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Círculos de controle da qualidade (CCQs) no Brasil: sobrevivendo ao "modismo"

Resumos

Durante a década de ao, os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) espalharam-se como moda entre as empresas brasileiras. Muitas empresas no final da década passada abandonaram o CCQ; outras, ao contrário, mantiveram-nos fornecendo-lhes os meios para a sua sustentação. Este artigo analisa a evolução do CCQ nas empresas nas quais houve continuidade na utilização dessa prática. A partir de uma pesquisa em 37 empresas procurou-se identificar como os CCQs se difundiram, quais as mudanças ocorridas na sua estrutura e dinâmica de funcionamento, bem como as perspectivas dessas empresas em relação a essa prática.

Círculos de Controle de Qualidade (CCQs); atividades em grupo; qualidade total; modismos gerenciais


This article analyses the evolution of Quality Control Cireles (QCC) in Brazilian industries where there has been a continuity of this management practice. For this purpose, a survey was carried out in 37 firms. Apart from the process of diffusion, the changes in the QCC's elements were evaluated, as well as the firms' perspectives in relation to this practice.

Quality Control Cireles (QCC); small group aetivities; total quality; management fads


ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

Círculos de controle da qualidade (CCQs) no Brasil: sobrevivendo ao "modismo"

José Roberto FerroI; Márcia Mazzeo GrandeII

IProfessor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração da EAESP/FGV

IIEngenheira de Produçãoe Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos

RESUMO

Durante a década de ao, os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) espalharam-se como moda entre as empresas brasileiras. Muitas empresas no final da década passada abandonaram o CCQ; outras, ao contrário, mantiveram-nos fornecendo-lhes os meios para a sua sustentação. Este artigo analisa a evolução do CCQ nas empresas nas quais houve continuidade na utilização dessa prática. A partir de uma pesquisa em 37 empresas procurou-se identificar como os CCQs se difundiram, quais as mudanças ocorridas na sua estrutura e dinâmica de funcionamento, bem como as perspectivas dessas empresas em relação a essa prática.

Palavras-chave: Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), atividades em grupo, qualidade total, modismos gerenciais.

ABSTRACT

This article analyses the evolution of Quality Control Cireles (QCC) in Brazilian industries where there has been a continuity of this management practice. For this purpose, a survey was carried out in 37 firms. Apart from the process of diffusion, the changes in the QCC's elements were evaluated, as well as the firms' perspectives in relation to this practice.

Key words: Quality Control Cireles (QCC), small group aetivities, total quality, management fads.

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1. Para uma análise mais detalhada, ver ABREU, R. C. L. CCQ, Círculos de controle da qualidade: a integração homem, trabalho e qualidade total. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1991; BEARDSLEY, J. F. Círculos de qualidade: estratégias, implantação e operação. Rio de Janeiro: Intereultural, 19B3; JUSE. QC Circle kotyo: general principles of QC Circles. 2. ed. Tokyo: JUSE, 1980.

2. O fenômeno intensificou-se no inicio dos anos 80, como pode ser observado através do aumento do número de países participantes nas convenções internacionais de CCQ realizadas em Tóquio, passando de 13, em 1981, para 23, em 1985. Ver ONGLATCO, M. L. U. The universality of QC circle. In: __ o Japanese quality control circles: features, effects and problems. Tokyo: Asian Productivity Organization, 1988. p. 117-38.

3. A importância de cada um desses fatores variava de acordo com as características sociais, cuiturais, históricas e políticas de cada um dos países. Ver COLE, R. E. Estrategies for learning: smafl groups activities in American, Japanese and Swedish industry. Los Angeles: University of California, 1989.

4. DRAGO, R. Are quality circles a fad? A look at some new evidence. The Quality Circles Journal, v. 8, n. 3, p. 12-7, sep. 1985; HILL, S. Why quality círcles failed but total quality management might succeed. British Jounal of Industrial Relations, V. 29, n. 4, p. 541-68, dec. 1991; LAWLER ill, E. E. M., MOHRMAN, S. A. Quality circles afler the fado Harvard Business Review, V. 63, n. 1, p. 65-71, jan./fev. 1985.

5. ABREU, R. C. L., op. cit.; JUSE, op. cit.; PICZAK, M. W. Quality clrcles come home. Quality Progress, v. 21, n. 12, p. 37-9, dec.1988.

6. Já na década de 70, começaram asurgir as associações de CCQ com o objetivo de promover o intercâmbio de informações, o estudo e a divulgação dos Circuios. Criou-se, no início dos anos 80, um órgão de atuação nacional, a União Brasileira de Circulos de Controle da Qualidade (UBCCQ), para articular uma dezena de associações regionais. No final da década, a UBCCQ foi substituída pela União Brasileira para a Qualidade (UBQ). As associações também alteraram os seus nomes, expandindo a atuação a outros aspectos da qualidade, passando a formar seccionais da UBQ.

7. Apud FARIA, J. H. Círculos de controle de qualidade: a estratégia recente de gestão capitalista de controle e modificação do processo técnico do trabalho. Revista de Administração, v. 19, n. 3, p. 9-16, jul.iset. 1984.

8. FIGUEI REDO, L. F. ° coordenador de CCQ na empresa. In: CONGRESSO NACIONAL DE CCQ, 4, 1989, Ipanema (SC). Anais ... Ipanema (SC), 1989, 185 p., p. 51-7.

9. COSTA, M. F. S. A experiência dos circulas de controle de qualidade: um estudo de caso. Rio de Janeiro: PUC, 1985. (Dissertação de Mestrado); FURTADO, C. Círculos de controle de qualidade: um estudo de caso. Rio de Janeiro: UFRJ, 1986. (Dissertação de Mestrado); SALERNO, M. S. Produção, trabalho e participação: CCQ e kanban numa nova imigração japonesa. Rio de Janeiro: UFRJ, 1985. (Dissertação de Mestrado); TOLEDO, J. C. Qualidade industrial: conceitos, sistemas e estratégias. São Paulo: Atlas, 1987.

10. Essa situação determinava a ênfase do CCQ na empresa: programas controlados pelo Controle da Qualidade tendiam mais a se ocupar de aspectos como melhoria da qualidade, redução de custos, etc., enquanto que os controlados pelo Recursos Humanos tendiam mais para as questões de motivação e integração do trabalhador. Ver TOLEDO. J. C. Op. cit.

11. FARIA, J. H., op. cit.; FARIA, M. G. D. O sindicato, os trabalhadores e as políticas de gestão de trabalho: o caso dos círculos de controle da qualidade na região de Campinas. Campinas: IFCH/UNICAMP, 1989. (Dissertação de Mestrado); TOLEDO. J. C. Op. cit.

12. ESCRIVÃO, E. F. CCQs "just-in-time''; uma análise integrada. São Paulo: PUC, 1987. (Dissertação de Mestrado); ABREU, R. C. L. Op. cit.

13. FREYSSENET, M., HIRATA, H. S. Mudanças tecnológicas e participação dos trabalhadores: os círculos de controle de qualidade no Japão. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 25, n. 3, p. 7-20, jul./set. 1985; ABREU, R. C. L. Op. cit.

14. COLE, R. E. Op. cit.

15. CHEVALlER, F. Os círculos de qualidade são ainda um tema atual? Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 4, p. 8-14, jul./ago. 1995.

16. Esse ciclo de vida foi identificado através do estudo da evolução do CCQ em doze empresas francesas durante sete anos. Idem, ibidem.

17. Idem, ibidem.

18. KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São Paulo: EPUI EOUSp, 1980.

19. No processo de difusão de novas tecnologias pode-se observar dois efeitos: o da Imitação, quando as empresas introduzem novas tecnologias pelo fato delas estarem sendo adotadas por muitas empresas; e o da pressão externa para utilizá-Ias. No caso do CCQ, esses efeitos foram marcantes na sua di1usão, tanto entre as empresas japonesas como entre as americanas. Ver COLE, R. E. Op. cit.

20. A importância relativa de cada um desses mecanismos não pôde ser avaliada pelos dados obtidos. No entanto, a maioria das empresas criou sua capacitação através de mais de um deles, sendo valorizado o aprendizado com a experiência de outras empresas.

21. COLE, R. E. Op. cit.

22. FREYSSENET, M., HIRATA, H. S. Op. cit.: TOLEDO. J. C. Op. cit.

23. JUSE. Op. cit.

24. Idem, ibidem.

25. ABREU, R. C. L. Op.cit.: BEARDSLEY, J. F., op. cit.; CROCKER, O. L., CHARNEY, S., CHIU, J. S. L. Qualitycircles: a guide to participation and productivity New York: New American Library, 1986.

26. HILL, S. Op. cit.: OGLIASTRI, E. Gerencia japonesa y circulas de participação: experiencias en América Latina. Bogotá: Editorial Norma, 1988.

27. Essa tendência já havia sido observada entre as empresas japonesas em meados da década passada. Ver COLE. R. E. Op. cit.; WATANABE, S. Los círculos de contrai de la calidad japoneses: razónes de su eficacia. Revista Internacional dei Trabajo, v. 110, n. 2, p. 197-224, 1991.

28. JUSE. Op. cit.

29. JUSE. Op. cit.

30. HILL, S. Op. cit.

30. CHEVALIER, F. Op. cit.

31. JUSE. Op. cit.

32. HILL, S. Op. cit.

33. CHEVALIER, F Op. cit.

  • 1. Para uma análise mais detalhada, ver ABREU, R. C. L. CCQ, Círculos de controle da qualidade: a integração homem, trabalho e qualidade total. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1991;
  • BEARDSLEY, J. F. Círculos de qualidade: estratégias, implantação e operação. Rio de Janeiro: Intereultural, 19B3;
  • JUSE. QC Circle kotyo: general principles of QC Circles. 2. ed. Tokyo: JUSE, 1980.
  • 2. O fenômeno intensificou-se no inicio dos anos 80, como pode ser observado através do aumento do número de países participantes nas convenções internacionais de CCQ realizadas em Tóquio, passando de 13, em 1981, para 23, em 1985. Ver ONGLATCO, M. L. U. The universality of QC circle. In: __ o Japanese quality control circles: features, effects and problems. Tokyo: Asian Productivity Organization, 1988. p. 117-38.
  • 3. A importância de cada um desses fatores variava de acordo com as características sociais, cuiturais, históricas e políticas de cada um dos países. Ver COLE, R. E. Estrategies for learning: smafl groups activities in American, Japanese and Swedish industry. Los Angeles: University of California, 1989.
  • 4. DRAGO, R. Are quality circles a fad? A look at some new evidence. The Quality Circles Journal, v. 8, n. 3, p. 12-7, sep. 1985;
  • HILL, S. Why quality círcles failed but total quality management might succeed. British Jounal of Industrial Relations, V. 29, n. 4, p. 541-68, dec. 1991;
  • LAWLER ill, E. E. M., MOHRMAN, S. A. Quality circles afler the fado Harvard Business Review, V. 63, n. 1, p. 65-71, jan./fev. 1985.
  • 5. ABREU, R. C. L., op. cit.; JUSE, op. cit.; PICZAK, M. W. Quality clrcles come home. Quality Progress, v. 21, n. 12, p. 37-9, dec.1988.
  • 7. Apud FARIA, J. H. Círculos de controle de qualidade: a estratégia recente de gestão capitalista de controle e modificação do processo técnico do trabalho. Revista de Administração, v. 19, n. 3, p. 9-16, jul.iset. 1984.
  • 8. FIGUEI REDO, L. F. ° coordenador de CCQ na empresa. In: CONGRESSO NACIONAL DE CCQ, 4, 1989, Ipanema (SC). Anais ... Ipanema (SC), 1989, 185 p., p. 51-7.
  • 9. COSTA, M. F. S. A experiência dos circulas de controle de qualidade: um estudo de caso. Rio de Janeiro: PUC, 1985. (Dissertação de Mestrado);
  • FURTADO, C. Círculos de controle de qualidade: um estudo de caso. Rio de Janeiro: UFRJ, 1986. (Dissertação de Mestrado);
  • SALERNO, M. S. Produção, trabalho e participação: CCQ e kanban numa nova imigração japonesa. Rio de Janeiro: UFRJ, 1985. (Dissertação de Mestrado);
  • TOLEDO, J. C. Qualidade industrial: conceitos, sistemas e estratégias. São Paulo: Atlas, 1987.
  • 11. FARIA, J. H., op. cit.; FARIA, M. G. D. O sindicato, os trabalhadores e as políticas de gestão de trabalho: o caso dos círculos de controle da qualidade na região de Campinas. Campinas: IFCH/UNICAMP, 1989. (Dissertação de Mestrado);
  • 12. ESCRIVÃO, E. F. CCQs "just-in-time''; uma análise integrada. São Paulo: PUC, 1987. (Dissertação de Mestrado);
  • 13. FREYSSENET, M., HIRATA, H. S. Mudanças tecnológicas e participação dos trabalhadores: os círculos de controle de qualidade no Japão. RAE-Revista de Administração de Empresas, v. 25, n. 3, p. 7-20, jul./set. 1985;
  • 15. CHEVALlER, F. Os círculos de qualidade são ainda um tema atual? Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 4, p. 8-14, jul./ago. 1995.
  • 18. KERLINGER, F. N. Metodologia da pesquisa em ciências sociais: um tratamento conceitual. São Paulo: EPUI EOUSp, 1980.
  • 25. ABREU, R. C. L. Op.cit.: BEARDSLEY, J. F., op. cit.; CROCKER, O. L., CHARNEY, S., CHIU, J. S. L. Qualitycircles: a guide to participation and productivity New York: New American Library, 1986.
  • 26. HILL, S. Op. cit.: OGLIASTRI, E. Gerencia japonesa y circulas de participação: experiencias en América Latina. Bogotá: Editorial Norma, 1988.
  • 27. Essa tendência já havia sido observada entre as empresas japonesas em meados da década passada. Ver COLE. R. E. Op. cit.; WATANABE, S. Los círculos de contrai de la calidad japoneses: razónes de su eficacia. Revista Internacional dei Trabajo, v. 110, n. 2, p. 197-224, 1991.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Out 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 1997
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