Acessibilidade / Reportar erro

Contribuições Teóricas, Práticas, Metodológicas e Didáticas em Artigos Científicos

RESUMO

Um tema importante que ainda carece de mais discussões é sobre como oferecer uma contribuição por meio de um artigo científico e quais são os tipos de contribuições possíveis. Eu tenho dois objetivos neste texto. O primeiro é apresentar uma classificação dos tipos de contribuições (teóricas, práticas, metodológicas e didáticas) resultantes de pesquisas científicas que podem ser publicadas no formato de artigos científicos. O segundo objetivo é apresentar os formatos dos artigos para cada tipo de contribuição tomando como referência a tipologia adotada pela RAC. Eu concluo dizendo que a maioria dos artigos rejeitados em desk-review (mesmo bons artigos) falha por falta de adequação ao que o periódico espera em termos de contribuição, formato de artigo, foco e escopo.

Palavras-chave:
contribuição teórica; contribuição prática; contribuição metodológica; contribuição didática; artigo científico

ABSTRACT

The issue of how to use scientific articles to contribute to a field of knowledge and the possible types of contributions is crucial and needs further discussion. I am writing this piece with two objectives. The first one is to introduce a classification of the types of contributions (theoretical, practical, methodological, and didactic) from scientific research published in the form of scientific articles. The second is to present the articles’ format for each type of contribution, using RAC’s typology as a reference. In the final considerations, I point out that most articles rejected at desk review (even some good ones) is due to lack of adequacy to the journal’s expectations regarding contribution to the field, the format of the article, focus, and scope.

Keywords:
theoretical contribution; practical contribution; methodological contribution; didactic contribution; scientific article

O QUE SE ESPERA EM QUALQUER ARTIGO CIENTÍFICO?

O principal elemento que qualquer artigo científico deve apresentar e desenvolver ao longo do texto é a sua contribuição para o campo no qual ele está inserido (Bergh, 2003Bergh, D. (2003). From the editors: Thinking strategically about contribution. Academy of Management Journal, 46(2), 135-136. https://doi.org/10.5465/amj.2003.17481820
https://doi.org/10.5465/amj.2003.1748182...
; Rynes, 2002Rynes, S. (2002). From the editors. Academy of Management Journal, 45(2), 311-313. https://doi.org/10.5465/amj.2002.17571225
https://doi.org/10.5465/amj.2002.1757122...
). Isso significa mostrar para os leitores de que maneira o artigo consegue evidenciar o que ele tem de original para a comunidade científica (e em alguns casos, a sociedade de maneira mais ampla). Algumas perguntas que podem ajudar os autores a identificar a contribuição do seu artigo são:

  • O que o meu artigo tem de novo ou diferente dos outros já publicados?

  • O que as pessoas podem aprender com esse artigo que elas não sabiam antes?

  • Quais avanços teóricos, práticos, metodológicos ou didáticos o meu artigo apresenta?

  • Por que as pessoas devem investir o tempo delas em ler o meu artigo?

As contribuições podem ser mais modestas ou mais sofisticadas e, em geral, quanto mais sofisticadas são as contribuições oferecidas, maiores são as chances de publicação em um periódico prestigiado. Cabe ressaltar que os periódicos costumam delimitar os tipos de contribuições as quais têm interesse em publicar. Portanto, não é apenas a qualidade da pesquisa científica e da redação do artigo que garante uma publicação em um periódico. Soma-se a esses elementos o tipo de contribuição que é oferecida. Essa contribuição tem que estar alinhada ao foco e escopo do periódico em que se pretende publicar.

A Revista de Administração Contemporânea - RAC é um periódico que busca publicar múltiplas contribuições oriundas de pesquisas científicas por meio de diferentes tipos de artigos científicos. Tal estratégia visa a segmentar as possibilidades de contribuições científicas possíveis a partir da pesquisa por meio de um tipo específico de artigo de maneira rigorosa e densa. Para facilitar o entendimento sobre os tipos de contribuições possíveis a partir de pesquisas científicas, eu as organizei em quatro grandes grupos: teóricas, práticas, metodológicas e didáticas. Eu tenho dois objetivos neste texto. O primeiro é explicar a classificação apresentada acerca dos tipos de contribuições resultantes de pesquisas científicas que podem ser publicadas no formato de artigos científicos. O segundo objetivo é apresentar os formatos dos artigos para cada tipo de contribuição tomando como referência a tipologia adotada pela RAC (artigo teórico-empírico, ensaio teórico, pensata provocativa, artigo tecnológico, carta executiva, artigo metodológico e casos para ensino).

Entender que as contribuições oriundas de pesquisas científicas podem ser apresentadas por diferentes formatos de artigos abre a possibilidade de adotar estilos de escritas diferentes para contribuições diferentes e, eventualmente, leitores de perfis diferentes. Um dos grandes desafios de qualquer autor é como se conectar com potenciais leitores do seu trabalho e o estilo da escrita tem papel importante nisso (Gilmore et al., 2019Gilmore, S., Harding, N., Helin, J., & Pullen, A. (2019). Writing differently. Management Learning, 50(1), 3-10. https://doi.org/10.1177/1350507618811027
https://doi.org/10.1177/1350507618811027...
). A escrita de um artigo científico vai além do conhecimento específico de um campo, ela requer maneiras adequadas de se comunicar com o público-alvo (Aitchison & Lee, 2006Aitchison, C., & Lee, A. (2006). Research writing: Problems and pedagogies. Teaching in Higher Education, 11(3), 265-278. https://doi.org/10.1080/13562510600680574
https://doi.org/10.1080/1356251060068057...
).

UMA CLASSIFICAÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES EM ARTIGOS ORIUNDAS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS

Entender que existem múltiplas possibilidades de contribuição para um campo acadêmico a partir de pesquisas científicas ajuda no processo de planejamento, organização e divulgação dos resultados dessas pesquisas. O artigo é apenas uma maneira de divulgação científica que, em geral, está direcionada para acadêmicos. As contribuições científicas podem ser expressas e comunicadas por meio de outros formatos como, por exemplo, documentários, mídias sociais, treinamentos, cursos diversos, palestras, aulas, artigos de opinião na grande mídia, revistas de negócios, teatro e música. Entender que as contribuições científicas podem ser apresentadas em outros formatos (Walker et al., 2008Walker, G. E., Golde, C. M., Jones, L., Bueschel, A. C., & Hutchings, P. (2008). The formation of scholars: Rethinking doctoral education for the Twenty-First Century. Jossey-Bass.) é fundamental para perceber as limitações dos artigos científicos enquanto espaço de divulgação, assim como para compreender como as nossas pesquisas podem ser comunicadas e utilizadas em contextos mais amplos. Com o objetivo de colaborar com as múltiplas possibilidades de contribuições possíveis de uma pesquisa científica em artigos, classifico-as em quatro grupos: contribuições teóricas, contribuições práticas, contribuições metodológicas e contribuições didáticas.

As contribuições teóricas são aquelas que dão enfoque à apresentação de novos conceitos, teorias, assim como rever, ampliar ou refutar teorias existentes e oferecer teorização (Bispo, 2022Bispo, M. de S. (2022). In defense of theory and original theoretical contributions in administration. Revista de Administração Contemporânea, 26(6), e220158. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
; Cunliffe, 2022Cunliffe, A. L. (2022). Must I grow a pair of balls to theorize about theory in organization and management studies? Organization Theory, 3(3). https://doi.org/10.1177/26317877221109277
https://doi.org/10.1177/2631787722110927...
; Faria, 2023Faria, J. H. de. (2023). It has gone and no one knows if it will return: The progressive disappearance of the original theory. Revista de Administração Contemporânea, 27(1), e220065. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220065.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
; Swedberg, 2014Swedberg, R. (2014). Theorizing in social science: The context of discovery. Stanford University Press.). As contribuições teóricas podem surgir de reflexões e elaborações a partir de teorias já existentes (também chamadas de metateorias) ou ainda de análises e reflexões oriundas de dados empíricos. Uma observação importante acerca das contribuições teóricas é que elas não se resumem a uma compilação das teorias existentes nem na mera descrição de fenômenos empíricos. É preciso apresentar algo teoricamente diferente do que já existe e isso pode ser feito e apresentado de múltiplas maneiras (ver Cunliffe, 2022; Sandberg & Alvesson, 2021Sandberg, J., & Alvesson, M. (2021). Meanings of theory: Clarifying theory through typification. Journal of Management Studies, 58(2), 487-516. https://doi.org/10.1111/joms.12587
https://doi.org/10.1111/joms.12587...
). Em geral, os principais periódicos de administração no mundo estão em busca de contribuições teóricas para publicar por assumirem que a teoria é a responsável por melhorar tanto a pesquisa como a prática (Bispo, 2021; Sandberg & Alvesson, 2021; Shepherd & Suddaby, 2017Shepherd, D. A., & Suddaby, R. (2017). Theory building: A review and integration. Journal of Management, 43(1), 59-86. https://doi.org/10.1177/0149206316647102
https://doi.org/10.1177/0149206316647102...
; Swedberg, 2014).

Já as contribuições práticas buscam oferecer soluções para problemas reais encontrados no mundo concreto. Entretanto, duas confusões são comuns nesse tipo de contribuição. A primeira é entender que a mera replicação de modelos e escalas amplamente conhecidos e não utilizados em determinado contexto ou tipo de organização não é o suficiente para caracterizar uma contribuição prática a ser publicada em um artigo científico. A segunda é acreditar que o rigor teórico-metodológico pode ser afrouxado porque a contribuição está orientada para uma questão prática. As contribuições práticas devem partir de pesquisas científicas rigorosas (Motta, 2022Motta, G. da S. (2022). What is a technological article?. Revista de Administração Contemporânea, 26(Sup. 1), e220208. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
). Portanto, a diferença entre uma contribuição teórica e uma prática não está no processo de pesquisa e sim na sua finalidade contributiva. Enquanto as contribuições teóricas procuram apresentar avanços teóricos oriundos da pesquisa científica, as contribuições práticas buscam oferecer novas tecnologias para novos problemas práticos complexos ou problemas ainda não resolvidos ou resolvidos parcialmente. Portanto, a boa pesquisa científica é a fonte das contribuições teóricas e práticas sem significar que se trata de coisas opostas, mas de focos distintos dentro de uma simbiose (Bispo, 2021Bispo, M. de S. (2021). Ensaiando sobre o velho e falso dilema entre teoria e prática. Teoria e Prática em Administração, 11(2), 174-178. https://doi.org/10.22478/ufpb.2238-104X.2021v11n2.59760
https://doi.org/10.22478/ufpb.2238-104X....
). Em alguns casos, as contribuições práticas também podem vir de experiências pessoais que ajudam a identificar problemas práticos ou que dão pistas de como resolvê-los por meio da ciência.

As contribuições metodológicas são aquelas que buscam oferecer ferramentas para conduzir uma pesquisa por meio da apresentação de novas técnicas ou métodos científicos, assim como a adaptação de técnicas e métodos existentes buscando oferecer novas perspectivas metodológicas sobre elas. A metodologia científica se caracteriza como o mapa que orienta os passos da pesquisa em direção ao alcance dos seus objetivos. Portanto, as contribuições metodológicas devem ajudar os pesquisadores a encontrar formas cada vez mais consistentes para o aprimoramento das pesquisas científicas.

As contribuições didáticas são menos discutidas e consideradas nos artigos científicos em geral. Entretanto, elas têm um alto potencial de impacto formativo tanto de pesquisadores quanto de gestores. As contribuições didáticas são aquelas que estão orientadas para o ensino e a aprendizagem de pesquisadores e gestores. Elas assumem a função de contribuir para que a ciência avance, assim como para que gestores sejam mais bem formados a partir de base científica confiável e robusta. Por exemplo, artigos que tenham como foco de contribuição ensinar (tutorear) pesquisadores em técnicas ou métodos complexos e pouco explorados em uma determinada área evidenciam uma combinação de contribuição metodológica e didática. As contribuições didáticas por meio de artigos são uma maneira de estruturar conhecimento capaz de elevar a qualidade da formação de pesquisadores e gestores e evitar mimetismos sem base teórica adequada.

Diante dessas possibilidades de contribuições, é preciso pontuar que uma mesma pesquisa pode ser capaz de oferecer todos os tipos de contribuições aqui apresentados. Vale observar que em razão das limitações de espaço nos artigos, assim como do foco e escopo dos periódicos, a compreensão das possibilidades de contribuição é útil na organização do artigo e para escrevê-lo de maneira consistente e densa.

CONTRIBUIÇÕES, FORMATOS DE ARTIGOS E ESTILOS DE ESCRITA

Eu resolvi adotar o termo ‘artigo’ para toda escrita científica publicada em periódico científico. Nesse sentido, é possível perceber que um artigo pode assumir diferentes tipos de estrutura e estilos de escrita de acordo com a contribuição que busca oferecer. Na RAC, nós adotamos uma classificação dos artigos científicos em artigos teórico-empíricos, ensaio teórico, artigo tecnológico, artigo metodológico e casos para ensino. Além deles, há também a pensata provocativa e a carta executiva que possuem contribuições específicas.

O artigo teórico-metodológico é estruturado na combinação de influências teóricas e evidências empíricas. Esta modalidade de artigo na RAC está focada na publicação de textos que ofereçam contribuições teóricas consistentes. Neste tipo de artigo, não basta apresentar um modelo estatístico válido no caso de pesquisas quantitativas ou detalhadas descrições empíricas no caso de pesquisas qualitativas. A RAC espera que os autores sejam capazes de apresentar alguma novidade teórica que pode ser por meio de um novo conceito, uma nova teoria, a refutação de uma teoria ou o incremento relevante em teoria existente. Teorizações sobre as evidências empíricas encontradas que dialoguem por meio de aproximações e distanciamentos das teorias existentes também são bem-vindas.

No ensaio teórico, a expectativa é que os autores sejam capazes de oferecer uma construção teórica a partir da literatura existente em combinação com as experiências e perspectivas do autor ensaísta. Assim como no artigo teórico-empírico, a contribuição esperada também é teórica. O ensaio teórico não pode ser confundido com uma revisão bibliográfica em que o texto parece mais um resumo do que já foi produzido sobre determinado tema. Nos ensaios teóricos, a autoria é fundamental (Faria, 2023Faria, J. H. de. (2023). It has gone and no one knows if it will return: The progressive disappearance of the original theory. Revista de Administração Contemporânea, 27(1), e220065. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220065.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
). É preciso identificar no texto qual a contribuição teórica original proposta pelo autor, assim como seu posicionamento sobre o tema tratado. Os ensaios possuem um estilo de escrita mais livre que permite ao escritor evidenciar o seu estilo e pressupostos (Meneghetti, 2011Meneghetti, F. K. (2011). O que é um ensaio-teórico?. Revista de Administração Contemporânea, 15(2), 320-332. https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000200010
https://doi.org/10.1590/S1415-6555201100...
).

O artigo tecnológico é uma modalidade de texto que visa a apresentar contribuições práticas (Motta, 2022Motta, G. da S. (2022). What is a technological article?. Revista de Administração Contemporânea, 26(Sup. 1), e220208. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022...
). Este tipo de artigo precisa apresentar elementos teóricos e metodológicos consistentes para suportar a contribuição prática que pretende oferecer. O artigo tecnológico não pode se resumir à aplicação de um modelo consagrado para a resolução de um problema organizacional trivial, ele precisa apresentar uma tecnologia amparada cientificamente para a resolução de problemas complexos. Um bom artigo tecnológico descreve bem o caso estudado, as teorias utilizadas, o processo metodológico empregado e os resultados da tecnologia desenvolvida. Diferente do artigo teórico-empírico, que ao final do texto vai buscar desenvolver a contribuição teórica, o artigo tecnológico vai apresentar quais são as contribuições práticas oriundas do processo de pesquisa e como ela pode se estender para outras realidades organizacionais de maneira concreta.

No artigo metodológico, há duas possibilidades de contribuições. Uma contribuição é metodológica no sentido de oferecer para pesquisadores novas técnicas ou métodos (ou aprimorar os existentes) que sejam capazes de aprimorar o processo de pesquisa científica. Neste tipo de texto, é esperado que o autor justifique a necessidade da criação ou aprimoramento da técnica ou método em questão, quais são os pressupostos filosófico-teóricos que sustentam a proposta, a apresentação da proposta em si, e é indicado que haja algum exemplo da técnica ou método em funcionamento para ilustrar o funcionamento e potencialidades envolvidas. A segunda contribuição de um artigo metodológico pode ser no estilo ‘tutorial’. Trata-se de uma contribuição didática de como pesquisadores podem compreender a utilização de determinada técnica ou método que é pouco conhecido ou utilizado em determinada área. Esse tipo de artigo precisa apresentar a relevância da técnica ou método e desenvolver uma apresentação didática de como os pesquisadores podem lançar mão do conteúdo apresentado. Assim como na contribuição metodológica, a contribuição didática requer que o autor consiga apresentar exemplos de como ‘funciona’ a técnica ou método em questão.

O caso para ensino é uma modalidade de artigo que busca oferecer uma contribuição eminentemente didática. É um tipo de artigo, no caso da RAC, que precisa ter embasamento científico para dar credibilidade às propostas de ensino a partir do caso. Os casos de ensino visam a contribuir na formação de gestores e pesquisadores por meio de experiências concretas que suscitam dilemas que precisam ser pensados para resolução de problemas que encontram equivalência no mundo concreto e que demandam soluções (Alberton & Silva, 2018Alberton, A., & Silva, A. B. da. (2018). How to write a good teaching case? Reflections on the method. Revista de Administração Contemporânea, 22(5), 745-761. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2018180212
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2018...
).

Já a pensata provocativa é um texto que busca estimular uma chamada para a prática, seja ela acadêmica, seja não acadêmica. No contexto acadêmico, a pensata contribui com provocações práticas que podem gerar (se aceitas) trabalhos futuros que gerem contribuições teóricas, práticas, metodológicas ou didáticas. São textos escritos por acadêmicos mais experientes que são capazes de lançar novos debates ou revisitar debates ainda não resolvidos junto à comunidade acadêmica.

A carta executiva tem função semelhante à da pensata provocativa. Contudo, ela parte de uma provocação eminentemente organizacional de modo que acadêmicos possam orientar suas pesquisas para os problemas práticos levantados por ela. As cartas executivas são provocações para contribuições práticas oriundas de pesquisas científicas, isso porque elas são escritas por pessoas que ocupam ou ocuparam cargos de liderança em organizações e que têm algum tipo de afinidade ou conhecimento do trabalho acadêmico. A carta executiva é um tipo de artigo de chamamento para ampliar a interlocução entre a academia, o mercado e a sociedade em geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maneira pela qual escolhemos contribuir com uma pesquisa científica precisa ser bem entendida e trabalhada em um artigo científico. Seja qual for a contribuição que se pretenda oferecer (teórica, prática, metodológica ou didática), é preciso rigor e densidade na demonstração da contribuição. Como todas as contribuições aqui citadas são derivadas de pesquisa científica, os critérios básicos de uma boa pesquisa dessa natureza precisam estar presentes em todos os tipos de textos. O que varia nos artigos é o tipo de contribuição que se quer oferecer e o estilo de escrita que se adequa melhor a ela. Um ponto importante que poucos autores consideram ao escrever um artigo é saber quais os tipos de contribuições e de artigos que o periódico pretendido aceita publicar. A RAC é uma revista que é ampla nessas possibilidades de contribuições e estilos de escrita, mas essa não é uma realidade para a maioria das revistas do campo da administração.

Do mesmo modo, ainda que periódicos possam aceitar diferentes tipos de contribuição e artigos, é fundamental ter em mente que eles possuem foco e escopo. Essa delimitação evidencia sobre quais temas e debates a revista busca se posicionar e contribuir. Portanto, a submissão de um artigo para um periódico envolve uma combinação de tipos de contribuições e artigos que são aceitos para publicação em combinação com o foco e escopo desse periódico. Se uma das duas condições não for satisfeita, provavelmente o artigo será rejeitado na etapa de desk-review. Na RAC, especificamente, a maioria das rejeições em desk-review. se dá porque:

  • os artigos teórico-empíricos não oferecem uma contribuição teórica consistente;

  • os artigos tecnológicos não possuem temas aderentes ao foco e escopo da revista ou não apresentam contribuições práticas nos parâmetros aqui apresentados;

  • os casos para ensino não possuem temas aderentes ao foco e escopo da revista ou são insuficientes na sua contribuição didática.

Espero que este texto seja uma contribuição didática e prática para os autores que ainda buscam compreender a dinâmica de publicação em periódicos científicos de prestígio em geral, assim como para aqueles que especificamente pretendem enviar as suas contribuições para a RAC.

REFERÊNCIAS

  • Aitchison, C., & Lee, A. (2006). Research writing: Problems and pedagogies. Teaching in Higher Education, 11(3), 265-278. https://doi.org/10.1080/13562510600680574
    » https://doi.org/10.1080/13562510600680574
  • Alberton, A., & Silva, A. B. da. (2018). How to write a good teaching case? Reflections on the method. Revista de Administração Contemporânea, 22(5), 745-761. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2018180212
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2018180212
  • Bergh, D. (2003). From the editors: Thinking strategically about contribution. Academy of Management Journal, 46(2), 135-136. https://doi.org/10.5465/amj.2003.17481820
    » https://doi.org/10.5465/amj.2003.17481820
  • Bispo, M. de S. (2021). Ensaiando sobre o velho e falso dilema entre teoria e prática. Teoria e Prática em Administração, 11(2), 174-178. https://doi.org/10.22478/ufpb.2238-104X.2021v11n2.59760
    » https://doi.org/10.22478/ufpb.2238-104X.2021v11n2.59760
  • Bispo, M. de S. (2022). In defense of theory and original theoretical contributions in administration. Revista de Administração Contemporânea, 26(6), e220158. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.en
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220158.en
  • Cunliffe, A. L. (2022). Must I grow a pair of balls to theorize about theory in organization and management studies? Organization Theory, 3(3). https://doi.org/10.1177/26317877221109277
    » https://doi.org/10.1177/26317877221109277
  • Faria, J. H. de. (2023). It has gone and no one knows if it will return: The progressive disappearance of the original theory. Revista de Administração Contemporânea, 27(1), e220065. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220065.en
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220065.en
  • Gilmore, S., Harding, N., Helin, J., & Pullen, A. (2019). Writing differently. Management Learning, 50(1), 3-10. https://doi.org/10.1177/1350507618811027
    » https://doi.org/10.1177/1350507618811027
  • Meneghetti, F. K. (2011). O que é um ensaio-teórico?. Revista de Administração Contemporânea, 15(2), 320-332. https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000200010
    » https://doi.org/10.1590/S1415-65552011000200010
  • Motta, G. da S. (2022). What is a technological article?. Revista de Administração Contemporânea, 26(Sup. 1), e220208. https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2022220208.en
  • Rynes, S. (2002). From the editors. Academy of Management Journal, 45(2), 311-313. https://doi.org/10.5465/amj.2002.17571225
    » https://doi.org/10.5465/amj.2002.17571225
  • Sandberg, J., & Alvesson, M. (2021). Meanings of theory: Clarifying theory through typification. Journal of Management Studies, 58(2), 487-516. https://doi.org/10.1111/joms.12587
    » https://doi.org/10.1111/joms.12587
  • Shepherd, D. A., & Suddaby, R. (2017). Theory building: A review and integration. Journal of Management, 43(1), 59-86. https://doi.org/10.1177/0149206316647102
    » https://doi.org/10.1177/0149206316647102
  • Swedberg, R. (2014). Theorizing in social science: The context of discovery. Stanford University Press.
  • Walker, G. E., Golde, C. M., Jones, L., Bueschel, A. C., & Hutchings, P. (2008). The formation of scholars: Rethinking doctoral education for the Twenty-First Century. Jossey-Bass.
  • Direitos Autorais

    A RAC detém os direitos autorais deste conteúdo.
  • Verificação de Plágio

    A RAC mantém a prática de submeter todos os documentos aprovados para publicação à verificação de plágio, mediante o emprego de ferramentas específicas, e.g.: iThenticate.

Editado por

CORPO EDITORIAL CIENTÍFICO E EQUIPE EDITORIAL PARA ESTA EDIÇÃO:

Conselho Editorial
Alketa Peci (EBAPE/FGV, Rio de Janeiro, RJ, Brasil)
Gabrielle Durepos (Mount Saint Vincent University, Halifax, Nova Scotia, Canadá)
Rafael Alcadipani da Silveira (EAESP/FGV, São Paulo, SP, Brasil)
Rafael Barreiros Porto (UnB, Brasília, DF, Brasil)
Silvia Gherardi (University of Trento, Trento, Itália)
Editor-chefe
Marcelo de Souza Bispo (UFPB, João Pessoa, PB, Brasil)
Editores Associados
Ariston Azevedo (UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil)
Carolina Andion (UDESC, Florianópolis, SC, Brasil)
Denize Grzybovski (UPF, Passo Fundo, RS, Brasil)
Eduardo da Silva Flores (FEA/USP, São Paulo, SP, Brasil)
Elisa Yoshie Ichikawa (UEM, Maringá, PR, Brasil)
Emílio José M. Arruda Filho (UNAMA, Belém, PA, Brasil)
Evelyn Lanka (Cranfield School of Management, Bedford, Reino Unido)
Fernando Luiz Emerenciano Viana (Unifor, Fortaleza, CE, Brasil)
Gaylord George Candler (University of North Florida, Jacksonville, Florida, EUA)
Gustavo da Silva Motta (UFF, Niterói, RJ, Brasil)
Keysa Manuela Cunha de Mascena (Unifor, Fortaleza, CE, Brasil)
Ludmila de Vasconcelos Machado Guimarães (CEFET-MG, Belo Horizonte, MG, Brasil)
Natália Rese (UFPR, Curitiba, PR, Brasil)
Orleans Silva Martins (UFPB, João Pessoa, PB, Brasil)
Pablo Isla Madariaga (Universidad Técnica Federico Santa María, Chile)
Paula Castro Pires de Souza Chimenti (UFRJ/Coppead, Rio de Janeiro, Brasil)
Rafael Chiuzi (University of Toronto Mississauga, Mississauga, ON, Canadá)
Sidnei Vieira Marinho (Univali, São José, SC, Brasil)
Corpo Editorial Científico
André Luiz Maranhão de Souza-Leão (UFPE, Recife, CE, Brasil)
Aureliano Angel Bressan (CEPEAD/UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil)
Bryan Husted (York University, Canadá)
Carlos M. Rodriguez (Delaware State University, EUA)
Cristiana Cerqueira Leal (Universidade do Minho, Portugal)
Diógenes de Souza Bido (Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil)
Erica Piros Kovacs (Kelley School of Business/Indiana University, EUA)
Elin Merethe Oftedal (University of Stavanger, Noruega)
Fábio Frezatti (FEA/USP, São Paulo, SP, Brasil)
Felipe Monteiro (INSEAD Business School, EUA)
Howard J. Rush (University of Brighton, Reino Unido)
James Robert Moon Junior (Georgia Institute of Technology, EUA)
John L. Campbell (University of Georgia, EUA)
José Antônio Puppim de Oliveira (United Nations University, Yokohama, Japão)
Julián Cárdenas (Freie Universität, Berlin, Alemanha)
Lucas A. B. de Campos Barros (FEA/USP, São Paulo, SP, Brasil)
Luciano Rossoni (UniGranRio, Rio de Janeiro, RJ, Brasil)
M. Philippe Protin (Université Grenoble Alpes, França)
Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa Instrumentação, São Carlos, SP, Brasil)
Rodrigo Bandeira de Mello (Merrimack College, EUA)
Rodrigo Verdi (MIT Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, EUA)
Valter Afonso Vieira (UEM, Maringá, PR, Brasil)
Wagner A. Kamakura (Jones Graduate School of Business, Rice University, Houston, EUA)
Editoração
Diagramação e normas da APA: Kler Godoy (ANPAD, Maringá, Brasil); Simone L. L. Rafael (ANPAD, Maringá, Brasil).
Periodicidade: Publicação contínua.
Circulação: Acesso totalmente gratuito.
Indexadores, Diretórios e Rankings
Scopus, Scielo, Redalyc, DOAJ, Latindex, Cengage/GALE, Econpapers, IDEAS, EBSCO, Proquest, SPELL, Cabell's, Ulrichs, CLASE, Index Copernicus International, Sherpa Romeo, Carhus Plus+, Academic Journal Guide (ABS), DIADORIM, REDIB, Sumários.org, ERIHPlus, OAJI, EZB, OasisBR, IBZ Online, WorldWideScience, Google Scholar, Citefactor.org, MIAR, Capes/Qualis.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2023
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração Av. Pedro Taques, 294,, 87030-008, Maringá/PR, Brasil, Tel. (55 44) 98826-2467 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: rac@anpad.org.br