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Digestibilidade e atividade enzimática intestinal de coelhos em crescimento alimentados com diferentes fontes de amido processadas ou não por extrusão

Digestibility and intestinal enzymatic activity of growing rabbits fed different sources of starch processed or not by extrusion

Resumos

Foram conduzidos dois experimentos para avaliar a digestibilidade do amido e a atividade específica das enzimas amilase (ATAM) e maltase (ATMAL), em duas porções do intestino delgado (jejuno e íleo), em coelhos com idades iniciais de 28 e 49 dias, alimentados com quatro fontes de amido (milho, sorgo, triticale e mandioca, processados ou não por extrusão). Em cada experimento, foram utilizados 64 coelhos da raça Nova Zelândia Branco, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado com oito tratamentos e oito repetições. Ao final do período experimental, os animais foram abatidos para retirada de amostra do conteúdo do jejuno e íleo, além da raspagem da mucosa do jejuno, para determinação da ATAM e ATMAL. O processamento melhorou o coeficiente de digestibilidade (CD) do amido do milho e do sorgo. Entre as fontes não-extrusadas, os maiores CD do amido foram apresentados pelo triticale e pela mandioca. A ATAM da parede do jejuno foi maior aos 60 dias. A ATMAL no conteúdo do jejuno e do íleo foi maior aos 37 dias. As diferentes fontes de amido diferiram entre si quanto à ATMAL e ATAM do conteúdo do jejuno e do íleo. A ATMAL foi maior no jejuno. Maiores ATAM do conteúdo do jejuno ocorreu aos 60 dias para os animais que receberam milho extrusado e sorgo. A ATAM aos 37 dias foi maior no íleo em comparação com o jejuno para os animais que receberam milho e sorgo. O processamento foi efetivo para o milho e sorgo, porém, todas as fontes, processadas ou não, apresentaram bom CD do amido, podendo ser utilizadas na alimentação de coelhos.

amilase; maltase; mandioca; milho; sorgo; triticale


Two experiments were carried out to study the digestibility of starch and the specific activity of amylase (ACAMY) and maltase (ACMAL) enzymes in two portions of small intestine (jejunum and ileum), in rabbits with initial ages of 28 and 49 days, fed with four sources of starch (corn, sorghum, triticale and cassava) processed or not by extrusion. Sixty-four White New Zealand rabbits were used in each experiment, distributed in a completely randomized design with eight treatments and eight replications. At the end of the experimental period, the animals were slaughtered for retreat of sample of jejunum and ileum content, besides of scraping of mucous membrane of jejunum for the determination of ACAMY and ACMAL. The processing improved the digestibility coefficient (DC) of starch of corn and sorghum. Among the sources non-extruded, the higher DC of starch was presented by triticale and cassava. The ACAMY of jejunum wall was higher in the 60 days. The ACMAL in the jejunum and ileum content was higher in the 37 days. The different sources of starch differ one of the other ones with relationship the ACAMY and ACMAL of the jejunum and ileum content. The ACMAL showed to be higher in the jejunum. The ACAMY in the jejunum content was higher in the 60 days to the animals that received extruded corn and sorghum. The ACAMY in the 37 days was higher in the ileum than in the jejunum to the animals that received corn and sorghum. The results allow concluding that the processing was effective to the corn and sorghum, however, all sources, processed or not, showed good DC of the starch, could be used in rabbit feeding.

amylase; cassava; corn; maltase; sorghum; triticale


MONOGÁSTRICOS

Digestibilidade e atividade enzimática intestinal de coelhos em crescimento alimentados com diferentes fontes de amido processadas ou não por extrusão1 1 Dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao curso de Pós-Graduação em Zootecnia da UEM.

Digestibility and intestinal enzymatic activity of growing rabbits fed different sources of starch processed or not by extrusion

Luciana Kazue OtutumiI; Antonio Claudio FurlanII; Cláudio ScapinelloII; Elias Nunes MartinsII; Rosane Marina PeraltaIII; Dione Lopes de SouzaIV; Mauricio L. R. SantolimIV

IAluna do curso de Pós-Graduação em Zootecnia da UEM

IIProfessores do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo 5790, CEP 87020-900 (acfurlan@uem.br)

IIIProfessora do Departamento de Bioquímica da UEM

IVZootecnistas

RESUMO

Foram conduzidos dois experimentos para avaliar a digestibilidade do amido e a atividade específica das enzimas amilase (ATAM) e maltase (ATMAL), em duas porções do intestino delgado (jejuno e íleo), em coelhos com idades iniciais de 28 e 49 dias, alimentados com quatro fontes de amido (milho, sorgo, triticale e mandioca, processados ou não por extrusão). Em cada experimento, foram utilizados 64 coelhos da raça Nova Zelândia Branco, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado com oito tratamentos e oito repetições. Ao final do período experimental, os animais foram abatidos para retirada de amostra do conteúdo do jejuno e íleo, além da raspagem da mucosa do jejuno, para determinação da ATAM e ATMAL. O processamento melhorou o coeficiente de digestibilidade (CD) do amido do milho e do sorgo. Entre as fontes não-extrusadas, os maiores CD do amido foram apresentados pelo triticale e pela mandioca. A ATAM da parede do jejuno foi maior aos 60 dias. A ATMAL no conteúdo do jejuno e do íleo foi maior aos 37 dias. As diferentes fontes de amido diferiram entre si quanto à ATMAL e ATAM do conteúdo do jejuno e do íleo. A ATMAL foi maior no jejuno. Maiores ATAM do conteúdo do jejuno ocorreu aos 60 dias para os animais que receberam milho extrusado e sorgo. A ATAM aos 37 dias foi maior no íleo em comparação com o jejuno para os animais que receberam milho e sorgo. O processamento foi efetivo para o milho e sorgo, porém, todas as fontes, processadas ou não, apresentaram bom CD do amido, podendo ser utilizadas na alimentação de coelhos.

Palavras-chave: amilase, maltase, mandioca, milho, sorgo, triticale

ABSTRACT

Two experiments were carried out to study the digestibility of starch and the specific activity of amylase (ACAMY) and maltase (ACMAL) enzymes in two portions of small intestine (jejunum and ileum), in rabbits with initial ages of 28 and 49 days, fed with four sources of starch (corn, sorghum, triticale and cassava) processed or not by extrusion. Sixty-four White New Zealand rabbits were used in each experiment, distributed in a completely randomized design with eight treatments and eight replications. At the end of the experimental period, the animals were slaughtered for retreat of sample of jejunum and ileum content, besides of scraping of mucous membrane of jejunum for the determination of ACAMY and ACMAL. The processing improved the digestibility coefficient (DC) of starch of corn and sorghum. Among the sources non-extruded, the higher DC of starch was presented by triticale and cassava. The ACAMY of jejunum wall was higher in the 60 days. The ACMAL in the jejunum and ileum content was higher in the 37 days. The different sources of starch differ one of the other ones with relationship the ACAMY and ACMAL of the jejunum and ileum content. The ACMAL showed to be higher in the jejunum. The ACAMY in the jejunum content was higher in the 60 days to the animals that received extruded corn and sorghum. The ACAMY in the 37 days was higher in the ileum than in the jejunum to the animals that received corn and sorghum. The results allow concluding that the processing was effective to the corn and sorghum, however, all sources, processed or not, showed good DC of the starch, could be used in rabbit feeding.

Key Words: amylase, cassava, corn, maltase, sorghum, triticale

Introdução

O amido, presente principalmente nos cereais, constitui a principal fonte de energia para os animais monogástricos (Remois et al., 1996). Normalmente, está na forma de grânulos birrefringentes, sendo formados por dois polímeros de glicose, a amilose e amilopectina, cujo interior do grânulo é composto de regiões cristalinas e amorfas alternadas. A região cristalina ou micelar é composta principalmente por amilopectina, sendo resistente à entrada de água e ao ataque enzimático (Rooney & Pflugfelder, 1986).

O uso de dietas concentradas, com o intuito de se obter melhorias nas performances produtivas, implica, geralmente, na formulação de rações com altos teores de amido, em detrimento dos componentes fibrosos, o que leva ao aumento na incidência de distúrbios digestivos (Peeters & Charlier, 1984), devido à sobrecarga de amido no ceco, provocando mudanças no padrão de fermentação e desestabilizando a microflora cecal (Cheeke & Patton, 1980; Carabaño et al., 1997).

Além disso, coelhos jovens apresentam um sistema pancreático ainda imaturo, o que explica sua inabilidade em digerir completamente o amido da dieta antes de 6 ou 7 semanas de idade, podendo ser esta a causa original dos distúrbios digestivos (Corring et al., 1972). Segundo Blas & Gidenne (1998), as perdas fecais de amido são muito baixas em coelhos adultos e, então, apresentam alta digestibilidade. Entretanto, em coelhos jovens (38 dias de idade), Blas et al. (1994) verificaram que, quando o nível de amido da dieta aumentava de 16 para 25%, o conteúdo ileal de amido dobrava, enquanto que no conteúdo cecal poderia atingir até o nível de 6%, independentemente do aumento no nível de amido.

Todavia, poucos estudos têm sido feito com o objetivo de verificar as variações da atividade das enzimas amilase e maltase ao longo do trato digestivo, visto ser estas as principais enzimas responsáveis pela digestão do amido.

De acordo com Dojana et al. (1998), a amilase se apresenta ativa no pâncreas aos 15 dias e aumenta durante o crescimento, atingindo nível máximo aos 90 dias de idade, ao passo que a atividade específica da maltase na mucosa duodenal diminuiu, mas aumentou nas mucosas ileal e jejunal durante o crescimento.

Scapinello et al. (1999) observaram que a atividade específica da amilase no jejuno e no íleo aos 32 e 42 dias de idade praticamente duplicou com a idade, porém não diferiu entre os dois segmentos estudados. Já, a atividade específica da maltase não mudou com o avanço da idade, no entanto, foi duas vezes maior no jejuno em relação ao íleo.

Outros fatores, como o nível e a origem do amido da dieta, processamentos tecnológicos e uso de enzimas exógenas (Blas & Gidenne, 1998), influem na disponibilidade do amido.

As perdas fecais de amido variaram notadamente no desmame em função da origem do amido da dieta, sendo que o amido de milho apresentou maiores perdas e o amido oriundo da cevada e do purificado do milho foram completamente degradados (Gidenne & Perez, 1993).

Os processamentos tecnológicos podem trazer transformações físicas benéficas nos grânulos de amido (Colonna & Champ, 1990) e, por conseguinte, aumentar sua digestibilidade.

Grossmann et al.(1988), citados por Moreira (1993), relatam que a extrusão seria um método empregado para obtenção de amidos modificados solúveis em água e com elevada capacidade de retenção de água, em razão da gelatinização e dextrinização que ocorrem durante o processo.

Durante a gelatinização, os grânulos de amido absorvem água, incham, exudam parte da amilose, e tornam-se mais suscetíveis à degradação enzimática, perdendo a birrefringência (Rooney & Pflugfelder, 1986).

Maertens & Luzi (1995) verificaram que a extrusão de dietas ricas em amido melhorou a solubilidade in vitro do amido, mas não teve efeito em reduzir as perdas fecais de amido em coelhos de cinco a sete semanas de idade. Por sua vez, Alonso et al. (2000) verificaram que a extrusão acarretou aumento na digestibilidade in vitro tanto da proteína quanto do amido em amostras de feijão.

Tendo em vista a importância do amido como fonte energética nas rações de coelhos em crescimento e sua relação com o desenvolvimento de transtornos digestivos, aliado à falta de trabalhos avaliando o efeito do processamento do alimento sobre a digestibilidade do amido, e a atividade das enzimas amilase e maltase, foram realizados dois experimentos com o objetivo de avaliar a digestibilidade do amido e a atividade enzimática intestinal em coelhos com idade inicial de 28 e 49 dias, alimentados com quatro fontes de amido (milho, sorgo, triticale e mandioca), processadas ou não por extrusão.

Material e Métodos

Os experimentos foram realizados no Setor de Cunicultura da Fazenda Experimental de Iguatemi, da Universidade Estadual de Maringá. Em cada ensaio foram utilizados 64 coelhos da raça Nova Zelândia Branco, com idade inicial de 28 (experimento 1) e 49 dias de idade (experimento 2), desmamados aos 28 dias de idade, alojados individualmente em gaiolas de metabolismo, providas de bebedouro automático, comedouro semi-automático e dispositivo para coleta de fezes.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com oito tratamentos e oito repetições.

As rações utilizadas nos experimentos foram formuladas procurando aproximar das exigências recomendadas por De Blas & Mateos (1998). Quatro fontes de amido (milho, sorgo, triticale e mandioca), processadas ou não por extrusão, constituíram fonte principal e exclusiva de amido e participaram em percentuais variando entre 34,8 e 43,1%, de tal forma a proporcionarem rações consideradas com alto teor de amido (Tabela 1).

Os alimentos foram processados em uma extrusora IMBRA 120 da empresa Imbramaq, com capacidade para 120 kg/hora, com temperatura dentro do canhão ao redor de 115ºC e pressão de 1-2 atm.

Durante o período experimental, os animais receberam água à vontade e as rações foram fornecidas uma vez ao dia, sem restrições.

As composições percentuais e químicas das dietas experimentais contendo milho extrusado (T1), milho (T2), triticale extrusado (T3), triticale (T4), sorgo extrusado (T5), sorgo (T6), mandioca extrusada (T7) e mandioca (T8) encontram-se na Tabela 1.

Ensaio de digestibilidade

No primeiro experimento (28 aos 37 dias), os coelhos recém desmamados passaram por um período de adaptação, em que os animais passaram a receber as dietas experimentais dos 28 aos 33 dias de idade, a partir do qual teve início o ensaio de digestibilidade total com coleta de fezes até o 37º dia. Antes do desmame os láparos recebiam a mesma ração fornecida para a sua mãe.

No segundo experimento, o procedimento foi o mesmo adotado no primeiro, exceto que a idade inicial foi de 49 dias, estendendo-se até os 60 dias de idade.

Durante os ensaios de digestibilidade, as fezes coletadas diariamente pela manhã foram acondicionadas individualmente em sacos plásticos e armazenadas em congelador a -18ºC. No final do período de coleta, as amostras foram homogeneizadas e reunidas em amostras compostas, por animal, pesadas e colocadas em estufa ventilada a 55ºC, por 72 horas, para pré-secagem. Posteriormente, as amostras foram expostas ao ar, para que houvesse equilíbrio com a temperatura e umidade ambiente, sendo, então, pesadas, moídas e homogeneizadas, retirando-se amostras do material seco para análises.

As análises químicas dos ingredientes, das rações e das fezes foram realizadas de acordo com os métodos descritos por Silva (1990) e as de amido, de acordo com o método enzimático proposto por Poore et al. (1989), adaptado por Pereira & Rossi (1995).

As observações dos experimentos 1 e 2 foram analisadas em conjunto de acordo com o modelo estatístico:

Yijkl = µ + Fi + Pj + Ik + FPij + FIik + PIjk + eijkl

em que Yijkl = coeficientes de digestibilidade total do amido de cada indivíduo l, recebendo a fonte de amido i, processamento j, na idade k; µ = média geral da característica; Fi = efeito da fonte de amido i, sendo i = 1, 2, 3 e 4 (i1= milho; i2= triticale; i3 = sorgo; i4 = mandioca); Pj = efeito do processamento j, sendo j = 1 e 2 (j1=extrusado, j2= não extrusado); Ik = efeito da idade k, sendo k= 1 e 2 (k1=28, k2= 49); FPij = efeito da interação fonte i e processamento j; FIik = efeito da interação fonte i e idade k; PIjk = efeito da interação processamento j e idade k; eijkl = erro aleatório associado a cada observação Yijkl.

Os resultados foram analisados pelo programa SAEG, versão 7.1 (UFV, 1997). Para as variáveis em estudo, os dados foram interpretados por meio de análises de variância, considerando-se significativo P<0,05.

Atividade enzimática

Ao término dos ensaios de digestibilidade, dos 37 aos 38 e dos 60 aos 61 dias, os animais foram abatidos no período da manhã (7h-9h) para a coleta do conteúdo intestinal de duas porções do intestino delgado (jejuno e íleo) e raspagem da parede do jejuno. O método foi o do atordoamento, seguido de sangria pela jugular.

Imediatamente após o abate, foi realizada a laparotomia e a retirada de cerca de 30 cm do íleo terminal, excluindo os últimos 5 cm que se aproximavam da válvula ileocecal, e mais 30 cm do conteúdo após a alça duodenal (início do jejuno), sendo o conteúdo coletado por simples pressão manual e acondicionados em tubos plásticos pré-pesados, mantidos em gelo.

Após a retirada do conteúdo do jejuno, foi coletado material da parede do mesmo segmento. O segmento intestinal foi aberto com o auxílio de uma tesoura e, logo em seguida, lavado com água destilada, por duas vezes consecutivas. Em seguida, foi colocado sobre uma prancheta, dentro de uma bandeja contendo gelo, procedendo-se à raspagem da mucosa com o auxílio de uma régua. O material coletado foi, então, acondicionado em tubos pré-pesados, mantidos em gelo.

Os conteúdos do jejuno e do íleo e a raspagem da mucosa do jejuno foram, logo em seguida, congelados a -20ºC, para posterior liofilização. O material liofilizado foi, então, utilizado para determinação da atividade das enzimas amilase e maltase.

Dez miligramas da amostra liofilizada foram suspensas em 10 mL de tampão fosfato 0,05 M pH 6,0, para posterior sonicação. O material sonicado foi estocado em congelador a -20ºC e utilizado como fonte das enzimas a serem analisadas.

Primeiramente, a atividade da amilase foi estimada pela análise dos açúcares redutores liberados durante hidrólise de 0,5% (p/v) de amido em 0,05M de tampão fosfato pH 6,0 a 37ºC pelo método do ácido dinitrosalicílico (Miller, 1959).

A atividade da maltase foi estimada quantificando-se a glicose liberada durante hidrólise da maltose 0,5% (p/v) em 0,05 M de tampão fosfato pH 6,0 a 37ºC, pelo método da glicose peroxidase oxidase (Bergmeyer & Bernt, 1974).

A glicose liberada foi mensurada com a utilização do kit enzimático Glicose PAP Liquiform® (Cat. 84-2/500, Labtest Diagnóstica S.A., Lagoa Santa, MG, Brasil).

As análises dos dados de atividade das enzimas amilase e maltase foram feitas por meio do método de modelos lineares generalizados (Nelder & Wedderburn, 1972), admitindo distribuição gama com função de ligação recíproco, exceto para a variável maltase da parede, para a qual foi admitida a distribuição normal. O modelo empregado na análise foi:

em que h = observação relativa a cada individuo m, recebendo a fonte de amido i, o processamento j, na idade k, no local l; u = constante geral; Fi = efeito da fonte de amido i (i= 1, 2, 3 e 4) sendo i1=milho; i2=triticale; i3=sorgo e i4= mandioca; Pj = efeito do processamento j (j= 1 e 2) sendo j1=extrusado; j2= não extrusado; Ik = efeito da idade k (k=1 e 2) sendo k1= 37 dias; k2= 60 dias; Ll = efeito do local l (l=1 e 2) sendo l1=íleo; l2=jejuno; FPij = efeito da interação fonte i e processamento j; FIik = efeito da interação fonte i e idade k; FLil = efeito da interação fonte i e local l; PIjk = efeito da interação processamento j e idade k; PLjl = efeito da interação processamento j e local l; FPIijk = efeito da interação fonte i, processamento j e idade k; FPLijl = efeito da interação fonte i, processamento j e local l; FILikl = efeito da interação fonte i, idade k e local l; PILjkl = efeito da interação processamento j, idade k e local l; FPILijkl = efeito da interação fonte i, processamento j, idade k e local l; eijklm = erro aleatório.

Assim, conforme McCulloch & Searle (2001), quando a distribuição for gama, a esperança de Y (média da variável dependente) é dada por:

E (Yijkl) = 1/ hijkl

Enquanto para a distribuição normal é dada por:

E (Yijkl) = hijkl

Resultados e Discussão

Ensaio de digestibilidade

Foi observada interação (P<0,05) entre a fonte do amido e o processamento ou não por extrusão para o coeficiente de digestibilidade (CD) (Tabela 2).

O desdobramento desta interação mostrou maior CD do amido (P<0,05) para os animais que receberam milho e sorgo extrusados em suas rações. Da mesma forma, Alonso et al. (2000) verificaram maior digestibilidade in vitro do amido quando foi utilizado o processo de extrusão. Estes maiores CD do amido podem ser explicados pelo fato de o processamento provocar a gelatinização dos grânulos de amido, que absorvem água, incham, exudam parte da amilose, e tornam-se mais suscetíveis à degradação enzimática (Rooney & Pflugfelder, 1986).

Maertens & Luzi (1995), por sua vez, não verificaram redução nas perdas fecais de amido em coelhos alimentados com dietas extrusadas ricas em amido, de cinco a sete semanas de idade.

Entre as fontes extrusadas, não foi verificada diferença (P>0,05) no CDTOTAL do amido, entretanto, para as fontes não extrusadas, os animais que receberam triticale e mandioca apresentaram maiores coeficientes (P<0,05), respectivamente, 99,22 e 98,96%.

De acordo com Rooney & Pflugfelder (1986), a estrutura do endosperma do grão de milho, particularmente a cutícula que reveste o grão, e a resistência à moagem são os principais fatores que explicariam esta menor digestibilidade, em função de menor acessibilidade das enzimas amilolíticas às moléculas de amido.

Segundo Rooney et al. (1980), a composição total e a estrutura interna do amido do sorgo e milho são similares, o que pode explicar a semelhança nos resultados.

Os grânulos de amido da mandioca, por não se apresentarem envolvidos por cutícula, são mais facilmente moídos e ficam mais expostos à ação das enzimas amilolíticas, acarretando maior digestibilidade em relação ao milho e ao sorgo.

Interação significativa (P<0,05) foi também verificada entre a fonte e a idade dos coelhos (Tabela 3). O desdobramento desta interação mostrou maior CD do amido (P<0,05) do triticale aos 28 e 49 dias.

Entre as idades houve diferença (P<0,05) no CD do amido para os animais que receberam triticale e sorgo em suas rações, sendo o CD do amido superior aos 28 dias.

Os resultados do CD do milho diferem do encontrado por Gidenne & Perez (1993), que verificaram que as perdas de amido provenientes deste grão são grandes entre 28 e 33 dias, diminuindo significativamente entre 49 e 54 dias.

Os coeficientes de digestibilidade total do amido aos 28 e 49 dias foram altos, além disso, os animais utilizados neste experimento não apresentaram problemas de ordem digestiva, mesmo recebendo dietas com alto teor de amido. Estes resultados entram em desacordo com a hipótese de Corring et al., (1972), no qual coelhos jovens até 6 ou 7 semanas apresentam um sistema pancreático ainda imaturo, o que acarretaria sua inabilidade em digerir completamente o amido da dieta, podendo este ser a causa original dos distúrbios digestivos. Entretanto, vale lembrar que neste experimento as rações foram formuladas para conterem níveis adequados de fibra, o que pode explicar a ausência de transtornos digestivos, uma vez que a fibra é de extrema importância para o bom funcionamento do trato digestivo.

Atividade enzimática

A atividade específica da enzima amilase da parede do jejuno dos coelhos recebendo amido de milho, sorgo e triticale foi maior (P<0,05) aos 60 dias de idade, contrariando o resultado obtido para a atividade específica da amilase dos animais alimentados com amido mandioca, que foi maior aos 37 dias (Tabela 4). Entretanto, não foram observadas diferenças (P>0,05) na atividade específica das enzimas amilase e maltase da parede do jejuno em função do processamento e da idade para a enzima maltase.

Dojana et al. (1998) encontraram intensa atividade da maltase na mucosa do duodeno, jejuno e íleo em coelhos com 15 dias de idade, e sugeriram que nesta idade a secreção de maltase pode ser estimulada pela lactose do leite. Esses autores verificaram menor atividade da maltase na mucosa do jejuno aos 43 dias de idade, em comparação aos coelhos com 15 dias de idade, entretanto, estas diferenças não foram significativas, o que está de acordo com o obtido neste experimento.

A atividade específica da enzima maltase (ATMAL) no conteúdo do jejuno e do íleo (Tabela 5), foi maior em coelhos com 37 dias de idade para as diferentes fontes de amido extrusadas ou não, exceto para o triticale e o sorgo extrusado, onde a ATMAL no conteúdo ileal foi maior aos 60 dias de idade.

Os animais que receberam milho extrusado apresentaram semelhante atividade da enzima maltase no conteúdo do íleo, aos 37 e 60 dias, o que está de acordo com o verificado por Scapinello et al. (1999) para coelhos entre 32 e 42 dias.

Aos 37 dias, maior ATMAL foi verificada para os animais que receberam sorgo extrusado e mandioca extrusada, respectivamente, nos conteúdo do jejuno e do íleo. Aos 60 dias, maior ATMAL ocorreu para os animais que receberam triticale extrusado, tanto no conteúdo do jejuno quanto do íleo.

A ATMAL entre as duas porções do intestino delgado, em cada idade (Tabela 6), foi maior no jejuno aos 37 dias de idade, o que está de acordo com o obtido por Scapinello et al. (1999), com exceção da mandioca extrusada, que mostrou maior atividade no íleo, e do milho extrusado, que não diferiu entre as duas porções.

Entretanto, aos 60 dias de idade, houve uma distribuição homogênea dos resultados, ficando o milho extrusado, o triticale extrusado, o sorgo e a mandioca, com maiores atividades no conteúdo do jejuno e o restante no conteúdo do íleo.

Não foi verificado efeito de idade (P>0,05) para a atividade específica da amilase (ATAM) do conteúdo do íleo (Tabela 7), para todas as fontes de amido extrusadas ou não. Da mesma forma, Dojana et al. (1998), ao determinarem a atividade específica da amilase no extrato protéico total do pâncreas, não encontraram diferenças estatisticamente significantes entre 15 e 43 dias de idade.

Entretanto, para a ATAM do conteúdo do jejuno, foi observado efeito de idade (P<0,05) somente para os animais que receberam milho extrusado e sorgo, que apresentaram maior ATAM aos 60 dias de idade, o que concorda com os resultados de Scapinello et al. (1999), que verificaram que a atividade específica da amilase no conteúdo do jejuno dobrou nos animais com 42 dias, comparado com os de 32 dias de idade. Apesar de não significativo, a ATAM no conteúdo do jejuno aos 60 dias foi numericamente superior aos 37 dias de idade, também para o milho, triticale, triticale extrusado e mandioca.

Da mesma forma, Marounek et al. (1995) encontraram que a atividade da amilase foi duas vezes maior em coelhos com três meses de idade em relação a coelhos com quatro semanas.

Cabe salientar que, de acordo com Dojana et al. (1998), aos 90 dias de idade a atividade da amilase pancreática atinge níveis comparáveis aos dos coelhos adultos, sugerindo que os coelhos deste experimento, provavelmente, ainda não estavam suficientemente desenvolvidos para otimizar a digestão do amido.

Ao comparar a ATAM em cada idade e porção separadamente, foram verificadas diferenças (P<0,05) na ATAM do conteúdo do jejuno entre as diferentes fontes de amido extrusadas ou não, em coelhos com 37 dias de idade, com exceção do milho extrusado, que não diferiu entre as fontes.

Entretanto, a ATAM, no conteúdo do íleo na mesma idade, mostrou somente diferença entre o milho extrusado e a mandioca extrusada.

A ATAM do conteúdo do íleo e jejuno em coelhos com 60 dias, não diferiu entre as diferentes fontes de amido extrusadas ou não.

A ATAM em coelhos com 37 dias de idade (Tabela 8) diferiu (P<0,05) entre as duas porções do intestino delgado somente para os animais que receberam milho e sorgo, que apresentaram maior atividade no conteúdo do íleo em comparação com o jejuno, o que pode ser explicado pela maior quantidade de conteúdo luminal encontrado neste segmento.

Aos 60 dias, não foi verificada diferença entre as duas porções (íleo e jejuno), para todas as fontes de amido processadas ou não por extrusão.

Estes resultados discordam do obtido por Scapinello et al. (1999), os quais encontraram maior atividade específica no jejuno.

É interessante ressaltar o efeito que a atividade digestiva tem sobre a secreção pancreática de amilase, uma vez que no momento da realização da coleta de amostras, alguns animais apresentaram quantidades significativas de conteúdo intestinal, enquanto que em outros, o conteúdo era muito pequeno ou quase inexistente. Segundo Wu et al. (1985), o fluxo do suco pancreático varia durante o dia, mostrando um pico entre 3 e 6 horas após a ingestão do alimento, desta forma, a grande variação nos resultados de atividade enzimática podem ser explicados pela diferença na atividade digestiva.

Conclusões

O processamento de extrusão melhorou o coeficiente de digestibilidade do amido do milho e do sorgo, mas o amido proveniente do triticale e da mandioca não-processados foi mais digestível que o oriundo do sorgo e do milho.

O coeficiente de digestibilidade total do amido foi influenciado pela idade dos coelhos, entretanto, os coeficientes de digestibilidade foram altos, independentemente da idade.

A atividade da amilase da parede e conteúdo do jejuno variaram em função da idade e foram, em geral, superiores aos 60 dias.

A atividade da maltase do conteúdo do jejuno e íleo foi superior aos 37 dias.

As atividades das enzimas maltase do conteúdo do jejuno e íleo e amilase do conteúdo do jejuno foram influenciadas pelo processamento e superiores para as fontes extrusadas.

As atividades enzimáticas das enzimas maltase aos 37 e 60 dias e amilase aos 37 dias foram influenciadas pelo local, sendo maior no jejuno e íleo, respectivamente.

Literatura Citada

Recebido em: 01/09/03

Aceito em: 04/10/04

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  • 1
    Dissertação de mestrado do primeiro autor, apresentada ao curso de Pós-Graduação em Zootecnia da UEM.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Set 2005
    • Data do Fascículo
      Abr 2005

    Histórico

    • Aceito
      04 Out 2004
    • Recebido
      01 Set 2003
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