Emergência Guarani-Mbyá nas Missões Jesuíticas. Novos atores no Patrimônio Cultural?

Autores

  • Ana Luisa Jeanty Seixas Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Arquitetura
  • Eber Pires Marzulo Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Arquitetura

DOI:

https://doi.org/10.19132/1808-5245260.43-67

Palavras-chave:

Patrimônio Cultural. Novos atores sociais. Missões. Tava. Guarani-Mbyá.

Resumo

O artigo trata do processo de valorização patrimonial e da intrínseca necessidade de problematizar ideias estabelecidas, desde uma abordagem que incorpore novos atores à questão patrimonial. Se a ideia de patrimônio cultural vem se modificando ao longo dos anos, apenas muito recentemente tem ocorrido a inclusão de atores sociais fundantes do próprio patrimônio nas regiões do globo colonizadas pelas potências europeias a partir do século XV, em especial nas Américas. Os “novos atores sociais”, muitas vezes são agrupamentos presentes desde a pré-história nos territórios com bens patrimonializados, mas que não tiveram seu legado reconhecido como patrimônio cultural, ou apenas há pouco tempo e mesmo assim de maneira subordinada e secundária. Para analisar a questão se toma como caso as Ruínas Jesuíticas Guarani, em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul/Brasil, patrimônio reconhecido oficialmente há quase um século, cuja valorização da cultura Guarani ainda precária e incompleta é constrangedoramente recente. Em particular, será analisado o processo de reconhecimento da dimensão imaterial Guarani do bem “Tava, Lugar de Referência para o Povo Guarani”, declarada patrimônio cultural brasileiro em 2014. A análise da valorização da Tava como patrimônio será realizada a partir da compreensão de diferentes narrativas constitutivas de um mesmo bem cultural. As formulações aqui apresentadas partem de pesquisa em andamento e se inserem no interior da abordagem da crítica à perspectiva colonial da patrimonialização.

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Biografia do Autor

Ana Luisa Jeanty Seixas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Arquitetura

Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2010), mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN (2013), especialização em Restauração e Reabilitação do Patrimônio pela PUCRS (2013). É doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul na linha de pesquisa "Cidade, Cultura e Política", atualmente em doutorado-sanduíche na École Des Hautes Études En Sciences Sociales - Centre de Recherches sur le Brésil Colonial et Contemporain (CRBC/EHESS) - Paris, França.
Atuou como arquiteta urbanista no IPHAN/RS (2013 - 2018) atuando principalmente nos temas de Preservação do Patrimônio Cultural, Gestão de bens culturais, Planejamento Urbano, Restauração e Reabilitação do Patrimônio edificado e Paisagem Cultural; Em 2014 foi professora do curso de Arquitetura na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Santo Ângelo.

Eber Pires Marzulo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Arquitetura

Professor Associado 4 do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e professor colaborador do Programa de Pós Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR) - UFRGS. Também faz parte do corpo docente do Curso de Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural - PLAGEDER da Faculdade de Ciências Econômicas - UFRGS. Coordena o Grupo de Pesquisa Identidade e Território/CNPq (www.ufrgs.br/gpit) com pesquisa em duas grandes linhas: identidade e território; e imagem e território. É membro do GT Democracia Participativa, Sociedade Civil e Território do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo Tem graduação bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS (1987); mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo Programa de Pós Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS (1993); e doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ (2005), com estágio de doutoramento no IRIS (Institute de recherche interdisciplinaire en socioeconomie)/CNRS, Paris IX - Dauphine (2004).

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Publicado

2020-11-07

Como Citar

SEIXAS, A. L. J.; MARZULO, E. P. Emergência Guarani-Mbyá nas Missões Jesuíticas. Novos atores no Patrimônio Cultural?. Em Questão, Porto Alegre, v. 26, p. 43–67, 2020. DOI: 10.19132/1808-5245260.43-67. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/105897. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Patrimônio e Culturas Tradicionais