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Análise Televisual Convergente: um procedimento metodológico para leitura crítica dos processos comunicativos de telejornais e programas televisivos

Convergent Televisual Analysis: a methodological procedure for the critical reading of the communicative processes of TV News and television programs

Resumo

A partir de um mapeamento de metodologias empregadas em estudos acadêmicos sobre telejornalismo produzidos entre 2015 e 2017 em 11 bancos de dados, este artigo sugere a relevância do olhar sobre as imagens e suas combinações com palavras na produção de sentidos. O trabalho também propõe o reconhecimento da necessidade de articular às análises textuais de telejornais e programas televisivos quatro instâncias que configuram os processos comunicativos no ambiente convergente: singularidades da ambiência, circulação, características de organizações e de práticas produtivas e interações das audiências. Nesse sentido, apresenta o esquema analítico da Análise Televisual Convergente (ATC), um procedimento metodológico possível para a leitura crítica dos textos audiovisuais nas pesquisas em comunicação e em processos de aprendizagem num momento de transformação da produção e consumo de conteúdos e formatos em áudio e vídeo decorrente da digitalização dos meios.

Palavras-chave
telejornalismo; programas televisivos; Análise Televisual Convergente; processos de aprendizagem

Abstract

From a mapping of methodologies employed in academic studies about television journalism, produced between 2015 and 2017 in 11 databases, this article suggests the relevance of looking over the images and their combinations with words in the production of meanings. It also proposes the recognition of the necessity to articulate to the textual analyses of TV News and television programs four instances that constitute the communicative processes in the convergent environment: singularities of ambience, circulation, features of organizations and productive practices and interactions of audiences. In this sense, this paper presents the analytic framework of the Convergent Televisual Analysis (ATC), a methodological procedure for the critical reading of audiovisual texts in communication research and learning processes at a time of transformation of production and consumption of audio and video contents and formats resulting from media digitalization.

Keywords
television journalism; television programs; Convergent Televisual Analysis; learning processes

Introdução

No século XXI, a Comunicação se inscreve como área relevante do conhecimento científico para a compreensão das mudanças sociotécnicas (MARINHO; MARIÑO, 2018MARINHO, S. MARIÑO, M. V. Uma Paisagem da Epistemologia e Metodologia em Comunicação. Comunicação e Sociedade, v. 33, p. 7-14, 2018.), mas também deve ser compreendida como um conjunto de investigações capazes de contribuir para a transformação social, ultrapassar o paradigma cognitivo hegemônico e se constituir em uma ciência redescritiva no interior do bios midiático (SODRÉ, 2014Sodré, M. A Ciência do Comum. Notas para o método comunicacional. Petrópolis: Vozes, 2014.). Para além do estudo das intencionalidades da produção midiática, a Comunicação deve viabilizar o entendimento de conversações e controvérsias socioculturais ou de práticas cotidianas de resistência e de resiliência coletivas. Torna-se relevante observar as subjetivações provocadoras de fissuras nas ordenações de forças dominantes diante da complexificação dos processos de comunicação midiáticos na contemporaneidade, os quais instigam reflexões sobre fundamentos epistemológicos e metodológicos capazes de auxiliar a compreensão das lógicas das mídias e das práticas socioculturais que emergem de seus usos e apropriações, dos circuitos comunicativos e das interações que se estabelecem no ambiente convergente (ALZAMORA; ZILLER; D´ANDRÉA, 2018ALZAMORA G.; ZILLER, J.; D`ANDRÉA, C. Mídia e dispositivos: uma aproximação à luz de Michel Foucault. In: LEAL, B.; CARVALHO, C. A.; ALZAMORA, G.(Org.). Textualidades Midiáticas. Belo Horizonte: PPGCom UFMG, 2018.; MARTINO, 2018MARTINO, L. M. S. Métodos de Pesquisa em Comunicação. Petrópolis: Vozes, 2018.; BRAGA, 2017BRAGA, J. L. Circuitos da Comunicação. In: BRAGA, José Luiz; calazans, Regina (Org.). Matrizes Interacionais. A Comunicação Constrói a Sociedade. Campina Grande: Eduepb (Editora da Universidade Federal da Paraíba), 2017. p. 43-64.). Na realização da pesquisa todo conhecimento do social é um recorte ou uma aproximação da realidade, mas as metodologias empregadas podem auxiliar a “tradução” de maneiras do pensar e sentir de instituições e da cultura de comunidades distintas e das articulações entre o individual e o coletivo (MINAYO, 2014MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento. São Paulo: HUCITEC, 2014.).

Na década de 1970, Williams (2016)Williams, R. Televisão, tecnologia e forma cultural. São Paulo: Boitempo; Belo Horizonte: PUCMinas, 2016. já se recusava a entender a televisão sob o viés do determinismo tecnológico e como uma força que age por si mesma com propriedades fixadas do meio. Ele abriu uma percepção da TV como tecnologia e forma cultural, que converge tanto formas derivadas de outros tipos de atividades culturais quanto inovadoras, e sinalizou que a análise de TV não deve ser reduzida ao seu controle ou a efeitos homogêneos, uma vez que há aqueles que são previstos e outros não. O pesquisador sugeriu que a televisão não é estruturada por unidades separadas nem dividida entre programas e anúncios publicitários, mas por um “fluxo planejado” da radiodifusão que influencia as formas textuais que veicula. Na medida em que a televisão se expande em outras plataformas que também influenciam as formas textuais que abrigam na atualidade, a noção de fluxo de Williams foi superada. Hoje, a própria Comunicação pode ser vista como um fluxo incessante de ideias, informações e expectativas que circulam em formas e reconfigurações sucessivas (BRAGA, 2017BRAGA, J. L. Circuitos da Comunicação. In: BRAGA, José Luiz; calazans, Regina (Org.). Matrizes Interacionais. A Comunicação Constrói a Sociedade. Campina Grande: Eduepb (Editora da Universidade Federal da Paraíba), 2017. p. 43-64.). A singular abordagem da televisão como experiência cultural de Raymond Williams, entretanto, não se dissolveu e a análise dos programas televisivos (MACHADO, 2003MACHADO, A. A televisão levada a sério. São Paulo: Senac, 2003.) ainda oferece respostas. Contudo, é necessário descentrar a ênfase no produto e articulá-lo às singularidades da ambiência, à sua circulação, às características das organizações e das práticas produtivas e às interações das audiências, em um momento em que a produção e o consumo de conteúdos audiovisuais se tornam mais diversos e acelerados. A partir de um mapeamento de metodologias empregadas em pesquisas acadêmicas sobre telejornalismo de 2015 a 2017 em 11 bases de dados, este trabalho reflete sobre a necessidade de métodos mais abrangentes para a análise de telejornais e de programas televisivos no ambiente convergente, decorrentes da digitalização dos meios, discute a relevância do estudo das imagens no texto audiovisual e apresenta o procedimento da Análise Televisual Convergente (ATC).

Os telejornais tendem a ser considerados produtos arcaicos da indústria massiva do século XX que reduzem a complexidade dos jogos políticos e dos arranjos econômicos e favorecem grupos dominantes. De fato, os telejornais enquadram a realidade, por meio de estratégias discursivas que valorizam a sua própria mediação, se oferecem como lugares de reconhecimento da(s) verdade(s) referente(s) à vida social do país e exercem expressiva influência na compreensão da experiência cotidiana. No entanto, o telejornalismo não é um gênero1 1 Os gêneros televisivos aqui são compreendidos como categorias culturais que organizam as práticas televisivas e como estratégias de comunicação com o espectador em contextos específicos (MITTEL, 2004). televisivo anacrônico na cultura digital, se reinventa no ambiente convergente, caracterizado pela coexistência de antigos e novos modelos de produção e consumo de conteúdos e formatos audiovisuais noticiosos, e permite aos cidadãos ter acesso e compartilhar informações, sobretudo nas transmissões ao vivo de acontecimentos de grande repercussão (BECKER, 2016______. Televisão e Telejornalismo: Transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.). Hoje, a população brasileira ainda assiste mais à programação da televisão em tempo real do que pela internet. Os telejornais são a principal fonte de informação para a maioria dos brasileiros, concentram grande parte do conteúdo das emissoras de televisão aberta no Brasil e reúnem expressivos investimentos financeiros. No entanto, o telejornalismo está desafiado a encorajar o engajamento do público, tornando a experiência de ver os telejornais mais participativa (BECKER, 2018BECKER, B. Tendências e desafios da produção noticiosa audiovisual: Contribuições do Grupo de Pesquisa Mídia, Jornalismo Audiovisual e Educação (MJAE) – PPGCOM -UFRJ. In: Emerin, C.; Coutinho, I.; FREITAS, C. (Org.). Epistemologias do telejornalismo brasileiro. Florianópolis: Editora Insular, 2018. v. 7, p. 145-172.). Os modos como os telejornais se expandem em múltiplas plataformas e as maneiras que as audiências interagem com os noticiários, por meio de dispositivos móveis e nas redes sociais, afetam as leituras dos acontecimentos em diferentes contextos, transformam o papel social do telejornalismo e as práticas produtivas e demandam novas abordagens teórico-metodológicas para a análise desses processos comunicativos. O esquema analítico aqui apresentado busca ampliar o escopo da metodologia da Análise Televisual (AT) anteriormente sistematizada (BECKER, 2012______. Mídia e Jornalismo como formas de conhecimento: uma metodologia para leitura crítica das narrativas jornalísticas audiovisuais. Matrizes, Revista do PPG em Ciências da Comunicação da USP, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 231-250, 2012. Doi: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v5i2p231-250>.
https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160....
; 2016______. Televisão e Telejornalismo: Transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.), a qual tem sido utilizada por pesquisadores de diferentes níveis de formação na Graduação e na Pós-Graduação, auxiliando o entendimento da complexidade dos códigos audiovisuais na elaboração e ressignificação dos sentidos dos discursos midiáticos de obras televisivas ficcionais e não ficcionais">televisivo anacrônico na cultura digital, se reinventa no ambiente convergente, caracterizado pela coexistência de antigos e novos modelos de produção e consumo de conteúdos e formatos audiovisuais noticiosos, e permite aos cidadãos ter acesso e compartilhar informações, sobretudo nas transmissões ao vivo de acontecimentos de grande repercussão (BECKER, 2016______. Televisão e Telejornalismo: Transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.). Hoje, a população brasileira ainda assiste mais à programação da televisão em tempo real do que pela internet. Os telejornais são a principal fonte de informação para a maioria dos brasileiros, concentram grande parte do conteúdo das emissoras de televisão aberta no Brasil e reúnem expressivos investimentos financeiros. No entanto, o telejornalismo está desafiado a encorajar o engajamento do público, tornando a experiência de ver os telejornais mais participativa (BECKER, 2018BECKER, B. Tendências e desafios da produção noticiosa audiovisual: Contribuições do Grupo de Pesquisa Mídia, Jornalismo Audiovisual e Educação (MJAE) – PPGCOM -UFRJ. In: Emerin, C.; Coutinho, I.; FREITAS, C. (Org.). Epistemologias do telejornalismo brasileiro. Florianópolis: Editora Insular, 2018. v. 7, p. 145-172.). Os modos como os telejornais se expandem em múltiplas plataformas e as maneiras que as audiências interagem com os noticiários, por meio de dispositivos móveis e nas redes sociais, afetam as leituras dos acontecimentos em diferentes contextos, transformam o papel social do telejornalismo e as práticas produtivas e demandam novas abordagens teórico-metodológicas para a análise desses processos comunicativos. O esquema analítico aqui apresentado busca ampliar o escopo da metodologia da Análise Televisual (AT) anteriormente sistematizada (BECKER, 2012______. Mídia e Jornalismo como formas de conhecimento: uma metodologia para leitura crítica das narrativas jornalísticas audiovisuais. Matrizes, Revista do PPG em Ciências da Comunicação da USP, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 231-250, 2012. Doi: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v5i2p231-250>.
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; 2016______. Televisão e Telejornalismo: Transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.), a qual tem sido utilizada por pesquisadores de diferentes níveis de formação na Graduação e na Pós-Graduação, auxiliando o entendimento da complexidade dos códigos audiovisuais na elaboração e ressignificação dos sentidos dos discursos midiáticos de obras televisivas ficcionais e não ficcionais2 2 Este percurso metodológico é formado por três etapas: a Descrição ou Contextualização, destacando determinantes político-econômicos e socioculturais do objeto de estudo e da organização produtiva onde este está inserido, a Análise Televisual propriamente dita, formada por um estudo quantitativo e qualitativo do texto em áudio e vídeo, e a interpretação dos resultados. Seis categorias (Estrutura Narrativa, Temática, Enunciadores, Visualidade, Som e Edição) e três princípios de enunciação (Fragmentação, Dramatização e Definição de Identidades e Valores) são aplicados na segunda etapa da análise televisual (BECKER, 2016). . Esta metodologia revisitada ganha aqui um sobrenome, e é nomeada de Análise Televisual Convergente, agregando à AT um procedimento metodológico possível para ler relações entre imagens, palavras, dispositivos3 3 O dispositivo é entendido como um regime ou quadro organizador inscrito em jogos de poder que também o condicionam e que funciona como um lócus ou ambiência que gera relações e adapta-se às tentativas interacionais que abriga (ALZAMORA; ZILLER; D`ANDRÉA, 2018). , pessoas e práticas produtivas no território virtual e ser utilizada como ferramenta para leitura crítica dos telejornais e de outras obras televisivas em pesquisas de comunicação e em processos de aprendizagem institucionais e informais. Afinal, o olhar não se opõe ao agir e a posição do espectador (ou do aluno) não deve ser reduzida à passividade e à contemplação (RANCIÈRE, 2017______. O Espectador Emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2017.), pois corresponde a um conjunto de traduções de textos e materialidades distintas capazes de deslocar percepções e posições sem desconsiderar as complexas relações entre palavras e imagens.

Leitura de Imagens

Ao invés de se pensar as imagens apenas como instrumentos de poder que tornam inseparáveis o real e a aparência, projeções da ideologia ou tecnologias de dominação, destacando as suas potências maléficas, Mitchell (2017)MITCHELL, W. J. T. O que as imagens realmente querem? In: ALLOA, Emmanuel (Org.). Pensar a Imagem. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. sugere observar o campo social do visual, considerando que os processos cotidianos de olhar e ser olhado constituem um complexo campo de reciprocidade visual. Mesmo ao interagir com imagens digitais, que são constituídas por números e códigos planejados, não carregam vestígios do mundo social e histórico e indicam um novo regime do visível, os sujeitos e seus agenciamentos podem, por meio da interpretação, inverter ou desviar percursos prescritos tanto de formas-imagens representadas quanto de programas televisivos (GUIMARÃES, 2002GUIMARÃES, C. O Novo Regime do Visível e As Imagens Digitais. In: VAZ, Paulo B.; CASA NOVA, Vera (Org.). Estação Imagem. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.). Existem diferentes possibilidades de leitura das imagens mediante o uso de métodos distintos, mas as pesquisas em comunicação tendem a focalizar as imagens técnicas, ou seja, imagens que sofrem a mediação e/ou a intervenção de um aparato técnico (MARTINO, 2018MARTINO, L. M. S. Métodos de Pesquisa em Comunicação. Petrópolis: Vozes, 2018.). Entretanto, os estudos das narrativas audiovisuais na atualidade não se debruçam sobre uma imagem particular, procuram entender como esta é constituída em um período histórico e em um contexto cultural específicos, o lugar onde circula como representação4 4 A representação é uma das práticas centrais que produz a cultura, parte do processo pelo qual os significados, mapas conceituais, códigos ou sistemas de linguagem são produzidos, compartilhados e estruturam o olhar. Porém, as suas significações dependem da interpretação. A estabilização de um sentido por convenções sociais não é absoluta, um regime de representação pode ser transformado e tanto o “senso comum” quanto o “bom senso” podem revelar as suas naturezas contraditórias (HALL, 2011; MINAYO, 2014). e reflete significações. Estudar a representação imagética demanda, portanto, compreender a política da representação, como as imagens atribuem valores a determinados grupos sociais e como as narrativas transmitem significados (BELTRÁN, 2018BELTRÁN, M. Representation. In: Kackman, M.; KEARNEY, M. C. (Org.). The Craft of Criticism. Critical Media Studies in Practice. New York: Routledge, 2018. p. 97-108.). Rancière (2016)RANCIÈRE, J. O destino das imagens. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, Ltda., 2016. explica que a politicidade das imagens deve ser encontrada em um regime determinado de articulações que definem os seus sentidos e as suas funções na esfera social, o que ele chama de regime de imagéité ou regime de imaginidade. Para o pesquisador francês, a representação “não é o ato de produzir uma forma visível; é o ato de dar um equivalente, coisa que a palavra faz tanto quanto a fotografia” (RANCIÈRE, 2017______. O Espectador Emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2017., p. 92), ou seja, “é um jogo complexo de relações com o visível e o invisível, o visível e a palavra, o dito e o não dito” (ibidem). Ele argumenta que a crítica do espetáculo identificou a imagem com a denúncia platônica do engodo das aparências e da passividade do espectador, e que as imagens vivem em uma atmosfera de julgamento. Porém, para o autor, o sistema de informação não funciona pelo excesso de imagens, mas pelo modo como seleciona seres que falam, fazendo do verbal o privilégio de poucos e do visual o território permitido às multidões. Nem toda imagem seria alienante e as palavras também são formas de redistribuição dos elementos da representação. A imagem não é uma exclusividade do visível, há um visível que não produz imagem e imagens que estão todas em palavras. Segundo Rancière (2016)RANCIÈRE, J. O destino das imagens. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, Ltda., 2016., as imagens são relações entre uma visibilidade e uma potência de significação e de afeto que lhes é associada e as preenche; e as maneiras como nos afetam nem sempre são evidentes ou previsíveis. Afinal, tanto as imagens quanto as palavras usadas para asseverar a verdade também podem ser usadas para enganar (SANTAELLA; NÖTH, 2008SANTAELLA, L.; NÖTH, W. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 2008.). Cabe ao analista decifrar um regime particular de articulação entre o visível e o dizível e a análise do texto audiovisual não deve prescindir da leitura crítica da visualidade como recurso de construção de sentido, como permite a aplicação da AT, desvelando o regime de ‘imaginidade’, a política de representação e/ou o jogo de contar histórias factuais e/ou ficcionais escritas com imagens e palavras. Os textos audiovisuais não são apenas meios de reprodução de valores e estéticas dominantes; são também práticas socioculturais constituídas por sistemas mais ou menos inventivos de representações e combinações entre som e imagem que não têm um sentido fixo (BECKER, 2016______. Televisão e Telejornalismo: Transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.). Porém, se a partir do mito platônico das cavernas e durante séculos a imagem foi identificada como aparência e compreendida como um instrumento de manipulação, de persuasão religiosa ou política, estas assunções e premissas ainda influenciam pesquisas que privilegiam a interpretação dos arranjos verbais no estudo das significações do texto audiovisual, como identificado no mapeamento dos métodos utilizados em estudos recentes de telejornalismo.

Mapeamento de metodologias aplicadas em estudos de telejornalismo

Inspirando-se no percurso metodológico proposto anteriormente (BECKER, 2015______. Mapeamento das pesquisas em Telejornalismo no Brasil: um estudo da produção acadêmico-científica de 2010 a 2014. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, v. 22, n. 4, 2015. PPGCS-PUC-RS, Porto Alegre, 2015. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/20534>. Acesso em: 23 out. 2018.
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), foram coletados no mês de junho de 2018 os resumos publicados entre 2015 e 2017 de todas as Dissertações e Teses de Doutorado sobre telejornalismo catalogadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a CAPES5 5 Disponível em: <http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/ , dos artigos publicados nas sete revistas científicas brasileiras A2 da área de avaliação Comunicação e Informação, identificadas no Qualis Periódico disponível na plataforma Sucupira6 6 Os periódicos observados foram: Matrizes (USP); Galáxia (PUC-SP); Famecos (PUC-RS); E-Compós (Compós); Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (Intercom); Comunicação, Mídia e Consumo (ESPM-SP) e Em Questão (UFRGS). , e de todos os trabalhos apresentados nos congressos7 7 Disponível em: <http://www.compos.org.br/anais.php>; <http://sbpjor.org.br/sbpjor/>; <http://www.portalintercom.org.br/eventos1/congresso-nacional/apresentacao5/>. Acesso em: 15 jun. 2018. da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), da Associação Nacional dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom)8 8 Agradeço a colaboração do ex-bolsista PIBIC e jornalista, João Paulo Saconi Michael, pelo levantamento dos dados quantitativos desse mapeamento. . Posteriormente, foram realizadas a leitura dos resumos e a interpretação dos resultados.

Tab. 1
Síntese do mapeamento de metodologias aplicadas em estudos de telejornalismo (2015-2017)

Este mapeamento evidencia um processo de consolidação dos estudos de telejornalismo (EMERIN; COUTINHO; FINGER, 2018EMERIN, C.; COUTINHO, I.; FINGER, C. Epistemologias do telejornalismo brasileiro. Florianópolis: Insular, 2018.), porém, demonstra que as metodologias empregadas não são comumente indicadas nos trabalhos publicados nas revistas científicas e apresentados em congressos nacionais e que a elaboração de métodos para análise dos telejornais tampouco é privilegiada como objeto de estudo. Os percursos metodológicos referidos das pesquisas em telejornalismo são muito variados e estabelecem interlocuções com outros campos de saber. A Análise de Conteúdo é a dimensão teórico-metodológica mais citada neste estudo, ratificando resultados de pesquisa anterior (BECKER, 2015______. Mapeamento das pesquisas em Telejornalismo no Brasil: um estudo da produção acadêmico-científica de 2010 a 2014. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, v. 22, n. 4, 2015. PPGCS-PUC-RS, Porto Alegre, 2015. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/20534>. Acesso em: 23 out. 2018.
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). Entretanto, ainda que não se manifeste um empenho significativo no estabelecimento de diálogos com metodologias já desenvolvidas nos estudos de telejornalismo, identifica-se a emergência de trabalhos que buscam explorar modelos analíticos, tomando a imagem e a visualidade como elementos relevantes de produção de sentidos dos telejornais. A intenção de transcender a tradicional dimensão verbal no estudo da organização narrativa do texto televisivo jornalístico já era anunciada em um dos pioneiros estudos de telejornalismo originário da metodologia da Análise Televisual. Contudo, a maioria das propostas metodológicas dos estudos de telejornalismo ainda privilegia o conteúdo em detrimento da forma e verifica-se uma carência de olhares sobre as combinações de imagens e palavras produtoras de sentidos constituídas na escrita e na leitura, bem como sobre o sistema comunicativo onde o texto está inscrito, as práticas produtivas e as interações das audiências. Assim, revela-se a necessidade de estudar os sentidos das imagens associadas aos demais códigos audiovisuais e utilizar métodos capazes de abordar de maneira mais abrangente os processos comunicativos nas análises dos telejornais e de programas televisivos. Afinal, o texto não é simplesmente um produto, resulta de práticas discursivas historicamente situadas em contextos culturais específicos, ganha sentidos no trabalho interpretativo e estes não se manifestam, necessariamente, “na circulação da informação, mas no compartilhamento de sensações, sentimentos, afetos e/ou mesmo na própria condição de estarmos juntos” (LEAL, 2018LEAL, B. Do texto à textualidade na comunicação: contornos de uma linha de investigação. In: LEAL, B.; CARVALHO, C. A.; ALZAMORA, G. (Org.). Textualidades Midiáticas. Belo Horizonte: PPGCom UFMG, 2018. p. 17-34., p. 27). Buscando agregar à compreensão dos sentidos dos textos as lógicas das mídias e as práticas comunicativas no ambiente convergente que também influenciam as suas significações, a Análise Televisual Convergente (ATC) se constitui como um procedimento metodológico possível para a leitura dos telejornais e de programas televisivos e articula à AT quatro instâncias: as singularidades da ambiência e/ou dos dispositivos, as características das organizações e práticas produtivas, a circulação de um programa no ambiente convergente e as interações das audiências.

Análise Televisual Convergente: um esquema analítico flexível para o estudo dos telejornais e de programas televisivos

Nos estudos de televisão, o conceito de audiência ativa responde a inquietações referentes aos seus agenciamentos na decodificação dos textos e nas suas formas de interpretação. Entretanto, as audiências são distintas e suas relações com as mídias se manifestam de diferentes maneiras. Hills (2018)HILLS, M. Audiences. In: Kackman, M.; KEARNEY, M. C. (Org.). The Craft of Criticism. Critical Media Studies in Practice. New York: Routledge, 2018. p. 183- 194. sugere que o termo “audiências difusas”, cunhado por Nicholas Abercrombie e Brian Longhurst, relacionado tanto à transmissão broadcast quanto à cultura on demand, seria o mais adequado para nomear as maneiras como as pessoas agem assistindo à TV ou utilizando mídias móveis para consumir e compartilhar conteúdos e formatos audiovisuais, deslocando o foco na estrutura e no poder da mídia. Fausto Neto (2017)FAUSTO NETO, A. Indo Além do “Leitor-Modelo”. In: FIGARO, Roseli; BRIGNOL, Liliane Dutra (Org.). Trabalho do Pesquisador: Os Desafios à Empiria em Estudos de Recepção. Curitiba: Appris, 2017. p. 257-279., por sua vez, ressalta que na sociedade em midiatização, caracterizada pela centralidade das práticas midiáticas, as interações das audiências são mediadas por estratégias de contato que as induzem a se instalar em ambiências midiáticas, seguindo “operações pelas quais se destacam como coenunciadores de um trabalho tecno-simbólico que já não estaria apenas sob controle unilateral dos nichos institucionais de produção de mensagens” (FAUSTO NETO, 2017FAUSTO NETO, A. Indo Além do “Leitor-Modelo”. In: FIGARO, Roseli; BRIGNOL, Liliane Dutra (Org.). Trabalho do Pesquisador: Os Desafios à Empiria em Estudos de Recepção. Curitiba: Appris, 2017. p. 257-279., p. 263). As regras dominantes dos jogos interacionais continuam a ser definidas pelos sistemas institucionais de produção e as audiências são projetadas em uma determinada cena na ambiência midiática, por meio de práticas discursivas. Porém, as atividades destes atores sociais oscilam entre atitudes contemplativas ou de apropriação e a produção não tem controle absoluto sobre o script de suas performances, o que também indica a necessidade de focalizar as dinâmicas da recepção na contemporaneidade9 9 Nos estudos de televisão as atividades interativas das audiências no ambiente convergente são abordadas em pesquisas sobre Social TV, que torna a experiência pessoal de assistir TV uma atividade de grupo social e até mesmo global. Nessas investigações são observados os modos como os fãs remixam conteúdos e atuam como curadores nas redes sociais e consideradas as estratégias comerciais e discursivas das indústrias televisivas que estimulam o envolvimento e o engajamento das audiências em diferentes plataformas, por meio de compartilhamentos de conteúdos gerados pelas emissoras e/ou aplicativos (BORGES et al., 2017; FECHINE et al., 2017 apud BECKER, 2018). . As novas possibilidades de acesso e manejo das tecnologias de comunicação, entretanto, tornam a observação dos agenciamentos das audiências cada vez mais complexa e, segundo Braga (2017)BRAGA, J. L. Circuitos da Comunicação. In: BRAGA, José Luiz; calazans, Regina (Org.). Matrizes Interacionais. A Comunicação Constrói a Sociedade. Campina Grande: Eduepb (Editora da Universidade Federal da Paraíba), 2017. p. 43-64., um dos maiores desafios dos pesquisadores é apreender a circulação do produto após a recepção, uma vez que novos produtos são derivados dos primeiros (idem). Para o pesquisador, o círculo do produto é mais amplo que a relação que se estabelece da emissão à recepção e as conexões entre diferentes dispositivos interacionais se caracterizam como um circuito, que direciona o fluxo comunicacional em determinados contextos. Assim, como os receptores são ativos, “a circulação passa a ser vista como o espaço do reconhecimento e dos desvios produzidos pela apropriação” (BRAGA, 2017BRAGA, J. L. Circuitos da Comunicação. In: BRAGA, José Luiz; calazans, Regina (Org.). Matrizes Interacionais. A Comunicação Constrói a Sociedade. Campina Grande: Eduepb (Editora da Universidade Federal da Paraíba), 2017. p. 43-64. p. 50) e podem emergir vozes que se posicionam de maneira crítica à mídia. Nesse fluxo, segundo o autor, o produto ocupa um lugar especial por sua materialidade e consequente facilidade de captura para observação e inferências (ibidem), moldando e sendo moldado pelos ambientes em que se põe a circular, sob tensionamentos de outros campos sociais e práticas socioculturais. Partindo da análise do produto televisual, sugere-se então, como propõe Braga (2017)BRAGA, J. L. Circuitos da Comunicação. In: BRAGA, José Luiz; calazans, Regina (Org.). Matrizes Interacionais. A Comunicação Constrói a Sociedade. Campina Grande: Eduepb (Editora da Universidade Federal da Paraíba), 2017. p. 43-64., questionar como o telejornal e os programas televisivos de gêneros distintos ocupam um lugar e atuam nesse circuito, uma vez que até mesmo os processos de transmidiação emergem de relações entre um texto de referência e um conjunto de outros textos que em torno dele se organizam a partir de estratégias da produção, ainda que a cultura participativa possa fazer emergir uma variedade de conteúdos que escapam às instruções dos produtores (FECHINE, 2018FECHINE, Y. Transmidiação como modelo de produção: uma abordagem a partir de estudos de televisão e linguagem. In: MASSAROLO, J.; SANTAELLA, L.; NESTERIUK, S. (Org.). Desafios da Transmídia: Processos e Poéticas. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2018. p. 42-63.). O texto de referência também se constitui como ponto de partida para os estudos sobre o estilo televisivo, que oferecem possibilidades de entender o programa isoladamente, tecer especulações sobre a cultura na qual ele está inserido e examinar as atividades dos realizadores (ROCHA, 2016ROCHA, S. M. Análise do estilo: um percurso metodológico. In: ROCHA, Simone Maria (Org.). Estilo Televisivo e a sua pertinência para a TV como prática cultural. Florianópolis: Editora Insular, 2016.).

Contudo, nos estudos dos modos de produção televisivos, a ênfase das pesquisas sobre circulação recai sobretudo na distribuição e disseminação de conteúdos audiovisuais para entender as atuais transformações da experiência de consumo de imagens em movimento, decorrentes da portabilidade e da variabilidade de formas de acesso a essas materialidades, e os valores que lhes são atribuídos pelas culturas profissionais, uma vez que a indústria televisiva e suas produções carregam traços de determinadas organizações e de suas práticas produtivas. Esses estudos combinam análises de práticas culturais com uma abordagem política e econômica das mídias (MENOTTI; CRISP, 2015MENOTTI, G.; CRISP, V. Besides the Screen: moving images through distribution, promotion and curation. Londres; Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2015.; MAYER; BANKS; CALDWELL, 2009MAYER, V.; BANKS, M. J.; CALDWELL, J. T. (Org.).Production Studies: Cultural Studies of Media Insdustries. Nova Iorque: Routledge, 2009.). É possível inferir que a análise do texto audiovisual sintonizada nas interações das audiências, nas formas de circulação dos conteúdos audiovisuais, nas características da ambiência e nos modos como suas significações também são conformadas nas organizações e práticas produtivas, permite apreender de maneiras mais amplas os atuais processos comunicativos. O esquema analítico da Análise Televisual Convergente auxilia a observação dos regimes de visibilidade do texto e das lógicas de produção, circulação e consumo em um contexto específico. O Gráfico 1, apresentado na próxima seção, oferece uma visualização dessa proposição metodológica, considerando-se a Análise Televisual (BECKER, 2012______. Mídia e Jornalismo como formas de conhecimento: uma metodologia para leitura crítica das narrativas jornalísticas audiovisuais. Matrizes, Revista do PPG em Ciências da Comunicação da USP, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 231-250, 2012. Doi: <http://dx.doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v5i2p231-250>.
https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160....
; 2016______. Televisão e Telejornalismo: Transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.) como uma das cinco etapas desse procedimento.

Considerações Finais

Como uma ferramenta flexível para a análise de telejornais e de programas televisivos, a escolha da aplicação da ATC implica observar: (1) singularidades da ambiência, destacando determinantes tecnológicos e econômicos que a atravessam e experiências de fazer ver e poder agir específicas, e/ou do dispositivo onde um determinado texto está localizado ou ainda os aspectos de um meio que intervêm na forma textual e viabilizam ações interativas; (2) características das organizações e das práticas produtivas, buscando evidenciar as historicidades, os interesses ideológicos, as formas de comercialização e os modelos de negócio de uma emissora de TV, de um canal ou de uma plataforma, bem como atuações e desafios de seus profissionais e/ou colaboradores; (3) os modos como os textos em áudio e vídeo são estruturados, inseridos ou não em uma grade de programação e produzem sentidos e representações, visibilidades e invisibilidades permeados por jogos discursivos em contextos socioculturais e políticos específicos, dimensão esta viabilizada pela aplicação da AT também representada no Gráfico 1, abaixo; (4) as maneiras como um programa ou um conjunto de conteúdos e formatos audiovisuais circulam no ambiente convergente e estabelecem relações com outros produtos televisuais similares; e (5) as interações das audiências, os modos como atribuem significações às narrativas de gêneros televisivos distintos e se sentem motivadas para estabelecer os seus agenciamentos.

Gráf. 1
Análise Televisual Convergente (ATC). Fonte: da autora (2018).

A ATC é um instrumento para análises críticas e criativas nas pesquisas em comunicação e em processos formais e informais de aprendizagem dos telejornais e de outros textos audiovisuais televisivos, de suas formas de circulação e das atuações dos sujeitos que produzem, fazem circular e consomem conteúdos e formatos em áudio e vídeo. A aplicação da Análise Televisual Convergente em investigações posteriores poderá sinalizar dinâmicas relevantes para apreensão dos processos comunicativos de noticiários e programas televisivos e lançar luzes sobre a sua operacionalização. Contudo, o principal objetivo deste trabalho teórico-conceitual que parte de um mapeamento empírico é apresentar o esquema analítico da ATC, evidenciando que, ao se tomar os telejornais e os programas televisivos como objetos de estudo, precisa-se reconhecer que estes estão atravessados por diferentes instâncias que complexificam as suas análises, ainda que nem sempre seja possível incorporar todas as dimensões propostas. Sem a pretensão de se sobrepor ou esgotar a diversidade de abordagens dos estudos de televisão e de telejornalismo e aberta ao diálogo com outros procedimentos teórico-metodológicos, a Análise Televisual Convergente busca projetar de maneira sintética um percurso analítico possível que pretende contribuir para outras formas de ver e agir na mídia e no mundo, e colaborar para as suas transformações.

  • 1
    Os gêneros televisivos aqui são compreendidos como categorias culturais que organizam as práticas televisivas e como estratégias de comunicação com o espectador em contextos específicos (MITTEL, 2004MITTELL, J. Genre and Television. From cop shows to cartoons in American Culture. Nova Iorque; Londres: Routledge, 2004.).
  • 2
    Este percurso metodológico é formado por três etapas: a Descrição ou Contextualização, destacando determinantes político-econômicos e socioculturais do objeto de estudo e da organização produtiva onde este está inserido, a Análise Televisual propriamente dita, formada por um estudo quantitativo e qualitativo do texto em áudio e vídeo, e a interpretação dos resultados. Seis categorias (Estrutura Narrativa, Temática, Enunciadores, Visualidade, Som e Edição) e três princípios de enunciação (Fragmentação, Dramatização e Definição de Identidades e Valores) são aplicados na segunda etapa da análise televisual (BECKER, 2016______. Televisão e Telejornalismo: Transições. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.).
  • 3
    O dispositivo é entendido como um regime ou quadro organizador inscrito em jogos de poder que também o condicionam e que funciona como um lócus ou ambiência que gera relações e adapta-se às tentativas interacionais que abriga (ALZAMORA; ZILLER; D`ANDRÉA, 2018ALZAMORA G.; ZILLER, J.; D`ANDRÉA, C. Mídia e dispositivos: uma aproximação à luz de Michel Foucault. In: LEAL, B.; CARVALHO, C. A.; ALZAMORA, G.(Org.). Textualidades Midiáticas. Belo Horizonte: PPGCom UFMG, 2018.).
  • 4
    A representação é uma das práticas centrais que produz a cultura, parte do processo pelo qual os significados, mapas conceituais, códigos ou sistemas de linguagem são produzidos, compartilhados e estruturam o olhar. Porém, as suas significações dependem da interpretação. A estabilização de um sentido por convenções sociais não é absoluta, um regime de representação pode ser transformado e tanto o “senso comum” quanto o “bom senso” podem revelar as suas naturezas contraditórias (HALL, 2011HALL, S. Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC Rio; Apicuri, 2016.; MINAYO, 2014MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento. São Paulo: HUCITEC, 2014.).
  • 5
  • 6
    Os periódicos observados foram: Matrizes (USP); Galáxia (PUC-SP); Famecos (PUC-RS); E-Compós (Compós); Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (Intercom); Comunicação, Mídia e Consumo (ESPM-SP) e Em Questão (UFRGS).
  • 7
  • 8
    Agradeço a colaboração do ex-bolsista PIBIC e jornalista, João Paulo Saconi Michael, pelo levantamento dos dados quantitativos desse mapeamento.
  • 9
    Nos estudos de televisão as atividades interativas das audiências no ambiente convergente são abordadas em pesquisas sobre Social TV, que torna a experiência pessoal de assistir TV uma atividade de grupo social e até mesmo global. Nessas investigações são observados os modos como os fãs remixam conteúdos e atuam como curadores nas redes sociais e consideradas as estratégias comerciais e discursivas das indústrias televisivas que estimulam o envolvimento e o engajamento das audiências em diferentes plataformas, por meio de compartilhamentos de conteúdos gerados pelas emissoras e/ou aplicativos (BORGES et al., 2017; FECHINE et al., 2017FECHINE, Y. Transmidiação como modelo de produção: uma abordagem a partir de estudos de televisão e linguagem. In: MASSAROLO, J.; SANTAELLA, L.; NESTERIUK, S. (Org.). Desafios da Transmídia: Processos e Poéticas. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2018. p. 42-63. apud BECKER, 2018BECKER, B. Tendências e desafios da produção noticiosa audiovisual: Contribuições do Grupo de Pesquisa Mídia, Jornalismo Audiovisual e Educação (MJAE) – PPGCOM -UFRJ. In: Emerin, C.; Coutinho, I.; FREITAS, C. (Org.). Epistemologias do telejornalismo brasileiro. Florianópolis: Editora Insular, 2018. v. 7, p. 145-172.).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    7 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    26 Out 2018
  • Aceito
    13 Fev 2019
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