Arq. Bras. Cardiol. 2023; 120(9): e20230115
Suspensão dos Diuréticos Tiazídicos na Doença Renal Crônica Avançada. Tempo de Rever um Antigo Conceito
As Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial das Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) e Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) recomendam o uso de diuréticos de alça em substituição dos tiazídicos nos pacientes com doença renal crônica (DRC) estágios 4 e 5, ou seja, ritmo de filtração glomerular (RFG) ≤ 30ml/min/1,73m2. Esta orientação está alinhada com outras diretrizes, como por exemplo, a Diretriz Europeia de Hipertensão (ESC/ESH 2018) que afirma que os diuréticos tiazídicos e tiazídico-símile são menos efetivos em pacientes com RFG < 45ml/min/1.73m2e inefetivos quando o RFG < 30ml/min/1,73m2. No entanto, o estudo que estabeleceu este conceito data de 1961 e avaliou apenas 11 pacientes, sendo que apenas 5 destes apresentavam RFG < 37ml/min/1,73m2. A despeito disso, este conceito gerou um dogma exportado para os livros textos, propagado por décadas como uma verdade incontestável.
Após a publicação do estudo ALLHAT em 2002 e a demonstração do impacto positivo da clortalidona sobre o controle pressórico e desfechos cardiovasculares, os tiazídicos ganharam destaque no tratamento da hipertensão arterial (HA), sendo hoje considerados primeira linha de tratamento, seja em monoterapia ou em associação com outros fármacos. Além disso, a HA e a doença renal crônica (DRC) frequentemente coexistem, seja como causa ou consequência da perda de função renal e muitos dos estudos utilizados para nortear a produção das diretrizes de hipertensão arterial utilizaram um grande número de pacientes com DRC. Como exemplo, nos estudos SPRINT e ALLHAT, 28% e 23,7% dos pacientes respectivamente, apresentavam DRC estágios 3 e 4.,
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Palavras-chave: Diuréticos; Hipertensão; Hipocalcemia; Insuficiência Renal Crônica/complicações; Pressão Sanguínea
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