O CORPO DECOLONIAL EM FOCO: UMA ANÁLISE DO CONTO “LUAMANDA”, DE CONCEIÇÃO EVARISTO

Sirléia dos Santos Rocha, Fabrícia Bittencourt Pazinatto, Michelly Cristina Alves Lopes

Resumo


Na literatura brasileira, as mulheres negras sempre foram representadas por meio de um viés preconceituoso, evidenciando a cor da mão que segurava a pena.  O corpo da mulher negra é submetido a representações, a padrões e a estereótipos estéticos entrecortados por eixos de opressão – raça, gênero e classe – o que nos leva a confirmar a herança escravocrata e o racismo estrutural. A proposta desse artigo é analisar o conto “Luamanda”, do livro Olhos d’água (2016), obra poética da escritora mineira Conceição Evaristo que, em sua produção literária, traz voz e identidade a mulheres negras e pobres que se encontram à margem das autoridades dos centros de poder. No conto, a mulher negra surge, ressurge e insurge transgredindo o pensamento hegemônico, reconfigurando a sua história e reivindicando a autorrepresentação por meio de um corpo decolonial transformado, emancipado, ressignificado e consciente das oportunidades e mobilizações que podem tornar o corpo negro visível.

Palavras-chave: Literatura afro-brasileira. Resistência. Autorrepresentação. Mulher negra. Corpo decolonial.

 

DOI: https://doi.org/10.47295/mgren.v10i1.2990


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