Acessibilidade / Reportar erro

EDITORIAL

Nos momentos de grandes mudanças, misturam-se e se intensificam incertezas, medos e esperanças. A humanidade atravessa grandes turbulências a ponto de parecer ter perdido o rumo e mesmo os caminhos a seguir. Estamos sendo conduzidos a pensar que é natural e justo que a economia desbanque a ética e a política na organização da sociedade. Isso se naturalizou de tal maneira a não mais se perceber que as instabilidades econômicas são em grande parte produzidas pelos poderosos do mundo. (Relatório da Oxfam (2015) informa que a riqueza dos 62 indivíduos mais ricos equivale ao que possui cerca da metade da população mundial, correspondente a 3,6 bilhões de indivíduos). Nem vemos com clareza que o cidadão se anula, deixa de ser sujeito ativo e produtivo para o meio em que vive, dissolve-se numa massa disforme em que as consciências são modeladas de acordo com as conveniências de um sistema global dominado pelo poder do dinheiro. Incertezas, perda dos valores, consumismo, individualismo, violências, drogas são algumas das mais fundas marcas da grave crise ética da sociedade global. Mas, embora seres imperfeitos e até mesmo bárbaros que somos, ainda nos é possível e preciso alimentar sonhos, projetos e esperanças. Principalmente em tempos de valores liquefeitos e certezas autoevidentes, como os atuais, são profundamente necessários a reflexão e a esperança, o juízo crítico e os sonhos de um mundo melhor. Por isso, cada vez mais a educação é imprescindível. Nada disso deve ser estranho aos professores e pesquisadores universitários. H. Thoreau, em meados do século XIX, anunciava em sua notável obra, Walden, que não ia fazer uma ode ao desânimo, mas gargantear como um galo matutino nem que fosse apenas para acordar os vizinhos. Eis aí uma bela sugestão aos intelectuais. É cada vez mais necessário que o ofício dos intelectuais, e, então, dos educadores, incorpore essa responsabilidade socialmente atribuída de provocar reflexões e de fazer aflorar alguns consensos e também muitos dissensos naturalmente encobertos. Uma revista acadêmica, como esta, não pode denegar o compromisso da crítica bem fundamentada e socialmente relevante. Ainda há vários caminhos e não necessariamente devemos escolher os da passividade e da desesperança. Educação é um dos antídotos da barbárie. O humano é imperfeito; a missão da educação é contribuir para diminuir um pouco, e ainda que muito precariamente, a inescapável imperfeição humana. Essa tarefa sempre inacabada é exercida com conhecimentos, valores e uma forte dose de esperança e sonhos. Sem a esperança, a educação seria um contrassenso. A educação superior se constitui de instituições cuja finalidade principal é a formação de cidadãos-profissionais dotados das qualidades intelectuais, sociais, éticas, políticas e profissionais que uma sociedade solidária, justa e cientificamente evoluída requer. Formação e produção de conhecimentos são inseparáveis e coessenciais: uma não existe sem a outra. O essencial a lembrar é que são patrimônios públicos. Então, pertencem à sociedade como um todo e não ao uso individual e ao benefício particular. Sua razão de existir consiste no compromisso inscrito na própria natureza pública de contribuir para a construção da sociedade e o bem-viver das pessoas, e não para o aprofundamento da ética individualista, excludente e possessiva, e do enriquecimento a qualquer preço dos indivíduos, das empresas, dos grandes conglomerados e dos blocos de países cada vez mais empoderados pelo dinheiro e pela ideologia. Revistas acadêmicas e científicas têm o dever moral, político e técnico de cumprir o compromisso que socialmente lhes é atribuído: a de produzir e disseminar conhecimentos com relevância científica e pertinência social, isto é, que correspondam às reais necessidades de elevação da humanidade. É o que nos anima, ao longo de 20 anos, 72 edições, sem atrasos nem interrupções, a publicar esta revista Avaliação. Oxalá os leitores continuem a nos honrar com suas contribuições e incentivos, nessa tarefa de pensar e estudar temas relevantes da educação superior.

Esta edição reúne 15 trabalhos que abordam assuntos importantes e atuais da temática desta revista. Alguns tratam de questões mais amplas, outros abordam objetos mais específicos e restritos, porém todos de grande atualidade. Eis alguns desses temas: internacionalização, pertinência social, evasão, estilos de aprendizagem, autoavaliação, análise de provas, cotas, políticas de comunicação, formação de enfermeiras, educação e saúde, inovação no discurso pedagógico, políticas de inclusão etc.. Seguem-se os textos e seus autores. "Internacionalização da Educação Superior: a dimensão intercultural e o suporte institucional na avaliação da mobilidade acadêmica (Maria Beatriz Luce, Caterine Vila Fagundes e Olga González Mediel. "Universidade e pertinência social: alguns apontamentos para reflexão" (Ana Carolina Spatti, Milena Pavan Serafim e Rafael de Brito Dias). "Estilos de aprendizagem: um estudo comparativo" (Camila da Silva Schimitt e Maria José Carvalho de Souza Domingues); "Análise do conteúdo das provas da área de Ciências Contábeis: edições do Provão 2002/2003 e do ENADE de 2006" (Nálbia de Araújo Santos e Luís Eduardo Afonso); "Avaliação da política de cotas da UEPG: desvelando o direito à igualdade e à diferença" (Andreliza Cristina de Souza e Mary Ângela Teixeira Brandalise); "Communication policies of Spanish universities targeting prospective students: an evaluation by secondary schools" ("políticas de comunicação de universidades espanholas visando os futuros alunos: uma avaliação pelas escolas secundárias" - Marta Barandiaran Galdós, Miren Barrenetxea Ayesta, Antonio Cardona Rodríguez, Ana Mª Martín Arroyuelos, Juan José Mijangos del Campo, Jon Olaskoaga Larrauri); "Diagnóstico da qualidade em uma IES: a percepção da comunidade acadêmica" (Sidnei Vieira Marinho e Gabriella Depiné Poffo); "Avaliação da formação de enfermeiros: o reflexo dos métodos de ensino-aprendizagem e pressupostos curriculares na prática profissional" (Anete Maria Francisco, Maria Cristina Guimarães da Costa, Cássia Galli Hamamoto e Maria de Lourdes Marmorato Botta Hafner); Avaliação dos índices de evasão nos cursos de graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC (Delsi Fries Davok; Rosilane Pontes Bernard); "A inclusão de universitários com deficiência em cursos de Educação Física na cidade de Maceió/AL" (David dos Santos Calheiros e Neiza de Lourdes Frederico Fumes); Evasão e Retenção no Curso de Biblioteconomia da UFRGS (Samile Andrea de Souza Vanz, Patrícia Mallmann Souto Pereira, Glória Isabel Sattamini Ferreira, Geraldo Ribas Machado); Cotas e desempenho acadêmico na UFBA: um estudo a partir dos coeficientes de rendimento" (Adriano de Lemos Alves Peixoto, Elisa Maria Barbosa de Amorim Ribeiro, Antônio Virgilio Bittencourt Bastos e Maria Cecilia Koehne Ramalho); "O significado da autoavaliação na perspectiva de técnicos-administrativos de uma universidade pública" (Ana Elisa de Souza Falleiros, Márcio Lopes Pimenta e Valdir Machado Valadão Júnior); "Inovação abertura no discurso das práticas pedagógicas" (Daniervelin Renata Marques Pereira e Danilo Rodrigues César; "Tecendo os fios entre educação e saúde: avaliação do Programa da Residência Multiprofissional em Saúde" (Soraya Diniz Rosa e Roseli Esquerdo Lopes).

Julho de 2016

José Dias Sobrinho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Jul 2016
Publicação da Rede de Avaliação Institucional da Educação Superior (RAIES), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade de Sorocaba (UNISO). Rodovia Raposo Tavares, km. 92,5, CEP 18023-000 Sorocaba - São Paulo, Fone: (55 15) 2101-7016 , Fax : (55 15) 2101-7112 - Sorocaba - SP - Brazil
E-mail: revistaavaliacao@uniso.br