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Recensão da obra "Sibling development: implications for mental health practitioners"

RESENHA

Recensão da obra "Sibling development: implications for mental health practitioners"* * Caspi, Jonathan. (2011). Sibling development: implications for mental health practitioners. New York: Springer Publishing.

Idonézia Collodel BenettiI** ** O autor prefere a expressão "Salubrista" para conceituar uma posição estruturada em torno da Epidemiologia em contraste com a clínica por considerar que a expressão alternativa "Sanitarista", derivada de "sanar", curar – portanto, focada na doença, não expressa adequadamente a ênfase na saúde dessa posição.

IPsicóloga, psicopedagoga e mestranda em Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Idonézia Collodel Benetti. Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Campus Universitário, Trindade-UFSC, CEP: 88040-500, Florianópolis-SC, Brasil. E-mail: denispsi@bol.com.br

Na maioria das sociedades, os irmãos usualmente crescem juntos e passam boa parte de sua infância socializando-se entre si. A proximidade física e a genética podem ser marcadas pelo desenvolvimento de laços emocionais fortes tais como hostilidade e/ou amor, que podem ser influenciados pelas práticas parentais, pela ordem do nascimento da criança na família, pela personalidade, pelas experiências pessoais vivenciadas fora do círculo familiar, etc.

Partindo desta premissa, a relação desenvolvida na fratria pode influenciar na construção e comportamento pessoal das "crianças-irmãs" em desenvolvimento. Histórias bíblicas registram cenas de violência e fratricídio (Caim e Abel) e traição entre irmãos (Esaú e Jacó). Então, desde tempos pretéritos, entre os vários tipos de violência intrafamiliar estão aquelas que se desenvolvem na fratria.

Vale salientar que, apesar da redução na taxa de natalidade em várias regiões do planeta, a maioria das crianças tem irmãos/irmãs. Mas, mesmo os filhos únicos podem sofrer os efeitos indiretos de comportamentos hostis, porém significativos, de colegas, uma vez que crianças que praticam agressões contra seus irmãos tendem a se relacionar de maneira violenta com seus pares.

Mas, afinal, que tipo de relacionamento é este? Os irmãos não costumam entrar em atrito e eventualmente se agredirem? Qual é a linha divisória entre um conflito típico do desenvolvimento entre irmãos e um comportamento abusivo? Como e quando os pais/cuidadores devem intervir em situações conflitantes durante o desenvolvimento de seus filhos? Como os terapeutas podem orientar os pais/cuidadores em questões que envolvem o desenvolvimento saudável de seus filhos?

Estas são apenas algumas inquietações, dentre tantas, que rondam os consultórios de especialistas e o cotidiano das famílias, e que são amenizadas pelos esclarecimentos presentes na obra "Sibling development: implications for mental health practitioners". Outras diferentes situações, que mostram circunstâncias opostas salientando a importância e a influência dos irmãos enquanto figuras de apego e suporte para enfrentamento de condições adversas, também são contempladas neste trabalho organizado por Jonathan Caspi, pesquisador e professor da Montclair State University – New Jersey – EUA. O livro, lançado em 2011 pela Springer Publishing Company, está dividido em três partes e apresenta os seguintes tópicos-chave:

Parte 1 – Revisão da literatura: a relação entre irmãos e sua influência no desenvolvimento humano; o relacionamento entre irmãos na prática cotidiana; a fratria como suporte para o enfrentamento de adversidades; o relacionamento entre irmãos e o contexto cultural.

Parte 2 – Cultura, contexto e outras questões: irmãos como educadores culturais e agentes de socialização; relacionamento entre irmãos em famílias divorciadas e recasadas; adolescência, morte de irmão/s e luto; irmãos em famílias com doença mental; laços entre irmãos como fonte e resgate do fortalecimento das dimensões sadias do desenvolvimento e da resiliência; desenvolvimento e relacionamento de crianças que tem irmão/s portador/es de uma ou múltiplas deficiências; irmãos de famílias com filhos adotivos; irmãos de gênero diferentes, enquanto orientação sexual; abusos de substâncias ilícitas entre irmãos e outros fatores estressores; orientação terapêutica em caso de violência entre irmãos.

Parte 3 – O direcionamento futuro das pesquisas: desenvolvimento, educação, prática parental e profissional direcionada ao relacionamento entre irmãos.

Assim como os pais, os irmãos fazem parte da nossa experiência mesmo antes de seu nascimento e, salvo as perdas por causas não-naturais, eles provavelmente permanecem em nossa companhia bem mais que nossos progenitores. Além disso, a fratria, quando pertencente aos mesmos pais biológicos, significa um conteúdo genético que nos faz mais iguais do que qualquer outra pessoa no planeta. Então, considerando, também, o contexto biológico, a relação entre irmãos pode contribuir tremendamente para o desenvolvimento e "estocagem/armazenamento" do fenômeno da resiliência, responsável por nos conduzir pelas adversidades que, inevitavelmente, fazem parte de nossa vida, assegurando suporte emocional necessário para fazer o enfrentamento em situações de risco.

Ainda sem tradução para o português brasileiro, os 17 capítulos desta obra, escritos por diferentes autores de renome na literatura, oferecem estudos de caso que ilustram como a teoria e os achados empíricos podem ser incorporados no tratamento de casos relacionados à violência na fratria. Para além desta contribuição, esta obra vem preencher uma lacuna na área da práxis, ao examinar uma série de questões culturais, clínicas e desenvolvimentais voltadas para o relacionamento entre irmãos no contexto familiar.

Assim, ao reunir o conhecimento de vários estudiosos no assunto, Jonathan Caspi oferece, em 256 páginas, subsídios para o enriquecimento da teoria e da prática clínica, bem como referência e guia para assuntos endereçados ao relacionamento entre irmãos e seu impacto na infância e no desenvolvimento adulto. Levando-se em consideração que a modulação da discórdia para a harmonia não é tarefa fácil, recomenda-se esta obra não somente para psicólogos, mas para pesquisadores, estudantes da área da Saúde, educadores e pessoas que trabalham e/ou têm interesse em estudar o comportamento e seus desdobramentos na fratria.

Recebido em 22-06-2012

Aceito em 06-12-2012

  • Endereço para correspondência

    Idonézia Collodel Benetti. Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Campus Universitário, Trindade-UFSC, CEP: 88040-500, Florianópolis-SC, Brasil.
    E-mail:
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    Caspi, Jonathan. (2011).
    Sibling development: implications for mental health practitioners. New York: Springer Publishing.
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    O autor prefere a expressão "Salubrista" para conceituar uma posição estruturada em torno da Epidemiologia em contraste com a clínica por considerar que a expressão alternativa "Sanitarista", derivada de "sanar", curar – portanto, focada na doença, não expressa adequadamente a ênfase na saúde dessa posição.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012
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