Análise sociolinguística da variação na concordância nominal de gênero no português indígena sateré-mawé da Amazônia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18364/rc.v1i60.452

Palavras-chave:

concordância de gênero, português indígena, variação linguística, mudança linguística, bilinguismo.

Resumo

Seguindo os pressupostos da Sociolinguística Variacionista, o artigo apresenta os resultados de uma análise, em tempo aparente, da variação na concordância de gênero no Sintagma Nominal (SN), na variedade de português falado, em situação de bilinguismo, pelo povo indígena sateré-mawé, do Estado do Amazonas. Os dados foram retirados de oito entrevistas informais, com membros da comunidade, e submetidos ao cálculo estatístico, com o programa GoldVarb X. A variação na concordância nominal de gênero, que não ocorre normalmente no português popular do Brasil, resultaria da situação de bilinguismo da comunidade. E os resultados da análise quantitativa revelaram uma situação de mudança em progresso com a implementação do uso da regra de concordância na comunidade. Os fatores estruturais que condicionam o processo de mudança são: a configuração sintagmática do SN, a propriedade de flexão de gênero do nome núcleo do SN e sua vogal temática.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Dante Lucchesi, Universidade Federal Fluminense (UFF)

É professor titular de Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. É autor dos livros: Língua e sociedade partidas (Contexto, 2015), agraciado com o Prêmio Jabuti em 2016; Sistema, mudança e linguagem (Parábola, 2004); e organizador e autor do livro O português Afro-Brasileiro (EDUFBA, 2009). Atua nas seguintes áreas: sociolinguística, história da língua portuguesa, contato entre línguas e história da linguística.

Hellen Picanço, Universidade Federal do Amazonas

É formada em Letras Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Amazonas; possui mestrado e doutorado em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB e pós-doutorado pela Universidade Federal Fluminense - UFF. Atua no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFAM) e no Cursa de Comunicação Social/Jornalismo na Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Referências

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de; RUBIM, Altaci Corrêa. Kokama: a reconquista da língua e as novas fronteiras políticas. Revista Brasileira de Linguística Antropológica, v. 4, n. 1, p. 67-80, 2012

CARDOSO, Denise Porto. Atitudes linguísticas e avaliações subjetivas de alguns dialetos brasileiros. São Paulo: Blucher, 2015.

CHAMBERS, Jack. Sociolinguistic theory: linguistic variation and its social significance. Oxford: Blackwell, 1995.

D’ANGELIS, Wilmar. Línguas Indígenas no Brasil: urgência de ações para que sobrevivam. In: BOMFIM, A. B.; COSTA, F. V. F. da (orgs). Revitalização de língua indígena e educação escolar indígena inclusiva. Salvador: Egba, 2014. p. 93-117.

DRUDE, S. On the position of the Awetí language in the Tupi family. In. DIETRICH, W; SYMEONIDIS, H. (Eds). Guaraní y “Mawetí-Tupí-Guaraní. Berlin: Lit Verlag, 2006.

EMMERICH, Charlotte. O português de contato no parque indígena do Xingu. Revista Internacional de Língua Portuguesa. Lisboa: v. 5/6, p. 37-49, dez. 1991.

FERREIRA, Carlota. Remanescentes de um falar crioulo brasileiro. In: FERREIRA, Carlota et al. Diversidade do português do Brasil. Salvador: EDUFBA, p.21-32, 1984.

FOUGHT, Carmen. Ethnic Identity and Linguistic Contact. In: HICKEY, R. (ed.). The Handbook of Language Contact. Chichester: Wiley-Blackwell, p. 282-298, 2010.

FREITAG, Raquel. (Re)discutindo sexo/gênero na sociolinguística. In: FREITAG, R. M. K., SEVERO; GORSKI, C. (ed.). Mulheres, Linguagem e Poder - Estudos de Gênero na Sociolinguística Brasileira. São Paulo: Editora Edgard Blücher, p. 17-74, 2015.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. In: SANTIAGO, Silviano (coord.). Intérpretes do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v. 2, p. 121-645, 2002.

HICKEY, Raymond. Contact and Language Shift. In: HICKEY, R. (ed.). The Handbook of Language Contact. Chichester: Wiley-Blackwell, p. 151-169, 2010.

INVERNO, Liliana. A transição de Angola para o português vernáculo: estudo morfossintático do sintagma nominal. In: CARVALHO, Ana M. (org.). Português em Contato. Madrid: Iberoamericana/Veuvert, p. 87-106, 2009.

LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. 1 ed. São Paulo: Parábola, 2008 [1972].

LABOV, William. What can be learned about change in progress from synchrony descriptions. In: SANKOFF, David; CEDERGREN, Henrietta (Ed.). Variation Omnibus. Carbondale; Edmonton: Linguistic Research, p.177-199, 1981.

LABOV, William. Principles of linguistic change. Oxford; Cambridge: Blackwell, 1994.

LABOV, William. Principles of linguistic change: social factors. Oxford: Blackwell, 2001a.

LABOV, William. Principles of linguistic change: cognitive and cultural factors. Oxford: Wiley Blackwell, 2001b.

LABOV, William. Some sociolinguistic principles. In: PAULSTON, C. B.; TUCKER, G. R. (Org.). Sociolinguistics: the Essential Readings. Oxford: Blackwell, p. 235-250, 2003.

LABOV, William. Principles of linguistic change; cognitive and cultural factors. Oxford/Cambridge: Blackwell, v. 3, 2010.

LUCCHESI, Dante. A variação na concordância de gênero em uma comunidade de fala afro-brasileira: novos elementos sobre a formação do português popular do Brasil. 2000. Tese (Doutorado em Linguística) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

LUCCHESI, Dante. Sistema, mudança e linguagem: um percurso na história da linguística moderna. São Paulo: Parábola, 2004.

LUCCHESI, Dante. Aspectos gramaticais do português brasileiro afetados pelo contato entre línguas: uma visão de conjunto. In: RONCARATI, Cláudia; ABRAÇADO, Jussara (Org.). Português brasileiro II: contato linguístico, heterogeneidade e história. Niterói: EDUFF, 2008. p.366-390.

LUCCHESI, Dante. A concordância de gênero. In: LUCCHESI; Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (orgs.). O Português Afro-Brasileiro. Salvador: Edufba, 2009a. p. 295-318.

LUCCHESI, Dante. História do Contato entre Línguas no Brasil. In: LUCCHESI; Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (orgs.). O Português Afro-Brasileiro. Salvador: Edufba, 2009b. p. 41-73.

LUCCHESI, Dante. Conclusão. In: LUCCHESI; Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (orgs.). O Português Afro-Brasileiro. Salvador: Edufba, 2009c. p. 513-546.

LUCCHESI, Dante. A diferenciação da língua portuguesa no Brasil e o contato entre língua. Estudos de linguística galega, Santiago de Compostela, v. 4, p. 45-65, 2012a.

LUCCHESI, Dante. A deriva secular na formação do português brasileiro: uma visão crítica. In: LOBO, Tânia; CARNEIRO, Zenaide; SOLEDADE, Juliana; ALMEIDA, Ariadne; RIBEIRO, Silvana (orgs.). ROSAE: linguística histórica, história das línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2012b. p. 249-274.

LUCCHESI, Dante. O contato entre línguas e a origem do português brasileiro. In: GUGENBERGER, Eva; MONTEAGUDO, Henrique; REI-DOVAL, Gabriel. Contacto de linguas, hibrididade, cambio: contextos, procesos e consecuencias. Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega, 2013.

LUCCHESI, Dante. Língua e Sociedade Partidas: a polarização sociolinguística do Brasil. São Paulo: Contexto, 2015a.

LUCCHESI, Dante. O contato entre línguas na história sociolinguística do Brasil. In: VALENTE, André (Org.). Unidade e Variação na Língua Portuguesa: suas representações. São Paulo: Parábola, 2015b. p. 80-100.

LUCCHESI, Dante. Language in contact in Brazil and the genesis of creole languages. Journal of Ibero-Romance Creoles, v. 9, n. 1, p. 334-357, 2019a.

LUCCHESI, Dante. Por que a crioulização aconteceu no Caribe e não aconteceu no Brasil? Condicionamentos sócio-históricos. Gragoatá, Niterói, v.24, n. 48, p. 227-255, jan.-abr. 2019b.

LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan. A transmissão Linguística Irregular. In: LUCCHESI; Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (orgs.). O Português Afro-Brasileiro. Salvador: Edufba, 2009. p. 101-124.

LUCCHESI; Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (orgs.). O Português Afro-Brasileiro. Salvador: Edufba, 2009.

LUCCHESI, Dante; MACEDO, Alzira. A variação na concordância de gênero no português de contato do Alto Xingu. Papia, Brasília, v. 9, p. 20-36, 1997.

MAHER, Terezinha. Sendo índio em português... In: SIGNORINI, Inês (Org.). Língua(gem) e identidade: elementos para uma discussão no campo aplicado. Campinas: Mercado de Letras/Fapesp, 1998. p. 115-38.

MAIA. Marcus. A revitalização de línguas indígenas e seu desafio para a educação intercultural bilíngue. Tellus, ano 6, n. 11, p. 61-76, 2006

MALER, Bertil. O Orto do Esposo; glossário. Stokholm: Almqvist & Wiksell, 1964.

MATRAS, Yaron. Contact, convergence and typology. In: HICKEY, Raymond (Ed.). The Handbook of Language Contact. Chichester: Wiley-Blackwell, p. 66-85, 2010.

MCWHORTER, John. Language Interrupted. Oxford: Oxford University Press, 2007.

NARO, Anthony; SCHERRE, Marta. Origens do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2007.

PETTER, Margarida. As línguas africanas no Brasil. In: CARDOSO, Suzana; MOTA, Jacyra; MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia (Org.). Quinhentos Anos de História Linguística do Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia, p.117-141, 2006.

RODRIGUES, Aryon. Línguas indígenas: 500 anos de descobertas e perdas. Delta. São Paulo: v. 9, n. 1, p. 83-103, 1993.

RODRIGUES, A. D.; DIETRICH, W. On the linguistic relationship between mawé and tupi-guarani. Diachronica. Amsterdam: v. XIV, n. 2, p. 265-304, 1997.

ROMAINE, Suzanne. Contact and Language Death. In: HICKEY, Raymond (ed.). The Handbook of Language Contact. Chichester: Wiley-Blackwell, p. 320-339, 2010.

SANKOFF, David; TAGLIAMONTE, Sali; SMITH, Eric. Goldvarb X: a variable rule application for Macintosh and Windows. Toronto: Department of Linguistics, University of Toronto, 2005.

SCHERRE, Marta. Reanálise da concordância nominal em português. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tese de Doutorado em Linguística, 1988, 468 f.

SHERRE, Marta. Aspectos da concordância de número no português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa. Lisboa: v. 12, p. 37-49, 1994.

SILVA, Raynice Geraldine Pereira da. Estudo morfossintático da língua sateré-mawé. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, Tese de Doutorado em Linguística, 2010, 247 f.

SILVA NETO, Serafim da. História da língua portuguesa. 5 ed. Rio de Janeiro: Presença, 1988.TEIXEIRA, P. Sateré-Mawé: retrato de um povo indígena. Manaus: UFAM, 2005.

TRUDGILL, Peter. Contact and simplification: Historical baggage and directionality in linguistic change. Linguistic Typology, v. 5, n. 2-3, p. 371-374, 2001.

TRUDGILL, Peter. Sociolinguistic typology and complexification. In: SAMPSON, Geoffrey; GIL David; TRUDGILL, Peter (eds.). Language Complexity as an Evolving Variable. Oxford: Oxford University Press, p. 97-108, 2009.

TRUDGILL, Peter. Contact and Sociolinguistic Typology. In: HICKEY, Raymond (ed.). The Handbook of Language Contact. Chichester: Wiley-Blackwell, p. 299–319, 2010.

VEADO, Rosa Maria A. Comportamento linguístico do dialeto rural. Belo Horizonte: UFMG/PROED, 1982.

VOTRE, Sebastião Josué. Relevância da variável escolaridade. In: MOLLICA, Maria Cecília; BRAGA, Maria Luiza. Introdução À Sociolinguística: o Tratamento da Variação. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

WEINREICH, Uriel; LABOV, William; HERZOG, Marvin. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança lingüística. 1 ed. São Paulo: Parábola, 2006[1968].

WINFORD, Donald. An introduction to contact linguistic. Oxford: Blackwell, 2003.

Downloads

Publicado

24.12.2020

Edição

Seção

Artigos