica. Portal Terra. Retrieved from https://bit.ly/3gFq0lP
https://bit.ly/3gFq0lP...
. Enquanto isso, o país (nosso Pequod) naufraga, as pessoas sofrem e Guedes continua perseguindo um leviatã imaginário. Tal como o Capitão Acab, suas falas causam espanto, mas, mais assustador é o fato de que continua a liderar. Neste sentido, o desafio tão bem colocado para a compreensão da liderança autoritária por Habermas (2012)Habermas, J. (2012). Teoria do agir comunicativo (vol. 1 e 2). São Paulo, SP: Martins Fontes. , Sloterdijk (2012)Sloterdijk, P. (2012). Crítica da razão cínica. São Paulo, SP: Estação Liberdade. , Adorno (1959) e Melville (1951/2002) persiste. E Arendt (1989)Arendt, H. (1989). Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras. parece ter razão: é a banalização do mal de Acab pela tripulação do Pequod que preocupa mais.

Considerações finais

Literatura e organizações possuem uma conexão discursiva. Como práticas sociais que são, os textos utilizados para construir obras ficcionais permitem múltiplas interpretações do real, que podem ser aproveitadas para compreender fenômenos sociais complexos, como as organizações. Este trabalho tentou demonstrar essas possibilidades ao se valer da principal obra de Herman Melville, Moby-Dick , para guiar uma interpretação crítica dos discursos de Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro, associando-a e contextualizando-a como uma estratégia discursiva neoliberal baseada em uma ideia monomaníaca de ódio ao Estado, tal qual a personagem Acab, capitão do navio Pequod, estabelece em relação a Moby Dick, a cachalote branca gigante que lhe ferira em um enfrentamento anterior. Essa interceptação acompanha os eixos gerais da análise crítica do discurso de Norman Fairclough e procura sustentar a conexão existente entre o discurso situado de Guedes, suas falas e depoimentos e o contexto geral do neoliberalismo, associado ao autoritarismo instaurado no Brasil após a assunção de Jair Bolsonaro ao poder. Com base nisso, procurou-se evidenciar que existe uma estratégia discursiva nas falas de Guedes que demonstram comportamento similar ao da liderança autoritária do Pequod, articulando três elementos discursivos: o povo brasileiro, lido instrumentalmente como um Pequod multiétnico – socialmente invisível e irresponsável; o setor público, visto como inimigo (uma Moby Dick); e uma jornada épica para o setor privado, tido como o salvador do país. Esses elementos estruturam a monomania neoliberal-autoritária do ministro Paulo Guedes, que usa, reiteradamente, metáforas beligerantes para compor um contexto de guerra permanente ao Estado no Brasil. O resultado disso, como no livro, é um naufrágio social sem precedentes.

References

  • Acunha, F., Arafa, M., Benvindo, J. (2018). The Brazilian Constitution of 1988 and Its Ancient Ghosts: Comparison, History and the Ever-present Need to Fight Authoritarianism. Revista de Investigações Constitucionais, 5(3), 17-41. doi:10.5380/rinc.v5i3.60962
    » https://doi.org/10.5380/rinc.v5i3.60962
  • Adorno, T. (1969). The Authoritarian Personality. New York: Norton Library.
  • Aho, J. (2020). Revisiting Authoritarianism. Critical Sociology, 46(3), 329-341, 10.1177/0896920519830749
  • Alvesson, M. (2020). Upbeat Leadership: A Recipe for – or against – “Successful” Leadership Studies. Leadership Quarterly, 31(6), 1-12. 10.1016/j.leaqua.2020.101439
  • Alvesson, M., Kärreman, D. (2011). Organizational Discourse Analysis – Well Done or Too Rare? A Reply to Our Critics. Human Relations, 64(9), 1193-1202, doi:10.1177/0018726711408630
  • Alvesson, M., Spicer, A. (2012). Critical Leadership Studies: The Case for Critical Performativity. Human Relations, 65(3), 367-390. doi:10.1177/0018726711430555
  • Andrade, E. (2022, 15 de março). Paulo Guedes diz que “há mais iPhones no Brasil do que pessoas”; frase gera polêmica. Portal Terra. Retrieved from https://bit.ly/3gFq0lP
    » https://bit.ly/3gFq0lP
  • Arendt, H. (1989). Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras.
  • Baehr, P. (2017). The Theory of Totalitarian Leadership. In P. Baehr, P. Walsh (Eds.), The Anthem Companion to Hannah Arendt (pp. 221-248). New York: Anthem.
  • Baldocchi, G., Motta, L. (2018, November 1st). O guru entra em cena. IstoÉ Dinheiro. Retrieved from https://bit.ly/3VzwCRw
    » https://bit.ly/3VzwCRw
  • Barbosa, B., Fávero, B., Ely, D., Barbosa, J. (2021, March 24th). Bolsonaro e aliados publicaram 83% da desinformação sobre ‘tratamento precoce’ no Facebook em 2021. Aos Fatos. Retrieved from https://bit.ly/3XEtEgi
    » https://bit.ly/3XEtEgi
  • Barrios, J., Hochberg, Y. (2021). Risk Perceptions and Politics: Evidence from the COVID-19 Pandemic. Journal of Financial Economics, 142(2), 862-879, doi:10.1016/j.jfineco.2021.05.039
  • Benke, G., Wodak, R. (2003). The Discursive Construction of Individual Memories: How Austrian “Wehrmacht” Soldiers Remember WWII. In J. Martin, R. Wodak (Eds.), Re/reading the Past: Critical and Functional Perspectives on Time and Value (pp. 195-216). Amsterdam: John Benjamins.
  • Beyes, T. (2009). An Aesthetics of Displacement: Thomas Pynchon’s Symptomatology of Organization. Journal of Organizational Change Management, 22(4), 421-436. 10.1108/09534810910967189
  • Beyes, T. (2019). Uncanny Matters: Kafka’s Burrow, the Unhomely and the Study of Organizational Space. Ephemera, 19(1), 179-192. Retrieved from https://bit.ly/3gJ7gSe
    » https://bit.ly/3gJ7gSe
  • Beyes, T., Costas, J., Ortmann, G. (2019). Novel Thought: Towards a Literary Study of Organization. Organization Studies, 40(12), 1787-1803. doi:10.1177/0170840619874458
  • Bikundo, E. (2018). Follow your Leader – I Prefer Not to: Slavery, Giorgio Agamben and Herman Melville. Law, Culture and the Humanities, 18(1), 4-19. 10.1177/1743872118787236
  • Biroli, F. (2017). O fim da Nova República e o casamento infeliz entre o neoliberalismo e conservadorismo moral: In W. Bueno, J. Burigo, R. P. Machado, E. Solano (Orgs.), Tem saída? Ensaios críticos sobre o Brasil (pp. 17-26). Porto Alegre, RS: Zouk.
  • Blake, P., Wadhwa, D. (2020, December 14th). 2020 Year in Review: The impact of COVID-19 in 12 charts. World Bank Blogs. Retrieved from https://bit.ly/3uaiS3V
    » https://bit.ly/3uaiS3V
  • Blakemore, E. (2015, December 10th). Why does Moby-Dick (Sometimes) Have a Hyphen? Smithsonian Magazine. Retrieved from https://bit.ly/2CjEWkm
    » https://bit.ly/2CjEWkm
  • Bloom, H. (2007). Introduction. In H. Bloom (Ed.), Herman Melville’s Moby-Dick (pp. 1-6). New York: Infobase.
  • Bodla, A., Tang, N., Dick, R. V., Mir, U. R. (2019). Authoritarian Leadership, Organizational Citizenship Behavior, and Organizational Deviance. Leadership & Organization Development Journal, 40(5), 583-599. doi:10.1108/LODJ-08-2018-0313
  • Boje, D., Alvarez, R., Schooling, B. (2001). Reclaiming Story in Organization: Narratologies and Action Sciences. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The Language of Organization (pp. 132-175). London: Sage.
  • Brandão, H. (2002). Introdução à Análise do Discurso. Campinas, SP: Editora da UNICAMP.
  • Breuilly, J. (2011). Max Weber, charisma and nationalist leadership. Nations and Nationalism, 17(3), 477-499. 10.1111/j.1469-8129.2011.00487.x
  • Brown, W. (2019). In the Ruins of Neoliberalism. New York: Columbia University Press.
  • Bruce, R., Cavgias, A., Meloni, L., Remígio, M. (2022). Under Pressure: Women’s Leadership During the COVID-19 Crisis. Journal of Development Economics, 154. doi:10.1016/j.jdeveco.2021.102761
  • Caygill, H. (2019). Miracles of Organization: Chance and Error in Kafka’s The Castle. Organization Studies, 40(12), 1-10. 10.1177/0170840619874459
  • Chamayou, G. (2020). A sociedade ingovernável. São Paulo, SP: Ubu.
  • Chia, R., King, I. (2001). The Language of Organization Theory. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The Language of Organization (pp. 1-19). London: Sage.
  • Chiang, J. T.-J., Chen, X.-P., Liu, H., Akutsu, S., & Wang, Z. (2021). We Have Emotions but Can’t Show Them! Authoritarian Leadership, Emotion Suppression Climate, and Team Performance. Human Relations, 74(7), 1082-1111. doi:10.1177/0018726720908649
  • Cindoglu, D., Unal, D. (2016). Gender and Sexuality in the Authoritarian Discursive Strategies of “New Turkey”. European Journal of Women's Studies, 24(1), doi:10.1177/1350506816679003
  • Cnossen, B., Dekker, E., Taskin, L. (2017). Management and Organization in the Work of Michel Houellebecq. M@n@gement, 20(3), 300-320. doi:10.3917/mana.203.0300
  • Collinson, D., Jones, O., Grint, K. (2018). “No More Heroes”: Critical Perspectives on Leadership Romanticism. Organization Studies, 39(11), 1625-1647, 10.1177/0170840617727784
  • Conrad, K., Flores, N., Fossá, M. (2017). The Production of Meanings on the Political Crisis in the Profissão Repórter Program. Brazilian Journalism Research, 13(2), 46-65, doi:10.25200/BJR.v13n2.2017.988
  • Costa A., Bustamante, L. (2018, 20 de agosto). A cabeça de Bolsonaro: quem é o economista com grande ascendência sobre o líder das pesquisas em questões econômicas. Veja. Retrieved from https://bit.ly/3XUEIGr
    » https://bit.ly/3XUEIGr
  • Coutu, D. (2006). Leadership in Literature. Harvard Business Review, 84(3). Retrieved from https://bit.ly/3OSP8lK
    » https://bit.ly/3OSP8lK
  • Cunliffe, A. (2009). The Philosopher Leader. Management Learning, 40(1), 87-101. 10.1177/1350507608099315
  • Czarniawska, B. (2004). Turning to Discourse. In D. Grant, C. Hardy, C. Oswick, L. Putman (Eds.), The SAGE Handbook of Organizational Discourse (pp. 399-403). London: Sage.
  • Dardot, P., Laval, C. (2016). A nova razão do mundo. São Paulo, SP: Boitempo.
  • De Cock, C. (2000). Essai: Reflections on Fiction, Representation, and Organization Studies: An Essay with Special Reference to the Work of Jorge Luis Borges. Organization Studies, 21(3), 589-609. 10.1177/0170840600213005
  • De Cock, C., & Land C. (2006). Organization/Literature: Exploring the Seam. Organization Studies, 27(4), 517-535. doi:10.1177/0170840605058234
  • De Luca, G., Litina, A., & Sekeris, P. (2015). Growth-friendly Dictatorships. Journal of Comparative Economics, 43(1), 98-111. doi:10.1016/j.jce.2013.09.002
  • Decker, O., Rothe, K., Weissmann, M., Kiess, J., Brähler, E. (2013). Economic prosperity as “narcissistic filling”: a missing link between political attitudes and right-wing authoritarianism. International Journal of Conflict and Violence, 7(1), 135-149. doi:10.4119/ijcv-2969
  • Dowling, D. (2010). Chasing the white whale. Iowa City: University of Iowa Press.
  • Duffy, W. (2010). Monomania and perpetual motion: insanity and amateur scientific enthusiasm in nineteenth-century medical, scientific and literary discourse. French Cultural Studies, 21(3), 155-166. 10.1177/0957155810370381
  • Exame. (2020, February 14th). Parasita, AI-5 e domésticas na Disney: as falas mais polêmicas de Guedes. Disponível em https://bit.ly/3XLH89Z
    » https://bit.ly/3XLH89Z
  • Fairclough, N. (1989). Language and power. New York: Longman.
  • Fairclough, N. (1995). Critical discourse analysis. New York: Longman.
  • Fairclough, N. (2012a). Análise crítica do discurso como método em pesquisa social científica. Linha d’Água , 25(2), 307-329. 10.11606/issn.2236-4242.v25i2p307-329
  • Fairclough, N. (2012b). Political discourse analysis. London: Routledge.
  • Fairhurst, G., Uhl-Bien, M. (2012). Organizational Discourse Analysis (ODA): Examining Leadership as a Relational Process. The Leadership Quarterly, 23(6), 1043-1062. doi:10.1016/j.leaqua.2012.10.005
  • Felicia, O. (2018). Discursive strategies in Nigeria’s 2015 Facebook campaign discourse. Discourse & Society, 29(5), 471-494. doi:10.1177/0957926518770266
    » https://doi.org/10.1177/0957926518770266
  • Fernandes, E., Lima Neto, V. (2020). Discursos de ódio em perfis de lideranças políticas: uma análise de discurso crítica no Twitter. Miguilim, 9(3), 342-361. doi:10.47295/mgren.v9i3.2573
  • Finchelstein, F. (2017). From fascism to Populism in History. Oakland: University of California Press.
  • Fischer, T., Davel, E., Vergara, S., Ghadiri, P. D. (2007). Razão e sensibilidade no ensino de administração: a literatura como recurso estético. Revista de Administração Pública, 41(5), 935-956. doi:10.1590/S0034-76122007000500007
  • Fischer, T., Tian, A. W., Lee, A., Hughes, D. J. (2021). Abusive supervision: A systematic review and fundamental rethink. Leadership Quarterly, 32(6), 101540. doi:10.1016/j.leaqua.2021.101540
  • Fleming, P. (2017). The human capital hoax: work, debt and insecurity in the era of uberization. Organization Studies, 38(5), 691-709. 10.1177/0170840616686129
  • Fletcher, D., Watson, T. (2007). Voice, Silence and the business of construction: loud and quiet voices in the construction of personal, organizational and social. Organization, 14(2), 155-174. doi:10.1177/1350508407074221
  • Folhapress. (2021, April 3rd). “Chinês inventou o vírus”, “filho de porteiro”, “empregada na Disney”: as frases polêmicas de Paulo Guedes. NSC Total. Retrieved from https://bit.ly/3H05abo
    » https://bit.ly/3H05abo
  • Foucault, M. (1978). História da loucura na idade clássica. São Paulo, SP: Perspectiva.
  • Fraga, E. (2021, August 26th). As pérolas de Guedes: ministro polemiza com falas controversas. Portal R7. Retrieved from https://bit.ly/3BiszBt
    » https://bit.ly/3BiszBt
  • Frantz, E., Ezrow, N. (2011). The politics of dictatorship: institutions and outcomes in authoritarian regimes. London: Lynne Rienner. doi:10.1515/9781685854324
  • Freitas, C., Silva, I., Cidade, N. (2020). Covid-19 as a Global Disaster: Challenges to Risk Governance and Social Vulnerability in Brazil. Ambiente & Sociedade, 23. doi:10.1590/1809-4422asoc20200115vu2020L3ID
    » https://doi.org/10.1590/1809-4422asoc20200115vu2020L3ID
  • Gabriel, Y. (2004). Narratives, stories and texts. In D. Grant, C. Hardy, C. Oswick, L. L. Putnam (Eds.), The SAGE Handbook of organizational discourse (pp. 61-77). London: Sage.
  • Gago, V. (2017). Neoliberalism from below. Durham: Duke University Press.
  • Gao, J., Radford, B. (2021). Death by political party: The relationship between COVID‐19 deaths and political party affiliation in the United States. World Med Health Policy, 13(2), 224-249. doi:10.1002/wmh3.435
  • Gaspar, M. (2018). O Fiador: A trajetória e as polêmicas do economista Paulo Guedes, o ultraliberal que se casou por conveniência com Jair Bolsonaro. Revista Piauí, 144. Retrieved from https://bit.ly/2A0VZor
    » https://bit.ly/2A0VZor
  • Gelis-Filho, A. (2012). Organizations as discursive gravitational fields. Journal of Organizational Change Management, 25(2), 236-250. 10.1108/09534811211213928
  • Gergen, K., Gergen, M., Barrett, F. (2004). Dialogue: life and death of the organization. In D. Grant, C. Hardy, C. Oswick, L. L. Putnam (Ed.), The SAGE Handbook of organizational discourse (pp. 79-104). London: Sage.
  • Ginsburg, T., Moustafa, T. (2008). Rule by law: the politics of courtsin authoritarian regimes. Cambridge: Cambridge University Press. doi:10.1017/CBO9780511814822
  • Giroux, H. (2018). The public in peril. New York: Routledge.
  • Glaubitz, N. (2016). Managing complexity: The “Literary Turn” in Organization Studies. In M. Middeke, C. Reinfandt (Eds.), Theory matters (pp. 181-195). London: Palgrave.
  • Godoy, A. (2016). A loucura como constructo discursivo e sintoma social: uma análise do funcionamento da ideologia e do inconsciente na constituição dos sujeitos (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.
  • Graeff, C. (1997). Evolution of situational leadership theory: a critical review. Leadership Quarterly, 8(2), 153-170. 10.1016/S1048-9843(97)90014-X
  • Grossman, G., Kim, S., Rexer, J. M., Thirumurthy, H. (2020). Political partisanship influences behavioral responses to governors’ recommendations for COVID‐19 prevention in the United States. PNAS, 117(39), 24144-24153. doi:10.1073/pnas.2007835117
  • Guo, L., Decoster, S., Babalola, M. T., Schutter, L., Garba, O. A., Riisla, K. (2018). Authoritarian leadership and employee creativity: The moderating role of psychological capital and the mediating role of fear and defensive silence. Journal of Business Research, 92, 219-230. doi:10.1016/j.jbusres.2018.07.034
  • Habermas, J. (2012). Teoria do agir comunicativo (vol. 1 e 2). São Paulo, SP: Martins Fontes.
  • Han, B. (2014). Psicopolítica. Herder: Barcelona.
  • Hansson, S. (2015). Discursive Strategies of Blame Avoidance in Government. Discourse & Society, 26(3), 297-322. doi:10.1177/0957926514564736
    » https://doi.org/10.1177/0957926514564736
  • Hiller, N., Sin, H.-P., Ponnapalli, A. R., & Ozgen, S. (2019). Benevolence and Authority as WEIRDly Unfamiliar: A Multi-Language Meta-Analysis of Paternalistic Leadership Behaviors from 152 Studies. Leadership Quarterly, 30(1), 165-184. doi:10.1016/j.leaqua.2018.11.003
  • Hooper, P., Kaplan, H., Boone, J. (2010). A theory of leadership in human cooperative groups. Journal of Theoretical Biology, 265(4), 633-646. doi:10.1016/j.jtbi.2010.05.034
  • Iedema, R. (2011). Discourse studies in the 21st century: A response to Mats Alvesson and Dan Kärreman’s ‘Decolonializing discourse’. Human Relations, 64(9), 1163-1176. 10.1177/0018726711408365
  • Infomoney. (2020, July 10th). Paulo Guedes: a trajetória do fiador econômico do governo Bolsonaro. Infomoney. Retrieved from https://bit.ly/3ONUCOl
    » https://bit.ly/3ONUCOl
  • Jurkiewicz, C. (2006). Soul Food: Morrison and the transformative power of ethical leadership in the public sector. Public Integrity, 8(3), 245-256. 10.2753/PIN1099-9922080305
  • Kahl, S., Grodal, S. (2016). Discursive strategies and radical technological change: multilevel discourse analysis of the early computer (1947-1958). Strategic Management Journal, 37(1), 149-166. doi:10.1002/smj.2453
  • Karakitapoğlu-Aygün, Z., Gumusluoglu, L., Erturk, A., Scandura, T. A. (2021). Two to Tango? A Cross-cultural investigation of the leader-follower agreement on authoritarian leadership. Journal of Business Research, 128, 473-485. doi:10.1016/j.jbusres.2021.02.034
  • Kazin, A. (2007). Introduction to Moby-Dick. In H. Bloom (Ed.), Herman Melville’s Moby-Dick (pp. 7-17). New York: Infobase.
  • Kershaw, I. (2004). Hitler and the uniqueness of nazism. Journal of Contemporary History, 39(2), 239-254. Retrieved from https://bit.ly/3XKJupC
    » https://bit.ly/3XKJupC
  • King, A. (1990). Evolution of leadership theory. Vikalpa, 15(2), 43-56. 10.1177/0256090919900205
  • King, A., Johnson, D., & Van Vugt, M. (2009). The origins and evolution of leadership. Current Biology, 19(19), R911-R916. doi:10.1016/j.cub.2009.07.027
  • King, R. (2019). Ahab’s rolling sea. Chicago: The University of Chicago Press.
  • Kirton, G., Greene, A. (2019). Telling and selling the value of diversity and inclusion – external consultants’ discursive strategies and practices. Human Resource Management Journal, 29(4), 676-691. doi:10.1111/1748-8583.12253
  • Kopcewicz, A. (2012). From Moby-Dick to Finnegans Wake. Frankfurt: Peter Lang.
  • Kwon, W., Clarke, I., Wodak, R. (2014). Micro-Level discursive strategies for constructing shared views around strategic issues in team meetings. Journal of Management Studies, 51(2), 265-290. doi:10.1111/joms.12036
  • Ladkin, D. (2020). What Donald Trump’s response to COVID-19 teaches us: it’s time for our romance with leaders to end. Leadership, 16(3), 273-278. 10.1177/1742715020929134
  • Lazzarato, M. (2013). La fábrica del hombre endeudado. Buenos Aires: Amorrortu.
  • Learmonth, M., Morrell, K. (2017). Is Critical Leadership Studies ‘Critical’? Leadership, 13(3), 257-271. doi:10.1177/1742715016649722
  • LeBaron, C. (2009). Book review: Joseph L. Badaracco Jr. Questions of character: illuminating the heart of leadership through literature. Human Resource Management, 48(2), 335-337. 10.1002/hrm.20283
  • Leclercq-Vandelannoitte, A. (2011). Organizations as discursive constructions: a foucauldian approach. Organization Studies, 32(9), 1247-1271. 10.1177/0170840611411395
  • Lederman, S. (2018). Hannah Arendt’s Critique of the Judenräte in context of modern jewish leadership and radical democracy. Holocaust and Genocide Studies, 32(2), 207-223. 10.1093/hgs/dcy028
  • Lethem, J. (2018). Moby-Dick. In H. Parker (Ed), Herman Melville, Moby-Dick (pp. 701-702). New York: Norton & Company.
  • Levitsky, S., Ziblatt, D. (2018). How democracies die. New York: Crown.
  • Linstead, S. (2001). Rhetoric and organizational control: a framework for analysis. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The language of organization (pp. 217-240). London: Sage.
  • Mackey, J., Ellen III, B. P., McAllister, C. P., Alexander, K. C. (2021). The dark side of leadership: a systematic literature review and meta-analysis of destructive leadership research. Journal of Business Research, 132, 705-18. doi:10.1016/j.jbusres.2020.10.037
  • Maclean, M., Harvey, C., Sillince, J. A. A., Golant, B. D. (2018). Intertextuality, rhetorical history and the uses of the past in organizational transition. Organization Studies, 39(12), 1733-1755. doi:10.1177/0170840618789206
  • March, J., Weil, T. (2005). On leadership. Oxford: Blackwell.
  • Van Vugt, M., & Von Rueden, C. (2018). Evolution and Biology of Leadership: A New Synthesis. The Leadership Quarterly, 28, 3. doi:10.1016/S1048-9843(17)30295-3
  • López, C. (2014). El Ulises dantesco en Moby Dick: La huella literaria de un naufragio. Estudios Románicos, 23, 141. Retrieved from https://revistas.um.es/estudiosromanicos/article/view/220511
    » https://revistas.um.es/estudiosromanicos/article/view/220511
  • Marr, T. (2018). Kraken: Moby-Dick in Popular Culture. In H. Parker (Ed.), Herman Melville, Moby-Dick: An authoritative text, contexts, criticism (pp. 681-686). New York: Norton & Company.
  • Martins, R., Farina, C. (2011). Aprendizagem do naufrágio: Moby Dick, Ahab, um leitor e o muro. Educação em Revista, 27(2), 21-40. doi:10.1590/S0102-46982011000200003
  • Mcgettigan, K. (2017). Metaphors, markets, and Moby-Dick’s “æsthetics in all things”. In K. Mcgettigan, Herman Melville (pp. 84-116). Durham: University of New Hampshire Press.
  • Melville, H. (1851/2002). Moby-Dick. São Paulo, SP: Nova Cultural.
  • Moore Jr., B. (1966). Social origins of dictatorship and democracy: Lord and Peasant in the Making of the Modern World. London: Penguin University Books.
  • Morrison, T. (1988). Unspeakable things unspoken. The Tanner Lectures on Human Values. Ann Arbor: The University of Michigan. Retrieved from https://bit.ly/3ET50jg
    » https://bit.ly/3ET50jg
  • Mumby, D. K. (2011). What’s cooking in organizational discourse studies? A response to Alvesson and Kärreman. Human Relations, 64(9), 1147-1161. 10.1177/0018726711408367
  • Michaelson, C. (2016). Business in the work and world of David Foster Wallace. Journal of Management Inquiry, 25(2), 214-222. 10.1177/1056492615600522
  • Napier, J., Jost, J. (2008). The “Antidemocratic Personality” revisited: a cross-national investigation of working-class authoritarianism. Journal of Social Issues, 64(3), 595-617. doi:10.1111/j.1540-4560.2008.00579.x
  • Nobre, M. (2020). Ponto-final: a guerra de Bolsonaro contra a democracia. São Paulo, SP: todavia.
  • O'Brien, J. (2015). Individualism as a discursive strategy of action: autonomy, agency, and reflexivity among religious americans. Sociological Theory, 33(2), 173-199. doi:10.1177/0735275115588353
  • Oliveira, R., Betim, F., Rossi, M. (2021, August 29th). O ministro Paulo Guedes abre a boca e…. El País. Retrieved from https://bit.ly/3UpcWOZ
    » https://bit.ly/3UpcWOZ
  • Parsons, A. (2012). “A Careful Disorderliness”: transnational labors in Melville’s Moby-Dick. ESQ: A Journal of the American Renaissance, 58(1), 71-101. 10.1353/esq.2012.0012
  • Pascale, C. (2019). The Weaponization of Language: Discourses of Rising Right-wing Authoritarianism. Current Sociology, 67(6), 898-917. 10.1177/0011392119869963
  • Pellar, B. (2017). Moby-Dick and Melville’s anti-slavery allegory. New York: Palgrave MacMillan.
  • Pereira, J., Maranhão, C., Rezende, A. (2018). Naturalização do processo de liderança: o resgate dos valores. Caderno de Administração, 26(1), 43-59. doi:10.4025/cadadm.v26i1.39996
  • Philbrick, N. (2011). Why read Moby-Dick? New York: Viking.
  • Pietraszewski, D. (2020). The evolution of leadership: Leadership and followership as a solution to the problem of creating and executing successful coordination and cooperation enterprises. Leadership Quarterly, 31(2),1-14. 10.1016/j.leaqua.2019.05.006
  • Pinheiro-Machado, R. (2019). Amanhã vai ser maior. São Paulo: Planeta Brasil.
  • Pinto, F., Ribeiro, E. (2018). História, literatura e estudos organizacionais: novos olhares sobre as obras de Jorge Amado. Farol – Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 5(12), 198-267. doi:10.25113/farol.v5i12.3204
  • Ramadhona, S. (2021). A discursive strategy to maintain the cultural Islam – political Islam power relation in Indonesia in Triwikromo’s “Lengtu Lengmua” (2012). Poetika, 9(2), 128-138. 10.22146/poetika.v9i2.64116
  • Rollemberg, D., Quadrat, S. (Orgs.). (2011). A construção social dos regimes autoritários: Brasil e América Latina (vol. 2). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.
  • Runciman, D. (2018). How democracy ends. London: Profile Books.
  • Rodrigues, K., Carpes, M., Raffagnato, C. (2020). Preparação e resposta a desastres do Brasil na pandemia da COVID-19. Revista de Administração Pública, 54(4), 614-634. doi:10.1590/0034-761220200291
  • Safatle, V. (2021). A economia é a continuação da psicologia por outros meios: sofrimento psíquico e o neoliberalismo como economia moral. In V. Safatle, N. Silva Junior, C. Dunker (Orgs.), Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico (pp. 11-38). São Paulo: Autêntica.
  • Sanders, P. (2019). Leadership and populism: A parallel reading of Hannah Arendt and Franz Neumann. Leadership, 15(6), 750-767. 10.1177/1742715019837807
  • Santos, W. G. (2017). A democracia impedida. Rio de Janeiro: Editora FGV.
  • Savage, P., Cornelissen, J., Franck, H. (2017). Fiction and Organization Studies. Organization Studies, 39(7), 975-994. doi:10.1177/0170840617709309
  • Selby, N. (1999). Herman Melville: Moby-Dick. New York: Columbia University Press.
  • Shiller, R. (2019). Narrative economics: How Stories Go Viral & Drive Major Economic Events. New Jersey: Princeton University Press.
  • Shinohara, G. (2020, February 13th). Criticado por fala sobre domésticas na Disney, Paulo Guedes coleciona frases polêmicas. O Globo/Época. Retrieved from http://glo.bo/3VjxLwL
    » http://glo.bo/3VjxLwL
  • Shoup, J., Hinrichs, T. (2020). Literature and leadership: the role of the narrative in organizational sensemaking. New York: Routledge.
  • Shu, C., Chiang, Y., Lu, C. (2018). Authoritarian leadership supervisor support and workers’ compulsory citizenship behavior. International Journal of Manpower, 39(3), 468-485. doi:10.1108/IJM-10-2016-0191
  • Sievers, B. (2013). Leadership and monomania: Herman Melville’s Moby-Dick. In J. Gosling, P. Villiers (Orgs.), Fictional leaders (pp. 50-86). New York: Palgrave Macmillan.
  • Śliwa, M., Spoelstra, S., Sørensen, B. M., Land, C. (2012). Profaning the sacred in leadership studies: a reading of Murakami’s A Wild Sheep Chase. Organization, 20(6), 860-880. doi:10.1177/1350508412455837
  • Sloterdijk, P. (2012). Crítica da razão cínica. São Paulo, SP: Estação Liberdade.
  • Solt, F. (2012). The social origins of authoritarianism. Political Research Quarterly, 65(4), 703-713. 10.1177/1065912911424287
  • Sousa Júnior, J., Raasch, M., Soares, J. C., Ribeiro, L. V. H. A. S. (2020). Da desinformação ao caos: uma análise das fake news frente à pandemia do coronavírus (COVID-19) no Brasil. Cadernos de Prospecção, 13(2), 331-346. doi:10.9771/cp.v13i2.35978
  • Souza, P. (2018). Uma história de desigualdade: a concentração de renda entre os ricos no Brasil (1926-2013). São Paulo, SP: Hucitec.
  • Spanos, W. (1995). The errant art of Moby-Dick: the canon, the cold war, and the struggle for American studies. Durham: Duke University Press.
  • Spanos, W. (2008). Herman Melville and the American calling: the fiction after Moby-Dick, 1851-1857. Albany, NY: State University of New York Press.
  • Stanford. (2014-2015). POLECON 349: The Business World: Moral and Spiritual Inquiry through Literature. Bulletin Explore Courses. Retrieved from https://stanford.io/3EPltVU
    » https://stanford.io/3EPltVU
  • Stiglitz, J. (2019). People, power, and profits. New York: Norton & Company.
  • Takar, T., Temóteo, T. (2018, September 26th). PhD de personalidade forte e especulador: Paulo Guedes, o guru de Bolsonaro. UOL Economia. Retrieved from https://bit.ly/2RMzrgA
    » https://bit.ly/2RMzrgA
  • Tambling, J. (2003). Monomania of a whale hunter: Moby-Dick. English, 52(203), 101-123. 10.1093/english/52.203.101
  • Tepper, B. (2000). Consequences of abusive supervision. Academy of Management Journal, 43(2), 178-190. Retrieved from https://bit.ly/3XEQmVL
    » https://bit.ly/3XEQmVL
  • Tragtenberg, M. (2005). Administração, poder e ideologia. São Paulo, SP: Editora UNESP.
  • Uchoa-de-Oliveira, F. (2020). Saúde do trabalhador e o aprofundamento da uberização do trabalho em tempos de pandemia. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 45(22). 10.1590/2317-6369000012520
  • Van Dijk, T. A. (2013). Análise crítica do discurso multidisciplinar: um apelo em favor da diversidade. Linha d’Água, 26(2), 351-381. 10.11606/issn.2236-4242.v26i2p351-381
  • Van Seters, D., & Field, R. (1990). The evolution of Leadership Theory. Journal of Organizational Change Management, 3(3), 29-45. doi:10.1108/09534819010142139
  • Vasilyeva, O., Libman, A. (2020). Varieties of authoritarianism matter: elite fragmentation, natural resources and economic growth. European Journal of Political Economy, 63. doi:10.1016/j.ejpoleco.2020.101869
  • Vizeu, F. (2011). Uma aproximação entre liderança transformacional e Teoria da Ação Comunicativa. RAM – Revista de Administração Mackenzie, 12(1), 53-81. 10.1590/S1678-69712011000100003
  • Walsh, D. (2014). The birth and death of a diagnosis: Monomania in France, Britain and in Ireland. Irish Journal of Psychological Medicine, 31(1), 39-45. 10.1017/ipm.2013.65
  • Werneck, G., Carvalho, M. (2020). A pandemia de COVID-19 no Brasil: crônica de uma crise sanitária anunciada. Cadernos de Saúde Pública, 36(5), e00068820. doi:10.1590/0102-311X00068820
  • Westwood, R., Linstead, S. (2001). Language/Organization: Introduction. In R. Westwood, S. Linstead (Eds.), The language of organization (pp. 310-328). London: Sage.
  • Wodak, R. (2001). What CDA is about – a summary of its history, important concepts and its developments. In R. Wodak, M. Meyer (Eds.), Methods of critical discourse analysis (pp. 1-13). London: Sage.
  • Wodak, R. (2015). The politics of fear. London: Sage.
  • Yamey, G., Gonsalves, G. (2020). Donald Trump: A political determinant of Covid-19. BMJ, 369. doi:10.1136/bmj.m1643
  • Yazell, B., Petersen, K., Marx, P., Fessenbecker, P. (2021). The role of literary fiction in facilitating social science research. Humanities & Social Sciences Communications, 8, 261. https://doi.org/10.1057/s41599-021-00939-y
    » https://doi.org/10.1057/s41599-021-00939-y
  • Zhu, J., Song, L. J., Zhu, L., Johnson, R. E. (2019). Visualizing the landscape and evolution of leadership research. Leadership Quarterly, 30(2), 215-232. doi:10.1016/j.leaqua.2018.06.003
  • Zoellner, R. (1973). The salt-sea mastodon: a reading of Moby-Dick. Berkeley: University of California Press.

Notas

  • 1
    . Por questões aparentemente editoriais, Melville chamou a personagem do livro de “Moby Dick”, sem hífen, e o livro de “Moby-Dick”, com hífen. Adotaremos essa distinção para demonstramos quando estamos falando da personagem e quando nos referimos à obra. Para uma síntese dessa discussão, ver Erin Blakemore (2015)Blakemore, E. (2015, December 10th). Why does Moby-Dick (Sometimes) Have a Hyphen? Smithsonian Magazine. Retrieved from https://bit.ly/2CjEWkm
    https://bit.ly/2CjEWkm...
    .
  • 2
    . Em algumas versões em português, Ahab é traduzido como Acabe. Na edição da Nova Cultural (Melville, 1851/2002) utilizada para este trabalho, adotou-se Acab, e, portanto, esta será a grafia seguida.
  • Verificação de plágio
    A O&S submete todos os documentos aprovados para a publicação à verificação de plágio, mediante o uso de ferramenta específica.
  • Disponibilidade de dados
    A O&S incentiva o compartilhamento de dados. Entretanto, por respeito a ditames éticos, não requer a divulgação de qualquer meio de identificação dos participantes de pesquisa, preservando plenamente sua privacidade. A prática do open data busca assegurar a transparência dos resultados da pesquisa, sem que seja revelada a identidade dos participantes da pesquisa.
  • Financiamento: O autor não recebeu apoio financeiro para a pesquisa, autoria ou publicação deste artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2023

Histórico

  • Recebido
    26 Maio 2022
  • Aceito
    16 Out 2022
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br