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Empreendedorismo Internacional: Mapeamento Temático e Proposta de Agenda de Pesquisa

Resumo

O objetivo deste estudo foi realizar uma análise bibliométrica da produção sobre Empreendedorismo Internacional (EI). Para tanto, a partir de perspectivas da estrutura temática do campo, foi utilizada a técnica de mapeamento temático para modelar o conhecimento produzido no campo de estudos de EI. Os dados da produção científica sobre o tema foram coletados a partir de consulta nas bases da Scopus e da Web of Science. Emergiram do estudo três mapas temáticos representando os períodos 1995-2004, 2005- 2014 e 2015-2022. O estudo conclui que o EI é uma área de pesquisa que cresceu bastante a partir do segundo período, apresentando um aumento explosivo nas publicações, passando de 127 no primeiro período para 1.042 no segundo. Esse aumento se manteve constante chegando a 1.934 no terceiro e último período. Os temas que mais se destacam e são mais representativos na pesquisa sobre EI foram: desempenho das empresas no EI, inovação, conhecimento, empresas empreendedoras, orientação empreendedora, gestão, estratégia, modelo e comportamento exportador . Nota-se também uma variação conceitual dos temas, em que se destaca o tema desempenho, mantendo uma alta representatividade nos três períodos e com deslocamentos entre os temas básicos – transversais – e os temas-motor. Outro destaque é o tema capabilities , que, com o tempo, derivou no tema dynamic capabilities . Já como temas emergentes aparecem desempenho, orientação empreendedora, empreendedorismo, impacto e gestão. A partir dos resultados e das conclusões deste estudo, é proposta uma agenda de pesquisa.

empreendedorismo internacional; bibliometria; agenda de pesquisa; mapa temático

Abstract

This study aimed to carry out a bibliometric analysis of the production on International Entrepreneurship IE based on perspectives of the thematic structure of the field using thematic mapping techniques to model the knowledge produced in it. Data from the scientific production on the subject were collected from Scopus and Web of Science databases. Three thematic maps representing the periods of 1995-2004, 2005-2014 and 2015-2022 were yielded in the study. The discussion of results concludes that IE is a research area that has grown significantly since the second period, showing a considerable increase in publications from 127 in the first period to 1,042 in the second. This increase remained constant reaching 1,934 in the third and final period. The themes that stood out the most and were most representative in the field of IE were: performance of companies in IE, innovation, knowledge, entrepreneurial companies, entrepreneurial orientation, management, strategy, model and export behavior. A conceptual variation of the themes was also observed with the performance theme standing out, maintaining a high representativeness in the three periods analyzed with displacements between the basic themes – transversal – and the driving themes. Another highlight was the capabilities theme, which, over time, resulted in the dynamic capabilities theme. As emerging themes, performance, entrepreneurial orientation, entrepreneurship, impact and management appear. Based on the results and conclusions of this study, a research agenda is proposed.

international entrepreneurship; bibliometrics; research agenda; thematic map

Introdução

O Empreendedorismo Internacional (EI), após a publicação do estudo de McDougall (1989)McDougall, P. P. (1989). International versus domestic entrepreneurship: New venture strategic behavior and industry structure. Journal of Business Venturing, 4(6), 387-400. doi:10.1016/0883-9026(89)90009-8
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, considerado o primeiro trabalho publicado na área, iniciou seu desenvolvimento atraindo diversos autores e contribuições que marcaram a evolução do tema, entre elas as de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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, McDougall e Oviatt (2000)McDougall, P. P., Oviatt, B. M. (2000). International entrepreneurship: The intersection of two research paths. Academy of Management Journal, 43(5), 902-906. doi:10.2307/1556418
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, Zahra e George (2002)Zahra, S. A., George, G. (2002). International entrepreneurship: The current status of the field and future research agenda. In M. A. Hitt, R. D. Ireland, S. M. Camp, D. L. Sexton (Eds.), Strategic entrepreneurship: Creating a new mindset (pp. 253-288). New Jersey: Blackwell. , Knight e Cavusgil (1996Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (1996). The born global firm: A challenge to traditional internationalization theory. Advances in International Marketing, 8, 11-26. , 2004Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
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) e Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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. Existe consenso de que o ponto de partida para o aumento das pesquisas na área do EI foi o trabalho seminal de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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com a definição de International New Ventures (INV) . Por outro lado, de acordo com McDougall e Oviatt (2000)McDougall, P. P., Oviatt, B. M. (2000). International entrepreneurship: The intersection of two research paths. Academy of Management Journal, 43(5), 902-906. doi:10.2307/1556418
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e Zahra e George (2002)Zahra, S. A., George, G. (2002). International entrepreneurship: The current status of the field and future research agenda. In M. A. Hitt, R. D. Ireland, S. M. Camp, D. L. Sexton (Eds.), Strategic entrepreneurship: Creating a new mindset (pp. 253-288). New Jersey: Blackwell. , o EI nasce a partir da união de duas áreas: os negócios internacionais e o empreendedorismo.

Também existe concordância entre autores de que, dentre os gatilhos para o surgimento do fenômeno EI, contam os avanços na tecnologia, nas comunicações e nos transportes ( Autio, 2005Autio, E. (2005). Creative tension: The significance of Ben Oviatt's and Patricia McDougall's article 'toward a theory of international new ventures'. Journal of International Business Studies, 36, 9-19. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400117
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; Knight & Liesch, 2016Knight, G. A., Liesch, P. W. (2016). Internationalization: From incremental to born global. Journal of World Business, 51(1), 93-102. doi:10.1016/j.jwb.2015.08.011
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; McDougall & Oviatt, 2000McDougall, P. P., Oviatt, B. M. (2000). International entrepreneurship: The intersection of two research paths. Academy of Management Journal, 43(5), 902-906. doi:10.2307/1556418
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; Zahra, 2021)Zahra, S. A. (2021). International entrepreneurship in the post Covid world. Journal of World Business, 56(1), 101143. doi:10.1016/j.jwb.2020.101143
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. Esses fatores possibilitaram a internacionalização dos INV ( Oviatt & McDougall, 1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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, bem como das empresas chamadas Born Global (BG) ( Knight & Cavusgil, 1996, 2004)Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (1996). The born global firm: A challenge to traditional internationalization theory. Advances in International Marketing, 8, 11-26. , 2004Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
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), inclusive alcançando novos mercados desde a sua concepção ou muito próximo daquilo.

De acordo com o estudo bibliométrico de Baier-Fuentes, Merigó, Amorós e Gaviria-Marín (2018), publicações sobre o EI apresentaram um aumento considerável nos anos mais recentes – 85,6% entre 2006 e 2015. Os autores informam que as publicações, regionalmente falando, se concentram maioritariamente em alguns países da Europa e que os Estados Unidos aparecem como o país mais importante em relação às publicações na área. Já em relação à América Latina, somente quatro países aparecem nos resultados do estudo: Brasil, Chile, Colômbia e Costa Rica. Nave e Ferreira (2022)Nave, E., Ferreira, J. J. (2022). A systematic international entrepreneurship review and future research agenda. Cross Cultural & Strategic Management, 29(3), 639-674. doi:10.1108/CCSM-11-2021-0204
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, na sua revisão sistemática, consideraram os últimos 27 anos de publicações na área do EI. Os autores afirmam que a produção sobre EI apresenta um aumento em publicações e citações principalmente a partir de 2014. Além disso, os autores informam quatro clusters principais que englobam a produção sobre o EI, a saber: redes e oportunidades de negócios internacionais, ambientes institucionais, características e motivações do empreendedor e estímulos e processos de internacionalização.

Observa-se que, nos últimos anos, junto com o aumento das publicações sobre o EI, também houve aumento do interesse pela realização de revisões sistemáticas que contribuam para o estado da arte da área. Porém, e segundo Baier-Fuentes et al. (2018)Baier-Fuentes, H., Merigó, J. M., Amorós, J. E., Gaviria-Marín, M. (2018). International entrepreneurship: A bibliometric overview. International Entrepreneurship and Management Journal, 15(2), 385-429. doi:10.1007/s11365-017-0487-y
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, ainda existe escassez de trabalhos que utilizem técnicas bibliométricas para suas análises na área do EI – a maioria dos estudos se limita à utilização da estatística descritiva para apresentação de resultados.

A partir da aplicação de procedimentos bibliométricos é possível estudar e medir textos e informações em grande volume, principalmente dois: a análise de desempenho e o mapeamento (Cobo, López-Herrera, Herrera-Viedma, & Herrera, 2011). Segundo esses autores, o objetivo da análise de desempenho é avaliar grupos como países, universidades e pesquisadores e o impacto de suas atividades. Já o mapeamento busca demonstrar os aspectos dinâmicos e estruturais da pesquisa, ou seja, o mapeamento é usado para representar a estrutura cognitiva de determinada área de pesquisa. No caso da motivação deste estudo, considera-se o notável aumento nas publicações na área do EI e a falta, segundo Baier-Fuentes et al. (2018)Baier-Fuentes, H., Merigó, J. M., Amorós, J. E., Gaviria-Marín, M. (2018). International entrepreneurship: A bibliometric overview. International Entrepreneurship and Management Journal, 15(2), 385-429. doi:10.1007/s11365-017-0487-y
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, de estudos que contribuam com análises bibliométricas em se tratando do EI. Buscou-se oferecer fundamento para a construção de futuros estudos teóricos e empíricos, ao mostrar e analisar a evolução do tema considerando toda a publicação desde 1989 e tomando como marco o artigo seminal de McDougall (1989)McDougall, P. P. (1989). International versus domestic entrepreneurship: New venture strategic behavior and industry structure. Journal of Business Venturing, 4(6), 387-400. doi:10.1016/0883-9026(89)90009-8
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.

Portanto, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise bibliométrica da produção sobre o EI, aprofundando-se, especificamente, no mapeamento temático. Busca-se, assim, contribuir para o estado da arte do tema EI, apresentando mapas temáticos para diferentes períodos. Considera-se uma contribuição como essa, relevante, devido ao fato de que o tema EI tem demonstrado um aumento importante nas publicações, como já mencionado, bem como as modificações e adaptações que os EI têm demonstrado ao longo do tempo, por exemplo, em termos de formas de empreender e velocidade, passando de EI mais tradicionais para as BG, mais atreladas às novas tecnologias, como apontado por Knight e Cavusgil (2004)Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
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. A partir disso, propõe-se uma agenda, a fim de direcionar futuras pesquisas na área que possam considerar as novas tendências e aspectos encontrados e destacados pelos mapas temáticos deste estudo. Para tanto, foram seguidas as orientações de Fisch e Block (2018)Fisch, C., Block, J. (2018). Six tips for your (systematic) literature review in business and management research. Management Review Quarterly, 68(2), 103-106. doi:10.1007/s11301-018-0142-x
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, neste ponto, especificamente, em relação à formulação dos seguintes questionamentos: Quais os temas centrais da produção na área do EI? Quais os temas emergentes dentro do EI?

Procedimentos metodológicos

Este estudo empírico examina a “produção de conhecimento” dos estudos de empreendedorismo internacional a partir de perspectivas da estrutura temática do campo, utilizando na revisão sistemática da literatura o mapeamento temático para modelar o conhecimento produzido no campo de estudos de EI.

Neste estudo foram seguidas as orientações de Fisch e Block (2018)Fisch, C., Block, J. (2018). Six tips for your (systematic) literature review in business and management research. Management Review Quarterly, 68(2), 103-106. doi:10.1007/s11301-018-0142-x
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para revisões sistemáticas da literatura na área de negócios: apresentar a motivação para o tema e formular questões de pesquisa que nortearam os estudos; identificar a literatura relevante de forma sistemática; equilibrar amplitude e profundidade das fontes de análise; concentrar a análise nos conceitos e não nos estudos; obter uma conclusão relevante, delineando caminhos para pesquisas futuras; seguir uma estrutura de artigo coerente com um artigo empírico.

Em relação ao mapeamento temático, especificamente, foi usada a abordagem proposta por Cobo et al. (2011)Cobo, M. J., López-Herrera, A. G., Herrera-Viedma, E., Herrera, F. (2011). An approach for detecting, quantifying, and visualizing the evolution of a research field: A practical application to the Fuzzy Sets Theory field. Journal of Informetrics, 5(1), 146- 166. doi:10.1016/j.joi.2010.10.002
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de esquema gráfico de mapa temático, do qual, a partir de duas perpendiculares (vertical e horizontal) num eixo cartesiano com a densidade de Callon – medida de força interna da rede – na ordenada e a centralidade de Callon – medida do grau de interação de uma rede com outras redes – na abscissa, decorrem quatro quadrantes ( Figura 1 ).

Figura 1
Mapa temático.

Como se vê na Figura 1 , o quadrante superior direito indica temas motores para campo – bem-desenvolvidos e importantes –, pois apresentam forte centralidade e alta densidade.

Por sua vez, o quadrante inferior direito apresenta temas básicos e transversais, importantes para o campo, mas pouco desenvolvidos, pois tem forte centralidade e baixa densidade. Já o quadrante inferior esquerdo mostra temas emergentes ou em desaparecimento, pois tem baixa densidade e fraca centralidade. Por fim, o quadrante superior esquerdo indica temas bastante desenvolvidos, mas com laços externos irrelevantes, pois tem alta densidade, mas fraca centralidade. Assim, têm importância marginal para o campo, sendo temas especializados e de caráter periférico.

Nessa perspectiva analítica, examina-se como a literatura formou interconexões de temas de pesquisa que podem distinguir este campo de pesquisa – pré-requisito para formar sua identidade disciplinar – e ajudar a entender sua evolução. Esclarece-se que os mapas temáticos foram elaborados a partir do campo keywords plus dos documentos.

Ao buscar descrever tendências do campo, assumiu-se que o conjunto de dados devia ser o mais abrangente possível, incluindo a grey literature , a fim de evitar viés de seleção ( Mendes-da-Silva, 2019Mendes-Da-Silva, W. (2019). Contribuições e limitações de revisões narrativas e revisões sistemáticas na área de negócios. Revista de Administração Contemporânea, 23(2), 1-11. doi:10.1590/1982-7849rac2019190094
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), ou seja, deveria ser composto por: livros e capítulos; artigos publicados e artigos aprovados para publicação em periódicos científicos ( early access ); artigos e resumos publicados em anais de eventos científicos.

Neste sentido, a consulta foi feita, em 13 de junho de 2022, nas bases da Scopus e da Web of Science – os maiores bancos de dados de publicações revisadas por pares na área de ciências sociais aplicadas. Para seleção dos documentos, foi feita uma pesquisa para verificar o uso dos termos no título, nas palavras-chave ou nas keywords plus ou no resumo dos documentos, sem delimitação temporal ou de língua ou de tipo de documento (p. ex., artigo ou capítulo de livro) ou de fonte de documentos (p. ex., periódicos e conferências). A seguir, mostram-se as queries utilizadas.

Web of Science:

ALL= (“International Entrepreneur*” OR “International New Venture” OR “Born global”)

Scopus:

TITLE-ABS-KEY (“International Entrepreneur*” OR “International New Venture” OR “Born global”)

Foram identificados, nesta etapa, 4.145 documentos. Não se afasta, porém, que a busca por maior abrangência pode conduzir a um “desvio” da qualidade – por exemplo, documentos de periódicos com fator de impacto muito distintos, tomando-se o fator de impacto como proxy de qualidade da dimensão qualitativa da produção científica. Para o processamento dos dados, foi utilizado o pacote bibliometrix ( Aria & Cuccurullo, 2017Aria, M., Cuccurullo, C. (2017). Bibliometrix: An R-tool for comprehensive science mapping analysis. Journal of Informetrics, 11(4), 959-975. doi:10.1016/j.joi.2017.08.007
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) para o software R ( R Core Team, 2022)R Core Team (2022). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. Recuperado de https://www.R-project.org/.
https://www.R-project.org/...
.

Dados recuperados de bancos de dados bibliográficos podem conter registros duplicados ou erros de registro, o que requereu um pré-processamento. Além disso, as queries utilizadas poderiam reter documentos sem aderência ao foco da investigação. Assim, foram lidos os títulos. Nos casos em que não se pode fazer a validação da aderência do documento ao escopo do estudo por esse critério, foram lidos os resumos dos documentos.

Ao final, a base contou com 3.116 documentos ( Tabela 1 ) de 745 fontes (periódicos, livros, conferências etc.), com 4.594 autores únicos e 5.631 palavras-chave.

Tabela 1
Descrição da base de dados

Resultados

O número de publicações anuais sobre empreendedorismo internacional, de 1989 a 2021, está ilustrado na Figura 2 . Optou-se por fazer essa análise limitando o conjunto de dados até 2021, a fim de não induzir o leitor ao engano de uma queda vertiginosa em 2022, uma vez que os dados foram coletados em junho de 2022.

Figura 2
Produção científica anual (1989 – 2021).

Concordando com Coviello e Jones (2004)Coviello, N. E., Jones, M. V. (2004). Methodological issues in international entrepreneurship research. Journal of Business Venturing, 19(4), 485-508. doi:10.1016/j.jbusvent.2003.06.001
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e Servantie, Cabrol, Guieu e Boissin (2016), considerou-se que a extensa quantidade de publicações sobre o EI (1989-2022) teve início com o artigo de McDougall (1989)McDougall, P. P. (1989). International versus domestic entrepreneurship: New venture strategic behavior and industry structure. Journal of Business Venturing, 4(6), 387-400. doi:10.1016/0883-9026(89)90009-8
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, ainda que o resultado da busca nas bases de dados entregou dois trabalhos anteriores ao de McDougall: o de Weaver, de 1987, e o de Borner, de 1984. O de Borner, um artigo teórico publicado em alemão que aborda características do mercado, e o de Weaver, que trata de empreendedorismo local (Irlanda) e não de EI (foco deste estudo). Assim, os documentos Weaver e Borner não compuseram a base de dados.

Para todo o período considerado (1989-2022), foram identificadas 745 fontes. Pelo critério da lei de Bradford, apenas quatro são fontes core da área – zona com realce cinza na figura –, responsáveis por 1/3 da produção científica ( Figura 3 ).

Figura 3
Lei de Bradford (1989 – 2022).

A Lei de Bradford propõe que os autores, ao verem onde o documento (p. ex., artigos) é publicado, tendem a enviar suas produções para aquela fonte (p. ex., revista). Assim, se estabelece um núcleo de fontes mais produtivas na área de conhecimento. Esses periódicos foram: International Entrepreneurship and Management Journal , com 658 (20%) artigos, Journal of International Entrepreneurship , com 220 (7%) artigos, International Business Review , com 127 (4%) artigos, e Journal of World Business , com 61 (2%) artigos. Essas revistas formaram, assim, um núcleo de fontes que se revelou produtivo para a circulação dos estudos sobre EI, principalmente os dois primeiros que, juntos, totalizaram mais de 1/4 da produção do período.

Em outras palavras, a lei de Bradford pressupõe que após a publicação de alguns artigos sobre um novo tema em alguns periódicos, esses mesmos periódicos irão polarizar a produção sobre este novo tema durante um tempo e, paralelamente, outros periódicos iniciarão a publicação dos primeiros artigos sobre esse mesmo tema. Havendo a consolidação deste novo tema, surgirá, então, um núcleo gravitacional de periódicos que mais publicaram sobre esse novo tema. Dessa forma, esses quatro periódicos, mais especificamente os dois primeiros, funcionam como fontes por meio das quais outros autores entram em contato com certas publicações, dialogam com elas e tendem a enviar as suas próprias.

Retomando a discussão da Figura 2 , posterior ao trabalho inicial sobre EI de McDougall (1989)McDougall, P. P. (1989). International versus domestic entrepreneurship: New venture strategic behavior and industry structure. Journal of Business Venturing, 4(6), 387-400. doi:10.1016/0883-9026(89)90009-8
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, intitulado International versus domestic entrepreneurship: New venture strategic behavior and industry structure , chegamos ao artigo seminal de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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, considerado um marco na pesquisa sobre EI ( Baier-Fuentes et al., 2018Baier-Fuentes, H., Merigó, J. M., Amorós, J. E., Gaviria-Marín, M. (2018). International entrepreneurship: A bibliometric overview. International Entrepreneurship and Management Journal, 15(2), 385-429. doi:10.1007/s11365-017-0487-y
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; Nave & Ferreira, 2022Nave, E., Ferreira, J. J. (2022). A systematic international entrepreneurship review and future research agenda. Cross Cultural & Strategic Management, 29(3), 639-674. doi:10.1108/CCSM-11-2021-0204
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). Os autores definiram os International New Ventures (INV) como organizações comerciais que, desde o início, buscam obter vantagens competitivas com o uso de recursos e a venda de produtos em diversos países. Com isso, assentou- se o ponto de partida para o desenvolvimento da pesquisa na área do EI.

Assim, o período antes referenciado de 1989 até 1994 pode ser considerado como o preâmbulo para a análise feita neste estudo, em que, posteriormente, três períodos foram analisados e representados pelos três mapas temáticos obtidos dos procedimentos bibliométricos aplicados neste trabalho. O primeiro mapa temático abrange o período de 1995 até 2004; o segundo mapa vai de 2005 até 2014; finalmente, o terceiro mapa temático contempla o período de 2015 a 2022.

Entende-se que possa ser questionado o porquê desses períodos. Eles foram determinados por serem considerados marcos na pesquisa sobre EI; no caso do primeiro período, ele se inicia posteriormente à publicação do trabalho tido, como já mencionado, como o início para o desenvolvimento da pesquisa no tema. Considera-se que, no período que compreende o intervalo de tempo entre o ano posterior à sua publicação e 2004, seria refletida a influência do estudo em questão, ou seja, o de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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.

Sobre o período para o segundo mapa temático (2005-2014), considera-se, por um lado, nove anos de publicações e, por outro lado, apresenta um novo marco na pesquisa do tema EI, em que Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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propõem uma atualização para a definição dos INV (abordada no mapa). Por último, a definição do período mais atual considera desde 2015 até o momento de produção deste trabalho, isto é, 2022.

Mapa temático: 1995 a 2004

A partir da definição dada por Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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para os INV, nota-se que a pesquisa sobre EI começou a ser mais direcionada para o indivíduo, o empreendedor. Diversos aspectos foram considerados por pesquisadores. Entre eles, a formação de INV (McDougall, Shane, & Oviatt, 1994), em que esses autores responderam a três perguntas para entender essa formação, a saber:

1. 1apergunta: quem são os fundadores dos INV? Ao que os autores respondem que esses fundadores são indivíduos que veem oportunidades de estabelecer empreendimentos que operam além das fronteiras nacionais. Eles estão atentos para as possibilidades de combinação de recursos de diferentes mercados por causa das competências – redes, conhecimento – que eles desenvolveram a partir de suas atividades anteriores;

2. 2apergunta: por que esses empreendedores escolhem competir internacionalmente e não apenas em seus países? Porque eles reconhecem que devem criar competências de negócios internacionais a partir do momento da formação do empreendimento. Caso contrário, o empreendimento pode se tornar dependente do caminho do desenvolvimento das competências domésticas e o empreendedor terá dificuldade em mudar a direção estratégica quando a expansão internacional acabar se tornando necessária;

3. 3apergunta: qual a forma de suas atividades de negócios internacionais? Eles preferem usar estruturas híbridas, ou seja, alianças e redes estratégicas para suas atividades internacionais como forma de superar a habitual falta de recursos no momento do início de sua expansão ( McDougall et al., 1994McDougall, P. P., Shane, S., Oviatt, B. M. (1994). Explaining the formation of international new ventures: The limits of theories from international business research. Journal of Business Venturing, 9(6), 469-487. doi:10.1016/0883-9026(94)90017-5
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).

Outros aspectos abordados nas pesquisas foram as formas de entrada em novos mercados ( Burgel & Murray, 2000Burgel, O., Murray, G. C. (2000). The international market entry choices of start-up companies in high-technology industries. Journal of International Marketing, 8(2), 33-62. doi:10.1509/jimk.8.2.33.19624
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; Zahra, Ireland, & Hitt, 2000), aspectos culturais ( Thomas & Mueller, 2000)Thomas, A. S., Mueller, S. L. (2000). A case for comparative entrepreneurship: Assessing the relevance of culture. Journal of International Business Studies, 31(2), 287-301. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490906
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, o conhecimento e o aprendizado na internacionalização (Autio, Sapienza, & Almeida, 2000), entre outros. Também dentro deste período, Knight e Cavusgil (1996)Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (1996). The born global firm: A challenge to traditional internationalization theory. Advances in International Marketing, 8, 11-26. publicaram seu trabalho sobre as empresas BG, pequenas empresas com a capacidade de desenvolver produtos tecnológicos e se expandir internacionalmente de forma muito rápida.

Esses autores publicaram, em 2004, seu reconhecido trabalho Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm , que aborda importantes fatores, como a cultura inovadora e as capabilities observadas nas BG e que ajudam a explicar o porquê dessas empresas conseguirem conquistar mercados estrangeiros de forma rápida ( Knight & Cavusgil, 2004Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
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).

Coviello e Jones (2004)Coviello, N. E., Jones, M. V. (2004). Methodological issues in international entrepreneurship research. Journal of Business Venturing, 19(4), 485-508. doi:10.1016/j.jbusvent.2003.06.001
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afirmam que a grande quantidade de pesquisas que surgiram na área do EI se caracterizava pelo inconsistente uso de medidas e definições de variáveis-chave, tais como porte e idade das empresas. Foram os próprios McDougall e Oviatt (2000)McDougall, P. P., Oviatt, B. M. (2000). International entrepreneurship: The intersection of two research paths. Academy of Management Journal, 43(5), 902-906. doi:10.2307/1556418
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que fizeram um chamado para direcionamentos mais claros em termos metodológicos em relação à pesquisa em EI.

Segundo Keupp e Gassmann (2009)Keupp, M. M., Gassmann, O. (2009). The past and the future of international entrepreneurship: A review and suggestions for developing the field. Journal of Management, 35(3), 600-633. doi:10.1177/0149206308330558
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, as pesquisas se concentraram, salvo algumas exceções, principalmente nas seguintes questões: a propensão de pequenas e jovens empresas se internacionalizarem; a forma de pequenos novos empreendimentos penetrarem nos mercados e/ou como sobreviver no mercado; as características demográficas e cognitivas de indivíduos ou grupos de empreendedores e suas ações no curso da internacionalização da empresa.

Ao observarmos a Figura 4 com o Mapa temático 1, que abrange 127 documentos, vemos que, no lado inferior direito do eixo, em que se concentram os temas de pesquisa básicos e transversais do período em questão, o “desempenho das empresas” aparece como tema principal, seguido de aspectos como o “comportamento” e “recursos”.

Figura 4
Mapa temático 1 sobre o período 1995-2004.

No lado superior direito, estão os temas motor do período, em que “internacionalização”, “gestão” e “tecnologia” são os temas centrais. Em menor medida, “marketing” e “desenvolvimento do produto” também aparecem naquele lado do eixo. Outros aspectos que também se destacam no lado superior direito são os que se encontram divididos entre o quadro motor e básico – “investimentos estrangeiros diretos” e “ capabilities” –, o que pode nos informar que esses temas são tanto considerados básicos na pesquisa sobre EI quanto se convertem em temas-motor.

No lado superior esquerdo do eixo vemos que como tema periférico está “perspectivas” e, de forma dividida entre tema periférico e tema motor, aparece “forma de entrada”, podendo-se entender que este último tema está no caminho de se converter num tema motor da pesquisa sobre EI no período deste mapa temático.

No lado inferior esquerdo, que corresponde aos temas emergentes ou em declínio, não se observam temas de pesquisa, o que pode ser entendido pelo período ainda inicial da pesquisa, em que temas básicos e motor direcionavam os trabalhos que, posteriormente, dariam passo a temas emergentes e em declínio conforme o avanço dos estudos na área.

Observando os resultados, mostramos os cinco documentos mais citados para o período (38% do total de citações) que compreende o Mapa temático 1 na Tabela 2 – para o que usamos o número de citações como proxy de relevância dos documentos.

Tabela 2
Estudos mais citados no período do Mapa 1

No caso do trabalho de McDougall e Oviatt (2000)McDougall, P. P., Oviatt, B. M. (2000). International entrepreneurship: The intersection of two research paths. Academy of Management Journal, 43(5), 902-906. doi:10.2307/1556418
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, dada a maior participação de empresas de porte menor nos negócios internacionais, os autores analisaram a interseção de duas áreas de pesquisa que se vincularam para o estudo do EI: os negócios internacionais e o empreendedorismo. Essa visão permitiu abordar e melhor entender as empresas menores que incursionavam internacionalmente, bem como seus gestores/empreendedores, chamando mais a atenção de pesquisadores e, ainda, fazendo com que o rumo das pesquisas se voltasse mais para esses dois últimos, e não mais exclusivamente para as grandes empresas, como era antes da irrupção dos INV.

Empresas de porte menor que decidiam se internacionalizar o faziam de forma muito rápida, inclusive desde seu nascimento. Este foi o caso das BG. Justamente os outros quatro estudos mencionados entre os mais citados neste mapa tratam dessas empresas e de como elas conseguiam bons resultados em termos de sua internacionalização, contrariando modelos tradicionais de internacionalização em etapas ( Johanson & Vahlne, 1977Johanson, J., Vahlne, J. E. (1977). The internationalization process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of International Business Studies, 8(1), 23-32. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490676
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). O termo born global foi proposto por Rennie (1993)Rennie, M. W. (1993). Born global. The McKinsey Quarterly, (4), 45-53. e trazido para a discussão por Knight e Cavusgil (1996)Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (1996). The born global firm: A challenge to traditional internationalization theory. Advances in International Marketing, 8, 11-26. , logo após do trabalho seminal de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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dos INV.

Posteriormente, Madsen e Servais (2017)Madsen, T. K., Servais, P. (2017). The internationalization of born globals: An evolutionary process? In P. Buckley (Ed.), International business (pp. 421-443). London: Routledge. abordaram as BG contrastando-as com o modelo tradicional de internacionalização. Já Sharma e Blomstermo (2003)Sharma, D. D., Blomstermo, A. (2003). The internationalization process of born globals: A network view. International Business Review, 12(6), 739-753. doi: 10.1016/j.ibusrev.2003.05.002
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abordaram o tema desde uma perspectiva de network para entender o bom desempenho dessas empresas no mercado internacional ao utilizar o conhecimento obtido nas suas redes antes da empreitada internacional . Knight e Cavusgil (2004)Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
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, em seu trabalho largamente reconhecido, abordam as BG, mas inovando ao analisar aspectos relevantes e que contribuem para o desempenho positivo que essas empresas conseguem ao se internacionalizar, quais sejam: uma cultura inovadora, o conhecimento e as capabilites.

No Mapa temático 2 será abordado o período de 2005 até 2014 e os temas que se destacaram nesse período.

Mapa temático: 2005 a 2014

O Mapa temático 2 abrange o período de 2005 até 2014 e possui 1.042 documentos, apresentando um aumento notável na produção de trabalhos em comparação ao Mapa temático 1. Neste período, destaca-se um dos trabalhos já mencionado como marco na pesquisa sobre o EI: o de Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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. Os autores propõem uma definição atualizada para o EI considerando diversas forças que influenciavam a velocidade com que as empresas se internacionalizavam. De acordo com eles, o empreendedorismo internacional é uma combinação de comportamento inovador e proativo e de busca de risco que atravessa as fronteiras nacionais e se destina a criar valor nas organizações. Ainda segundo esses autores, o empreendedorismo internacional evoluiu de ter como foco as New Ventures a contemplar o empreendedorismo corporativo, passando a considerar, nessa definição, o comportamento de indivíduos, grupos e organizações.

A Figura 5 que traz o Mapa temático 2, apresenta mudanças se comparado com o Mapa temático 1. Vemos que novos temas surgiram e outros foram se deslocando à medida que a pesquisa sobre EI aumentou e evoluiu.

Figura 5
Mapa temático 2 sobre o período 2005-2014.

A partir do eixo central, vemos que o tema “desempenho” continua dominando, mas agora focado no desempenho do empreendedorismo e dividido entre temas básicos e temas-motor deste mapa. Também em temas básicos e com igual relevância relativa, surgem os temas “conhecimento”, “inovação” e “modelo”, seguidos por ‘crescimento” e “estratégias de negócio”. Outro tema que surge neste mapa é “ dynamic capabilities” , que, no Mapa 1, fora considerado somente como capabilites . Cabe notar que “ dynamic capabilities” aparece dividido entre tema básico e tema emergente, o que permite deduzir que, após seu surgimento na pesquisa sobre EI, este tema tendia a se converter num dos temas fortes da área.

Finalmente, ao lado superior esquerdo do eixo e com certa semelhança na relevância do mapa, como temas periféricos estão: “autoeficácia”, “gênero”, “trabalhador autônomo”, “pesquisa e desenvolvimento”, “experiência”, “informação”, “globalização”, “empreendedor” e “empreendimento internacional”.

É necessário destacar que neste mapa não se registram temas emergentes ou em declínio nem temas-motor, salvo os já informados e divididos entre dois temas do eixo – básico e motor, no caso de “desempenho”, e emergente e básico, no caso de “ dynamic capabilties ”, “internacionalização” e “indústria”.

Apresentamos os documentos mais citados para o período que compreende o Mapa temático 2 na Tabela 3 . Como o número de citações individual de cada documento não ultrapassa 2%, adotamos como critério para essa seleção os documentos com no mínimo 1% das citações totais do período, que totalizam sete documentos e 8% do total de citações.

Tabela 3
Estudos mais citados no período do Mapa 2.

Assim como no Mapa temático 1, ao observarmos os trabalhos mais citados no período que corresponde a este mapa, vemos que, no caso do estudo de Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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, além de ser considerado um marco na pesquisa sobre EI, é também o trabalho que recebe mais citações dentro deste mapa. Lembrando que os autores trouxeram uma definição atualizada para o EI. Jones, Coviello e Tang (2011) fizeram uma revisão da produção sobre o EI entre 1989 e 2009 e afirmaram que, ontologicamente, a pesquisa sobre EI se concentra em três temas: internacionalização empreendedora, comparações internacionais de empreendedorismo e comparações de internacionalizações empreendedoras.

Coviello (2006)Coviello, N. E. (2006). The network dynamics of international new ventures. Journal of International Business Studies, 37(5), 713-731. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400219
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destaca a importância das networks nas empresas que buscam se internacionalizar desde estágios iniciais. Zhou, Wu e Luo (2007) também destacam a importância das networks, no caso desses autores em relação às pequenas e médias empresas. Esses autores defendem que as redes sociais locais de uma empresa têm um papel mediador na internacionalização e seu desempenho. Além disso, que esse mecanismo mediador se identifica por meio de três benefícios: conhecimento sobre oportunidades do mercado internacional, orientações e aprendizado experiencial e confiança e solidariedade.

Rialp A., Rialp J. e Knight (2005), em uma revisão de 38 trabalhos compreendidos no período de 1993 a 2003, oferecem sugestões para futuras pesquisas, uma delas relacionada a uma melhor definição das empresas com processos de internacionalização desde seus estágios iniciais, entendendo que o período que abordam esses autores era inicial ao considerarmos o EI como área de pesquisa, apresentando-se mais heterogêneo naquela época. De fato, observando os mapas temáticos 1 e 2, podemos notar a diversidade de temas e as mudanças entre eles de um período para outro.

O trabalho de Zahra (2005)Zahra, S. A. (2005). A theory of international new ventures: a decade of research. Journal of International Business Studies, 36(1), 20-28. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400118
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analisa a proposta feita pelo trabalho seminal de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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e os avanços feitos na pesquisa sobre EI tendo como base esse trabalho seminal. Zahra (2005)Zahra, S. A. (2005). A theory of international new ventures: a decade of research. Journal of International Business Studies, 36(1), 20-28. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400118
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afirma, por um lado, que muito da proposta do trabalho de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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permanece como proposto originalmente. Por outro lado, que esse trabalho seminal permitiu novas possibilidades de expandir a pesquisa sobre EI para outros tópicos e áreas. Uma dessas áreas foi a da psicologia cognitiva, que, segundo Zahra (2005)Zahra, S. A. (2005). A theory of international new ventures: a decade of research. Journal of International Business Studies, 36(1), 20-28. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400118
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, pesquisadores tem utilizado para melhor entender o comportamento de fundadores de novos empreendimentos internacionais em relação, por exemplo, a como eles reconhecem as oportunidades.

O trabalho de Jones e Coviello (2005)Jones, M. V., Coviello, N. E. (2005). Internationalisation: conceptualising an entrepreneurial process of behaviour in time. Journal of International Business Studies, 36(3), 284-303. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400138
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faz uma proposta de modelos conceituais para o EI, em que os autores asseveram que, para a época, a pesquisa sobre o EI se apresentava como área emergente, sendo necessário direcionar a pesquisa de forma unificada. Assim, os autores, a partir da área da internacionalização e do empreendedorismo, obtiveram insights para a formulação dos modelos, seguindo uma lógica do comportamento do empreendedor baseado no tempo.

Existe um trabalho dentro desse período que traz uma nova contribuição para definir o EI. Zahra, Newey e Li (2014) definem o EI como o reconhecimento, a formação, a avaliação e a exploração de oportunidades além das fronteiras nacionais para criar novos negócios, modelos e soluções de criação de valor, que incluem os aspectos financeiro, social e ambiental.

Um ponto que merece ser salientado nessa definição é que ela abrange empresas de todo porte, além das que se internacionalizam desde seu nascimento, como as BG, e empresas já estabelecidas que buscam se expandir aproveitando oportunidades de empreender internacionalmente. Nesse sentido, observa-se um alinhamento com a definição de Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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quando afirmam que o foco de estar nas New Ventures passou a contemplar o empreendedorismo corporativo, considerando agora nessa definição o comportamento de indivíduos, grupos e organizações.

Mapa temático: 2015 a 2022

O Mapa temático 3 apresenta o último período analisado por este estudo e que vai de 2015 a 2022. Esse período contém 1.934 documentos publicados, um considerável aumento em relação aos dois períodos anteriores. A pesquisa sobre o EI a esta altura já teria evoluído e aumentado o bastante para ser considerada uma área de pesquisa ( Servantie et al., 2016Servantie, V., Cabrol, M., Guieu, G., Boissin, J. (2016). Is international entrepreneurship a field? A bibliometric analysis of the literature (1989-2015). Journal of International Entrepreneurship, 14(2), 168-212. doi.org/10.1007/s10843-015-0162-8
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; Zucchella, 2021Zucchella, A. (2021). International entrepreneurship and the internationalization phenomenon: Taking stock, looking ahead. International Business Review, 30(2), 101800. doi:10.1016/j.ibusrev.2021.101800
https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2021.1...
). A seguir a Figura 6 apresenta o Mapa temático 3.

Figura 6
Mapa temático 3 sobre o período 2015-2022.

A Figura 6 apresenta certas mudanças em comparação com o Mapa anterior. O avanço na pesquisa e as contribuições na área fizeram com que alguns temas fossem se consolidando e outros desaparecendo. Ao olharmos para os temas básicos no lado inferior direito do eixo central da figura, vemos que, novamente, “desempenho” é o tema principal. A diferença é que neste Mapa 3 o desempenho está associado à inovação e ao conhecimento, enquanto no Mapa 2 o desempenho estava associado a empresas empreendedoras e no Mapa 1 às ainda empresas consideradas como ventures pelos autores. O desempenho seria posteriormente absorvido pela visão atualizada do EI ( Oviatt & Mcdougall, 2005Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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).

No lado superior direito, em temas-motor, estão “gestão”, “orientação empreendedora” e “estratégia”, três temas que estão relacionados se pensarmos na forma com que as empresas enfrentam e se desenvolvem no mercado internacional. As dynamic capabilities, tema presente no mapa anterior, podem influenciar a estratégia e a forma de gerir uma organização, bem como propiciar uma forma mais eficaz de buscar e explorar novas oportunidades, mas não garantindo o sucesso da empresa (Zahra, Sapienza, & Davidsson, 2006). Seguindo com os temas-motor, vemos que aparecem “impacto”, “negócios” e “crescimento”. No caso do impacto, este tema até agora não aparecia entre os temas investigados.

Os temas que aparecem no lado inferior esquerdo do eixo, que correspondem aos temas emergentes ou em declínio, são: “propriedade”, “riqueza socioemocional” e “governança”. Neste caso, podemos entender que estes temas são emergentes, uma vez que não tinham aparecido nos mapas até agora.

Os documentos mais citados para esse período de seis anos são apresentados na Tabela 4 , em que se utilizou o mesmo critério aplicado à seleção do período do Mapa temático 2 (i.e., documentos com no mínimo 1% das citações totais). Por esse critério, foram retidos cinco documentos que totalizam 7% das citações totais.

Tabela 4
Estudos mais citados no período do Mapa 3.

O trabalho de revisão sistemática de Liñán e Fayolle (2015)Liñán, F., Fayolle, A. (2015). A systematic literature review on entrepreneurial intentions: Citation, thematic analyses, and research agenda. International Entrepreneurship and Management Journal, 11(4), 907-933. doi:10.1007/s11365-015-0356-5
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se concentra no tema intenções empreendedoras, em que são identificadas cinco áreas principais de pesquisa: modelo para intenções empreendedoras, variáveis de nível pessoal, educação empreendedora, contexto e instituições e processo empreendedor. Esses autores afirmam que as pesquisas sobre intenções empreendedoras estão aumentando e evoluindo rapidamente.

Cavusgil e Knight (2015)Cavusgil, S. T., Knight, G. (2015). The born global firm: An entrepreneurial and capabilities perspective on early and rapid internationalization. Journal of International Business Studies, 46(1), 3-16. doi:10.1057/jibs.2014.62
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refletem sobre as empresas BG e seu reconhecido e já mencionado trabalho de 2004, Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Os autores analisam as empresas exportadoras integrando as questões de marketing, empreendedorismo e capabilities. Segundo Cavusgil e Knight, atualmente, as empresas BG são abundantes internacionalmente; por isso, os autores propõem que sejam abordados temas ainda sem respostas, como o futuro das BG, uma vez que estas amadurecem no tempo, bem como que sejam estudadas as empresas que decidem permanecer atuando localmente.

O trabalho de Davidsson (2015)Davidsson, P. (2015). Entrepreneurial opportunities and the entrepreneurship nexus: A re-conceptualization. Journal of Business Venturing, 30(5), 674-695. doi:10.1016/j.jbusvent.2015.01.002
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aborda o tema oportunidades empreendedoras. O autor afirma que este tema tem crescido rapidamente desde 2000 e propõe uma nova contextualização para novas pesquisas sobre o tema. Davidsson menciona três construtos para essa nova abordagem das oportunidades: possibilitadores externos, as ideias das empresas e a confiança na oportunidade. No trabalho de Paul, Parthasarathy e Gupta (2017), são apresentadas algumas das barreiras que as pequenas e médias empresas (PME) enfrentam na sua internacionalização. Os autores separam essas barreiras em internas e externas e propõem algumas orientações para futuras pesquisas em relação ao contexto teórico e em termos metodológicos.

Já o estudo de Terjesen, Hessels e Li (2013), mais uma revisão sistemática neste período, os autores realizaram uma análise entre países abordando quatro níveis: individual, empresa, indústria e país. Esses autores destacam a heterogeneidade em relação ao EI observada nos diversos países e como são explicados os resultados em relação ao desempenho das empresas, aos países, considerando o crescimento econômico e aos aspectos culturais desses países. Além disso, os autores afirmam que a literatura que compara o EI entre países é ainda fragmentada com algumas lacunas substanciais relacionadas ao conteúdo, teoria e metodologia. Entre as sugestões de Terjesen et al (2013) está a inclusão dos seguintes aspectos: instituições, cultura, visão baseada em recursos, custo de transações econômicas, crescimento econômico e capital humano.

Cabe destacar, neste Mapa temático 3, a aparição, agora como tema motor, das “ dynamic capabilities ”, que junto de “gestão” e “estratégia”, podem ser vistas como relacionadas aos temas tratados pelos estudos mais citados neste período. Esses temas são as intenções empreendedoras ( Liñán & Fayolle, 2015Liñán, F., Fayolle, A. (2015). A systematic literature review on entrepreneurial intentions: Citation, thematic analyses, and research agenda. International Entrepreneurship and Management Journal, 11(4), 907-933. doi:10.1007/s11365-015-0356-5
https://doi.org/10.1007/s11365-015-0356-...
) e oportunidades ( Davidsson, 2015)Davidsson, P. (2015). Entrepreneurial opportunities and the entrepreneurship nexus: A re-conceptualization. Journal of Business Venturing, 30(5), 674-695. doi:10.1016/j.jbusvent.2015.01.002
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2015....
. De fato, as dynamic capabilities têm contribuído para que hoje exista um grande número de BG em diversos países ( Cavusgil & Knight, 2015)Cavusgil, S. T., Knight, G. (2015). The born global firm: An entrepreneurial and capabilities perspective on early and rapid internationalization. Journal of International Business Studies, 46(1), 3-16. doi:10.1057/jibs.2014.62
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, entendendo que essas dynamic capabilities contribuem em termos de intenção empreendedora e de identificação de oportunidades.

Discussão

Este estudo considerou como trabalho inicial da área do EI a publicação de McDougall (1989)McDougall, P. P. (1989). International versus domestic entrepreneurship: New venture strategic behavior and industry structure. Journal of Business Venturing, 4(6), 387-400. doi:10.1016/0883-9026(89)90009-8
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, e como trabalho seminal e que deu início ao desenvolvimento e crescimento de pesquisas dessa área o estudo de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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. A partir desse contexto, foi realizada a análise bibliométrica que deu origem aos três mapas temáticos, a saber: Mapa temático 1, que compreende o período de publicações 1995-2004; Mapa temático 2, que compreende o período 2005-2014; Mapa temático 3, que compreende o período 2015- 2022. Salientando que cada mapa temático foi determinado baseado em: no caso do mapa 1, trabalho seminal na área de EI de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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, do mapa 2, trabalho de Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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, considerado marco na pesquisa sobre EI com sua contribuição teórica e redefinições que foram adotadas a partir dele, e por último, do mapa 3, que considera o período mais próximo da data da realização desta pesquisa.

Cabe lembrar que essa análise considerou todas as publicações identificadas nesses períodos, não discriminando por tipo de publicação (p. ex., somente artigos) e períodos. O número total de trabalhos observados nos três períodos foi 3.103 publicações, e divididos como segue: 127 trabalhos publicados no período do Mapa temático 1; 1.042 trabalhos publicados no período do Mapa temático 2 e 1.934 trabalhos publicados para o período do Mapa temático 3.

Sobre o primeiro mapa e período inicial das pesquisas sobre EI, vemos que, a partir da contestação feita por Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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em relação à forma divergente de internacionalização das INV, ou seja, mais rápida quando comparada com a internacionalização tradicional em etapas de Johanson e Vahlne (1977)Johanson, J., Vahlne, J. E. (1977). The internationalization process of the firm: A model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of International Business Studies, 8(1), 23-32. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490676
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, outros trabalhos se somaram. Diversos autores abordaram a questão da velocidade e a forma de como algumas empresas entravam nos mercados internacionais ( Autio et al., 2000Autio, E., Sapienza, H. J., Almeida, J. G. (2000). Effects of age at entry, knowledge intensity, and imitability on international growth. Academy of Management Journal, 43(5), 909-924. doi:10.2307/1556419
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; Burgel & Murray, 2000Burgel, O., Murray, G. C. (2000). The international market entry choices of start-up companies in high-technology industries. Journal of International Marketing, 8(2), 33-62. doi:10.1509/jimk.8.2.33.19624
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; Zahra et al., 2000)Zahra, S. A., Ireland, R. D., Hitt, M. A. (2000). International expansion by new venture firms: International diversity, mode of market entry, technological learning, and performance. Academy of Management Journal, 43(5), 925-950. doi:10.2307/1556420
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.

Outra importante abordagem que irrompe nesse período é a das empresas BG que também alcançavam os mercados internacionais de forma muito rápida e com capacidade para desenvolver produtos tecnológicos ( Knight & Cavusgil, 1996Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (1996). The born global firm: A challenge to traditional internationalization theory. Advances in International Marketing, 8, 11-26. ; Madsen & Servais, 2017Madsen, T. K., Servais, P. (2017). The internationalization of born globals: An evolutionary process? In P. Buckley (Ed.), International business (pp. 421-443). London: Routledge. ; Oviatt & Mcdougall, 1999Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1999). A framework for understanding accelerated international entrepreneurship. In B. M. Oviatt & P. P. McDougall, Research in global strategic management (pp. 23-40). Bingley: Emerald Group Publishing Limited. ; Sharma & Blomstermo, 2003)Sharma, D. D., Blomstermo, A. (2003). The internationalization process of born globals: A network view. International Business Review, 12(6), 739-753. doi: 10.1016/j.ibusrev.2003.05.002
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. De acordo com a Figura 4 , o período do Mapa temático 1 foi marcado pelo domínio dos estudos abordando o desempenho e forma de entrada de empresas nos mercados internacionais, tendo como base a definição dada por Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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para os INV. Dentro da produção iniciante em relação à quantidade e às definições teóricas e metodológicas para a área do EI, surge o trabalho de Coviello e Jones (2004)Coviello, N. E., Jones, M. V. (2004). Methodological issues in international entrepreneurship research. Journal of Business Venturing, 19(4), 485-508. doi:10.1016/j.jbusvent.2003.06.001
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, em que os autores afirmam que as pesquisas que surgiram na área do EI tinham como característica a inconsistência no uso de medidas e definições de variáveis que esses autores consideravam chave, tais como porte e idade das empresas.

Posteriormente, e já dentro do Mapa temático 2, Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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propuseram uma definição mais atualizada para EI. Nota-se aqui uma mudança na pesquisa da área, em que se começa por definir EI deixando, talvez, um pouco para trás o conceito New Ventures . De fato, os autores afirmaram que o EI passou de ser uma área focada nas empresas New Ventures a considerar o empreendedorismo corporativo que abrange indivíduos, grupos e organizações.

No período do Mapa temático 2 os temas se concentraram majoritariamente nos considerados básicos pela análise. O tema desempenho continuou tendo uma maior representatividade tal como no Mapa temático 1, junto com empresas empreendedoras e conhecimento. Além disso, ao pensarmos no desempenho das empresas, alguns autores destacaram a importância das networks ( Coviello, 2006Coviello, N. E. (2006). The network dynamics of international new ventures. Journal of International Business Studies, 37(5), 713-731. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400219
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; Zhou et al., 2007Zhou, L., Wu, W., Luo, X. (2007). Internationalization and the performance of born-global SMEs: The mediating role of social networks. Journal of International Business Studies, 38(4), 673-690. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400282
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). Essa importância pode ser refletida tanto na hora da entrada num novo mercado, mediante o conhecimento adquirido antes da entrada e facilitando esse processo, como pelo conhecimento que as empresas podem adquirir já atuando no mercado internacional.

Essa observação nos leva a outro dos temas que começaram a ser identificados no Mapa temático 1, como capabilities, e ganhar mais relevância no mapa posterior, passando a ser considerado como dynamic capabilities. Justamente essas dynamic capabilities são as que, em parte, fazem com que empresas como as BG se internacionalizem de forma muito rápida ( Knight & Cavusgil, 2004Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
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).

Avançando para o próximo período no Mapa temático 3, observa-se uma maior concentração dos temas e sempre com maior participação do tema desempenho. Neste mapa, além de desempenho, os temas inovação e conhecimento continuam tento forte representatividade e, junto com eles, os temas que adquirem maior relevância se posicionando como temas-motor são gestão, orientação empreendedora e estratégia. Nesse sentido, entende-se a importância de trabalhos que em períodos anteriores se endereçaram para esses aspectos e que no período do Mapa temático 3 se encontram refletidos.

Esse é o caso dos autores que abordaram a internacionalização das empresas BG e de como essas empresas, apesar da escassez de recursos, valeram-se das antes chamadas capabilites , agora entendidas como dynamic capabilites , para obterem bons desempenhos em se tratando de alcançar mercados internacionais ( Knight & Cavusgil, 2004Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
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). No período deste último mapa, podemos entender que as dynamic capabilities se refletem como uma forte ferramenta para as empresas enfrentarem o mercado internacional. Ao falarmos em empresas, consideramos todo porte de empresa e tempo de vida, como propõem Zahra et al . (2014), que incluem, inclusive, os aspectos sociais e ambientais a uma nova forma de ver o EI. Na mesma linha, Cavusgil e Knight (2015)Cavusgil, S. T., Knight, G. (2015). The born global firm: An entrepreneurial and capabilities perspective on early and rapid internationalization. Journal of International Business Studies, 46(1), 3-16. doi:10.1057/jibs.2014.62
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afirmam que as empresas BG são uma tendência, considerando como BG empresas de todo porte e com diversas bases de recursos e conhecimentos.

Aqui cabe fazer uma observação em relação ao tipo das empresas consideradas nas pesquisas sobre o EI. Observamos que no período do Mapa temático 1, ou seja, no início das pesquisas, o EI nasce de uma visão antagonista aos modelos de internacionalização tradicionais ( Oviatt & McDougall, 1994Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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). A discussão se deu em relação à rapidez com que os INV alcançavam o mercado internacional, mesmo sofrendo pela falta de recursos, o que não era o caso das grandes empresas multinacionais, até esse momento foco das pesquisas sobre internacionalização de empresas. O mesmo contexto deu-se para as empresas BG (também de porte menor), que, apesar da falta de recursos e pouco tempo de existência tinham a capacidade de se internacionalizar rapidamente valendo-se de suas capabilities , principalmente para desenvolver produtos de avançada tecnologia ( Knight & Cavusgil, 2004)Knight, G. A., Cavusgil, S. T. (2004). Innovation, organizational capabilities, and the born-global firm. Journal of International Business Studies, 35(2), 124-141. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400071
https://doi.org/10.1057/palgrave.jibs.84...
.

No período do Mapa temático 3, vemos que se volta a considerar as empresas de porte maior em se tratando de EI ( Zahra et al., 2014Zahra, S. A., Newey, L. R., Li, Y. (2014). On the frontiers: The implications of social entrepreneurship for international entrepreneurship. Entrepreneurship Theory and Practice, 38(1), 137-158. doi:10.1111/etap.12061
https://doi.org/10.1111/etap.12061...
; Cavusgil & Knight, 2015Cavusgil, S. T., Knight, G. (2015). The born global firm: An entrepreneurial and capabilities perspective on early and rapid internationalization. Journal of International Business Studies, 46(1), 3-16. doi:10.1057/jibs.2014.62
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). Esse novo cenário pode ser entendido pela necessidade de adaptação e competitividade que as empresas enfrentam. Ou seja, se antigamente vimos que a internacionalização não foi mais uma exclusividade das grandes empresas, atualmente são essas grandes empresas que aparentemente são tidas como as que tentam aproveitar as oportunidades que o mercado oferece, sendo agora acolhidas pela pesquisa sobre EI. Nesse sentido é que adquirem maior relevância as dynamic capabilites , a cultura de inovação e a capacidade de aprendizado de novos conhecimentos que possibilitem um bom desempenho das empresas, sejam elas pequenas, médias ou de grande porte.

Assim, e antes de continuarmos para a parte final deste trabalho, sintetizamos os achados relacionados às perguntas que foram formuladas no início deste estudo:

  • Quais os temas centrais da produção na área do EI?

Segundo os resultados dos três mapas temáticos, observa-se que o tema que dominou as pesquisas em todos os períodos foi desempenho das empresas no EI. Esse tema foi acompanhado com similar representatividade pelos temas inovação, conhecimento, empresas empreendedoras, orientação empreendedora, gestão, estratégia e modelo nos mapas 2 e 3, e por comportamento exportador no Mapa 1. O tema que também merece destaque é dynamic capabilities , que começou sendo considerado no Mapa temático 1 como capabilities para ganhar mais relevância no mapa seguinte e passando a ser considerado dynamic capabilities . Atualmente, e baseado no Mapa temático 3, os temas mais representativos da pesquisa sobre EI são “desempenho”, “inovação”, “conhecimento”, “gestão”, “orientação empreendedora” e “estratégia”.

  • Quais os temas emergentes dentro do EI?

Como temas emergentes podem ser destacados: desempenho, orientação empreendedora, empreendedorismo, impacto e gestão.

A pesquisa sobre o EI já ultrapassou as três décadas e, apesar de já ser considerada uma área de pesquisa ( Servantie et al., 2016Servantie, V., Cabrol, M., Guieu, G., Boissin, J. (2016). Is international entrepreneurship a field? A bibliometric analysis of the literature (1989-2015). Journal of International Entrepreneurship, 14(2), 168-212. doi.org/10.1007/s10843-015-0162-8
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), existem autores que afirmam ainda existir lacunas importantes na pesquisa do tema ( Terjesen et al., 2013Terjesen, S., Hessels, J., Li, D. (2013). Comparative international entrepreneurship: A review and research agenda. Journal of Management, 42(1), 299-344. doi:10.1177/0149206313486259
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), bem como os que asseguram o EI ainda ser uma área heterogênea na sua produção (Etemad, Gurau, & Dana, 2021), ou precisando de mais profundidade em certos aspectos ( Zucchella, 2021)Zucchella, A. (2021). International entrepreneurship and the internationalization phenomenon: Taking stock, looking ahead. International Business Review, 30(2), 101800. doi:10.1016/j.ibusrev.2021.101800
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.

Nesse sentido, entendemos que os resultados e a discussão deste trabalho permitem tecer uma importante contribuição para a área do EI, em que se apresenta a estrutura cognitiva do tema, que por sua vez foi permitida pela abordagem metodológica aqui adotada de mapeamento temático. Essa abordagem se diferencia de alguns estudos da área aqui citados – p. ex., Keupp e Gassmann (2009)Keupp, M. M., Gassmann, O. (2009). The past and the future of international entrepreneurship: A review and suggestions for developing the field. Journal of Management, 35(3), 600-633. doi:10.1177/0149206308330558
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e Servantie et al. (2016)Servantie, V., Cabrol, M., Guieu, G., Boissin, J. (2016). Is international entrepreneurship a field? A bibliometric analysis of the literature (1989-2015). Journal of International Entrepreneurship, 14(2), 168-212. doi.org/10.1007/s10843-015-0162-8
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–, com similares objetivos e cada qual com suas contribuições.

A entrega deste estudo pode ser entendida como diferente da maioria dos trabalhos bibliométricos na área de EI, que, normalmente, como apontado por Baier-Fuentes et al. (2018)Baier-Fuentes, H., Merigó, J. M., Amorós, J. E., Gaviria-Marín, M. (2018). International entrepreneurship: A bibliometric overview. International Entrepreneurship and Management Journal, 15(2), 385-429. doi:10.1007/s11365-017-0487-y
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, apresentam, consoantes com seus objetivos, estatísticas descritivas das publicações do campo, sendo que não nos foi possível encontrar outros trabalhos com a abordagem metodológica de mapeamento temático neste estudo.

Ademais, optamos por utilizar as duas maiores bases de dados da área de ciências sociais aplicadas (Scopus e Web of Science), o que permitiu maior amplitude do que se fosse utilizada somente numa base – p. ex., a Web of Science, como é o caso de Nave e Ferreira (2022)Nave, E., Ferreira, J. J. (2022). A systematic international entrepreneurship review and future research agenda. Cross Cultural & Strategic Management, 29(3), 639-674. doi:10.1108/CCSM-11-2021-0204
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. Assim, os achados deste estudo se somam aos dos demais, contribuindo para o estado da arte do EI.

Assim, procuramos oferecer fundamento para a construção de futuros estudos teóricos e empíricos, favorecendo a análise crítica “sobre o conhecimento existente para estudá-lo, aprendê-lo, avaliá-lo ou, até mesmo, modificá-lo” ( Patriotta, 2020Patriotta, G. (2020). Writing impactful review articles. Journal of Management Studies, 57(1), 1272-1276. doi:10.1111/joms.12608
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, p. 1, tradução nossa). Os resultados deste estudo são apresentados em painéis mediante cada um dos mapas temáticos e, dessa forma, entende-se que revela contribuições para um melhor entendimento do desenvolvimento da pesquisa sobre o EI em cada um dos períodos compreendidos. No caso do Mapa temático 1, um dos pontos que pode ser destacado é que, a partir do trabalho seminal de Oviatt e McDougall (1994)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (1994). Toward a theory of international new ventures. Journal of International Business Studies, 25(1), 45-64. doi:10.1057/palgrave.jibs.8490193
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, diversas possibilidades de pesquisa se originaram. Esse ponto foi também evidenciado por Zahra (2005)Zahra, S. A. (2005). A theory of international new ventures: a decade of research. Journal of International Business Studies, 36(1), 20-28. doi:10.1057/palgrave.jibs.8400118
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, em que, além desse destaque, o autor identificou uma conexão da pesquisa sobre o EI com área a da psicologia comportamental para entender o comportamento do empreendedor em empreendimentos internacionais.

Com o Mapa temático 2, foi possível verificar o avanço na pesquisa sobre o EI, tanto em número de publicações como em temas abordados a partir do desenvolvimento deles desde o Mapa 1. Nesse segundo período, e segundo Oviatt e McDougall (2005)Oviatt, B. M., McDougall, P. P. (2005). Defining international entrepreneurship and modeling the speed of internationalization. Entrepreneurship theory and practice, 29(5), 537-553. doi:10.1111/j.1540-6520.2005.00097.x
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, estudo que foi um marco na pesquisa do EI, destaca-se que o EI passou de ter um foco nas empresas New Ventures a ver o empreendedorismo corporativo, abrangendo indivíduos, grupos e organizações. Finalmente, no Mapa temático 3, evidenciou-se a importância de temas como as dynamic capabilities em se tratando do empreendedor e das empresas ao empreender internacionalmente, bem como no tocante ao seu desempenho.

Pode-se entender, também, que a raiz do alto número de publicações nesse terceiro mapa (a pesquisa sobre o EI) se apresenta heterogênea[1] [2] [3] [4] , observação também feita por autores com publicações dentro desse período, entre eles ( Etemad et al., 2021Etemad, H., Gurau, C., Dana, L. (2021). International entrepreneurship research agendas evolving: A longitudinal study using the Delphi method. Journal of International Entrepreneurship, 20(1), 29-51. doi:10.1007/s10843-021-00292-w
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). É a partir dessas contribuições, bem como das mencionadas em cada mapa temático, que este estudo propõe uma agenda de pesquisa que possa servir como norte para novos trabalhos na área do EI.

Finalmente, foi possível evidenciar a importância de temas como as dynamic capabilities , bem como a atual abrangência do conceito EI em termos de tipos e tamanhos de empresas. Temas que, como é o caso das dynamic capabilities , são altamente estudados hoje em dia, mas podendo ser mais vinculados ainda ao EI. Assim, acreditamos na necessária cobertura que esses e os outros temas apresentados na agenda de pesquisa proposta devem ter em se tratando do avanço na área do EI.

A Figura 7 mostra a tendência para os novos temas a serem abordados por autores. Vemos que, no caso do tema orientação, é produzido um desmembramento para influenciar os temas orientação (continua), empreendedorismo e gestão. Entendemos, neste caso, que, a partir de uma orientação empreendedora e sua gestão, as empresas podem desenvolver novas estratégias, produtos etc., ter novas perspectivas de negócio para em definitiva melhorar seu desempenho ( Teece, 2007Teece, D. J. (2007). Explicating dynamic capabilities: The nature and microfoundations of (sustainable) enterprise performance. Strategic Management Journal, 28(13), 1319-1350. doi: 10.1002/smj.640 ).

Figura 7
Temas emergentes.

No caso do tema propriedade, este influencia o tema desempenho e orientação empreendedora. Logo está o tema empreendedorismo, que influencia sua própria continuidade, a do tema orientação empreendedora e a do tema mais representativo dentro dos emergentes: o desempenho. Posteriormente, vemos o tema conhecimento, que contribui para os temas desempenho, empreendedorismo e gestão.

Na sequência vem o tema desempenho, que provoca sua própria continuidade e o surgimento do tema impacto. Por último está o tema modelo, que influencia a continuidade do tema desempenho e o surgimento do tema impacto. Cabe aqui notar um alinhamento dos temas emergentes e dos que continuam seu desenvolvimento com os clusters mencionados por Nave e Ferreira (2022)Nave, E., Ferreira, J. J. (2022). A systematic international entrepreneurship review and future research agenda. Cross Cultural & Strategic Management, 29(3), 639-674. doi:10.1108/CCSM-11-2021-0204
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, principalmente com os clusters redes e oportunidades de negócios internacionais, características e motivações do empreendedor e estímulos e processos de internacionalização. Já o quarto cluster citado pelos autores , ambientes institucionais, é incluído na agenda de pesquisa que este artigo propõe para seu aprofundamento.

Portanto, observa-se que os temas emergentes a partir do último mapa temático analisado neste estudo e em ordem de relevância são: desempenho (continua), orientação (entende- se empreendedora), empreendedorismo (continua), impacto e gestão. É a partir desses temas e dos resultados deste estudo que é proposta a seguinte agenda de pesquisa:

1. Abordar o tema desempenho, unificando-o com o tema impacto. Faz-se necessário ter mais evidência em relação ao impacto para a empresa em termos de aprendizado e conhecimento, financeiro, de network etc. Nesse sentido, em relação ao desempenho, Ferreras-Méndez, Fernández-Mesa e Alegre (2019) alertam sobre a importância do conhecimento e estratégias em empresas exportadoras e sobre como a capacidade de absorção ou aprendizado dessas empresas afeta seu desempenho no mercado internacional. Em relação ao impacto, ao empreender internacionalmente, e olhando para os níveis individual e organizacional, em se tratando de programas ou ações que busquem melhorar o desempenho de empreendedores internacionais, por exemplo, podem ser utilizadas abordagens metodológicas típicas de avaliação de impacto, como diferença em diferenças, regressão descontínua e controle sintético ( Cunninghan, 2021Cunninghan, S. (2021). Causal inference: The mixtape. New Haven: Yale University Press. ). Ou seja, o tema impacto ganha também contornos que ultrapassam o tema e avançam sobre o método. Além disso, evidência é necessária a nível local comparando empresas de determinado país, bem como evidência internacional comparando diversos países e contextos, como sugerido por Paul et al. (2017)Paul, J., Parthasarathy, S., Gupta, P. (2017). Exporting challenges of SMEs: A review and future research agenda. Journal of World Business, 52(3), 327-342. doi:10.1016/j.jwb.2017.01.003
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;

2. Em relação à orientação empreendedora e o empreendedorismo, propõe-se aprofundar na investigação sobre quais os gatilhos para uma orientação empreendedora e quais as ações a nível institucional (p. ex., governos) para fomentar uma orientação e cultura empreendedora internacional. Nesse sentido, Ortiz-Rojo (in press) apresenta duas dimensões com variáveis que afetam a internacionalização de PME, em que uma dessas variáveis está justamente relacionada ao fomento para a internacionalização de empresas mediante política pública, convidando para um aprofundamento nesse quesito e sobre como poderia se estabelecer uma cultura de inovação e de exportação nas empresas;

3. Com relação à gestão, espera-se mais contribuição em relação à aplicação de novos conhecimentos em se tratando de criar estratégias, produtos, networ k, novas abordagens etc. Nesse contexto, acredita-se que estudos aprofundando em dynamic capabilities podem ajudar nesse sentido;

4. A pesquisa sobre o desenvolvimento e aplicação das dymanic capabilities poderá ajudar no entendimento em relação ao desempenho, aprendizado e futuro das empresas que empreendem internacionalmente.

No caso destas duas últimas sugestões, destaca-se que a abordagem das dynamics capabilities aponta a importância de se incorporar o dinamismo do ambiente à determinação da vantagem competitiva; sendo o modo como as organizações reagem ao dinamismo do ambiente – seja por meio de comportamentos, processos ou outras capabilidades – que permite a reconfiguração das capabilidades das organizações, conduzindo-as ao alcance de novas configurações e à obtenção de vantagem competitiva sustentável (Lacruz, Cunha, Moura, & Oliveira, 2019).

Nesse contexto, Pisano (2017)Pisano, G. P. (2017). Toward a prescriptive theory of dynamic capabilities: Connecting strategic choice, learning, and competition. Industrial and Corporate Change, 26(5), 747-762. doi:10.1093/icc/dtx026
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propõe um modelo para futuras pesquisas em se tratando de dynamic capabilities e de como identificar e selecionar essas capabilities para um desempenho competitivo da empresa. Segundo o autor, futuros estudos utilizando o modelo proposto ajudariam no entendimento, por exemplo, de questões relacionadas aos desafios que as empresas enfrentam quando se trata de desenvolver novas capabilities específicas ou gerais para o mercado.

5 . Contribuições empíricas em relação à decisão de participação no mercado internacional de empresas já estabelecidas atuando localmente. Espera-se saber o que faz que determinadas empresas, após atuarem localmente, decidam empreender internacionalmente (adaptação, competitividade, aprendizado etc.). A partir do estudo de Zahra et al. (2014)Zahra, S. A., Newey, L. R., Li, Y. (2014). On the frontiers: The implications of social entrepreneurship for international entrepreneurship. Entrepreneurship Theory and Practice, 38(1), 137-158. doi:10.1111/etap.12061
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, em que os autores na sua definição atualizada para o EI incorporam as empresas já estabelecidas no mercado e de todo porte, novas possibilidades surgem para entender como e o porquê de as empresas decidirem empreender internacionalmente;

6 . Contribuir com mais evidência em relação às empresas exportadoras de produtos não tecnológicos, ou seja, produtos mais tradicionais. No estudo de Cavusgil e Knight (2015)Cavusgil, S. T., Knight, G. (2015). The born global firm: An entrepreneurial and capabilities perspective on early and rapid internationalization. Journal of International Business Studies, 46(1), 3-16. doi:10.1057/jibs.2014.62
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, entre os temas propostos para futuras pesquisas, estão os relacionados com o futuro das empresas BG, bem como das empresas com processos de internacionalização lentos. Nesse segundo tipo de empresas é que normalmente se enquadram as que comercializam produtos mais tradicionais ou não tecnológicos (Ortiz-Rojo, in press). Nesse sentido, novos insights sobre as empresas que não são classificadas como BG, mas decidem empreender internacionalmente com produtos não tecnológicos, ajudarão no entendimento sobre estratégias de entrada, desempenho e o futuro dessas empresas.

Conclusões

Diante do volume de documentos na produção mundial sobre EI, optou-se por realizar uma análise bibliométrica, em especial utilizando a técnica mapeamento temático. Em termos do desempenho da área EI, observa-se que é uma área de pesquisa que evoluiu e cresceu bastante, sendo que a partir do segundo período houve um aumento explosivo nas publicações, passando de 127 no primeiro período para 1.042 no segundo.

Esse aumento se manteve constante chegando a 1.934 no terceiro e último período analisado. Além disso, cabe destacar que, segundo a Lei de Bradford, quatro journals concentram 1/3 da produção sobre EI no período total analisado, a saber: International Entrepreneurship and Management Jornal, Journal of International Entrepreneurship, International Business Review e o Journal of World Business.

Em relação à análise de mapeamento, foram apresentados três mapas temáticos representando os períodos 1995-2004, 2005-2014 e 2015-2022. Os temas que mais se destacam e são mais representativos na pesquisa sobre EI são: desempenho das empresas no EI, inovação, conhecimento, empresas empreendedoras, orientação empreendedora, gestão, estratégia, modelo e comportamento exportador .

Considerando os resultados que apresentam os mapas temáticos e a evolução na pesquisa do EI, os temas que se apresentam como emergentes ou com continuidade são: desempenho, orientação empreendedora, empreendedorismo, impacto e gestão.

Este trabalho contribui de maneira relevante para a pesquisa sobre o EI, trazendo mapas temáticos de diferentes períodos que ajudam a entender não apenas o estado da arte de cada recorte temporal da área em questão, mas também, e talvez de forma mais representativa acerca da sua contribuição, a evolução temática da estrutura cognitiva do campo EI. Junto a isso, o considerável esforço deste estudo em contemplar toda a produção realizada sobre EI desde o estudo considerado como inicial na área permite oferecer, além das estatísticas descritivas normalmente presentes em estudos de revisões sistemáticas da literatura ( Baier-Fuentes et al., 2018Baier-Fuentes, H., Merigó, J. M., Amorós, J. E., Gaviria-Marín, M. (2018). International entrepreneurship: A bibliometric overview. International Entrepreneurship and Management Journal, 15(2), 385-429. doi:10.1007/s11365-017-0487-y
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), uma agenda de pesquisa baseada nos temas que merecem atenção a partir dos resultados que emergiram no estudo. Essa agenda de pesquisa vai alinhada com os esforços realizados por outros autores na área do EI e entendemos que, teoricamente falando, poderão guiar e subsidiar novas pesquisas sobre o tema.

Este estudo apresenta limitações comuns às revisões sistemáticas de literatura, como a heterogeneidade dos estudos analisados, decorrente da estratégia de evitar viés de não abrangência, incluindo a grey literature (p. ex., artigos publicados em anais de eventos), e o possível viés de publicação, ou seja, a tendência em publicações científicas de evidências positivas terem maior chance de serem publicadas do que as negativas, tornando tendenciosa a análise comparativa.

Esperamos que as contribuições feitas por este artigo possam servir de orientação para o avanço e melhor entendimento de um tema relevante e dinâmico como o empreendedorismo internacional.

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Notas

  • 1
    De acordo com Brookes (1969)Brookes, B. C. (1969). Bradford's law and the bibliography of science. Nature, 24, 953-956. doi:10.1038/224953a0
    https://doi.org/10.1038/224953a0...
    , a lei de Bradford estabelece que ordenar os periódicos de forma decrescente de produtividade de artigos de determinado assunto possibilita estabelecer clusters divididos, de maneira que o número de periódicos (n) em cada cluster (núcleo e zonas subsequentes) seja proporcional a 1: n: n.
  • Verificação de plágio
    A O&S submete todos os documentos aprovados para a publicação à verificação de plágio, mediante o uso de ferramenta específica.
  • Linguagem inclusiva
    Os autores usam linguagem inclusiva que reconhece a diversidade, demonstra respeito por todas as pessoas, é sensível a diferenças e promove oportunidades iguais.
  • Disponibilidade de dados
    A O&S incentiva o compartilhamento de dados. Entretanto, por respeito a ditames éticos, não requer a divulgação de qualquer meio de identificação dos participantes de pesquisa, preservando plenamente sua privacidade. A prática do open data busca assegurar a transparência dos resultados da pesquisa, sem que seja revelada a identidade dos participantes da pesquisa.
Editora Associada: Josiane Silva de Oliveira

Disponibilidade de dados

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A O&S incentiva o compartilhamento de dados. Entretanto, por respeito a ditames éticos, não requer a divulgação de qualquer meio de identificação dos participantes de pesquisa, preservando plenamente sua privacidade. A prática do open data busca assegurar a transparência dos resultados da pesquisa, sem que seja revelada a identidade dos participantes da pesquisa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2023

Histórico

  • Recebido
    14 Jul 2022
  • Aceito
    01 Dez 2022
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