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Tabaco: um problema pediátrico

Tobacco: a pediatric problem

EDITORIAL

Tabaco: um problema pediátrico

Tobacco: a pediatric problem

Ana Cecilia P. R. MarquesI; Ronaldo Ramos LaranjeiraII

IDoutora em Ciências pela Unifesp, São Paulo, SP, Brasil

IIProfessor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, São Paulo, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Ana Cecilia P. R. Marques Rua Oscar Freire, 530, conjunto 52 CEP 01426-001 - São Paulo/SP E-mail: rmarq@terra.com.br

A família é a matriz para a formação e desenvolvimento dos indivíduos que a compõem, transmitindo valores, regras, costumes e ideais. Sua influência vai desde padrões de comportamento até a qualidade da saúde de seus membros em todas as etapas da vida. Se o modelo parental tem como característica o uso do tabaco, os demais membros da família, principalmente as crianças, sofrerão esse impacto de forma direta - achados comprovados por pesquisas internacionais e nacionais(1,2).

As repercussões do uso de drogas psicotrópicas por gestantes tem sido alvo de estudos na atualidade. Além de atravessarem a placenta e modificarem o desenvolvimento do feto, a manutenção do uso da substância pela mãe após o parto pode acarretar diferentes problemas por meio do aleitamento e do ambiente poluído(3,4). O tabaco diminui a produção de leite, a concentração de gordura do leite e reduz o tempo de amamentação, além de agredir drasticamente as vias aéreas da lactante e das crianças(5). A nicotina se acumula no leite humano cerca de 30 minutos após o consumo de um cigarro e pode ser encontrada em concentrações até três vezes maiores que no sangue materno(5-9). A exposição à fumaça aumenta o risco de várias doenças como otite, bronquite, pneumonia, irritação do trato respiratório superior, redução da função pulmonar, aumento do número de episódios e da gravidade de crises de asma(10,11). Neste número da Revista Paulista de Pediatria, Del Ciampo et al(12) encontraram resultados alarmantes em pesquisa com gestantes: 19,2% eram tabagistas ativas, 28,2% tabagistas passivas e 16,8% tabagistas ativas e passivas, o que mostra uma prevalência acima da população geral feminina.

E o problema não acaba aí. A adolescência, uma etapa de desenvolvimento biológico e psicossocial do indivíduo de grande vulnerabilidade, é outro momento no qual a influência da família é fundamental. Moreno et al(13)estudaram uma amostra de estudantes adolescentes de escolas municipais, cujo principal achado foi o fato de que ser adolescente usuário de bebida alcoólica ou de tabaco está associado significativamente com ter familiar que bebe e fuma. A influência do meio familiar é contínua e fator preponderante no equilíbrio do indivíduo; além do mais, o início precoce de tabaco aumenta muito as chances do desenvolvimento da dependência e de agravos à saúde na idade adulta(14,15).

A família, dessa maneira, exerce um papel primordial na construção e formação do indivíduo, mas uma avaliação pediátrica aprofundada no tema pode redimensionar esse impacto. Ações de prevenção e promoção à saúde devem ser ampliadas junto às escolas, assim como ações educativas sistemáticas e continuadas precisam ser repetidas nos programas de assistência pré-natal e de puericultura.

Instituição: Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), São Paulo, SP, Brasil

  • 1. Pratta EM, Santos MA. Opiniões dos adolescentes do ensino médio sobre o relacionamento familiar e seus planos para o futuro. Paideia 2007;17: 103-14.
  • 2. Ramirez RM, Andrade D. La familia y los factores de riesgo relacionados con el consumo de alcohol y tabaco en los niños y adolescentes. Rev Lat-Am Enfermagem 2005;13:813-8.
  • 3. Del Ciampo LA, Ricco RG, Almeida CA. Aleitamento materno: passagens e transferências mãe-filho. São Paulo: Atheneu; 2004.
  • 4. Parackal S, Ferguson E, Harraway J. Alcohol and tobacco consumption among 6-24-months post-partum New Zealand womem. Matern Child Nutr 2007;3:40-51.
  • 5. Dahlström A, Ebersjö C, Lundell B. Nicotine exposure in breastfed infants. Acta Paediatr 2004;93:810-6.
  • 6. Laurberg P, Nohr SB, Pedersen KM, Fuglsang E. Iodine nutrition in breast-fed infants in impaired by maternal smoking. J Clin Endocrinol Metab 2004;89:181-7.
  • 7. Knudsen A. Tobacco - enemy of public health from conception to grave. Acta Paediatr 2004;93:1420.
  • 8. Stepans MB, Wilhelm SL, Dolence K. Smoking hygiene: reducing infant exposure to tobacco. Biol Res Nurs 2006;8:104-14.
  • 9. Mascola MA, van Vunakis H, Tager IB, Speizer FE, Hanrahan JP. Exposure of young infants to environmental tobacco smoke: breast-feeding among smoking mothers. Am J Public Health 1998;88:893-6.
  • 10. Mello PR, Pinto GR, Botelho C. The influence of smoking on fertility, pregnancy and lactation. J Pediatr (Rio J) 2001;77:257-64.
  • 11. Del Ciampo LA, Almeida CA, Ricco RG. The children as a passive smoking. Rev Paul Ped 1999;17:74-8.
  • 12. Del Ciampo LA, Ricco RG, Ferraz IS, Daneluzzi JC, Martinelli Jr CE. Prevalência de tabagismo e consumo de bebida alcoólica em mães de lactentes menores de seis meses de idade. Rev Paul Pediatr 2009;27:361-5.
  • 13. Moreno RS, Ventura RN, Bretãs JR. Ambiente familiar e consumo de álcool e tabaco entre adolescentes. Rev Paul Pediatr 2009;27:354-60.
  • 14. Baus J, Kupek E, Pires M. Prevalência e fatores de risco relacionados ao uso de drogas entre escolares. Rev Saude Publica 2002;36: 40-6.
  • 15. Ramirez RM, Andrade D. La familia y los factores de riesgo relacionados con el consumo de alcohol y tabaco en los niños y adolescentes. Rev Lat-Am Enfermagem 2005;13:813-8.
  • Endereço para correspondência:

    Ana Cecilia P. R. Marques
    Rua Oscar Freire, 530, conjunto 52
    CEP 01426-001 - São Paulo/SP
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jan 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009
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