Ciências da Comunicação contra a desinformação

Autores

  • Eugenio Bucci Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9125.v27i2p5-19

Palavras-chave:

informação/desinformação, superindústria do imaginário, democracia, verdade factual, fascismo

Resumo

A partir do entendimento de informação, não apenas pela etimologia, mas pela história do uso social do termo, procuro desenvolver o conceito de desinformação. Mais do que boatos, mais do que um rastilho de mentiras, a desinformação, a meu ver, deve ser vista como um subproduto tóxico da Superindústria do Imaginário, pondo em risco a normalidade democrática e impulsionando discursos com traços fascistas. Se a informação ajuda a tecer laços de confiança na esfera pública, a desinformação dissolve esses laços. Nos marcos da Superindústria do Imaginário – um estágio do capitalismo em que o valor da imagem da mercadoria supera o valor do corpo da mercadoria –, a comunicação deixa de ser uma atividade acessória (a serviço de organizações públicas ou privadas) para se tornar o centro da atividade econômica e da política, definindo o estatuto da desinformação – um padrão comunicacional que comprime o pensamento e a verificação dos fatos em proveito das identificações libidinais, das paixões e do desejo. Tanto isso é verdade que os conglomerados monopolistas globais (as big techs, como Meta, Apple ou Alphabet) alcançam os maiores valores de mercado da história, na casa dos trilhões de dólares.

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Biografia do Autor

  • Eugenio Bucci, Universidade de São Paulo

    Professor Titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). Coordenador Acadêmico da Cátedra Oscar Sala (IEA-USP) e Superintendente de Comunicação Social da Universidade de São Paulo.

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Publicado

2022-11-28

Como Citar

Ciências da Comunicação contra a desinformação. (2022). Comunicação & Educação, 27(2), 5-19. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9125.v27i2p5-19