Acessibilidade / Reportar erro

Compostos químicos e aspectos botânicos, etnobotânicos e farmacológicos da Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss

Chemical compounds and botanical, ethnobotanical and pharmacological aspects of Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss

RESUMO

Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss é uma espécie do cerrado brasileiro com uso etnobotânico vasto. O objetivo desse trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico de artigos originais e revisões, indexados até agosto de 2014 nas bases de dados Periódicos CAPES, Scielo, Scopus, Web of Science e Medline, nos idiomas português e inglês, utilizando a palavra-chave Byrsonima verbascifolia. Foram contemplados a composição química e os aspectos botânicos, etnobotânicos e farmacológicos. Os estudos presentes na literatura avaliaram as atividades antioxidante, antifúngica, antiviral, antimicrobiana, moluscicida, antimutagênica, mutagênica, teratogênica, imunomodulatória, tóxica e citotóxica de extratos dessa espécie. Apenas um estudo avaliou a atividade da Byrsonima verbascifoliaRich ex. A. Juss in vivo, sendo comprovado que o extrato hidrometanólico das folhas não induz teratogênese, mutagênese ou efeito estimulante ou depressor da resposta imune. Metodologias in vitro predominaram o que demonstra a necessidade de investigação científica empregando testes in vivo para a melhor avaliação das outras atividades biológicas mencionadas.

Palavras-chave
Byrsonima verbascifolia; murici; anti-inflamatório; compostos químicos; atividades farmacológicas

ABSTRACT

Byrsonima verbascifolia is a species of Brazilian cerrado with extensive ethnobotanical application. The aim of this study was to perform a bibliographic description of original papers and reviews indexed until August 2014 in the databases of the CAPES Digital Library, Scielo, Scopus, Web of Science and Medline, written in Portuguese and English, using the keyword Byrsonima verbascifolia. The chemical and botanical compositions and the ethnobotanical and pharmacological aspects were contemplated. The researches in the reports evaluated the antioxidant, antifungal, antiviral, antimicrobial, molluscicide, antimutagenic, mutagenic, teratogenic, immunomodulatory, toxic and cytotoxic activities of the extracts of this specie. Only one study evaluated the in vivo activity of the Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss and proved that the hydromethanolic extract from the leaves does not induce teratogenesis, mutagenesis, stimulant or depressant effect of the immune response. The In vitro methodologies represented the higher number of researches demonstrating the need of scientific investigation using in vivo tests for better assessment of other biological activities mentioned.

Keywords
Byrsonima verbascifolia; murici; anti-inflammatory; chemical compounds; pharmacological activities

INTRODUÇÃO

A família Malpighiaceae possui distribuição tropical e subtropical sendo representada por 75 gêneros e 1.300 espécies. No território brasileiro ocorrem 38 gêneros e cerca de 300 espécies. Uma característica comum dessa família é a presença de nectários extraflorais, dispostos aos pares nas bases das sépalas da maioria das espécies (Souza & Lorenzi, 2008SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2.ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008. 704 p.). Destaca-se pelo elevado potencial econômico, como fonte de produtos alimentícios, medicinais, madeireiros e ornamentais (Ribeiro et al., 1999RIBEIRO, J.E.L. et al. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. 1.ed. Manaus: INPA, 1999. 816 p.).

Um dos maiores gêneros da família Malpighiaceae é o Byrsonima, possuindo 150 espécies com distribuição marcadamente neotropical (Mabberley, 1993MABBERLEY, D. J. The Plant-Book: A portable dictionary of the higher plants. 4.ed. New York: Cambridge University Press, 1993. 520 p.). O Brasil concentra cerca de 50% das espécies nas regiões Norte, Nordeste e Central, podendo também ser encontradas na região Sudeste do país, em áreas do cerrado. Essas espécies são conhecidas popularmente no Brasil como “muricis” (murici da várzea, murici da mata, murici-amarelo, dentre outros), sendo diferenciadas pela cor de suas flores e frutos, ou pelo local de ocorrência (Guilhon-Simplicio & Pereira, 2011GUILHON-SIMPLICIO, F.; PEREIRA, M.M. Aspectos químicos e farmacológicos de Byrsonima (Malpighiaceae). Química Nova, v.34, n.6, p.1032-1041, 2011.) e são comumente empregadas na medicina popular (Sannomiya et al., 2005SANNOMIYA, M. et al. Flavonoids and antiulcerogenic activity from Byrsonima crassa leaves extracts. Journal of Ethnopharmacology, v.97, n.1, p.1-6, 2005.).

Especificamente a espécie Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss é largamente utilizada na medicina tradicional, em diversas regiões do Brasil, para o tratamento das mais variadas condições como: febre (Almeida et al., 1998ALMEIDA, S.P. et al. Cerrado: Espécies Vegetais Úteis.1. ed. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998, 464 p.), infecção, inflamação e diarreia (Panizza, 1998PANIZZA S. Plantas que Curam: Cheiro de Mato. 3. ed. São Paulo: IBRASA, 1998, 279 p.).

Muitos povos descrevem desde os tempos mais remotos a utilização de plantas medicinais para o tratamento, cura e prevenção de doenças (Mengue et al., 2001MENGUE, S.S. et al. Uso de plantas medicinais na gravidez. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.11, n.1, p.21-35, 2001.). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o uso de plantas medicinais é a principal opção terapêutica de cerca de 80% da população no mundo (Brasil, 2006BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. p. 60.).

O uso etnobotânico despertou a necessidade da avaliação da eficácia e segurança das espécies vegetais (Mengue et al., 2001MENGUE, S.S. et al. Uso de plantas medicinais na gravidez. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.11, n.1, p.21-35, 2001.). Com o advento da pesquisa científica, em torno do século XIX, diversas substâncias puderam ser isoladas das plantas e serviram de modelos para a produção de fármacos, o que atualmente representa uma proporção substancial do mercado global de medicamentos (Yunes et al., 2001YUNES, R.A. et al. Fármacos e fitoterápicos: a necessidade do desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. Química Nova, v.24, n.1, p.147-152, 2001.). As plantas medicinais representam importante fonte de fármacos devido ao elevado número de moléculas com potencial terapêutico, podendo contribuir efetivamente na busca de novos produtos bioativos (Wang & Ng, 1999WANG, H.X.; NG, T.B. Natural products with hypoglycemic, hypotensive, hypocholesterolemic, antiatherosclerotic and antithrombotic activities. Life Sciences, v.65, n.25, p.2663-77, 1999.; Coon & Ernst, 2003COON, J.S.T.; ERNST, E. Herbs for serum cholesterol reduction: a systematic review. The Journal of Family Practice, v.52, n.6, p.468-78, 2003.; Moll, 2006MOLL, M.C.N. Antihiperlipemiantes de origen vegetal. Revista de Fitoterapia, v.6, n.1, p.11-26, 2006.).

Considerando o extenso uso etnofarmacológico da Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss e o crescente interesse econômico pela espécie, o presente trabalho teve como objetivo revisar os principais aspectos botânicos, etnobotânicos, químicos e farmacológicos descritos na literatura. Pesquisas relacionadas às atividades farmacológicas e toxicológicas de espécies vegetais reforçam a preservação de plantas medicinais bem como à utilização racional, eficaz e segura de fitoterápicos (Agra,1982AGRA, M.F. Contribuição ao estudo das plantas medicinais na Paraíba. Ciência e Cultura, v.33, p.64-66, 1982.; Yunes et al., 2001YUNES, R.A. et al. Fármacos e fitoterápicos: a necessidade do desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. Química Nova, v.24, n.1, p.147-152, 2001.).

Fonte de dados

Para a realização desse trabalho buscou-se artigos originais e revisões indexados até agosto de 2014 nas bases Periódicos CAPES, Scielo, Scopus, Web of Science e Medline. Para a busca foi utilizada a palavra-chave Byrsonima verbascifolia. Não foi utilizada restrição em relação ao ano da publicação.

Descrição botânica

Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss (Malpighiaceae) é popularmente conhecida como “murici” (Morais et al., 2013MORAIS, M.L. et al. Determinação do potencial antioxidante in vitro de frutos do cerrado brasileiro. Revista Brasileira de Fruticultura, v.35, n.2, p.355-360, 2013.), “murici-cascudo”, “mirici”, “douradinha-falsa”,”muricizinho”, “orelha-de-burro”, “orelha-de-veado”, “semaneira”, “baga-de-tucano” (Mendanha et al., 2010MENDANHA, D.M. et al. Modulatory effect of Byrsonima verbascifolia (Malpighiaceae) against damage induced by doxorubicin in somatic cells of Drosophila melanogaster. Genetics and Molecular Research, v.9, n.1, p.69-77, 2010.). Possui hábito subarbustivo (Barbosa et al., 2005BARBOSA, R.I. et al. Notas sobre a composição arbóreo-arbustiva de uma fisionomia das savanas de Roraima, Amazônia Brasileira. Acta Botanica Brasilica, v.19, n.2, p.323-329, 2005.) e folhas grandes e rígidas (Andrade et al., 1995ANDRADE, I. et al. A lagarta de Cerconota achatina(Zeller) (Leptidoptera, Oecophoridae, Stenomatinae): biologia e ocorrência em plantas hospedeiras do gênero Byrsonima Rich (Malpighiaceae). Revista Brasileira de Zoologia, v.12, n.4, p.735-741, 1995.), com pêlos em ambas faces (Andrade et al., 1995ANDRADE, I. et al. A lagarta de Cerconota achatina(Zeller) (Leptidoptera, Oecophoridae, Stenomatinae): biologia e ocorrência em plantas hospedeiras do gênero Byrsonima Rich (Malpighiaceae). Revista Brasileira de Zoologia, v.12, n.4, p.735-741, 1995.; Andrade et al., 1999ANDRADE, I. et al. Richness and abundance of caterpillars on Byrsonima (Malpighiaceae) species in an area of cerrado vegetation in Central Brazil. Revista de Biologia Tropical, v.47, n.4, 1999.). O fruto dessa espécie possui coloração amarela (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.; Alberto et al., 2011ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.), diâmetro entre 1,50 à 2 cm com cheiro forte semelhante a queijo rançoso (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.), sabor azedo e ligeiramente oleoso (Araújo et al., 2009ARAÚJO, R.R. et al. Caracterização biométrica de frutos e sementes de genótipos de murici (Byrsonima verbascifolia (L.) Rich) do tabuleiro costeiro de Alagoas. Revista Caatinga, v.22, n.3, p.224-228, 2009.). A madeira possui coloração amarelada ou avermelhada e brilhante (Alberto et al., 2011ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.).

Distribuição e ocorrência

Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss é uma espécie típica do cerrado brasileiro com elevada densidade no Centro-Oeste e Norte do Brasil (Barbosa & Fearnside, 2004BARBOSA, R.I.; FEARNSIDE, P.M. Wood density of trees in open savannas of the Brazilian Amazon. Forest Ecology and Management, v.199, p.115-123, 2004.; Barbosa et al., 2005BARBOSA, R.I. et al. Notas sobre a composição arbóreo-arbustiva de uma fisionomia das savanas de Roraima, Amazônia Brasileira. Acta Botanica Brasilica, v.19, n.2, p.323-329, 2005.) e com baixa biomassa (Barbosa & Fearnside, 2004BARBOSA, R.I.; FEARNSIDE, P.M. Wood density of trees in open savannas of the Brazilian Amazon. Forest Ecology and Management, v.199, p.115-123, 2004.). A produção de frutos nesta espécie ocorre de dezembro a março, nas regiões serranas do Sudeste nos cerrados do Mato Grosso e Goiás e litoral do Norte e Nordeste do Brasil (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.).

Usos etnobotânicos

Os usos etnobotânicos da Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss incluem: uso de infusão, preparada a partir das folhas para o tratamento de diarreia, infecção intestinal e proteção da mucosa intestinal. Infusão das raízes para o tratamento de feridas crônicas, doença de Chagas, inflamação da cavidade oral e da garganta e do trato genital feminino. A casca possui propriedade laxante e ação antipirética. O fruto, quando consumido com açúcar, é também um laxante moderado e pode ser utilizado para o tratamento do processo inflamatório nos brônquios e como antitussígeno (Guilhon-Simplicio & Pereira, 2011GUILHON-SIMPLICIO, F.; PEREIRA, M.M. Aspectos químicos e farmacológicos de Byrsonima (Malpighiaceae). Química Nova, v.34, n.6, p.1032-1041, 2011.).

Outras aplicações

O fruto da Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss é comercializado em feiras e mercados locais. A polpa é carnuda e macia (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.) sendo consumida in natura (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.; Alberto et al., 2011ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.; Nascimento & Penteado-Dias, 2011NASCIMENTO, A.R.; PENTEADO-DIAS, A.M. New species of Chelonus (Microchelonus) Szépligeti, 1908 (Hymenoptera: Braconidae: Cheloninae) from Brazil. Brazilian Journal of Biology, v.71, n.2, 2011.) ou como suco (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.; Alberto et al., 2011ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.), geleia, sorvete, licor (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.; Araújo et al., 2009ARAÚJO, R.R. et al. Caracterização biométrica de frutos e sementes de genótipos de murici (Byrsonima verbascifolia (L.) Rich) do tabuleiro costeiro de Alagoas. Revista Caatinga, v.22, n.3, p.224-228, 2009.; Alberto et al., 2011ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.) e conserva (Alberto et al., 2011ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.). A porção não comestível representa 46,50% do fruto (Guimarães & Silva, 2008GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.). A madeira é adequada para construção e também pode ser utilizada no curtume (15-20% de tanino). Além disso, indústrias utilizam a tinta preta extraída da casca dessa espécie para o tingimento do algodão (Alberto et al., 2011ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.).

Composição química

Os compostos β-amirina, β-amirirona, β-sitosterol, 3-O-acetil-lupeol, ácido 3-O-acetil-oleanólico, friedelina e triterpenos foram identificados na casca do caule da Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss (Gottlieb et al., 1975GOTTLIEB, O.R. et al. Triterpenoids from Byrsonima verbascifolia. Phytochemistry, v.14, n.5, p.1456-56, 1975.; Guilhon-Simplicio & Pereira, 2011GUILHON-SIMPLICIO, F.; PEREIRA, M.M. Aspectos químicos e farmacológicos de Byrsonima (Malpighiaceae). Química Nova, v.34, n.6, p.1032-1041, 2011.). Outros compostos encontrados nas folhas dessa espécie são α-amirina, ácido oleanólico, ácido ursólico, quercetina, quercetina-3-O-α-L-arabinopiranosídeo (guaijaverina), quercetina-3-O-β-D-glicopiranosídeo (isoquercetina) (Guilhon-Simplicio & Pereira, 2011GUILHON-SIMPLICIO, F.; PEREIRA, M.M. Aspectos químicos e farmacológicos de Byrsonima (Malpighiaceae). Química Nova, v.34, n.6, p.1032-1041, 2011.; Gonçalves et al., 2013GONÇALVES, C.A. et al. Gestational exposure to Byrsonima verbascifolia: Teratogenicity, mutagenicity and immunomodulation evaluation in female Swiss mice. Journal of Ethnopharmacology, v. 150, p.843-850, 2013.), bem como, taninos, triterpenos (Cecílio et al., 2012CECÍLIO, A.B. et al. Screening of Brazilian medicinal plants for antiviral activity against rotavirus. Journal of Ethnopharmacology, v.141, p.975-981, 2012.), derivados gálicos, catequínicos e epicatequínicos (Gonçalves et al., 2013GONÇALVES, C.A. et al. Gestational exposure to Byrsonima verbascifolia: Teratogenicity, mutagenicity and immunomodulation evaluation in female Swiss mice. Journal of Ethnopharmacology, v. 150, p.843-850, 2013.), saponinas (Cecílio et al., 2012CECÍLIO, A.B. et al. Screening of Brazilian medicinal plants for antiviral activity against rotavirus. Journal of Ethnopharmacology, v.141, p.975-981, 2012.; Gonçalves et al., 2013GONÇALVES, C.A. et al. Gestational exposure to Byrsonima verbascifolia: Teratogenicity, mutagenicity and immunomodulation evaluation in female Swiss mice. Journal of Ethnopharmacology, v. 150, p.843-850, 2013.) e cumarinas (Cecílio et al., 2012CECÍLIO, A.B. et al. Screening of Brazilian medicinal plants for antiviral activity against rotavirus. Journal of Ethnopharmacology, v.141, p.975-981, 2012.). A polpa do fruto dessa espécie possui β-caroteno, ácido ascórbico, α-tocoferol e β-tocotrienol (Hamacek et al., 2014HAMACEK, F.R. et al. Murici, fruit from the Cerrado of Minas Gerais, Brazil: physical and physicochemical characteristics, and occurence and concentration of carotenoids and vitamins. Fruits, v.69, n.6, p.459-72, 2014.).

Potencial farmacológico

As atividades antioxidante, antifúngica, antiviral, antimicrobiana, moluscicida, antimutagênica, mutagênica, teratogênica, imunomodulatória, tóxica e citotóxica de extratos da Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss foram avaliadas através de estudos principalmente in vitro.

Os resultados do estudo realizado por Cecílio et al. (2012)CECÍLIO, A.B. et al. Screening of Brazilian medicinal plants for antiviral activity against rotavirus. Journal of Ethnopharmacology, v.141, p.975-981, 2012., demonstram que não houve a amplificação do material genético do rotavírus por RT-PCR em células do rim de macaco rhesus (MA-104) pré-tratadas com o extrato etanólico obtido das folhas (500 µg/mL) dessa espécie. Dessa forma, sugere-se a presença de compostos bioativos capazes de inibir a replicação viral.

Espanha et al. (2014)ESPANHA, L.G. et al. Mutagenicity and antimutagenicity of six Brazilian Byrsonima species assessed by the Ames test. Complementary and Alternative Medicine, v.14, n.182, p.1-10., 2014., demonstraram que o extrato hidroalcoólico obtido das folhas de B. verbascifoliaRich ex. A. Juss possui um potencial como agente protetor contra mutágenos indiretos que requerem ativação metabólica. Nessa espécie há elevada concentração de catequinas que conhecidamente possuem ação antimutagênica (Espanha et al., 2014ESPANHA, L.G. et al. Mutagenicity and antimutagenicity of six Brazilian Byrsonima species assessed by the Ames test. Complementary and Alternative Medicine, v.14, n.182, p.1-10., 2014.).

Naruzawa & Papa (2011)NARUZAWA, E.S.; PAPA, M.F.S. Antifungal activity of extracts from brazilian Cerrado plants on Colletotrichum gloeosporioides and Corynespora cassiicola. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.13, n.4, p.408-412, 2011., concluíram que o extrato hidroetanólico das folhas da B. verbascifolia Rich ex. A. Juss apresentou uma maior atividade antifúngica em relação ao extrato aquoso.

No estudo realizado por Lopez et al. (2001)LOPEZ, A. et al. Antiviral and antimicrobial activities of Colombian medicinal plants. Journal of Ethnopharmacology, v. 77, p.189-196, 2001., foi demonstrado que o extrato metanólico das folhas da B. verbascifolia Rich ex. A. Juss possui uma excelente atividade antiviral contra o vírus herpes simplex tipo 1, com uma concentração inibitória mínima muito baixa (2,50 µg/mL).

Mendanha et al. (2010)MENDANHA, D.M. et al. Modulatory effect of Byrsonima verbascifolia (Malpighiaceae) against damage induced by doxorubicin in somatic cells of Drosophila melanogaster. Genetics and Molecular Research, v.9, n.1, p.69-77, 2010., acreditam que o efeito antimutagênico do extrato aquoso obtido das folhas dessa espécie pode estar relacionado com a presença de flavonóides, terpenos e taninos.

Fatores como o tipo de extrato, parte da planta utilizada bem como a metodologia empregada podem resultar em diferentes perfis de atividades biológicas (Falcão et al., 2005FALCÃO, H.S. et al. Review of the plants with anti-inflammatory activity studied in Brazil. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.15, n.4, p.381-391, 2005.). A tabela 1 descreve as várias atividades farmacológicas, avaliadas utilizando metodologias in vitro, de diferentes extratos da B. verbascifolia Rich ex. A. Juss, sendo classificados em ativos e inativos.

TABELA 1
Atividades farmacológicas de diferentes extratos obtidos da Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss, avaliadas in vitro.

O único estudo realizado in vivo comprovou que o extrato hidrometanólico das folhas da B. verbascifolia Rich ex. A. Juss não induz teratogênese, mutagênese ou efeito estimulante ou depressor da resposta imune (tabela 2). A avaliação da teratogenicidade foi realizada em camundongos Swiss fêmeas tratadas com o extrato dessa espécie em diferentes períodos da gravidez, com o intuito de analisar uma possível interferência no desenvolvimento embrio-fetal (Gonçalves et al., 2013GONÇALVES, C.A. et al. Gestational exposure to Byrsonima verbascifolia: Teratogenicity, mutagenicity and immunomodulation evaluation in female Swiss mice. Journal of Ethnopharmacology, v. 150, p.843-850, 2013.).

TABELA 2
Atividades farmacológicas do extrato de Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss avaliadas in vivo.

CONCLUSÃO

Verificamos com o levantamento bibliográfico realizado que a Byrsonima verbascifolia Rich ex. A. Juss é uma espécie com hábito subarbustivo e nativa do cerrado brasileiro. Com relação ao aspecto etnobotânico um importante uso da espécie é como anti-inflamatório. A composição química da espécie foi avaliada na casca do caule, folhas e polpa do fruto sendo os compostos terpênicos e fenólicos as principais classes de metabólitos secundários identificadas. Apesar da importância etnobotânica dessa espécie estudos científicos que comprovem os efeitos farmacológicos são escassos. O desenvolvimento de estudos científicos nesse contexto é necessário para a validação do uso popular e também para a segurança no uso terapêutico. Além disso, a maioria dos poucos estudos a respeito dessa espécie foram realizados in vitro. Metodologias que utilizam testes in vitro possuem como desvantagem não reproduzir fielmente a complexidade de um organismo vivo, sendo difícil correlacionar seus resultados com a clínica (Barcelos et al., 2008BARCELOS, C.C. et al. Efeitos neuromusculares in vitro e in vivo do atracúrio e do rocurônio em ratos submetidos a tratamento de sete dias com carbamazepina. Revista Brasileira de Anestesiologia, v.58, n.2, p.137-151, 2008.). Dessa forma, a realização de estudos para a investigação dos efeitos farmacológicos, principalmente in vivo, é essencial para a validação do uso clínico e também para o desenvolvimento tecnológico de novos fármacos.

REFERÊNCIAS

  • AGRA, M.F. Contribuição ao estudo das plantas medicinais na Paraíba. Ciência e Cultura, v.33, p.64-66, 1982.
  • ALBERTO, P.S. et al. Methods to overcome of the dormancy in murici (Byrsonima verbascifolia) seeds. Semina: Ciências Agrárias, v.32, n.3, p.1015-1020, 2011.
  • ALMEIDA, S.P. et al. Cerrado: Espécies Vegetais Úteis.1. ed. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998, 464 p.
  • ALVES, T.M.A. et al. Biological Screening of Brazilian Medicinal Plants. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.95, n.3, p.367-373, 2000.
  • ANDRADE, I. et al. A lagarta de Cerconota achatina(Zeller) (Leptidoptera, Oecophoridae, Stenomatinae): biologia e ocorrência em plantas hospedeiras do gênero Byrsonima Rich (Malpighiaceae). Revista Brasileira de Zoologia, v.12, n.4, p.735-741, 1995.
  • ANDRADE, I. et al. Richness and abundance of caterpillars on Byrsonima (Malpighiaceae) species in an area of cerrado vegetation in Central Brazil. Revista de Biologia Tropical, v.47, n.4, 1999.
  • ARAÚJO, R.R. et al. Caracterização biométrica de frutos e sementes de genótipos de murici (Byrsonima verbascifolia (L.) Rich) do tabuleiro costeiro de Alagoas. Revista Caatinga, v.22, n.3, p.224-228, 2009.
  • BARBOSA, R.I. et al. Notas sobre a composição arbóreo-arbustiva de uma fisionomia das savanas de Roraima, Amazônia Brasileira. Acta Botanica Brasilica, v.19, n.2, p.323-329, 2005.
  • BARBOSA, R.I.; FEARNSIDE, P.M. Wood density of trees in open savannas of the Brazilian Amazon. Forest Ecology and Management, v.199, p.115-123, 2004.
  • BARCELOS, C.C. et al. Efeitos neuromusculares in vitro e in vivo do atracúrio e do rocurônio em ratos submetidos a tratamento de sete dias com carbamazepina. Revista Brasileira de Anestesiologia, v.58, n.2, p.137-151, 2008.
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. p. 60.
  • CECÍLIO, A.B. et al. Screening of Brazilian medicinal plants for antiviral activity against rotavirus. Journal of Ethnopharmacology, v.141, p.975-981, 2012.
  • COON, J.S.T.; ERNST, E. Herbs for serum cholesterol reduction: a systematic review. The Journal of Family Practice, v.52, n.6, p.468-78, 2003.
  • ESPANHA, L.G. et al. Mutagenicity and antimutagenicity of six Brazilian Byrsonima species assessed by the Ames test. Complementary and Alternative Medicine, v.14, n.182, p.1-10., 2014.
  • FALCÃO, H.S. et al. Review of the plants with anti-inflammatory activity studied in Brazil. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.15, n.4, p.381-391, 2005.
  • GONÇALVES, C.A. et al. Gestational exposure to Byrsonima verbascifolia: Teratogenicity, mutagenicity and immunomodulation evaluation in female Swiss mice. Journal of Ethnopharmacology, v. 150, p.843-850, 2013.
  • GOTTLIEB, O.R. et al. Triterpenoids from Byrsonima verbascifolia Phytochemistry, v.14, n.5, p.1456-56, 1975.
  • GUILHON-SIMPLICIO, F.; PEREIRA, M.M. Aspectos químicos e farmacológicos de Byrsonima (Malpighiaceae). Química Nova, v.34, n.6, p.1032-1041, 2011.
  • GUIMARÃES, M.M.; SILVA, M.S. Valor nutricional e características químicas e físicas de frutos de murici-passa (Byrsonima verbascifolia). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.4, p.817-821, 2008.
  • HAMACEK, F.R. et al. Murici, fruit from the Cerrado of Minas Gerais, Brazil: physical and physicochemical characteristics, and occurence and concentration of carotenoids and vitamins. Fruits, v.69, n.6, p.459-72, 2014.
  • LOPEZ, A. et al. Antiviral and antimicrobial activities of Colombian medicinal plants. Journal of Ethnopharmacology, v. 77, p.189-196, 2001.
  • MABBERLEY, D. J. The Plant-Book: A portable dictionary of the higher plants. 4.ed. New York: Cambridge University Press, 1993. 520 p.
  • MENDANHA, D.M. et al. Modulatory effect of Byrsonima verbascifolia (Malpighiaceae) against damage induced by doxorubicin in somatic cells of Drosophila melanogaster Genetics and Molecular Research, v.9, n.1, p.69-77, 2010.
  • MENGUE, S.S. et al. Uso de plantas medicinais na gravidez. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.11, n.1, p.21-35, 2001.
  • MOLL, M.C.N. Antihiperlipemiantes de origen vegetal. Revista de Fitoterapia, v.6, n.1, p.11-26, 2006.
  • MORAIS, M.L. et al. Determinação do potencial antioxidante in vitro de frutos do cerrado brasileiro. Revista Brasileira de Fruticultura, v.35, n.2, p.355-360, 2013.
  • NARUZAWA, E.S.; PAPA, M.F.S. Antifungal activity of extracts from brazilian Cerrado plants on Colletotrichum gloeosporioides and Corynespora cassiicola Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.13, n.4, p.408-412, 2011.
  • NASCIMENTO, A.R.; PENTEADO-DIAS, A.M. New species of Chelonus (Microchelonus) Szépligeti, 1908 (Hymenoptera: Braconidae: Cheloninae) from Brazil. Brazilian Journal of Biology, v.71, n.2, 2011.
  • PANIZZA S. Plantas que Curam: Cheiro de Mato. 3. ed. São Paulo: IBRASA, 1998, 279 p.
  • RIBEIRO, J.E.L. et al. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. 1.ed. Manaus: INPA, 1999. 816 p.
  • SANNOMIYA, M. et al. Flavonoids and antiulcerogenic activity from Byrsonima crassa leaves extracts. Journal of Ethnopharmacology, v.97, n.1, p.1-6, 2005.
  • SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2.ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008. 704 p.
  • WANG, H.X.; NG, T.B. Natural products with hypoglycemic, hypotensive, hypocholesterolemic, antiatherosclerotic and antithrombotic activities. Life Sciences, v.65, n.25, p.2663-77, 1999.
  • YUNES, R.A. et al. Fármacos e fitoterápicos: a necessidade do desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. Química Nova, v.24, n.1, p.147-152, 2001.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2015

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2014
  • Aceito
    24 Mar 2015
Sociedade Brasileira de Plantas Medicinais Sociedade Brasileira de Plantas Medicinais, Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Farmácia, Bloco T22, Avenida Colombo, 5790, 87020-900 - Maringá - PR, Tel: +55-44-3011-4627 - Botucatu - SP - Brazil
E-mail: revista@sbpmed.org.br