A tese propõe encontros com o percurso artístico e intelectual da cineasta, videomaker e ensaísta Norma Bahia Pontes (1941-2010) desde sua participação no cinema moderno brasileiro e no documentário francês nos anos 1960, bem como no seio do movimento lésbico feminista estadunidense na década de 1970. Refletindo sobre as relações entre cinema, vídeo, gênero e sexualidade, a pesquisa se concentra nas práticas artísticas e interlocuções culturais para propor a rearticulação historiográfica das obras de Bahia Pontes e analisar as interpretações por ela mobilizadas face à ditadura militar no Brasil, ao colonialismo francês, ao machismo estrutural e à lesbofobia. A despeito de ser lembrada pela codireção de vídeos com Rita Moreira nos anos 1970, a pesquisa desvela a produção de Bahia Pontes como cineasta na vanguarda do cinema anticolonial com Les Antillais/Os Antilhenses (1966/1967) e aborda sua produção ensaística com duas dezenas de textos sobre cinema, filosofia e sociologia publicados entre 1959 e 1973 em jornais, revistas e livros de sua coautoria. Ainda, a pesquisa se concentra nas inciativas realizadas nos anos 1970 em parceria afetiva e criativa com Moreira com quem fundou a distribuidora Amazon Media Project Inc, organizou o festival Women for Women (1974), e realizou vídeos que tematizavam a questão lésbica, o feminismo e a ecologia da cidade tais como Lesbian Mothers (1972), Lesbianism Feminism (1974), She Has a Beard (1975), The Apartment (1975/1976), On Drugs (1977), Walking Around (1977), Born in a Prison (1977), Looking for the Amazons (1977). Mantendo uma abordagem politizada que se reposicionou conforme sua conscientização enquanto realizadora lésbica do terceiro mundo, Bahia Pontes deslocou-se do cinema de autores no Brasil e na França à autoria compartilhada no vídeo lésbico estadunidense. Em meio a estes deslocamentos, suas obras são atravessadas pelas noções de colonialidade, migração e diáspora, lar e senso de comunidade, seja nos enquadramentos que retratam os antilhanos em Paris ou as sexualidades dissidentes em Nova Iorque. À medida em que reflete sobre uma trajetória negligenciada, a investigação procurou inscrever a presença de Bahia Pontes na história do audiovisual brasileiro e especular as razões de sua invisibilidade. Como esforço de visibilizar suas obras, a pesquisa incluiu a localização, recuperação, digitalização e legendagem de dois curtas metragens em película, de trechos remanescentes de um média-metragem em vídeo, e a organização dos ensaios e da videofilmografia da diretora.

The thesis proposes encounters with the artistic and intellectual path of the filmmaker, videomaker and essay writer Norma Bahia Pontes (1941-2010) from her participation in Brazilian modern cinema and French documentary film in the 1960s, as well her involvement as within the US lesbian feminist movement in the 1970s. Reflecting on the relations between cinema, video, gender issues and sexuality, the research focuses on artistic practices and interconnections to suggest the historiographical rearticulation of Bahia Pontes' works and to examine the interpretations she mobilized against the military dictatorship in Brazil, French colonialism, structural sexism and lesbophobia. Despite being remembered for co-directing videos with Rita Moreira in the 1970s, the research unveils Bahia Pontes' production as a filmmaker at the forefront of anti-colonial cinema with Les Antillais/Os Antilhenses (1966/1967) and approaches the two dozen texts on cinema, philosophy, and sociology published between 1959 and 1973 in newspapers, magazines, and books she co-authored. The research also focuses on Bahia Pontes' activities carried out in affective and creative partnership with Moreira in the 1970s with whom she founded the distribution company Amazon Media Project Inc, organized the Women for Women festival (1974), and directed videos that about lesbianism, feminism and the ecology of the city such as Lesbian Mothers (1972), Lesbianism Feminism (1974), She Has a Beard (1975), The Apartment (1975/1976), On Drugs (1977), Walking Around (1977), Born in a Prison (1977), Looking for the Amazons (1977). Maintaining a politicized approach as she repositioned herself according to her consciousness as a lesbian filmmaker from the global south, Bahia Pontes has moved from auteur cinema in Brazil and France to co-authorship in US lesbian video. In the midst of these displacements, his works are intersected by notions of coloniality, migration and diaspora, home and sense of community, whether in the frames of Antilleans in Paris or dissident sexualities in New York. While reflecting on a neglected trajectory, the research sought to inscribe Bahia Pontes' presence in Brazilian audiovisual history and speculate on the reasons for his invisibility. As an effort to make her works visible, the research included the tracking down, recovery, digitization, and subtitling of two short films on film, of remaining excerpts from a medium-length film on video, and the organization of the director's essays and videofilmography.