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REGISTRO FORMAL DA OCORRÊNCIA DE CYRTOMENUS SP. (HEMIPTERA, CYDNIDAE) EM ALCACHOFRA (CYNARA SCOLYMUS L. ASTERACEAE) NO BRASIL

FORMAL RECORD OCCURRENCE OF CYRTOMENUS SP. (HEMIPTERA, CYDNIDAE) IN ARTICHOKE (CYNARA SCOLYMUS L.) IN BRAZIL

RESUMO

O trabalho relata a ocorrência de Cyrtomenus sp. (Hemiptera, Cydnidae) em raízes de alcachofra na região de Piedade, SP, (23º 43’S 47º 25’W), com perdas estimadas em 15% na produção. Sintomas causados às plantas pelos percevejos, são descritos.

PALAVRAS-CHAVE
Cyrtomenus sp.; Cynara scolymus ; alcachofra

ABSTRACT

This paper reports the attack of Cyrtomenus sp. (Hemiptera, Cydnidae) on artichoke (CynaraScolymus L. Asteraceae) roots in the region of Piedade, (23º 43’S 47º 25’W), state of São Paulo, Brazil. Reduction of 15% in total production was observed. The symptoms caused by the insect on the plant are described.

KEY WORD
Cyrtomenus sp.; Cynara scolymus ; artichoke

Introduzida no Brasil na segunda década do século passado pelos italianos, a alcachofra (Cynara Scolymus L. Asteracea), está adaptada a clima ameno, não tolera frio intenso nem solos encharcados. É cultivada em regiões serranas com altitude acima de 700 m e temperaturas oscilantes entre 14 e 25º C e, devido às exigências climáticas no Estado de São Paulo, é cultivada nas regiões de Piedade e São Roque. (ISECHIK et al., 1998). Este trabalho tem por objetivo relatar a ocorrência de Cyrtomenus sp. em cultura de alcachofra na região de Piedade, SP, (23º 43’S 47º 25’W, 781 m).

RELATO DA OCORRÊNCIA

Em maio de 2001 foi solicitada, através da Casa da Agricultura de Piedade, SP, a presença de técnicos do Instituto Biológico, para inspecionar as lavouras produtoras de alcachofra e estudar a causa da morte de várias plantas.

Pés de alcachofra com declínio, ninfas e adultos de percevejos encontrados no solo, foram coletados e levados ao Laboratório de Entomologia Geral, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal,

Instituto Biológico, para estudos. Nas raízes encontrou-se grande quantidade de adultos (Fig. 1) e ninfas (Fig 2) do percevejo que foram colocados em álcool 70% e enviados ao Laboratório do Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico do Centro Leste em Ribeirão Preto - SP, sendo identificados como Cyrtomenus sp., (Hemiptera, Cydnidae), que vivem e multiplicam-se no solo sugando as raízes. RODRIGUES NETTO et al. (2002)RODRIGUES NETTO, S.M.; CAMPOS, T.B. DE; FARIA, A.M. DE. Primeiro registro da ocorrência de Cyrtomenus sp. (Heteroptera, Cydnidae) em alcachofra (Cynara scolymus L.) no Brasil. In: REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 15., São Paulo. Resumos. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.69, supl., p.81, 2002. Resumo 113. relataram de forma resumida esta ocorrência.

Fig. 1
Adulto de Cyrtomenus sp.
Fig. 2
Ninfa de Cyrtomenus sp.

DESCRIÇÃO DOS DANOS

Nas propriedades produtoras de alcachofra visitadas, observaram-se muitas falhas na cultura devido a morte das plantas, muitos pés apresentavam folhas amarelas e secas, com maior incidência nos locais de maior irrigação.

Ao escavar o solo para retirada da planta doente, pôde-se sentir um odor fétido exalado e característico dos insetos da família Cydnidae.

Através de inspeção detalhada, observou-se percevejos tanto na forma jovem como na forma adulta, no solo junto ao colo e raízes das plantas.

Os sintomas de ataque da praga na cultura de alcachofra têm início na parte basal das plantas progredindo até a apical. Inicialmente as folhas apresentam-se amareladas até secarem totalmente. Segundo GASSEN (1989)GASSEN, D.N. Insetos subterrâneos prejudiciais às culturas no sul do Brasil. Passo Fundo: Centro Nacional de Pesquisa de Trigo CNPT/EMBRAPA, 1989., estes danos são causados pela injeção de saliva tóxica e extração da seiva das partes subterrâneas, causando enfraquecimento e morte das plantas.

Notas sobre o hospedeiro

Cynara scolymus L., popularmente conhecida como alcachofra, pertence a família Asteraceae, considerada a maior das angiospermas, pois conta com cerca de 920 gêneros e 19.000 espécies, sendo a maioria constituída por plantas de pequeno porte. Originária do Mediterrâneo é uma hortaliça herbácea e considerada perene, pois soltam rebentos que substituem a planta velha. Caule estriado ou sulcado. Folhas alternas, de cor prateada, carnosas, com 5 a 9 cm de comprimento, oval elíptica de base estreita, com espinhos curtos. Flores com grandes brácteas carnosas na base, verde ou vermelha, formando capítulos grandes; são hermafroditas ou de sexo separados, podendo ou não estarem na mesma inflorescência. Formam um tufo e ao centro brotam hastes retas que sustentam um tipo de botão floral comestível. No cultivo comercial, as plantas são renovadas em média a cada 5 anos e podem atingir 1,2 m de altura (CORRÊA, 1926CORRÊA, M.P. Dicionário das Plantas úteis do Brasil e das plantas exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926. v.1., 1978; JOLY, 1985JOLY, A.B. Botânica: introdução à taxinomia vegetal. 7.ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, 777p.; ISECHI et al., 1998ISECHI, K.; PAIVA, L.C.; MALUF, W.R. Comoplantaralcachofra. Lavras: Grupo de Estudos de Olericultura, 1998. (Boletim técnico de hortaliça, n.11).).

Rica em vitaminas A e do complexo B e em sais minerais como ferro, cálcio, magnésio e fósforo, a alcachofra é usada como planta medicinal no tratamento de distúrbios hepáticos, controle de diarréia e diurético, dissolvente de cálculos renais. Podem ser consumidos conservados no vinagre ou azeite, cozidos ou mesmo cru. Depois de cozida, a alcachofra altera-se muito e produz toxinas, devendo ser consumida logo após o cozimento (CORRÊA, 1926CORRÊA, M.P. Dicionário das Plantas úteis do Brasil e das plantas exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1926. v.1., 1978; ALONSO, 1998ALONSO, J.R. Tratamento de fitomedicina. Buenos Aires: Isis Ediciones, 1998. 1100p.; LOW, et al. 1999LOW, T.; RODD, T.; BERESFORD, R. Segredos e virtudes das plantas medicinais. Rio de Janeiro: Reader’s Digest Brasil, 1999.).

Notas sobre a morfologia e biologia do percevejo

Os adultos caracterizam-se por apresentar o corpo de forma oval e convexo, coloração preta e medem cerca de 11 mm de comprimento. Cabeça semicircular e achatada, antenas com 5 segmentos, escutelo plano, bem desenvolvido deixando o hemiétrito visível. Asas membranosas, canal ostilar alongado. Pernas anteriores fossoriais armadas de espinhos na borda externa, tíbias dilatadas e espinhosas. Na articulação da coxa com o trocanter, presença de um tufo de pêlos impedindo a entrada de terra (LIMA, 1933LIMA, A.M. DA C. Insetos do Brasil: Hemiptera. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1939, v.1, 470p.; FROESCHNER, 1960FROESCHNER, R.C. Cydnidae of the western hemisphere. Proceedings U. S. Natural Museum, v.3, n.3430, p.337-680, 1960.; BORROR & DELONG, 1969BORROR, D.J. & DELONG, D.M. Estudos dos insetos. Rio de Janeiro: Edgard Blücher, 1969.; GASSEN, 1989GASSEN, D.N. Insetos subterrâneos prejudiciais às culturas no sul do Brasil. Passo Fundo: Centro Nacional de Pesquisa de Trigo CNPT/EMBRAPA, 1989.). Os ovos são de coloração branca, colocados isoladamente no solo, próximos às raízes, em profundidade variáveis, onde eclodem as ninfas que inicialmente apresentam coloração esbranquiçada e passam por 5 ínstares. Tanto a forma jovem como o adulto possuem hábitos subterrâneos e vivem em profundidades variáveis, de acordo com a umidade do solo, podendo penetrar até mais de 50 cm em períodos de seca. Exalam odor forte e desagradável quando perturbados (LIMA, 1933LIMA, A.M. DA C. Insetos do Brasil: Hemiptera. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1939, v.1, 470p.; SILVA et al., 1968SILVA, A.G. DA (Coord.) Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil; Seus parasitas e predadores. Rio de Janeiro: Serviço de Defesa Sanitária Vegetal, Ministério da Agricultura, 1968. pt.2, t.l.; GASSEN, 1989GASSEN, D.N. Insetos subterrâneos prejudiciais às culturas no sul do Brasil. Passo Fundo: Centro Nacional de Pesquisa de Trigo CNPT/EMBRAPA, 1989.; ZUCCHI, 1993ZUCCHI, R.A.; SILVEIRA NETO, S.S.; NAKANO, O. Guia de identi- ficação de pragas agrícolas. Piracicaba: FEALQ, 1993.).

No Brasil, esse gênero foi registrado nas culturas de amendoim, milho, feijão, soja, tremoço, algodão e pastagens (CRUZ et al., 1962CRUZ, B.P.B.; FIGUEIREDO, M.B.; ALMEIDA, E. Principais doenças e pragas do amendoim no Estado de São Paulo. O Biológico, São Paulo, v.28, n.7, p.189-195, 1962.; GALLO et al., 1988GALLO, D. (Coord.). Manual de entomologia agrícola. São Paulo: Ed. Agronômica Ceres, 1988.; GASSEN, 1989GASSEN, D.N. Insetos subterrâneos prejudiciais às culturas no sul do Brasil. Passo Fundo: Centro Nacional de Pesquisa de Trigo CNPT/EMBRAPA, 1989.).

Atualmente, Cyrtomenus sp. vem ganhando importância na cultura de alcachofra, pelas perdas ocasionadas superiores a 15% na produção e pela rápida expansão das infestações que já atingem 80% das propriedades produtoras na região de Piedade. Os produtores consideram esse percevejo limitante para a cultura não só devido aos prejuízos causados, mas pela carência de tecnologia de controle que é tarefa complexa, tendo em vista a dificuldade de monitorar, localizar, atingir o inseto e, principalmente, em relação aos inseticidas registrados para a cultura. Deste modo, estudos estão sendo conduzidos na região, por técnicos do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, do Instituto Biológico, com o objetivo de conhecer melhor o comportamento da praga na cultura, visando o controle integrado da mesma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ALONSO, J.R. Tratamento de fitomedicina Buenos Aires: Isis Ediciones, 1998. 1100p.
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  • GASSEN, D.N. Insetos subterrâneos prejudiciais às culturas no sul do Brasil Passo Fundo: Centro Nacional de Pesquisa de Trigo CNPT/EMBRAPA, 1989.
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  • JOLY, A.B. Botânica: introdução à taxinomia vegetal 7.ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1985, 777p.
  • LIMA, A.M. DA C. Insetos do Brasil: Hemiptera Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, 1939, v.1, 470p.
  • LOW, T.; RODD, T.; BERESFORD, R. Segredos e virtudes das plantas medicinais Rio de Janeiro: Reader’s Digest Brasil, 1999.
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  • SILVA, A.G. DA (Coord) Quarto catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil; Seus parasitas e predadores. Rio de Janeiro: Serviço de Defesa Sanitária Vegetal, Ministério da Agricultura, 1968. pt.2, t.l.
  • ZUCCHI, R.A.; SILVEIRA NETO, S.S.; NAKANO, O. Guia de identi- ficação de pragas agrícolas Piracicaba: FEALQ, 1993.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2005

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2004
  • Aceito
    25 Abr 2005
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