Resenha: Ferrovia, sociedade e cultura, 1850-1930. Lima, Pablo Luiz de Oliveira. Fino Traço, 2015.

Em 1865, o renomado geógrafo Elisée Reclus postulava que "a Geografia não é outra coisa que a História no Espaço, assim como a História é a Geografia no Tempo¹". É razoável afirmar que, ainda que o objeto de estudo da geografia seja o espaço, nenhum outro fator se sobressai mais em sua interpretação que o tempo, sobretudo quando se trata de suas transformações. O livro “Ferrovia, sociedade e cultura: 1850-1930”, de autoria de Pablo Luiz de Oliveira Lima - Professor da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - traça uma reflexão dedicada à historiografia da tentativa de transformar, por meio da instalação do transporte rodoviário, à condição brasileira de região periférica em espaço da civilização ocidental, tendo como elemento-chave “o lugar da ferrovia entre a história e a memória” (p.19). Ao longo da construção, traz preciosa análise sobre os processos de integração territorial nacional nos anos finais do Império e iniciais da República.

Tem como diferencial a proposta de ruptura com as “tradicionais obras de memória comemorativa” (p. 19), que ganha força no capítulo 03, na medida em que procura compreender o cotidiano da instalação e operação das Estradas de Ferro Oeste de Minas (EFOM) e Goiás (EFG), tendo por base fotografias da época e relatos de ex- funcionários, que trazem uma perspectiva diferente daquela definida pela memória tradicional, registradas em livros e museus, de seus proprietários e diretores. O eixo-mestre do raciocínio se desenvolve em torno de duas perguntas: 1) Como se formou o sistema de transporte ferroviário brasileiro?; e 2) Por que não prosperou, como seus primeiros empreendedores esperavam? Com apresentação da professora Maria Eliza Linhares Borges, o livro é dividido em três capítulos, além de introdução e considerações finais.