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Carta ao editor

CARTA AO EDITOR

Publicamos abaixo a carta recebida do Prof. Ivan P. de Arruda Campos, referente ao artigo de Rocha-Filho e Chagas, publicado em Química Nova 1999, 22 p. 769 e a seguir, a resposta dos autores:

PNICTOGÊNIOS

Com referência ao artigo: "Sobre os Nomes dos Elementos Químicos, ...",1 gostaria inicialmente de louvar publicamente aos autores por suas considerações no que tange ao Vocabulário Ortográfico. Indubitavelmente essa é a única postura sustentável a esse respeito.

Por outro lado, cabe comentar o caso do nome coletivo para os elementos do grupo 15. Apesar de não ter sido (ainda) sancionado pela IUPAC, acredito que ele tenha vindo para ficar.

Mesmo em inglês, "pnicogen" é um neologismo bastardo, cuja forma correta tem de ser "pnictogen", pois se trata de um derivado de pniktoV (estrangulado, com três abonações nos Evangelhos2 em grego) e não diretamente de pnigw (estrangular, sufocar). Nesse aspecto o nome é mais diretamente relacionado a Stickstoff (literalmente: o que sufoca ou asfixia, nome alemão para nitrogênio, tanto o elemento como a substância simples) do que diretamente ao Azoto de Lavoisier, ainda que aquele seja nada mais que uma tradução algo interpretativa deste... Esta opinião parece ser compartilhada por muitos membros da comunidade, visto que uma busca que realizei em 20/09/99 no Science Citation Index3 (1973-1999) retornou 112 ocorrências para "pnictogen or pnictide or pnictogenide" versus 31 ocorrências para "pnicogen or pnicide or pnicogenide".

Efetivamente, quando aportuguesado, "pnicogênio(s)" contém um cacófato inaceitável, mas isto se resolve caso se adote a forma mais justificável "pnictogênio(s)".

Cabe ressaltar que esta posição não será esvaziada pela futura entrada em vigor do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (que deveria ter ocorrido em 1994, mas ainda não se deu por não se terem cumprido os pré-requisitos enunciados em seu preâmbulo4) pois, em sua Base IV, § 1o., Item a, esta legisla: "Conservam-se [as seqüências consonânticas cc,, ct, pc,e pt] nos casos em que são invariavelmente proferidas nas pronúncias cultas da língua: compacto, ..., convicto, ..., pacto, ...". É o caso, assim como também o é em "pectizar" e seu antônimo "peptizar" (ademais "petizar" significa tornar petiz...), bem como em "ótica" e "óptica". Quanto à seqüência consonântica pn, esta será sempre conservada, na medida em que, sobre ela, a Reforma cala.

Por fim, gostaria de observar que a forma "Metais Alcalino-Terrosos", parece-me mas fiel ao sentido de "Alkaline Earth Metals", além de consagrada pelo uso5 no País. Assim, não compreendo o porquê de se propor a alternativa "Metais Alcalinos Terrosos".

Referências

1. Rocha-Filho, R. C.; Chagas, A. P. ; Quim. Nova 1999, 22, 769.

2. , Evangelhos; Atos dos Apóstolos 15, 20; 15, 29 e 21, 25.

3. , Science Citation Index Expanded In Web of Science [http://webofscience.fapesp.br]; ISI.

4. Estrela, E.; A Questão Ortográfica, Editorial Notícias, Lisboa, ca. 1993, p. 205.

5. Pauling, L.; Química Geral, Ao Livro Técnico, RJ, 1969, vol. 1, cap. 6, p. 138.

Prof. Dr. Ivan P. de Arruda Campos

ICET-UNIP

Av. Alphaville 3500, 06400-000

Santana de Parnaíba - SP

e-mail: ipdacamp@iq.usp.br

Resposta à Carta ao Editor de Química Nova

São Carlos e Campinas, 1 de dezembro de 1999

Prof. Dr. Ivan P. de Arruda Campos

Agradecemos a atenção e as observações do prezado colega.

Sua sugestão para a forma "pnictogênio" em lugar de "pnicogênio" é muito boa. Entretanto, com relação ao uso deste termo, mencionamos no artigo que "felizmente não foi aprovado". Nosso comentário foi devido ao fato de ser apenas um nome a mais e que não acrescenta nada. O espírito das regras da IUPAC é racionalizar para simplificar, respeitando a tradição.

De fato, o colega tem razão quanto à presença do hífem em metais alcalino-terrosos (e não "metais Alcalinos-Terrosos" [sic]). Como a denominação metais terrosos praticamente não é mais usada, justifica-se a ausência do hífen. Porém, implicitamente, ela existe e alcalino-terroso é um novo nome, conforme as regras do Vocabulário Ortográfico. No entanto não cremos que a forma metais alcalinos terrosos seja uma contravenção gramatical.

Mais uma vez agradecemos sua valiosa colaboração.

Romeu C. Rocha-Filho

Departamento de Química, Universidade Federal de São Carlos,

CP 676, 13560-970 - São Carlos - SP

romeu@dq.ufscar.br

Aécio Pereira Chagas

Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas,

CP 6154, 13083-970 - Campinas - SP

aecio@iqm.unicamp.br

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Out 2000
  • Data do Fascículo
    Abr 2000
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