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Entrevista: Maria Filomena Gregori por Silvia Aguião, realizada em maio de 20101 1 erealizada no âmbito do projeto Trajetórias Intelectuais: sexualidade, direitos e políticas na América-Latina, coordenado por Mario Pecheny (Universidad de Buenos Aires e Conicet). O projeto, a partir da realização de entrevistas com intelectuais e ativistas de diversos países latino-americanos, buscou sistematizar o modo particular como se tem conformado uma determinada tradição intelectual e modo de pensar o vínculo entre sexualidade, direitos e política na América Latina.

Maria Filomena GregoriGREGORI, Maria Filomena. 2019. “Gênero e o Brasil Republicano”. In: SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. (orgs.). Dicionário da República 51 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras. s/p.: Professora livre-docente do Departamento de Antropologia na Universidade de Campinas e pesquisadora associada ao Pagu - Núcleo de Estudos de Gênero, sendo membro do seu Conselho Científico. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia em 2019 e 2020, coordenadora do Doutorado de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Membro do conselho consultor da Rede Universitária de Direitos Humanos e membro do conselho consultivo do Centro Latino-Americano de Sexualidade e Direitos Humanos e do Conselho Editorial da Contemporânea - Revista de Sociologia, da Universidade Federal de São Carlos. Tem experiência na área de Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: gênero, estudos de gênero, violência urbana e antropologia urbana. Publicou os seguintes livros: Prazeres Perigosos - Erotismo, Gênero e Limites da Sexualidade (São Paulo: Companhia das Letras, 2016), Cenas e Queixas - um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista (São Paulo: Paz e Terra/Anpocs, 1993); Viração - experiência de meninos nas ruas (São Paulo: Companhia das Letras, 2000); em coautoria com Cátia Aida da Silva Meninos de Rua e as Instituições (São Paulo: Contexto, 2000). Organizou as seguintes coletâneas: com Adriana Piscitelli e Sergio Carrara (orgs) Sexualidade e Saberes: convenções e fronteiras (Rio de Janeiro: Garamond, 2004); com Guita Grin DebertDEBERT, Guita Grin; GREGORI, Maria Filomena. 2019. “Gender Violence and Justice”. Brésil(s) - Sciences Humaines et Sociales, n.16, p. 1-10. Disponível em: Disponível em: http:// journals.openedition.org/bresils/5567 Acesso 31 ago 2021.
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e Adriana Piscitelli (orgs) Gênero e Distribuição de Justiça: as delegacias de defesa da mulher e a construção das diferenças (Campinas: Pagu, 2006); com Guita Grin Debert e Marcella Beraldo de Oliveira (orgs) Gênero, família e gerações: juizado especial criminal e tribunal do júri (Campinas: Pagu, 2008).

Como você começou a trabalhar com questões relacionadas à sexualidade e direitos?

Eu comecei a trabalhar essas questões ainda na graduação. Quando estudava em Campinas, fiz parte do Coletivo Feminista de Campinas. Eu era muito jovem, estava no primeiro ano da faculdade e em Campinas tinha uns professores muito jovens também naquela época. Era 79 e tinha professores como a Mariza Corrêa2 2 Foi professora do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp durante trinta anos e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da mesma universidade. Faleceu em 2016. Foi bolsista do CNPq e ex-presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Publicou, entre outros, Vida em Família: uma perspectiva comparativa sobre “crimes de honra” (2006), Antropólogas e Antropologia (2003) e As Ilusões da Liberdade: A Escola Nina Rodrigues e a Antropologia no Brasil (2000). , Verena Stolcke3 3 Professora emérita de antropologia social na Universidad Autónoma de Barcelona, Espanha. Entre suas numerosas publicações destacam-se ¿Es el sexo para el género como la raza es para la etnicidad?” (1992); La ‘naturaleza’ de la nacionalidad (1997); Mujeres invadidas, El impacto de la conquista de América en las mujeres, Racismo y sexualidad en la Cuba colonial, entre outros. Realizou várias pesquisas no Brasil e em Cuba. Ultimamente estuda biotecnologias aplicadas à fecundação assistida e à clonagem, a partir de uma perspectiva de gênero. , Jeanne Marie Gagnebin4 4 Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Filósofa e escritora. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia. Entre suas publicações, destacam-se: Histoire et Narration chez Walter Benjamin (1994), Sete Aulas sobre Linguagem, Memória e História (1997) e Lembrar escrever esquecer (2006). e as colegas Iara Beleli5 5 Pesquisadora do Pagu, da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência no estudo das mídias, especialmente Internet, atravessada por gênero em intersecção com outras diferenças (raça/etnia, sexualidade, nacionalidade) em diálogo com Teorias Feministas e de Gênero. Entre suas publicações, destacam-se: Novos cenários: entre o “estupro coletivo” e a “farsa do estupro” na sociedade em rede (2016) e The imperative of images: construction of affinities through the case of digital media (2015). , Ana Fonseca6 6 Historiadora, foi pesquisadora do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas da Universidade Estadual de Campinas. Falecida em 2018. Coordenou o programa de garantia de renda mínima no Município de São Paulo, durante a gestão Marta Suplicy, e coordenou o Programa Bolsa Família entre 2003 e 2004. Foi secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Social em 2004. Foi analista de políticas sociais da Oficina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da América Latina e Caribe (2005-2006) e da Oficina Regional da Organizações das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) (20072018). Entre suas publicações, destacam-se: Família e Política de Renda Mínima (2001) e Piso de Protección Social: pros y contras (2015). , Angela Araújo7 7 Professora da Universidade Estadual de Campinas e Pesquisadora do Pagu, da mesma universidade. Tem experiência nas áreas de Ciência Política e Sociologia do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: relações de gênero e trabalho, reestruturação produtiva, sindicalismo, informalidade, cooperativismo e economia solidária. Entre suas publicações, destacam-se: A Construção do consentimento: corporativismo e trabalhadores nos anos trinta (1998), Trabalho Informal, Gênero e Raça no Brasil do início do século XXI, com Maria Rosa Lombardi (2013) e Precarização e Informalidade (2016). , Maria Conceição da Costa8 8 Professora da Universidade Estadual de Campinas. Tem como áreas de interesse: Dinâmica do Conhecimento Científico; Sociologia da Saúde; Saúde e Inovação; Cooperação Internacional em Ciência e Tecnologia; Ciência e Relações de Gênero e Política de Ciência e Tecnologia nos Países do Sul. Entre suas publicações, destacam-se: Divulgando a visibilidade das mulheres na ciência (2008) e A dinâmica do conhecimento biomédico e em saúde: uma interpretação sociológica (2019), com Renan Gonçalves Leonel da Silva. , Heloísa Pontes9 9 Antropóloga, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas e pesquisadora do Pagu, na mesma universidade. Tem experiência em antropologia urbana, sociologia e etnografia da vida intelectual, história social do teatro brasileiro, e relações entre gênero e corporalidade. Entre suas publicações, destacam-se: Destinos mistos: os críticos do Grupo Clima em São Paulo, 1940-68 (1998), Intérpretes da metrópole. História social e relações de gênero no teatro e no campo intelectual, 1940-68 (2010) e Modas e modos: uma leitura enviesada de “O espírito das roupas” (2004). . Tinha também o Pedro Maia Soares que fazia parte desse grupo, que era composto por professores e alunos. Então a gente fazia parte desse grupo. Era um grupo absolutamente genial! A gente lia coisas mais teóricas e a gente organizava umas “semanas da mulher”. Eram iniciativas bem bacanas. As “semanas” eram, na verdade, três ou quatro sessões, misturando militantes, não-militantes, psicanalistas e antropólogos para discutir questões relevantes, para pensar a questão da mulher - e a gente falava assim mesmo, “questão da mulher” naquele momento. E havia toda uma literatura estrangeira que eu estava conhecendo, eu estava entrando em contato. Fiquei fascinada, porque além de ter aula de graça com essas mulheres interessantíssimas, nós organizávamos essas atividades e sempre era interessante. Ao mesmo tempo ainda tinha uma militância - militância mesmo - com grupos organizados de mulheres na cidade de Campinas. E entre as pessoas desse grupo estavam mulheres que fizeram parte da luta armada, algumas foram do movimento estudantil, como a Ana Fonseca que, entre outras coisas, foi responsável pela implantação do Bolsa Família no Brasil. Então, tinha um lado de militância importante, tinha um lado de intelectualidade universitária interessante e isso tudo podia ser vivido meio de uma maneira misturada. Então foi uma super experiência. E, ao ter essa experiência, quando eu estava terminando a graduação, eu decidi que eu ia continuar. Se fosse para fazer algum mestrado, alguma pesquisa, eu queria trabalhar com isso. Mas, em particular, o que eu tinha mais interesse era tentar entender algumas questões, já que esse grupo coletivo de Campinas, era uma espécie de articulação entre universitárias, não-universitárias, professoras, alunas. Tinha sempre uma coisa que eu sentia que era uma barreira mesmo, sei lá, sociocultural, vamos dizer assim, entre as feministas, todas elas muito sofisticadas, vindas do exílio, classe média, com uma super formação e as mulheres dos movimentos de mulheres. E aquele momento, na história política do feminismo no Brasil, tinha mesmo um contencioso entre aqueles grupos de feministas, compostos por mulheres que achavam que a questão do feminismo tinha que tentar abarcar a luta pela redemocratização da sociedade e nessa luta a mudança dos paradigmas produtivos, vamos dizer assim. Havia uns trotskistas também que apoiavam o movimento de mulheres, mas apoiavam o movimento de mulheres desde que este movimento não tocasse em determinadas questões, entre elas, o aborto, o planejamento familiar, o problema da sexualidade... quer dizer, tudo aquilo que era concebido por certa ala como questões específicas da mulher. Então, a lógica era que não se deveria criar dissensos no universo das mulheres. Mas, ao contrário, apoiar os movimentos populares de mulheres para uma luta conjunta pela redemocratização do país. E nosso grupo era da ala de grupos feministas que considerava que essas questões eram questões extremamente relevantes e que elas tinham que entrar na pauta e na agenda. Mas, mesmo entrando na pauta e na agenda, era um momento de muita polaridade entre o movimento de mulheres e o movimento feminista, questões específicas das mulheres e questões pela redemocratização, pela mudança do sistema, coisas nesse sentido. Tinha mesmo essa luta, aqueles congressos da mulher em São Paulo que eu acompanhei, com a Helô Pontes. Porque a gente estudou isso e a gente era militante nessa altura. Sempre essa questão estava muito posta. O específico sobre a condição feminina deveria ser deixado de lado em nome mesmo de uma organização política mais abrangente. E a gente era contra. Mas ao mesmo tempo sobrava questão. Eu via que o único lugar, o único tema tratado em que essas questões poderiam ser articuladas de uma maneira um pouco mais interessante era o trabalho em torno do SOS Mulher10 10 Serviço criado em 1980, inicialmente com sedes em São Paulo e Campinas, criada por iniciativa de Sandra Shepard, psicóloga e Maria José Taube, antropóloga. O SOS Mulher consistiu em um serviço de informações dos direitos das mulheres e orientação jurídica para as mulheres em situação de violência, multiplicando-se pelo Brasil. . Então, não é que eu decidi estudar violência contra a mulher por conta deste tema. Na verdade, eu cheguei a esse tema porque a minha vontade era entender um pouco mais a fundo as idiossincrasias da relação entre as mulheres feministas de classe média, algumas vindo do exílio, super intelectualizadas e as mulheres que eram distantes do movimento, e aí nem eram mulheres que estavam no movimento de mulheres, tipo nos movimentos que eram apoiados pelas trotskistas, pelo PCdoB etc. Então, a ideia de estudar o SOS Mulheres, eu e a Heloísa Pontes a gente estudou juntas, ela já estava no mestrado quando eu entrei, e ela foi estudar o SOS Mulher também. Só que ela queria estudar o SOS Mulher do ponto de vista das feministas, da formação de um campo e eu queria estudar a relação dessa organização com as mulheres atendidas, inicialmente. A dissertação dela, defendida na Unicamp, chama-se “Do Palco aos Bastidores”11 11 Disponível em <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/281382>, acesso em 06/04/2020. . Depois a violência passou a ser um tema muito importante, sobretudo naquele momento. E o SOS Mulher de São Paulo era também uma organização muito interessante porque ela começou como uma organização de todas as organizações. Era uma espécie de parceria de vários grupos feministas e de várias entidades na prestação desses serviços. Porque não tinha nada naquele momento. Não tinha nada mesmo, as delegacias não atendiam. Não tinha absolutamente nada. Nada, nada, nada. Tinham algumas advogadas interessantes, mas que faziam trabalhos isolados, tanto que a primeira forma de organização do SOS foi juntar advogadas com uma cabeça boa, psicólogas com uma cabeça boa, gente que trabalhava com sexualidade que tinham uma cabeça boa. E essas pessoas voluntariamente foram atender e dar plantões no SOS Mulher. Então essa foi a minha aproximação.

Você já tinha contato com o SOS antes que essa instituição fosse seu campo de pesquisa?

Não, eu tinha com o coletivo de Campinas. Eu morava em Campinas, estava cursando a Unicamp. Eu vinha em São Paulo toda semana, mas não tinha nada aqui muito claro. Quando estava acabando a graduação, formulei um projeto de pesquisa, quer dizer, inicialmente eu formulei um caderninho de problemas. Eu fui ler um monte de bibliografia e formulei um monte de questões e tal e mostrei para algumas pessoas. Eu tinha muito interesse de sair um pouco da Unicamp, porque eu achava que tinha que ter uma experiência mais interinstitucional. Então pensei em fazer o mestrado na USP e mostrei esse caderninho para a Ruth Cardoso12 12 Antropóloga, foi professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Faleceu em 2008. Ruth Cardoso foi a primeira-dama do País (titulo que recusou) durante o mandato de seu marido, Fernando Henrique Cardoso, en tre 1995 e 2003. Publicou, entre outras obras, Estrutura familiar e mobilidade social (1972), A aventura antropológica: teoria e pesquisa (1986) e A trajetória dos movimentos sociais (1994).- , que na mesma hora disse para mim: “Não, você precisa fazer disso um projeto e para de bobagem, presta o mestrado na USP...”. Como ela me deu um monte de outras indicações, eu fiz um projeto de pesquisa, fui aprovada na USP e comecei a fazer o mestrado. Então, nesse projeto de pesquisa eu já tinha escolhido o SOS. E quando eu fiz contato, através do coletivo, eu tinha certo nome e tal. Nome, assim, tinha o que dizer. “Olha, sou parte do Coletivo de Campinas, queria saber, acabei de entrar no mestrado, o meu projeto de pesquisa é esse, gostaria de saber se eu posso fazer pesquisa aqui”. As pessoas leram o projeto e permitiram. Aí eu virei militante, porque naquela época a gente não fazia a menor distinção, não tinha uma fronteira muito clara, não era uma observadora daquela ação. Assim como eu era militante do Coletivo de Campinas e fiz o projeto, quando eu fui para o SOS eu deixei o Coletivo de Campinas porque não estava mais lá e comecei a fazer parte do SOS Mulher. Então eu era militante mesmo. Eu dava plantão, eu fazia parte das reuniões, foi assim que eu me aproximei deste tema.

Quais são as correntes, autores que influenciaram e foram importantes na sua formação? Nos conte em termos mais gerais e no seu trabalho atual também.

Nossa Senhora, aí é grande! Inicialmente, quando eu estava na Unicamp, a gente já lia muito Foucault. Eu lembro que Foucault já era um recorte. Eu li o História da Sexualidade, volume I - A vontade do saber, eu acho, que no segundo ano da faculdade. Foi logo que foi publicado aqui. A gente já estava em sala de aula discutindo. Então, Foucault foi uma referência importantíssima, mas não só ele. Acho que tinha uma coisa da antropologia feminista também. Eu li muito aquela coletânea A Cultura, A Mulher e a Sociedade, editada pela Paz e Terra e organizada pela Michelle Rosaldo e Louise Lamphere. E tinha uma francesa que a gente gostava muito, eu e a Heloísa Pontes, que se chamava Françoise Collin. A leitura do texto No man’s land: reflexions sur l’esclavaje voluntaire des femmes, que falava sobre poderes informais, foi muito importante. E adorava Simone de Beauvoir, evidentemente. Então tinha essa coisa, eu tinha muito interesse. Depois, fazendo o mestrado eu comecei a conhecer um pouco mais os movimentos libertários, mais alternativos, a discussão sobre os movimentos feministas na perspectiva dos movimentos sociais alternativos. Aí eu tive uma formação com a Ruth [Cardoso], lá na USP. Depois eu fui para o Cebrap13 13 Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, instituição com 50 anos de atuação em pesquisa na área de ciências humanas, que realiza estudos sobre a realidade brasileira. http://www. cebrap.org.br e isso continuou a ficar forte, essa formação, a formação antropológica, mas também em Ciência Política, muito afinada com a discussão dos direitos na perspectiva dos movimentos sociais. Isso foi ficando mais abrangente e teoricamente consistente. Eu gostava muito de uma publicação intitulada Além dos fragmentos da Sheyla Rowbotham14 14 Historiadora inglesa, foi Professora de História do Gênero e História do Trabalho na Universidade de Manchester, Inglaterra. Conforme citado, teve parte de sua obra publicada no Brasil, com o título Além dos fragmentos (1981). Outras publicações: Women’s Liberation and the New Politics (1969) e Woman’s Consciousness, Man’s World (1973). , uma historiadora feminista inglesa que teve participação no movimento trotskista e acompanhou a formação dos movimentos feministas na Inglaterra. E eu lembro que ela era uma super referência também para a gente. Eu era mais nova, mas acompanhava muito as discussões que faziam a Malu Heilborn15 15 Antropóloga e professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Sua atuação tem privilegiado os estudos sobre gênero, sexualidade e família. Publicou, entre outros, Dois é par: gênero e identidade sexual em contexto igualitário (2004) e co-organizou O aprendizado da sexualidade: reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros (2006). , a Madu Gaspar16 16 Antropóloga, arqueóloga e professora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre suas publicações, destacamos: Garotas de Programa: prostituição em Copacabana e identidade social (1985), fruto da sua dissertação de mestrado em Antropologia Social. , a Lalá [Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti17 17 Antropóloga, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ). Com Maria Luiza Heilborn e Bruna Franchetto, organizou quatro volumes da obra Perspectivas Antropológicas da Mulher, entre 1980 e 1985. Suas áreas de pesquisa são: teoria antropológica; ritual e simbolismo; etnografia, escrita e narrativas; antropologia brasileira; cultura popular e estudos de folclore. Publicou, entre outros, Drama, Ritual e Performance: a antropologia de Victor Turner (2020) e Carnaval, Ritual e Arte (2015). ], e a Bruna Franchetto18 18 Antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência em políticas linguísticas, documentação, descrição e análise de línguas indígenas brasileiras. Com Maria Luiza Heilborn e Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, organizou quatro volumes da obra Perspectivas Antropológicas da Mulher, entre 1980 e 1985. Publicou, entre outros, Os Povos do Alto Xingu. História e Cultura (2001), com Michael Heckenberger e Rencontres rituelles dans le Haut Xingu: la parole du chef (2000). naquele Perspectivas Antropológicas da Mulher que teve o lançamento do primeiro volume no CEBRAP em algumas sessões. Eu fui em todas as sessões. Eu ainda estava no início do mestrado, mas já participava, já estava fazendo parte dos grupos, mandava trabalho para os grupos e era aprovado. Então eu e Heloísa Pontes, a gente se meteu muito cedo nessa discussão. Essas foram as referências. Daí no Cebrap teve um monte de outras discussões importantes no campo da sociedade civil, espaço público e, num dado momento, quando eu comecei, eu tinha todo o material do SOS já acumulado. Em 1983 o SOS fechou. Em 1985, as delegacias da mulher foram implantadas. Eu acompanhei a implantação dessas delegacias, mas aí eu não estava tão interessada na coisa da delegacia, eu estava interessada nas mulheres. Fiz muita entrevista e em 1988 eu defendi o mestrado19 19 A pesquisa do mestrado foi publicada no livro: Gregori, Maria Filomena. Cenas e Queixas - um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. São Paulo: Paz e Terra/ Anpocs, 1993. . Mas até 1988, até defender o mestrado, eu comecei a ler as coisas de sexualidade, eu entrei em contato com os trabalhos de Marquês de Sade e de Georges Bataille. Aí eu comecei a ler coisas mais teóricas, Roland Barthes. Depois do mestrado, eu lembro que foi uma experiência meio traumática, porque a maior parte das feministas que eram mais velhas que eu, ficaram um pouco irritadas com as minhas conclusões e com as minhas reflexões. E eu fiquei com medo delas. Ah, mulherada braba, aquela, gente! Eu não tinha idéia que eu estava fazendo alguma coisa assim que elas não fossem concordar. Eu lembro que uma pessoa que eu adorava era a Beth Lobo20 20 Socióloga, após a anistia em 1979, passou a militar no movimento feminista e ajudou na organização das mulheres sindicalizadas da Central Única dos Trabalhadores (CUT). que, assim, meio brincando, foi comentar uma vez os meus textos, dizia que eu era uma pós-feminista. Eu não entendi muito aquela colocação, mas, enfim. Eu fui me afastando, sabe aquela coisa que você vai se afastando, um pouco assim, “desculpe por existir”. Eu já estava no Cebrap e comecei a pesquisar a coisa dos meninos de rua, saindo um pouco do campo. Eu achei que tinha certa irritação do feminismo local com as minhas considerações e, ao mesmo tempo, eu não via render muito. Tinha chegado até um ponto que eu não conseguia avançar muito mais. A discussão, por exemplo, sobre sexualidade, eu deixei mesmo, acho que não tinha nem 28 anos, eu não tinha nem vivência. Não tinha nem maturidade existencial para continuar naquela discussão. E fui estudar um pouco a coisa da violência urbana, fui estudar os meninos de rua. Aí quando eu terminei o doutorado, dez anos depois, mais ou menos, entre curso e filho e tudo, dez anos depois eu me reaproximei de novo dessa literatura e a literatura tinha mudado totalmente. Eu lembro que a aproximação foi porque me pediram na Anpocs21 21 Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. http://www.anpocs. org.br para fazer um comentário de um texto que a Malu [Maria Luiza Heilborn] e Bila Sorj22 22 Professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conduz pesquisas sobre as desigualdades de gênero, focando as seguintes temáticas: família, pobreza e políticas públicas. Publicou, entre outros: Reconciling Work and Family: issues and policies in Brazil (2004) e Identidades Judaicas no Brasil Contemporâneo (1997). tinham escrito para O que ler na Ciências Social Brasileira23 23 Publicação da ANPOCS editada de 1970 a 2002. .

Quando isso?

Isso foi em 98-99. E fazia tempo que eu não tinha contato com essa bibliografia, eu participava do Pagu24 24 Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, Universidade Estadual de Campinas, centro interdisciplinar de pesquisa voltado para a produção e disseminação do conhecimento em torno da problemática de gênero. http://www.pagu.unicamp.br/ , estava no Cebrap, fazendo outras coisas. Aí o Sergio Miceli25 25 Atualmente é editor responsável da Tempo Social - Revista de Sociologia da USP e professor da Universidade de São Paulo. Suas pesquisas se dirigem à Sociologia da Cultura. Publicou, entre outros: A noite da madrinha e outros ensaios sobre o éter nacional (2005), Nacional estrangeiro, história social e cultural do modernismo artístico em São Paulo (2003) e Intelectuais à brasileira (2001). pediu para eu fazer esse comentário e aí para fazer o comentário para a Bila [Sorj] e a Malu [Heilborn] eu tive que voltar a estudar as teorias feministas e eu fiquei absolutamente encantada, porque eu vi que tinha uma discussão muito viva, muito vigorosa. Eu não conhecia Judith Butler26 26 Professora de Literatura e Retórica na Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA. Produz estudos sobre performatividade de gênero, sendo reputada por seus aportes aos estudos queer. Entre suas publicações encontram-se: Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity (1990), Bodies That Matter: On the Discursive Limits of ‘Sex’ (1993), Excitable Speech: A Politics of the Performative (1997) e Undoing Gender (2004). , por exemplo. Quando eu conheci, eu falei: gente, é aqui mesmo que eu quero ficar de novo! Daí eu comecei a dar curso na Unicamp sobre família e gênero e formulei o projeto para estudar a sexualidade e o erotismo. O que eu fiz? Eu peguei uma questão que eu tinha deixado lá atrás, era a questão do erotismo e da violência, e voltei a estudar essa questão. Mas eu tive que montar um campo empírico e quem me ajudou muito foi a Adriana [Piscitelli]27 27 Pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas, no Núcleo de Estudos de Gênero-PAGU, professora no Departamento de Antropologia Social e no Doutorado em Ciências Sociais da mesma universidade. Realiza estudos nos seguintes temas: gênero, memória, parentesco, sexualidade, turismo sexual, prostituição, migrações, tráfico internacional de pessoas, teoria feminista e teoria antropológica. Publicou, entre outros: Trânsitos: brasileiras nos mercados transnacionais do sexo (2013), Jóias de Família, gênero e parentesco em histórias sobre grupos empresariais brasileiros (2006) e co-organizou, junto com Maria Filomena Gregori e Sergio Carrara, Sexualidades e Saberes, convenções e Fronteiras (2004). lá no Pagu. Eu tive a ideia de ir para os Estados Unidos, eu queria estudar um tempo fora. Ela me sugeriu o negócio do sex shop, achei fantástica essa idéia e voltei, então, a esse campo. Eu já tinha voltado à teoria, nos cursos, e voltei a este campo. Daí eu fui para os Estados Unidos, fiquei lá praticamente um ano, em 2001, estudei para caramba. Eu já tinha estudado antes para formar um projeto, e quando eu voltei, eu voltei muito atualizada para começar a fazer pesquisa de campo mesmo. Eu leio tudo sobre sexualidade hoje em dia. Mas tem muito essa marca que eu acho que a gente está fazendo. Nesse grupo da que a gente montou: Sérgio [Carrara]28 28 Professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), pesquisador do Centro Latino-americano de Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM) e editor da Revista Sexualidad, Salud y Sociedad. Foi vice-presidente da Associação Brasileira de Antropologia em 2019 e 2020. Atualmente, desenvolve pesquisas nos seguintes temas: antropologia do corpo e da saúde, sexualidade, gênero, homossexualidade, direitos humanos e violência. Algumas publicações: Tributo a Vênus: a luta contra a sífilis no Brasil, da passagem do século aos anos 40 (1996), Crime e loucura: O aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século (1998) e Sexual Politics and Sexual Rights in Brazil: an overview, em coautoria com Adriana Vianna e Paula Lacerda (2008). , Júlio [Simões]29 29 Professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença (NUMAS). Atua na área de Antropologia Urbana, principalmente nos seguintes temas: antropologia urbana, antropologia e política, movimentos sociais, envelhecimento e curso de vida, gênero e sexualidade. Entre suas publicações, destacamos: Jeitos de corpo: cor/raça, gênero, sexualidade e sociabilidade juvenil no centro de São Paulo (2010), juntamente com Isadora Lins Ribeiro e Márcio Macedo e Sexualidade, cultura e política: a trajetória da identidade homossexual masculina na antropologia brasileira (2014), com Sérgio Carrara. , eu, Adriana Piscitelli, Adriana Vianna30 30 Antropóloga, professora do PPGAS/Museu Nacional/ UFRJ. Áreas de atuação: direito, justiça e políticas públicas. Desenvolve pesquisas sobre Antropologia do Estado, das moralidades, das relações de gênero, família, violência e emoções. Entre suas publicações: A Guerra das Mães: dor e política em situações de violência institucional (2011), com Juliana Farias; El Mal que se Adivina - policia y minoridad en Rio de Janeiro 1910-1920 (2007) e juntamente Direitos e Políticas Sexuais no Brasil: o panorama atual (2004), com Paula Lacerda. , eu acho que tem um jeito de lidar com a sexualidade que não era o jeito que era tratado pelas pessoas que tinham uma super importância no campo, mas que fizeram uma coisa muito ligada à sexualidade reprodutiva. Então a gente não foi nessa direção da sexualidade reprodutiva, nem na direção do comportamento sexual, que é um pouco o que eu acho que a Malu foi fazendo e, depois, enfim, está indo muito além dele. Eu acho que a nossa discussão era uma coisa da sexualidade dos meninos, com homofobia, homossexualidade, e eu, enfim, muito querendo trabalhar na perspectiva do erotismo mesmo. Como trabalhar na perspectiva do erotismo sem cair na discussão filosófica, vamos dizer assim. Como é que você transforma isso num objeto antropológico, com pesquisa de campo. Mas sempre preocupada em descobrir e tentar entender um pouco mais a fundo o problema da sexualidade não como identidade, mas como prática mesmo, como prática erótica. Então, é uma prática sexual no sentido do comportamento sexual, mas é uma prática erótica e aí você tem que mobilizar uma reflexão sobre o erotismo mesmo, sobre todo o repertório simbólico em torno disso.

Você acha que houve um corte mesmo, do início dos anos 2000 para cá?

Ah, eu acho. Nos estudos sobre sexualidade?

É.

Sim, eu acho. Tem uma inflexão. Eu acho que tem uma inflexão que vem na discussão dos direitos, mas não mais como direitos reprodutivos. Então agora se discute direitos sexuais. Isso tem muito a ver com o adensamento do Pagu e do CLAM, eu acho que tem essa interface importante. O CLAM, com o apoio da Ford31 31 Organização internacional (estadunidense) de apoio a projetos, a pessoas e instituições envolvidas em ações para a “consolidação da democracia, a redução da pobreza e da injustiça social e com o desenvolvimento humano”. http://www.fordfoundation.org/ , conseguiu juntar um monte de parceiros e produzir iniciativas em pesquisas que são super relevantes nesse sentido. Então tem um campo hoje que está discutindo a questão mesmo dos direitos sexuais numa perspectiva que descola dos direitos reprodutivos. Eu acho que isso é uma coisa importante. E, do ponto de vista mais antropológico, a gente também está descolando da discussão dos comportamentos sexuais strictu sensu, para uma coisa que coloque a identidade como conceito em questão, colocando a sexualidade como comportamento em questão, tentando buscar novas conceituações. Fora que a gente nem está estudando movimentos políticos apenas, nem só entrevistas, ou só o comportamento, ou os saberes organizados: ou pela justiça, ou as coisas normativas, digamos, os saberes normativos. A gente está estudando essa dimensão do mercado que eu acho que é muito importante. Então, é muita pesquisa empírica, muita atividade de orientação e pesquisa, muita discussão sobre essas várias dimensões que também estão postas no mercado. Eu acho que tem mesmo, tem uma inflexão, tem novos cenários sendo investigados.

E sobre quais temas você está trabalhando atualmente...

É, eu trabalho com erotismo, com novas formas de erotismo, eu chamo de novas formas do erotismo contemporâneo ou erotismos contemporâneos. Porque eu nunca gosto de tornar esses singulares, é muito complicado tornar esse erotismo singular. Existem formas variadas de erotismo e eu acho interessante tratar na sua pluralidade. Mas sempre busco articular essas novas formas de erotismo com as teorias de gênero e busco tratar o gênero como um marcador social da diferença. Eu trabalho muito com isso que eu chamo de limites da sexualidade, que é de meu interesse pela literatura, pelas teorias de violência, eu nunca abandonei esta perspectiva de pensar que trabalhar com sexualidade significa trabalhar com o prazer e também com o perigo. Eu investiguei o que seria esse mercado erótico contemporâneo - então a ideia de pesquisar os sex shop veio nessa direção. Eu tive muito interesse em pesquisar os sex shop, não só pela constituição de mercado, mas também pela constituição de um mercado consumidor de produtos. E ao observar o comportamento de consumo e a produção de determinados objetos, eu fiquei absolutamente fascinada pela rentabilidade de pensar os objetos eróticos na relação com as pessoas, e com os objetos. Enfim, como as pessoas vivem as corporalidades delas, instituindo uma fronteira muito mais tênue do corpo delas com os objetos que elas usam. Eu acho muito interessante. E, então, tem essa dimensão dos mercados, dos produtos e da relação desses produtos como objetos e como objetos que têm uma relação com o corpo, que é muito interessante. Isso nos informa sobre os limites da sexualidade. Daí toda a discussão sobre sadomasoquismo, porque sadomasoquismo é uma maneira muito interessante de ter acesso ao tema da violência e erotismo. Sadomasoquismo é um jeito de você ver e de ter um material para pensar a relação entre a violência, o prazer, os erotismos e gênero, porque inegavelmente nos limites da sexualidade e do sadomasoquismo, a questão de gênero está muito premente. Outra discussão superinteressante desse momento é que a gente não está discutindo apenas orientação sexual, ninguém está acreditando muito firmemente nessa distinção entre heterossexualidade e homossexualidade. O que nosso campo está mostrando é que essas definições, elas não deixam de fazer sentido, mas não estão criando uma segmentação muito rigorosa. Ao contrário, a gente está vendo as pessoas com práticas e com retóricas e com a demanda por direitos justamente para elas poderem portar uma identidade de não ter de ser homossexual ou heterossexual exclusivamente. A gente está assistindo agora justamente o direito a uma identidade mais fluida deste ponto de vista e mais circulante, não tão definitiva.

E do ponto de vista teórico, quais seriam as contribuições mais relevantes, mais enriquecedoras e também as mais críticas em termos de sexualidade e direito, e quais você acha que já cumpriram o seu ciclo?

Eu acho todas as contribuições mais estruturalistas, vamos dizer assim, ou funcionalistas, ainda que elas tenham uma contribuição inegável no campo, enfim, a gente tem que considerar a relevância, mas talvez pare por aí. De modo que eu tenho cada vez mais investido em perspectivas que tendem a um pós-estruturalismo no campo da sexualidade e dos direitos. Dos direitos eu não sei ainda muito bem como definir, mas eu acho que no campo da sexualidade sim, todas as perspectivas pós-foucaultianas são muito bem-vindas. Eu tenho um apreço muito grande pelas teorias de Judith Butler. A parte que ela fala do Lacan e tal, eu tenho mais dificuldade, toda vez que ela é mais pós-foucaultiana, que ela parte do Foucault me são muito inspiradoras. Gosto muito da abordagem sobre a perspectiva da normatividade, dos dispositivos e das contestações performativas. Reconheço como uma super contribuição. Gosto muito dessas perspectivas de agora, essas perspectivas que a gente tem adotado de tentar não reificar o que é gênero, nem reificar o que é sexualidade. Então, acho muito bem-vindas as perspectivas que implicam em metodologias para intersectar marcadores de diferença. Não é possível fazer estudos de sexualidade se você não pensa um pouco sobre como os marcadores são atualizados de uma maneira interseccional. Isso é muito relevante hoje em dia. Eu discuto muito, faço meus alunos lerem, acho toda essa discussão muito importante, mas eu acho que é importante considerar a partir dela, ou seja, não é ficar na coisa do interacionismo, do funcionalismo... Eu acho que isso já deu a sua contribuição. A gente tem que aproveitar esses instrumentais, essas indicações e ir um pouco além. Pensar e fazer dialogar essa bibliografia com uma bibliografia que conteste conceitos como a ideia de cultura como unidade sistêmica, que conteste indivíduo num sentido muito plasmado dessa conceituação, que pense a ideia de que as teorias da identidade têm que ser de certa maneira revistas - revistas ou problematizadas. A gente tem que trabalhar com a perspectiva inegável da importância e da centralidade do Estado, mas pensar sobre essas novas formas de constituição do que seria a esfera pública, do âmbito dos movimentos e da sociedade civil. Mas pensar isso de maneira a evitar uma posição muito ortodoxa na relação entre indivíduo e sociedade. As sociedades estão em plena transformação. A gente tem que pensar um pouco mais que essas relações se constituem a partir de redes. Não dá mais para pensar Estado-nação, num sentido muito tradicional do termo. Você tem que pensar cada vez mais nessas convenções, nessa circulação pelo mundo, nos espaços de transnacionalidade mais do que nos espaços de nacionalidade. E você tem que pensar que isso tudo gera também novas situações para pensar a desigualdade social. E que não são as mesmas quando se imaginava teoricamente o problema da desigualdade nos anos 60 e 70, pensando um mundo como o primeiro mundo e o subdesenvolvimento e todas aquelas teorias da marginalidade. Eu acho que hoje em dia temos que pensar em termos muito mais complexos sobre os efeitos da globalização. Então a gente tem que acompanhar essa literatura e parte dela é bem relevante e interessante.

Você acha que está sendo rentável os usos da teoria queer?

Sim, eu acho muito rentável. Mas eu nunca entendo. Eu nunca fiz essa distinção. Eu não sei, por exemplo, se a Judith Butler é queer. Eu não faço muito essa distinção. Esse é mais um problema político do campo. Eu não faço essa distinção, tanto que eu dou esses autores dentro dos meus cursos de gênero. Nas teorias de gênero, você tem as teorias mais ortodoxas, e mesmo elas são tão variadas, são tantas vertentes, que é difícil. Mas dá para dar queer e não passar um pouco pela discussão que as teorias feministas fizeram? Eu não sei muito se é possível deixar de lado essa colaboração, mas tem aspectos da teoria queer que são uma contribuição. O que eu mais conheço é na linha da Judith Butler. Eu não entendo exatamente o que se está chamando de teoria queer que não inclui esses autores que a gente está discutindo há tanto tempo. Mais sobre sexualidade, seria... é o que? É queer porque estuda homossexualidades... Eu não entendo.

É que algumas entrevistas desse projeto, principalmente no Brasil, mas nas outras também, aparece uma certa resistência a isso que se chama de teoria queer.

Não, não tenho a menor resistência.

Não nesse sentido, mas no sentido de que muitas vezes isso vem sendo usado como se fosse uma grande novidade e coisas que já eram pensadas, que já faziam parte de uma perspectiva incorporada, pelo menos nos estudos no Brasil...

Ah, eu não acho. Eu acho que tem um ladinho um pouco de resistir a mudanças. Porque se você vai ler direito, se você faz isso que a gente fez direitinho, de ler um pouco nas teorias feministas a discussão sobre sexualidade e acompanhar todas as vertentes dos anos 80 sobre a sexualidade, tanto no âmbito das minorias sexuais, como no âmbito das reflexões mais pós-estruturalistas, você vai ver que tem uma contribuição inegável disso que seria o que estão chamando de queer theories, que eu também chamo, eu também situo desse jeito, mas que vem a Gayle Rubin32 32 Antropóloga e professora de Women’s Studies no Departamento de Antropologia da Universidade de Michigan, EUA, ativista e teórica do sexo. Em seus trabalhos, a autora articula gênero, sexualidade, poder, política e instituições. Dentre seus trabalhos mais conhecidos temos os ensaios O Tráfico de Mulheres (1975) e Pensando o Sexo (1984). , a Carole Vance33 33 Antropóloga e Professora na Universidade de Columbia, Nova Iorque, EUA, tem trabalhado sobre sexualidade, direitos humanos, gênero, antropologia médica, cultura das ciências e biomedicina. Entre suas publicações: Social Construction Theory: Problems in the History of Sexuality in A. van Kooten Nierkerk and T. Van Der Meer (eds), Homosexuality, Which Homosexuality? (1989) e Gender in a Transnational World. , a Judith Butler. Nossa, eu acho que isso é uma grande contribuição, não é uma pequena contribuição! Eu acho que isso trouxe novos ares justamente para repensar se sexualidade só dá para ser pensada no âmbito da saúde. No caso do Brasil, isso foi importantíssimo para dar um afastamento da saúde reprodutiva e da ideia de direitos sexuais como direitos reprodutivos. Por quê? Porque isso afastou mesmo a ideia de que era preciso pensar conceitualmente a matriz da heterossexualidade, que é uma ideia que vem do Foucault. Eu acho isso fundamental. Essa noção deu uma grande mudança no campo. Porque ela permitiu olhar para esses objetos não pelo olho da saúde reprodutiva, nem pelo olho da opressão sexista, e nem pelo olho, digamos, do comportamento sexual. Isso que alguns podem chamar de queer theories, que eu não sei bem o que significa, mas se foi aquilo que foi produzido a partir da Carole Vance e tal, eu acho que foi sim um marco, absolutamente foi um marco, um marco fundamental. O que veio posteriormente, evidentemente, foi dialogando, incorporando todas as discussões feitas anteriormente. Também que não dá para dizer que as queer theories são aquilo que incorporou Foucault, isso já tinha, já estava na pauta, já estava na agenda, então discordo de quem faz essas distinções muito rígidas, mas dizer que essas novas contribuições... Desqualificar...

Não as contribuições, mas o uso que tem sido feito delas...

É, o uso depende se é uma análise que tem interesse ou não. Eu não sou desse tipo e acho que uma das coisas interessantes que a gente faz, pelo menos lá no Pagu, e também nos grupos com os parceiros que a gente tem é justamente não ter essa ortodoxia. Eu acho que tem que ter. Justamente, o momento interessante dos estudos sobre sexualidade no Brasil é que a gente está podendo ler teoria sem ter que ficar restrito a pesquisas feitas numa perspectiva foucaultiana só dos saberes constituídos, normativos, ou a quaisquer outras perspectivas. Isso tudo está sendo dialogado a partir de novas perspectivas teóricas. Então, eu diria o seguinte: não digo que eu sou favorável ao queer theories, porque eu não sei exatamente o que isso quer dizer, mas eu acho que esses autores, desde a Carole Vance, lá nos anos 80, trouxeram inflexões novas sim e que permitem uma abertura de um campo muito interessante de análise e de investigação.

Acho que é só isso, muito obrigada!

Bibliografia - Publicações recentes

  • GREGORI, Maria Filomena. 2019. “Gênero e o Brasil Republicano”. In: SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. (orgs.). Dicionário da República 51 textos críticos São Paulo: Companhia das Letras. s/p.
  • DEBERT, Guita Grin; GREGORI, Maria Filomena. 2019. “Gender Violence and Justice”. Brésil(s) - Sciences Humaines et Sociales, n.16, p. 1-10. Disponível em: Disponível em: http:// journals.openedition.org/bresils/5567 Acesso 31 ago 2021.
    » http:// journals.openedition.org/bresils/5567
  • 1
    erealizada no âmbito do projeto Trajetórias Intelectuais: sexualidade, direitos e políticas na América-Latina, coordenado por Mario Pecheny (Universidad de Buenos Aires e Conicet). O projeto, a partir da realização de entrevistas com intelectuais e ativistas de diversos países latino-americanos, buscou sistematizar o modo particular como se tem conformado uma determinada tradição intelectual e modo de pensar o vínculo entre sexualidade, direitos e política na América Latina.
  • 2
    Foi professora do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp durante trinta anos e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da mesma universidade. Faleceu em 2016. Foi bolsista do CNPq e ex-presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Publicou, entre outros, Vida em Família: uma perspectiva comparativa sobre “crimes de honra” (2006), Antropólogas e Antropologia (2003) e As Ilusões da Liberdade: A Escola Nina Rodrigues e a Antropologia no Brasil (2000).
  • 3
    Professora emérita de antropologia social na Universidad Autónoma de Barcelona, Espanha. Entre suas numerosas publicações destacam-se ¿Es el sexo para el género como la raza es para la etnicidad?” (1992); La ‘naturaleza’ de la nacionalidad (1997); Mujeres invadidas, El impacto de la conquista de América en las mujeres, Racismo y sexualidad en la Cuba colonial, entre outros. Realizou várias pesquisas no Brasil e em Cuba. Ultimamente estuda biotecnologias aplicadas à fecundação assistida e à clonagem, a partir de uma perspectiva de gênero.
  • 4
    Professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Filósofa e escritora. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia. Entre suas publicações, destacam-se: Histoire et Narration chez Walter Benjamin (1994), Sete Aulas sobre Linguagem, Memória e História (1997) e Lembrar escrever esquecer (2006).
  • 5
    Pesquisadora do Pagu, da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência no estudo das mídias, especialmente Internet, atravessada por gênero em intersecção com outras diferenças (raça/etnia, sexualidade, nacionalidade) em diálogo com Teorias Feministas e de Gênero. Entre suas publicações, destacam-se: Novos cenários: entre o “estupro coletivo” e a “farsa do estupro” na sociedade em rede (2016) e The imperative of images: construction of affinities through the case of digital media (2015).
  • 6
    Historiadora, foi pesquisadora do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas da Universidade Estadual de Campinas. Falecida em 2018. Coordenou o programa de garantia de renda mínima no Município de São Paulo, durante a gestão Marta Suplicy, e coordenou o Programa Bolsa Família entre 2003 e 2004. Foi secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Social em 2004. Foi analista de políticas sociais da Oficina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da América Latina e Caribe (2005-2006) e da Oficina Regional da Organizações das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) (20072018). Entre suas publicações, destacam-se: Família e Política de Renda Mínima (2001) e Piso de Protección Social: pros y contras (2015).
  • 7
    Professora da Universidade Estadual de Campinas e Pesquisadora do Pagu, da mesma universidade. Tem experiência nas áreas de Ciência Política e Sociologia do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: relações de gênero e trabalho, reestruturação produtiva, sindicalismo, informalidade, cooperativismo e economia solidária. Entre suas publicações, destacam-se: A Construção do consentimento: corporativismo e trabalhadores nos anos trinta (1998), Trabalho Informal, Gênero e Raça no Brasil do início do século XXI, com Maria Rosa Lombardi (2013) e Precarização e Informalidade (2016).
  • 8
    Professora da Universidade Estadual de Campinas. Tem como áreas de interesse: Dinâmica do Conhecimento Científico; Sociologia da Saúde; Saúde e Inovação; Cooperação Internacional em Ciência e Tecnologia; Ciência e Relações de Gênero e Política de Ciência e Tecnologia nos Países do Sul. Entre suas publicações, destacam-se: Divulgando a visibilidade das mulheres na ciência (2008) e A dinâmica do conhecimento biomédico e em saúde: uma interpretação sociológica (2019), com Renan Gonçalves Leonel da Silva.
  • 9
    Antropóloga, professora do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas e pesquisadora do Pagu, na mesma universidade. Tem experiência em antropologia urbana, sociologia e etnografia da vida intelectual, história social do teatro brasileiro, e relações entre gênero e corporalidade. Entre suas publicações, destacam-se: Destinos mistos: os críticos do Grupo Clima em São Paulo, 1940-68 (1998), Intérpretes da metrópole. História social e relações de gênero no teatro e no campo intelectual, 1940-68 (2010) e Modas e modos: uma leitura enviesada de “O espírito das roupas” (2004).
  • 10
    Serviço criado em 1980, inicialmente com sedes em São Paulo e Campinas, criada por iniciativa de Sandra Shepard, psicóloga e Maria José Taube, antropóloga. O SOS Mulher consistiu em um serviço de informações dos direitos das mulheres e orientação jurídica para as mulheres em situação de violência, multiplicando-se pelo Brasil.
  • 11
    Disponível em <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/281382>, acesso em 06/04/2020.
  • 12
    Antropóloga, foi professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Faleceu em 2008. Ruth Cardoso foi a primeira-dama do País (titulo que recusou) durante o mandato de seu marido, Fernando Henrique Cardoso, en tre 1995 e 2003. Publicou, entre outras obras, Estrutura familiar e mobilidade social (1972), A aventura antropológica: teoria e pesquisa (1986) e A trajetória dos movimentos sociais (1994).-
  • 13
    Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, instituição com 50 anos de atuação em pesquisa na área de ciências humanas, que realiza estudos sobre a realidade brasileira. http://www. cebrap.org.br
  • 14
    Historiadora inglesa, foi Professora de História do Gênero e História do Trabalho na Universidade de Manchester, Inglaterra. Conforme citado, teve parte de sua obra publicada no Brasil, com o título Além dos fragmentos (1981). Outras publicações: Women’s Liberation and the New Politics (1969) e Woman’s Consciousness, Man’s World (1973).
  • 15
    Antropóloga e professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ). Sua atuação tem privilegiado os estudos sobre gênero, sexualidade e família. Publicou, entre outros, Dois é par: gênero e identidade sexual em contexto igualitário (2004) e co-organizou O aprendizado da sexualidade: reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros (2006).
  • 16
    Antropóloga, arqueóloga e professora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre suas publicações, destacamos: Garotas de Programa: prostituição em Copacabana e identidade social (1985), fruto da sua dissertação de mestrado em Antropologia Social.
  • 17
    Antropóloga, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ). Com Maria Luiza Heilborn e Bruna Franchetto, organizou quatro volumes da obra Perspectivas Antropológicas da Mulher, entre 1980 e 1985. Suas áreas de pesquisa são: teoria antropológica; ritual e simbolismo; etnografia, escrita e narrativas; antropologia brasileira; cultura popular e estudos de folclore. Publicou, entre outros, Drama, Ritual e Performance: a antropologia de Victor Turner (2020) e Carnaval, Ritual e Arte (2015).
  • 18
    Antropóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência em políticas linguísticas, documentação, descrição e análise de línguas indígenas brasileiras. Com Maria Luiza Heilborn e Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, organizou quatro volumes da obra Perspectivas Antropológicas da Mulher, entre 1980 e 1985. Publicou, entre outros, Os Povos do Alto Xingu. História e Cultura (2001), com Michael Heckenberger e Rencontres rituelles dans le Haut Xingu: la parole du chef (2000).
  • 19
    A pesquisa do mestrado foi publicada no livro: Gregori, Maria Filomena. Cenas e Queixas - um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. São Paulo: Paz e Terra/ Anpocs, 1993.
  • 20
    Socióloga, após a anistia em 1979, passou a militar no movimento feminista e ajudou na organização das mulheres sindicalizadas da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
  • 21
    Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais. http://www.anpocs. org.br
  • 22
    Professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conduz pesquisas sobre as desigualdades de gênero, focando as seguintes temáticas: família, pobreza e políticas públicas. Publicou, entre outros: Reconciling Work and Family: issues and policies in Brazil (2004) e Identidades Judaicas no Brasil Contemporâneo (1997).
  • 23
    Publicação da ANPOCS editada de 1970 a 2002.
  • 24
    Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, Universidade Estadual de Campinas, centro interdisciplinar de pesquisa voltado para a produção e disseminação do conhecimento em torno da problemática de gênero. http://www.pagu.unicamp.br/
  • 25
    Atualmente é editor responsável da Tempo Social - Revista de Sociologia da USP e professor da Universidade de São Paulo. Suas pesquisas se dirigem à Sociologia da Cultura. Publicou, entre outros: A noite da madrinha e outros ensaios sobre o éter nacional (2005), Nacional estrangeiro, história social e cultural do modernismo artístico em São Paulo (2003) e Intelectuais à brasileira (2001).
  • 26
    Professora de Literatura e Retórica na Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA. Produz estudos sobre performatividade de gênero, sendo reputada por seus aportes aos estudos queer. Entre suas publicações encontram-se: Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity (1990), Bodies That Matter: On the Discursive Limits of ‘Sex’ (1993), Excitable Speech: A Politics of the Performative (1997) e Undoing Gender (2004).
  • 27
    Pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas, no Núcleo de Estudos de Gênero-PAGU, professora no Departamento de Antropologia Social e no Doutorado em Ciências Sociais da mesma universidade. Realiza estudos nos seguintes temas: gênero, memória, parentesco, sexualidade, turismo sexual, prostituição, migrações, tráfico internacional de pessoas, teoria feminista e teoria antropológica. Publicou, entre outros: Trânsitos: brasileiras nos mercados transnacionais do sexo (2013), Jóias de Família, gênero e parentesco em histórias sobre grupos empresariais brasileiros (2006) e co-organizou, junto com Maria Filomena Gregori e Sergio Carrara, Sexualidades e Saberes, convenções e Fronteiras (2004).
  • 28
    Professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), pesquisador do Centro Latino-americano de Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM) e editor da Revista Sexualidad, Salud y Sociedad. Foi vice-presidente da Associação Brasileira de Antropologia em 2019 e 2020. Atualmente, desenvolve pesquisas nos seguintes temas: antropologia do corpo e da saúde, sexualidade, gênero, homossexualidade, direitos humanos e violência. Algumas publicações: Tributo a Vênus: a luta contra a sífilis no Brasil, da passagem do século aos anos 40 (1996), Crime e loucura: O aparecimento do manicômio judiciário na passagem do século (1998) e Sexual Politics and Sexual Rights in Brazil: an overview, em coautoria com Adriana Vianna e Paula Lacerda (2008).
  • 29
    Professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença (NUMAS). Atua na área de Antropologia Urbana, principalmente nos seguintes temas: antropologia urbana, antropologia e política, movimentos sociais, envelhecimento e curso de vida, gênero e sexualidade. Entre suas publicações, destacamos: Jeitos de corpo: cor/raça, gênero, sexualidade e sociabilidade juvenil no centro de São Paulo (2010), juntamente com Isadora Lins Ribeiro e Márcio Macedo e Sexualidade, cultura e política: a trajetória da identidade homossexual masculina na antropologia brasileira (2014), com Sérgio Carrara.
  • 30
    Antropóloga, professora do PPGAS/Museu Nacional/ UFRJ. Áreas de atuação: direito, justiça e políticas públicas. Desenvolve pesquisas sobre Antropologia do Estado, das moralidades, das relações de gênero, família, violência e emoções. Entre suas publicações: A Guerra das Mães: dor e política em situações de violência institucional (2011), com Juliana Farias; El Mal que se Adivina - policia y minoridad en Rio de Janeiro 1910-1920 (2007) e juntamente Direitos e Políticas Sexuais no Brasil: o panorama atual (2004), com Paula Lacerda.
  • 31
    Organização internacional (estadunidense) de apoio a projetos, a pessoas e instituições envolvidas em ações para a “consolidação da democracia, a redução da pobreza e da injustiça social e com o desenvolvimento humano”. http://www.fordfoundation.org/
  • 32
    Antropóloga e professora de Women’s Studies no Departamento de Antropologia da Universidade de Michigan, EUA, ativista e teórica do sexo. Em seus trabalhos, a autora articula gênero, sexualidade, poder, política e instituições. Dentre seus trabalhos mais conhecidos temos os ensaios O Tráfico de Mulheres (1975) e Pensando o Sexo (1984).
  • 33
    Antropóloga e Professora na Universidade de Columbia, Nova Iorque, EUA, tem trabalhado sobre sexualidade, direitos humanos, gênero, antropologia médica, cultura das ciências e biomedicina. Entre suas publicações: Social Construction Theory: Problems in the History of Sexuality in A. van Kooten Nierkerk and T. Van Der Meer (eds), Homosexuality, Which Homosexuality? (1989) e Gender in a Transnational World.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021
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