REDCPS - Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde

Número: 1.2 - 12 Artigos

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DOI: http://www.dx.doi.org/10.5935/2446-5682.20150012

Relato de Experiência

Promoção do autocuidado da pessoa em sofrimento psíquico

Promotion of self-care in psychological distress person

Ligia Maria de Almeida; Jael Maria de Aquino; Marília Cavalcanti Borba; Mariana Ferraz da Silva Rosa; Manoel Adauto Cunha Monteiro

Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças

Endereço para correspondência

Ligia Maria de Almeida
Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças-UPE
Rua Arnóbio Marques, 310, Santo Amaro
Recife, PE, Brasil. CEP: 52091-026
E-mail: ligia.almeida@upe.br

Recebido em 25/06/2015
Aceito em 02/10/2015

Resumo

OBJETIVO: Despertar o autocuidado em pacientes psiquiátricos internados em unidade hospitalar, promover aceitação do paciente de si, aumentando sua alto-estima, possibilitando uma melhor adesão ao tratamento.
MÉTODOS: Estudo descritivo tipo relato de experiência realizada no período de novembro de 2009 a outubro de 2010, a partir de um conjunto de atividades pedagógicas em saúde, desenvolvidas com a população-alvo da pesquisa, em um ambiente hospitalar.
RESULTADOS: Na interação com o paciente, intencionando uma abordagem humanizada, notou-se a necessidade de constituir-se uma atividade menos tecnicista, oportunizando o protagonismo no processo do autocuidado.
CONCLUSÃO: Os resultados proporcionaram aos pesquisadores, o aprendizado diante da vivência com o trabalho de acolhimento, engajamento e compromissos necessários a toda atividade relativa ao trato com humanos. Com relação aos pacientes, estes puderam vivenciar o acompanhamento e incentivo para a sua melhoria, de forma mais intensa, objetiva e lúdica.

Palavras-chave: Autocuidado; Saúde Mental; Enfermagem em psiquiatria.

 

INTRODUÇÃO

A partir da segunda metade dos anos 80, no Brasil, o movimento de transformação no campo da saúde mental passou por importantes mudanças, caracterizadas pelo surgimento de novos serviços num contexto histórico, político e conceitual emergente1. A Reforma Psiquiátrica trouxe à saúde mental novas propostas e possibilidades de assistência ao paciente psiquiátrico, assegurando o exercício de seu direito à cidadania2.

Desde então, formou-se uma convicção generalizada de que a reinserção do paciente em seu meio familiar e social é uma condição fundamental para a sua cura. Esta postura percebe o tratamento e a cura como um processo que envolve não só a equipe de saúde, mas também o paciente e seu meio social e familiar3.

Assim, houve uma profunda modificação na visão preconceituosa tradicionalmente aceita, inclusive por profissionais da saúde, que consideravam o doente mental - hoje considerado portador de sofrimento psíquico - como incapaz de convivência, incorporando-o em padrões de rejeição e isolamento. Isso ocorreu de modo particular em relação à psiquiatria, haja vista que a estruturação organizacional dos estabelecimentos destinados ao tratamento destes indivíduos apresenta-se, desde sua origem, como relevante estratégia de implementação dos modelos assistenciais4.

A Reforma Psiquiátrica foi vista, inicialmente, como uma estratégia de humanização dos Hospitais Psiquiátricos. Para que esta reforma se firmasse como política de inclusão social edesinstitucionalização, tornou-se necessário desmistificar o que a psiquiatria, historicamente, havia construído: uma imagem de loucos, incapazes de viverem em sociedade, que deveriam ser isolados e reclusos em manicômios.

Hoje, entende-se que a prática manicomial contraria todas as possibilidades de assistência centrada no humanismo ético, uma vez que os princípios norteadores do manicômio - vigiar, controlar, punir - não são adequados a tal prática. Sendo a desmistificação alcançada por muitos, puderam-se construir novas estratégias e dispositivos de assistência e cuidado, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que representam estruturas terapêuticas intermediárias entre a hospitalização e o acompanhamento ambulatorial, tendo por finalidade o tratamento, a reabilitação e a ressocialização do paciente junto à família e à comunidade2.

O processo de desinstitucionalização é lento e precisa de um período longo para se consolidar, pois não se pode simplesmente fechar os hospitais psiquiátricos, sem dar condições de acesso ao tratamento, à reabilitação, à reinserção no seio social e, muitas vezes, à moradia aos sujeitos em sofrimento psiquiátrico que vinham há muito tempo, e vêm, sendo internados nestes hospitais. Neste sentido, estas unidades, desde os níveis mais simples até os mais complexos, precisam manter interdependência, como também interrelação com as organizações comunitárias, até que a rede de serviço assuma de forma integral a responsabilidade da assistência prestada ao paciente em crise.

Neste sentido, da assistência Pautada no conceito e princípio da integralidade do Sistema Único de Saúde (SUS), entende-se que todos os serviços, em seus diversos níveis de complexidade, são de fundamental importância para a população5. A integração desses serviços permitirá que as diretrizes estabelecidas a principio na Portaria SAS/MS nº 224, de 29 de janeiro de 1992, sejam seguidas, principalmente em seus itens: "a organização dos serviços baseia-se nos princípios de universalidade, hierarquização, regionalização e integralidade das ações" e "garantia da continuidade da atenção nos vários níveis". Assim, a reforma psiquiátrica repensa o modelo assistencial, o fazer dos trabalhadores de saúde mental, as instituições jurídicas, e a relação da sociedade com o indivíduo em sofrimento psíquico6.

Neste contexto, no estado de Pernambuco, o Hospital Ulysses Pernambucano (HUP) é única referência em psiquiatria e campo de estágio para as universidades do Estado, a exemplo da Universidade de Pernambuco (UPE). O projeto aqui relatado foi desenvolvido após a vivência dos discentes e docentes nas aulas práticas da disciplina de Enfermagem Psiquiátrica, da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG), ligada à UPE, quando foi constatada a necessidade de uma atividade mais efetiva com os usuários daquele hospital, que viesse a contribuir nos seus processos de ressocialização.

Um importante passo em direção a essa reinserção social seria o restabelecimento da capacidade de autocuidado, muitas vezes deficiente em pacientes institucionalizados. Entendemos o autocuidado como sendo um conjunto de elementos de que os indivíduos lançam mão em benefício próprio para manter a vida, a saúde e o bem-estar7. Um quadro de déficit de autocuidado é identificado quandoo paciente se acha limitado para cuidar de si, de modo sistemático e eficaz, necessitando de ajuda da equipe de enfermagem ou de terceiros.

Neste sentido, destaca-se a importância da presença do acadêmico de Enfermagem junto ao indivíduo em sofrimento psíquico, buscando a quebra de paradigmas oriundos da postura preconceituosa da sociedade, derivada do estigma institucionalizador, quandose trata dessas circunstâncias que, em parte, causam o isolamento do paciente. Entretanto a falta do autocuidado e a perda da capacidade do cuidar de si de um paciente em sofrimento psíquico que esta em crise, é evidenciada pelas condições precárias de higiene corporal e oral, afastando o indivíduo do convívio social. Este ato acarreta em outras consequências, como o desenvolvimento de doenças físicas propiciadas pelo acúmulo de agentes patogênicos.

Neste cenário, a Universidade de Pernambuco busca desenvolver, junto aos discentes, habilidades e competências do cuidado em Saúde Mental como parte do componente curricular, que é indispensável para a constituição e desenvolvimento do pensamento crítico e habilidade no lidar com o paciente com déficit no autocuidado8. Este contato dos acadêmicos de Enfermagem com o usuário do serviço psiquiátrico remete à sua compreensão da existência do ser cidadão, o que amplia a visão sobre a situação em que se encontra a psiquiatria, sobre as desigualdades existentes na assistência prestada ao usuário e sobre o porquê disto, de uma forma empírica e cientifica.

No que se refere a compreensão de Cidadania, esta, no passado, foi retirada dos seres humanos que sofriam de transtorno psíquico, quando estes foram internados e esquecidos em hospitais psiquiátricos, e onde, ao longo do tempo, perderam sua condição de cidadão. Assim, familiares e o outros (profissional de saúde, representantes das Leis) tomavam decisões sobre suas vidas sem lhes pedir consentimento, afirmando que não tinham juízo - perderam a razão e a dignidade; estas medidas adotadas por diagnósticos de insano, alegando que doentes crônicos que não terem recuperação social.

Sabe-se que as doenças crônicas, com destaque para os transtornos mentais e as crônico-degenerativas, requerem um tratamento poli-medicamentoso, dependente de tecnologias e acompanhamento constante por especialistas, sendo, portanto, um tratamento oneroso; e que as doenças infectocontagiosas são passíveis de prevenção. Surge, então, a necessidade de se fazer educação em Saúde, de modo que essa educação seja um instrumento para a promoção do bem-estar, da cura integral9.

Durante o contato prévio com os pacientes internos, dois importantes aspectos foram observados pelos pesquisadores: a carência de atividades instrutivas rotineiras de promoção do autocuidado, que foi identificada durante a vivência dos discentes em aulas práticas da disciplina de Enfermagem Psiquiátrica; e a carência de trabalhos de extensão/científicos, que estimulassem atividades de promoção do cuidar com indivíduos de características semelhantes ao público-alvo deste estudo.

Dessa forma, o objetivo principal das ações extensionistas, que gerou a presente pesquisa, foi despertar os pacientes psiquiátricos internados em unidade hospitalar para o autocuidado, por meio da educação em Saúde, possibilitando uma melhor adesão ao tratamento e facilitando o acompanhamento pós-hospitalar pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

Entretanto, com estas ações, os pesquisadores buscaram: promover no paciente maior aceitação de si mesmo, aumentando sua autoestima; possibilitando a construção da consciência da sociedade, a partir do desenvolvimento do saber, dentro de seus limites e possibilidades destes; o que leva-os a redescobrir sua capacidade e percepção de si e do meio ambiente gerando e, como consequência, a capacidade de executar tarefas simples e úteis para si mesmos e para os outros; e, aos pesquisadores, analisar a resposta ao tratamento dos pacientes em sofrimento psíquicos antes e após o início das atividades.

 

METODOLOGIA

As atividades foram realizadas durante o ano de 2010, com grupos de pacientes internados em hospital psiquiátrico na cidade do Recife-PE, coordenado por duas docentes da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças-FENSG/UPE. Estas atividades eram desenvolvidas com pacientes adultos em sofrimento psíquicos, de ambos os sexos, que aceitassem participar das atividades desenvolvidas de forma espontânea.

Entre as atividades desenvolvidas no projeto de extensão, destacaram-se:

a) Reunião de um pequeno grupo de usuários com os estudantes, docentes e profissionais, para identificar habilidades, a partir das quais pôde-se sistematizar a metodologia de cada reunião, estabelecendo os temas que foram discutidos (como higiene bucal, higiene corporal, cuidados pessoais de forma geral);

b) Em seguida, reuniões entre os estudantes e as orientadoras para construção das atividades em grupo, determinando o tempo e a duração para cada atividade, escolhendo as técnicas de dinâmicas para todas as atividades, e o ambiente onde seriam desenvolvidas, a partir da revisão de literatura pertinente ao suporte teórico; com posterior apresentação do planejamento das atividades aos usuários e profissionais, para estabelecer uma continuidade com as atividades realizadas junto aos usuários.

As atividades seriam desenvolvidas por meio da formação de pequenos grupos, sob a batuta de dois a três acadêmicos, responsáveis pelas atividades, em uma sessão semanal de 20 minutos, quando palestra, e 60 minutos, quando atividades dirigidas, durante 12 semanas. O material utilizado para as atividades dirigidas seria: folhas de papel colorido, pincéis e lápis de cores diversas, tesouras sem ponta, cola, revistas antigas para recortes e figuras coletadas na internet. E para a palestra seriam apresentados e debatidos os temas relacionados ao autocuidado.

A avaliação da evolução dos pacientes (participantes) observaria três aspectos: desempenho nas atividades propostas (coerência, adesão, entendimento); capacidade de autocuidado; adesão ao tratamento e à rotina institucionalizada.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital da Restauração/PE, conforme parecer emitido Nº. 1126.0.000.102-10, obedecendo as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde10, referente à pesquisa desenvolvida com seres humanos.

 

RELATO DA EXPERIÊNCIA VIVÊNCIADAS DURANTE O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO HUP

A apresentação dos acadêmicos, o reconhecimento do local para o desenvolvimento das atividades extensionistas, nos espaços fornecidos pelo HUP - Hospital da Universidade de Pernambuco, foi o primeiro momento para implementação do projeto de extensão, quando estabeleceram os contatos com a direção e com o corpo de profissionais do Hospital. Todos os protocolos de apresentação do projeto, para cada instância do HUP, foram efetivados de forma a obter a autorização da execução das atividades.

Esse primeiro momento, de apresentação e reconhecimento, estendeu-se por um período considerado longo (em torno de 06 meses), pois o horário de serviço do atendimento entrava em conflito com os horários do curso, dificultando o acesso dos discentes à Instituição Hospitalar para compartilhar as necessidades dos pacientes com os profissionais de Enfermagem, o que gerava dúvidas em torno da realização das atividades. Outra dificuldade encontrada foi a aparente desmotivação de alguns destes profissionais em sua prática diária, que não promoviam a continuidade das atividades realizadas.

Superado este período, iniciaram-se as atividades em grupo com os usuários do serviço. Inicialmente, as atividades foram realizadas nos setores onde estavam acomodados cada um dos pacientes internos. Porém, estes não tiveram boa adesão às atividades. O grupo de trabalho atribuiu essa postura ao fato das enfermarias (pavilhão) serem percebidas como um ambiente pouco acolhedor. Além disso, os pacientes não se sentiram seguros em trabalhar com uma equipe extensionista, por ainda não se terem estabelecidos laços de confiança. Neste sentido, não se pode pensar em produção de cuidados deixando de lado a subjetividade, que favorece o compartilhamento de experiências e vivências do outro em uma relação empática11.

Por outro lado, as equipes técnicas de enfermagem e enfermeiros destes setores não se integraram às atividades do projeto de extensão. Fato este que trouxe desmotivação, tanto para os usuários quanto para os estudantes, alimentando o receio de que as ações de educação e saúde propostas não permaneceriam como rotina no serviço. Isto é, o projeto de extensão seria uma atividade pontual e não renderia nenhuma ação contínua após o seu termino.

O desinteresse em integrar-se nas atividades, demonstrado por alguns funcionários, pode ser justificado por características individuais e como reflexo de uma sobrecarga de serviço, oriunda das péssimas condições de trabalho, muitas vezes encontradas nas instituições hospitalares, o que evidencia o descaso sistemático com a saúde pública.

Neste contexto, ressaltamos que o trabalho em saúde mental pode ser considerado um fator potencial de estresse e esgotamento para os profissionais da área, podendo afetar a vida pessoal destes e, por conseguinte, a qualidade da assistência que prestam. Haja vista que a saúde do trabalhador pode estar diretamente relacionada com as condições do ambiente de trabalho12.

Em um segundo momento, as atividades passaram a ser desenvolvidas no centro de atividades terapêutica (CAT), decorrente de uma reunião junto aos profissionais para redefinição do local de atuação. A partir de então, a associação das atividades do CAT com as atividades do projeto de extensão facilitou a adesão de participantes aos grupos propostos pelos extensionistas, uma vez que os usuários costumam ter como rotina diária atividades promovidas pelo CAT. Esta mudança tornou os grupos mais dinâmicos, embora poucos foram os que participaram de todas as atividades, já que estava facultado participar das atividades oferecidas de forma espontânea.

Durante os momentos iniciais no CAT, foram realizadas atividades dirigidas, como pintura, colagem, desenho e palestras, todas dentro da temática de higiene pessoal e oral e noções de limpeza. Desde as primeiras atividades destes momentos no CAT, buscou-se identificar nos usuários do serviço do HUP o grau de comprometimento da autoimagem e do discernimento de limpeza e de sujeira.

Apesar dos grupos não serem fixos, pôde-se observar, naqueles que se tornaram presença constante, uma melhora na percepção da autoimagem e no autocuidado: as pessoas que estavam sem motivação para cuidar de si, inclusive não conseguindo alcançar os objetivos do grupo, demonstraram melhora na aparência e na interação com todos ao participarem das ações desenvolvidas pela equipe do projeto de extensão, funcionários do CAT e usuários - estes últimos nas atividades finais. Quanto aos demais usuários que participavam de forma esporádica dos encontros, alguns conseguiram atingir o objetivo do grupo e outros apresentaram muita dificuldade para isso.

Diante da rotatividade de pacientes existente na instituição, manteve-se um grupo "flutuante" de participantes - entre aqueles presentes em apenas algumas atividades e um grupo fixo, atuantes em todas as nove atividades. Ao analisarmos os sujeitos do grupo fixo frente aos três aspectos avaliativos percebeu-se uma sensível evolução, entre a primeira e a ultima atividade, em todos os aspectos avaliativos.

Nestas atividades, o enfermeiro esteve sempre em de busca novas idéias para direcionar a construção de conhecimentos, adquiridos a partir de sua participação ativa, como membro corresponsável pelo processo de mudança. Para tanto, o processo educativo esteve vinculado ao despertar do profissional de Saúde Mental, no intuito de garantir uma aprendizagem contínua. Esse prosseguimento pode ser desenvolvido por meio de oficinas educativas, cursos de reciclagem entre outras atividades de interação13.

A vivência experimentada pelos participantes deste projeto de extensão universitária fê-los sentir que contribuíram com a instituição e, principalmente, com a melhoria dos pacientes que dela fizeram parte. Além disso, essa vivência proporcionou um aprendizado mútuo e uma construção do conhecimento de forma ativa, formando a convicção de que todo conhecimento procede da relação interpessoal e que a vivência do cuidar de uma pessoa em sofrimento mental constitui uma oportunidade extraordinária para a ocorrência e a produção do saber entre os que nela se envolvem11.

Esse processo de cuidar é baseado na interação enfermeiro e paciente, principalmente na área da Saúde Mental, na qual existem ações, atitudes e comportamentos que podem ser passivos ou ativos. Há que se desenvolver na construção do cuidado com o paciente psiquiátrico atitudes facilitadoras da promoção e recuperação da autonomia e dignidade, construindo, portanto, um processo de transformação de ambos, profissional e cliente14.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde o primeiro pensamento da realização de um projeto de extensão no HUP, passando pela elaboração, aprovação e aceitação (na Universidade e no serviço), até o seu término, foi uma luta imensa em que, por muitas vezes, o desânimo surgiu e quase nos fez desistir de dar continuidade ao processo. No entanto, a cada novo encontro com os usuários o grupo se revigorava e restabelecia o ímpeto inicial que motivou a criação deste trabalho: a vontade de oferecer melhores condições de assistência àqueles sujeitos dotados de sentimentos confusos e necessitados de cuidados especiais.

Ao término da última atividade, na qual se observou cada um dos usuários que vinha acompanhando os encontros com maior assiduidade, os sentimentos que ficaram foram: satisfação por ter-se conseguido avançar, junto a eles, até aquele estágio; a certeza de que, se houver continuidade das atividades, a melhoria dos companheiros será alcançada; e a saudade - saudade dos curtos, porém intensos momentos com cada um dos participantes.

Neste sentido, o trabalho realizado em extensão universitária oferece aos estudantes e aos orientadores o contínuo aprendizado. Em termo de Saúde, verificou-se que autores do projeto e usuários do serviço psiquiátrico saíram ganhando: os autores puderam aprender a lidar com o inusitado e vivenciar o trabalho de acolhimento, engajamento e compromisso necessários a toda atividade referente ao trato com humanos; os usuários puderam ter acompanhamento e incentivo para sua melhora, de forma mais intensa e integral, objetiva e dinâmica, teórica e lúdica.

No sentido da promoção de ações educativas desenvolvida, ampliou a atenção prestada aos pacientes em sofrimento psíquico, assim como possibilitou para os autores a quebra dos preconceitos estabelecidos pela sociedade; o conhecimento da realidade vivida por essas pessoas em sofrimento psíquico; a intervenção na rotina do serviço, com a finalidade de garantir a continuidade destas ações educativas, independente do período das atividades extensionistas. A integração do serviço e da academia traz, para todos, oportunidades de crescimento e ampliação da qualidade da assistência e do ensino em enfermagem.

Enfim, o resultado obtido, trouxe a consciência de que o trabalho com a Saúde Mental não é possível de ser realizado longe da humanização da abordagem para/com os sujeitos, podendo se constituir em uma atividade de condução menos tecnicista, que dará ao paciente a oportunidade de ser protagonista do processo de cuidar, e não apenas objeto dele.

 

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